"Em 1972/73, o Benfica e Eusébio foram brilhantes. 28 vitórias e dois empates em 30 jornadas. 40 golos para o Bota de Ouro. Um campeonato disputado por tantos clubes que vão ficando esquecidos nas divisões secundárias.
Gosto de recordar tempos e clubes que foram desaparecendo aos poucos quase sem a gente dar por ela e que restam, tristemente, esquecidos nas divisões menores do nosso descontentamento.
O União de Tomar, por exemplo. Ou melhor, por extenso: União Futebol Comércio e Indústria de Tomar. Assim, como se fosse uma firma, com papel oficial, carimbo e assinatura de escriturário. Foi grande, o União de Tomar! À sua dimensão, é evidente, mas é sempre grande um clube cuja camisola vestiu o Eusébio. Só por isso, União de Tomar!!! Com três pontos de exclamação. E, esperem lá, não esquecer o Simões, que também lá esteve, de riscas pretas e vermelhas ao peito.
Tantos outros: Manuel José, Pavão, Camolas, N'habola...
É aquela defesa que, nos relatos radiofónicos, soava como uma marchinha brasileira de Carnaval: Conhé; Kiki, Caló, Faustino e Barnabé... Um luxo!
Outro que faz falta é o Montijo. Canarinhos do lado de lá do rio. Camisolas berrantes e amarelas, os calções verdes, no Campo Luís Almeida Fidalgo.
Fazem falta muitos outros, com Barreirense e CUF à mistura, e até o Tirsense e a Sanjoanense e o União de Coimbra que só subiu à I Divisão uma vez e logo no ano em que a Académica desceu. Ah! O gozo dos futricas que tinham de levar eternamente com a brincadeira da estudantada: 'Se não houvesse União, não havia segunda divisão!'
Mas, para já, fico-me pelo Montijo do Bolota, do João Alves... A memória dispara pelos corredores dos anos, até esse tempo antes de o 25 de Abril reiniciar uma nova vida no País Triste. Dezembro a meio. Dia 17. As manchetes gritavam: 'Há um iate encalhado em Carcavelos'.
Nesse tempo dava-se muita importância a coisas sem grande importância. Mas, enfim, como em todos os tempos, a inversa também é verdadeira. Dava-se importância ao iate, um bote pequeno, encalhado em Carcavelos, do qual desaparecera um tripulante, mas o Tejo seguia, tranquilo e lento, em direcção à foz.
O Benfica foi ao Montijo, e Eusébio ganhou o jogo com um golo aos 50 minutos. De cabeça. Eusebiamente...
O Eusébio era assim, todos sabemos, fazia os golos, e eles eram vitórias e títulos, e por isso é que ele vai ficar para sempre Eusébio na aldeia branca da nossa memória.
Jornada 15.ª. Curiosíssima jornada. Benfica - 15 jogos; 15 vitórias. Estávamos precisamente a meio do campeonato.
Já se sabia de antemão. Ninguém seria capaz de travar aquele Benfica de Jimmy Hagan. E de José Henrique, Malta da Silva, Humberto Coelho, Toni, Jordão, Simões, Nené, Vítor Martins, Vítor Baptista, Jaime Graça, Matine, Messias, Artur Jorge e Artur, só Artur, ou Artur Correia se preferirem O Ruço.
Festas vermelhas
Outra coisa que se sabia era que o Benfica terminaria o campeonato em casa, com o Montijo.
A festa foi-se fazendo todas as jornadas. Afinal, os encarnados somaram 28 vitórias em 30 jogos. Só dois empates. Um precisamente na penúltima jornada, na Tapadinha.
Mas, na derradeira, golos atrás de golos, Eusébio, com quatro, voava com asas nos pés como um Mercúrio negro para a sua segunda Bola de Ouro.
O Montijo esteve lá, na Luz, resplandecente nas suas camisolas amarelas. Ou camisolas amarelas, como na letra de Ary Barroso. 'Cantando a Florisbela'... A música que apaixonou o Ribeirinho, Rufino Fino Filho, que ficou 'c'a fé na brasileira...'.
Vermelha, a festa."
Afonso de Melo, in O Benfica
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