"Nas traseiras de casa dos meus avós havia um descampado entre prédios que parecia o estádio Azteca, no México. Lá jogávamos nós: o Aldinho, o Nuno o Joe e eu, mais quem se quisesse juntar à festa. Umas vezes éramos Maradona e Valdano, noutras Sócrates e Zico. Muitas vezes éramos Carlos Manuel e Diamantino. Não havia árbitros, nem conselhos de arbitragem. Cada lance era discutido no momento - quem sofria falta agarrava a bola e marcava o livre. Sem discussão.
O jogo só era interrompido em duas ocasiões: quando as mães ou as avós chamavam para o almoço, lanche ou jantar e quando a bola ia para o quintal do velho Neves.
O velho Neves era o papão. Se a bola ia lá para dentro, tínhamos de saltar o muro e ir lá resgatá-la, senão ficávamos sem o esférico para marcar golos de antologia em balizas feitas com duas pedras. Se não fôssemos a tempo, o velho ficava com a bola ou rebentava-a com um golpe de faca perante o nosso olhar desesperado.
Está visto que o velho Neves não gostava de futebol. Parecia aquelas pessoas que hoje vão para os estádios cantar boçalidades a fingir que apoiam as suas equipas. Cada um destes indivíduos que deseja a morte aos jogadores do Benfica ou que se vangloria com o desaparecimento de Eusébio, cada um destes tristes seres que relembram com gozo a morte de um adepto rival na final de uma Taça de Portugal é igual ao velho Neves. Também estes dão golpes mortais na bola de futebol e levam o jogo para a lama. Uns e outros não podem continuar a entrar nos estádios portugueses.
Tal como nós saltávamos muro para ir resgatar a bola, é preciso que alguém tenha a coragem de lhes barrar a entrada. Já."
Ricardo Santos, in O Benfica
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