"No dealbar do Euro (escrevo antes do jogo com os islandeses), recordo as três competições da nossa selecção que, em mim, mais estão presentes por boas razões, ainda que, paradoxalmente, a elas também associe o abatimento que me suscitaram.
Refiro-me à lembrança de jovem no Mundial 1966 e à de adulto nos Euro 1984 e 2004.
No Inglaterra 66, ainda a preto-e-branco, gravado na minha memória a sépia. Um Portugal sem vedetismos, ainda que com o inultrapassável Eusébio, um Portugal superiormente orientado, um Portugal quase ingénuo. Um Portugal que foi traído pelas batotas administrativas do poder instalado e que, assim, foi eliminado nas meias-finais pelos anfitriões. Poderíamos ter sido campeões do Mundo. Fiquei triste, mas sobretudo orgulhoso num tempo de isolacionismo.
No Euro 1984, com quatro (!) treinadores, Portugal com Bento, Jordão e Chalana, entre outros, merecia mais. Platini destroçou o nosso sonho no fim de um prolongamento épico. Vi o jogo pela TV, em Estocolmo e - talvez por, naquele dia, estar fora de Portugal - foi a competição em que a ressaca da derrota mais permaneceu em mim.
Por fim, o nosso Euro 2004 e a final perdida ingloriamente para uns gregos sofríveis. Aqui, confesso, mais do que tristeza, senti irritação pela casmurrice do então seleccionador, que nem sequer aprendeu com a derrota com os mesmos helénicos na jornada inaugural. Tínhamos uma equipa invulgar.
Tempos diferentes no percurso do futebol e tempos diferentes no percurso da minha vida. Com o privilégio de ter vivido tempos de futebol simples, directo, sem excessos. Afinal, do que, verdadeiramente, gosto."
Bagão Félix, in A Bola
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