"José Mourinho surpreendeu com a titularidade de Franjo Ivanovic e Richard Ríos voltou a estar ao nível do dérbi. O treinador encarnado deu vida a soluções até há pouco tempo nada valiosas, disciplinou a equipa e, com toda a naturalidade, o Benfica venceu o Nápoles (2-0) num jogo decisivo que permite sonhar com a sobrevivência na Liga dos Campeões
Vivem-se tempos em que é uma admiração o Benfica ganhar na Liga dos Campeões legislando sobre o jogo e fazendo todos cumprir a sua lei em vez de andar à deriva do poderio de quem enfrenta. Os encarnados receberam um voucher a valer uma estadia fora do contexto e levaram emprestado um fato de gala que usaram em vez da manta com buracos mais comum ao longo da época.
Franjo Ivanovic deu razão à estratégia de José Mourinho, que não terá abdicado dos pés de veludo de Vangelis Pavlidis de ânimo leve. Enquanto o croata respeitava o vetor que apontava para a baliza dos colíderes da Serie A, o Benfica desbloqueava o nível mais impactante de Richard Ríos.
O remate de Barrenechea foi tão defeituoso que quase saiu pela linha lateral. Ríos estava lá para recolhê-lo. Ríos renasceu para o lance e correu para a área. Chegou lá as horas do cruzamento de Dahl. Na confusão que ali surgiu, Ríos teve instintos para a desviar para o golo.
Quando o tempo lhe podia reduzir a omnipresença, Ríos deu solução de passe a Ivanovic. Numa desmarcação esforçada, foi da zona de construção até à linha de fundo num instante e assistiu Leandro Barreiro para o 2-0.
Ríos, Ríos e sempre Ríos. Estamos em plena emancipação de alguém com afluentes por todo o campo.
Para abordar o crucial jogo da Liga dos Campeões, o Benfica sobrecarregou-se com médios. Mesmo Sudakov e Aursnes, vindos de fora, acabaram sempre a espezinhar o centro do campo. Franjo Ivanovic estava bem suportado para as correrias até ao infinito e mais além.
Uma das primeiras vezes que a bola não teve medo de pousar na luminosidade das chuteiras prateadas de Richard Ríos, o colombiano foi de imediato à procura do croata na frente. Afinal, o assoberbamento da zona nevrálgica deixou os centrais do Nápoles à nora. Tanto quiseram ir atrás de Leandro Barreiro que deixaram Fredrik Aursnes escapar-lhes. Sem poderio atlético para correr tanta relva, entregou de calcanhar para Ivanovic falhar isolado frente a Vanja Milinkovic-Savic.
Aquela figura pantagruélica do sérvio erguia-se que nem Adamastor na baliza do Nápoles. A monstruosidade, apesar de imensa, não lhe tapava os pés. Por isso, colocou a bola erradamente nos pés de Aursnes, mas logo corrigiu com as mãos.
O Benfica mostrava-se disciplinado ou não fosse treinado por quem é. Apenas urgia pela delicadeza a que lhe apelavam os consecutivos momentos que ia tendo para se superiorizar. Uma autêntica enxurrada. A sucessão de remates desajeitados expunha os motivos pelos quais Ivanovic habitualmente só entra quando jogo já está em andamento.
O grau superlativo absoluto sintético dos adjetivos tem o condão de pôr as palavras portuguesas a parecerem um pouco mais italianas. Quando José Mourinho se pôs a dizer que o Nápoles era “uma equipa fortíssima”, foi difícil não imaginar o treinador a unir a pontas dos dedos e a abanar o pulso.
Apesar do apreço demonstrado pelo treinador dos encarnados, até o penteado esculpido de Scott McTominay estava na cabeça de alguém a quem o Benfica conseguiu sorver poderio. Adiante, o Nápoles tinha um extremo conhecido que pouco alimentado foi. A vida é feita de escolhas difíceis. A certo ponto, ali no verão de 2024, o Benfica preferiu a figura divina de Di María ao reconfortante futebol de David Neres. Não foi assim que a Luz matou saudades da melhor versão do brasileiro que ainda tentou surpreender Trubin de fora de área.
Ficaram bilhetes por vender para o banco do Nápoles, onde Antonio Conte deixou lugares livres. Enquanto o Benfica tinha 12 opções alternativas, os italianos tinham apenas oito devido à lesões de gente como De Bruyne, Lukaku, Lobotka ou Gilmour. Um dos poucos membros do plano B era Matteo Politano, que ajudou a uma boa entrada do Nápoles na segunda parte.
Se o jogo já estava a sair bem a Franjo Ivanovic, ainda mais de feição ficou quando lhe deram espaço para os esticões. Foi assim que o Benfica se consolidou como a força dominante num jogo que talvez não entrasse nas contas para um possível apuramento. Com o jogo adormecido e a missão cumprida, José Mourinho estreou José Neto, campeão do mundo sub-17 por Portugal, e Tiago Freitas.
Perante a obrigatoriedade de ganhar, quem diria, o Benfica não acusou a pressão e encadeou seis pontos que o aproximam da entrada nas 24 primeiras posições da fase regular, aquelas que dão acesso ao play-off. Semelhante perfecionismo é preciso contra a Juventus e contra o Real Madrid. Uma exibição deste nível é difícil de repetir."

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