"O encantamento ao identificar a next big thing, o menino prodígio do aqui e agora, provoca arrepios, é uma viagem à certeza de um futuro com protagonista garantido: Lennart Karl, 17 anos, que jogador!
Há também um certo prazer, este talvez culposo, ao ler a nova e diária sacanice do homem que faz birras por não ser Nobel da Paz, ao mesmo tempo que veste a pele de castigador-mor, fazendo tábua rasa de direitos, humanismo e civismo. Uma das últimas foi-lhe oferecida de bandeja pelo presidente da FIFA. Que podridão.
De Washington para Vila do Conde, a mesma sensação de indecência. Os multimilhões de Atenas soam-me a beijo envenenado. 40 pessoas perderam os empregos na passada semana e ninguém está a salvo neste novo Rio Ave.
No Dragão, o ar de união e companheirismo é evidente. Liderança segura na I Liga, muito à custa de um extraordinário muro de betão polaco. À prova de balas, cruzamentos, remates e ameaças várias: Bednarek e Kiwior, extraordinários.
Numa semana com tanto para contar e analisar, é-me impossível agarrar a um só tema. Vamos ao detalhe das quatro propostas anteriores, uma a uma.
1. A minha pontaria sempre foi alarmante, descuidada, mas aqui é impossível falhar: Karl, herr Karl da Baviera, será o melhor futebolista do planeta num prazo não muito dilatado. Dois, três anos, queiram as lesões manter-se ao largo e o juízo não abandonar o rapazito do Bayern. Mas o que joga este rapazito, senhores! Num futebol que me parece vezes a mais exatamente a mesma coisa, sensaborão e repetitivo, este menino é a receita certa e direta para o prazer. O prazer de apreciar as coisas boas da vida, do futebol. Há quanto tempo não sentia isto a ver um jogo? Rewind, rewind, 2003, Dragão inaugurado e um tal de Lionel Andrés Messi em campo. Por aí, sim.
2. Vergonha alheia. Pela hipocrisia, pela subserviência do presidente Infantino. Lamentável a narrativa folclórica, o troféu criado à força para acalmar o menino birrento da Sala Oval, ainda a derramar lágrimas de jacaré por não ter o Nobel da Paz na estante emoldurada a talha dourada, uma parolice ignorante, bem à moda trumpista. Que o Comité de Ética faça o seu trabalho. Gianni, o amigo de Donald, não é dono de nada, muito menos do planeta-futebol. Que vexame! Promover a malignidade de um biltre empenhado em terraplanar os mais básicos níveis de respeito e decência, em espezinhar tratados e históricos aliados. Que pobreza... de espírito. Nota positiva: desta vez, Cristiano Ronaldo não participou na triste representação.
3. O que se passa no Rio Ave? Departamentos desmantelados, 40 funcionários despedidos, equipas de formação sem as condições mínimas para o treino e competição, a presidente Alexandrina em paradeiro incerto e sem uma palavra para os afetados, o multimilionário Marinakis longe, cada vez mais longe, certamente a saborear uma lagosta do Maine, envolvida em caviar e trufas brancas. O histórico dos Arcos tem alma, tem responsabilidades e, acima de tudo, tem pessoas. As hossanas da revolução grega soam-me a cantiga do bandido. Espero, espero sinceramente, que não estejamos a ver mais uma SAD a aniquilar um emblema fundamental do desporto português.
4. Celso-Lima Pereira, Geraldão-Demol, Fernando Couto-Aloísio, Jorge Costa-Aloísio, Jorge Costa-Ricardo Carvalho, Bruno Alves-Pepe. Parte importante da força do FC Porto nos últimos 40 anos nasceu na sintonia e cumplicidade da sua dupla de centrais. Parceiros inexpugnáveis, almas siamesas, polícia bom e polícia mau, um mais agressivo na marcação e o outro mais suave e inteligente. A dada altura, o Dragão perdeu este ferrolho de aço. Vulgarizou-se no setor que lhe garantia campeonatos: estabilidade, solidez, pertença.
Esta crescente banalização teve o seu apogeu na inenarrável campanha de 24/25, palco de acesso à mediocridade do infeliz Nehuén Pérez e do tolinho Otávio, um dos defesas mais despropositados e erráticos que vi de dragão ao peito. AVB e a sua administração não poderiam ter solucionado o problema de melhor forma: Bednarek e Kiwior permitem aos portistas jogar confortavelmente em bloco baixo, quando a isso são obrigados, e são praticamente imunes ao erro. Um mais autoritário (Jan), o outro com mais classe (Jakub). Nas Polska Files estará uma das explicações para o sucesso anunciado da era-Farioli. Três golos sofridos em 13 jornadas? Não se via nada assim desde 95/96, com mister Bobby Robson."

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