"Estamos a assistir a transformações à escala global que passam diante dos nossos olhos à velocidade da luz. As consequências chegarão ao Desporto...
A chegada de março marca normalmente o início das polémicas mais duras em torno da arbitragem, o tempo em que as várias decisões - título, UEFA e permanência - começam a ganhar forma, e a intolerância cresce na mesma medida em que se procuram desculpas para os eventuais insucessos. Quem estiver atento, e nem é precisa grande atenção, percebe que não se trata de um fenómeno exclusivamente português, e que mesmo em países onde a questão do campeão está arrumada (França, Inglaterra, Alemanha), outras ‘guerras’ suscitam protestos e fazem correr muita tinta. Curiosamente, se é verdade que sempre assim foi, e assim continuará a ser, nem mesmo a chegada do VAR, que reduziu em mais de 90 por cento os erros graves de arbitragem, a entrada em cena de investidores sem ligação afetiva aos clubes, ou a mudança geracional dos dirigentes, parecem ser suficientemente fortes para que se constate uma alteração de paradigma. Entre tantas verdades relativas que estas questões encerram, há uma verdade absoluta (e apenas uma) a que todos preferem fazer ouvidos de mercador: em cada campeonato, só pode haver um campeão, e cada vez menos os clubes parecem confortáveis com esta inevitabilidade.
MAS detenhamo-nos um pouco sobre o VAR, que trouxe mais verdade ao futebol, sendo hoje uma ferramenta indispensável, de tal forma que nos jogos sem esta tecnologia toda a gente se sente no arame sem rede. Parecendo claro que há ajustes a fazer ao protocolo em vigor, a luta contra o antijogo nunca será ganha se não se associar a tecnologia do tempo à tecnologia do vídeo: é altura do futebol deixar de ser a única modalidade temporizada sem cronometragem que considere apenas o tempo útil. O que International Board fez agora, com mudanças cosméticas em relação aos guarda-redes, não vai fazer nenhuma diferença. E não venham dizer que se trata de uma questão de custos, porque estamos apenas diante de uma teimosia que mantém o futebol atrás das outras modalidades, mais verdadeiras, neste particular. Lamenta-se também que não tenha havido coragem para aprovar a ‘lei Wenger’ para os 'offsides’, que tornaria o jogo mais entusiasmante, ao mesmo tempo que faria diminuir as suspeições sobre o VAR. Ainda não foi desta, mas tenho a certeza de que o futuro seguirá essa rota.
O Mundo está um lugar cada vez mais perigoso e incerto, onde, depois da alteração provocada pela implosão da União Soviética, há mais de três décadas, voltamos a ser confrontados com aquilo que parece ser uma nova ordem, que faz do pragmatismo a bandeira, e dos princípios o lixo que se deita no caixote. As mudanças que vão passando, à velocidade da luz, à frente dos nossos olhos, não deixarão de ter consequências nos eventos desportivos globais, não só pelas crescentes tensões políticas, mas também pelas previsíveis limitações à circulação de adeptos. Como serão abordados os Jogos Olímpicos de 2028, em Los Angeles, e antes deles, o Mundial de Clubes, já a partir de junho, nos Estados Unidos, onde estarão três equipas mexicanas, e o Mundial de 2026, co-organizado por mexicanos, norte-americanos e canadianos? Para já, navegamos num mar de incógnitas, a que, como uma das sedes do Mundial de 2030, deveremos estar particularmente atentos."

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