"Só uma seleção pode ser campeã europeia, mas como se perceberá, há mais formas de se chegar à glória
Os títulos são o principal argumento. O peso é significativo e assim deve ser, porque esse é, afinal, o propósito do desporto. Competir e haver um vencedor, que se sobrepõe a todos os outros na modalidade. Ser o melhor dos melhores, no resultado, significa ter um lugar na história, uma medalha ao peito ou uma taça numa vitrine de um museu.
Ainda assim, esse não é o único caminho para a glória. E eu prefiro a glória a qualquer troféu.
A glória tem muitas formas. E, sim, dela fazem parte o ouro, a prata e o bronze. Mas também fazem a superação da adversidade, os recordes ou, simplesmente, um sentimento.
A glória pode ser um calafrio, um arrepio na espinha como aquele que se dá de cada vez que se vê Éder a preparar-se para chutar à baliza de Lloris - aí associado, obviamente, a um troféu.
Mas os que nunca venceram, os derrotados, também podem ser gloriosos: ou porque, lá está, bateram um recorde, porque superaram adversidade ou, simplesmente, provocaram um sentimento. Dando nomes às coisas, os Oakland A’s de 2001, Niki Lauda em 1976 ou o Brasil de 1982.
Duas equipas e um homem que nada venceram nesses anos, mas cujas façanhas são maiores do que qualquer troféu, seja pelo recorde, pela superação da adversidade ou por um sentimento.
Eu não gosto de baseball, mas admiro a estratégia e a sequência de vitória dos Oakland A’s; não era nascido quando Lauda recuperou de um acidente que o devia ter matado e decidiu enfiar o capacete na cabeça e lutar até ao fim pelo mundial de pilotos, mas conheço a sua história; eu já era nascido, mas não tenho qualquer memória de uma equipa que nada ganhou no mundial espanhol, mas da qual sempre ouvi falar.
As suas histórias persistem e, portanto, não é isso uma espécie de glória? Claro que é. Maior até do que o ouro, a prata ou o bronze.
A afeição influencia o prisma de análise. Quem «sentiu» Ayrton Senna jamais considerará Schumacher ou Hamilton os maiores da História, por muito que o alemão e o britânico tenham vencido mais do que o brasileiro na Fórmula 1. Qual deles mexeu realmente connosco?
O Euro 2016 foi a glória desportiva patenteada numa conquista inaudita de Portugal. O golo de Éder causará sempre emoções e até os empates da fase de grupos ficaram na História coletiva deste país, ainda que, por esses, creio, ninguém sinta coisa alguma.
O Euro 1984 ficou na memória de uma geração de portugueses – porque o feito de ir era, só por si, enorme – como o Euro 2000 ficou para outra, mesmo sem vencerem. O que quero dizer é que Portugal, já campeão europeu, pode fazer melhor, pode ser glorioso melhor. Como? Aliando sentimentos de 1984 e 2000 à conquista de 2016.
Só uma seleção pode ser campeã europeia, mas como se percebeu, há mais formas de se chegar à glória. O que não parece possível é esta existir sem que se jogue muito bem frente à Turquia."
Sem comentários:
Enviar um comentário
A opinião de um glorioso indefectível é sempre muito bem vinda.
Junte a sua voz à nossa. Pelo Benfica! Sempre!