"As crónicas que escrevo mensalmente sob o titulo de “Por águas nunca dantes navegadas” têm por objetivo comunicar, sensibilizar, se possível contribuir para a resolução de problemas existentes no tecido desportivo nacional, na sua estrutura, na prática, mas essencialmente que estes alertas sirvam como oportunidades de melhorias e de mudança.
A semana passada, no final da tarde de quarta-feira, 24 de janeiro, num local icónico, a Tribuna de Honra do Estádio Nacional, fui confrontado com uma agradável supressa. A Confederação do Desporto de Portugal (CDP) realizou uma sessão de apresentação pública das Cinco Prioridades Políticas para a XVI Legislatura, a saber: a criação de um Plano Estratégico para a década, um novo modelo de financiamento do Desporto nacional, mais Educação Física no 1.º ciclo de escolaridade, mais Desporto no serviço público de rádio e de televisão e a criação do Ministério do Desporto.
De facto, enquanto pessoa interessada pelo fenómeno desportivo e enquanto membro da sociedade civil, em anteriores crónicas, já tive oportunidade de abordar a quase totalidade destes temas a que se referem as cinco prioridades políticas do CDP. Aliás, nem a propósito, no passado mês de dezembro, falei sobre o famoso plano estratégico e explanei alguns dos pressupostos que justificam esta necessidade, com a crónica intitulada "Paris 2024 a um passo... e Brisbane 2032?"
Até para memória futura, e 2 anos passados, aproveito para vos deixar um texto que escrevi em maio de 2022, publicado no DN, que refere, entre outras coisas, aa necessidade de um plano estratégico para o Desporto nacional, e que rezava assim:
"Precisa-se de um plano estratégico para o desporto nacional"
"Planeamento, ou apenas planear pedir mais dinheiro? E se o dinheiro não chega? E se ano após ano apenas sabemos repetir a estafada receita de pedir mais e mais e o resultado da análise de qualquer gestor de recursos escassos, quando não vê inovação, visão, e alinhamento nessa visão, nos vão dando menos e menos, dando assim razão a Einstein que tão bem soube definir loucura, 'continuar a fazer as coisas sempre da mesma maneira e esperar resultados diferentes'.
A mudança e a gestão da mudança fazem parte do nosso quotidiano diários, a imprevisibilidade tornou-se nossa companheira do dia-a-dia, hoje o que é seguro é haver mudança permanente, quem se adaptar melhor e a receber como uma oportunidade, seguramente caminhará no pelotão da frente.
Voltando ao tema que me faz escrever estas linhas, o famoso plano estratégico nacional para o desporto, não é obviamente uma quimera, nem algo que se deva guardar numa gaveta, nem por si só a receita infalível, mas até chegar lá precisamos de saber enquanto stakeholders do fenómeno desportivo, o que queremos, como queremos, para quem, algo que seja pensado, resultado de um inquérito de opinião àqueles que podem definir os melhores objetivos e que sabem que o desporto tem um papel essencial na sociedade e pode efetivamente despertar uma nação, são eles a sociedade civil os agentes desportivos e todos aqueles que de uma forma direta ou indireta podem intervir e influenciar positivamente o fenómeno desportivo. Temos que saber como perceber e antecipar o futuro e como vamos envolver todos nesta missão e aí sim talvez venhamos a ter recursos suficientes para financiar essa visão.
Seguramente que a aspiração maior de uma nação é que cada vez mais os atletas subam o mais alto possível no pódio, mas acima de tudo o que esse sucesso também deveria traduzir era o espelho de uma nação mais moderna, mais solidária, mais inclusiva, uma plataforma única de sucesso que o desporto representa para uma sociedade, teríamos que encarar o fenómeno desportivo não como um fim em si mesmo, mas como um meio para uma ambição maior que represente uma sociedade mais moderna e solidária e em constante mudança.
Qual é o ponto de viragem? É transformar e tornar cada um dos intervenientes no fenómeno desportivo, num ator solidário, alinhado e consciente de que juntos podemos atingir os nosso propósito, que está acima de cada um de nós e que visa servir a sociedade. O caminho a percorrer não é fácil, temos que abandonar a imagem corporativa do desporto, de algumas quintas instaladas, da não partilha do conhecimento, temos que passar a ser um grupo alinhado com espírito de colaboração e de coopetição, alinhados numa visão estratégica que possa definir com métricas reais e ambiciosas o que significa a palavra sucesso e seja o exemplo de uma ambição maior.
Temos que perceber e ambicionar envolver os adeptos do desporto nesta visão maior, como inspirá-los e como comunicar esta visão, de que o desporto tem um papel muito para além das medalhas, tem o poder de unir e despertar uma nação, sendo as medalhas uma consequência, o reflexo deste fenómeno e dinâmica aglutinadora.
Para isso voltamos ao ponto de partida, sabendo que os recursos naturais são escassos, como aproveitá-los e aplicá-los da melhor maneira, e saber demonstrar ao poder politico que através de um discurso diferente e um plano estratégico nacional podemos e devemos chegar mais longe.
O financiamento é fundamental, ninguém discute essa parte da equação, mas não o teremos seguramente a pedir mais, a querer gastar mais, a exigir mais, muito provavelmente o problema/oportunidade está na forma como comunicamos e no conteúdo que comunicamos, as entidades oficiais, os políticos têm que sentir este apelo que vem da sociedade civil, faça com que se apropriem deste projeto, têm que ser envolvidas, têm que perceber que o desporto no seu conjunto, e não apenas alguns nichos de sucesso, pode efetivamente despertar uma nação veja-se como bom exemplo e prática o plano estratégico 2030 que a FPF recentemente lançou, com uma visão e uma aposta séria no futebol feminino, que estando a ter um desenvolvimento exponencial em todo um mundo, tem um impacto e uma mensagem efetiva na sociedade civil, uma mensagem social poderosa, e onde se define com clareza o significado da palavra sucesso.
Hoje não precisamos de inventar, de criar de tentar encontrar, hoje temos suficientes boas práticas por essa Europa fora, na vizinha Espanha, na França, Itália Reino Unido, onde perceberam a importância de um plano estratégico para o Desporto, e uma visão inspiradora para envolver a sociedade.
Para tal é preciso criar este movimento, criar este alinhamento estratégico, saber que o resultado final deve vir da soma das partes, perceber que quem só se preocupa com a individualidade, não pode fazer parte desta equação, é preciso sacrificar essa individualidade por um bem maior que é o coletivo, ter um propósito, é preciso trabalhar nessa ambição, é preciso criar uma figura uma entidade supranacional, que pense e execute essa visão e que esteja acima de todas as entidades desportivas, criar um modelo de financiamento que seja a resposta pensada suficientemente ambiciosa desse plano, será necessário obviamente fazer escolhas, num país de 10 milhões não podemos querer tudo, ser os melhores em tudo, a definição de sucesso também passa por aí, é incómodo, é, dá trabalho, dá, mas é seguramente um caminho a experimentar."
Sendo assim, saúdo a iniciativa e a coragem da CDP, na pessoa do seu Presidente, de falar em temas que deveriam ser consensuais, quer pela sua natureza, quer pelo seu propósito, mas que infelizmente são considerados fraturantes. Temos uma oportunidade enorme pela frente, não vamos desperdiçar mais tempo, queremos um país com mais atividade física e todas as consequências positivas que daí advêm, um país com uma estrutura desportiva mais profissional, um país com mais cultura desportiva, e também um país a ganhar mais com mais ética e melhor, porque afinal já muitos países perceberam que o DESPORTO É UM MEIO PODEROSO PARA DESPERTAR UMA NAÇÃO."
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