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sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

Adeptos vão ouvir explicações dos árbitros em direto, durante os jogos: não há, como nunca houve, nada a temer ou a esconder


"Apesar de não ter havido ainda qualquer confirmação oficial, fontes ligadas à FPF fizeram saber que a FIFA autorizou, nos jogos da liga portuguesa, a divulgação dos áudios com as decisões dos árbitros.
A comunicação ocorrerá em direto para quem estiver no estádio e, presume-se, para quem assista aos jogos pela televisão.
A iniciativa, uma das muitas aprovadas nos últimos meses por este Conselho de Arbitragem, materializará passo importante rumo à transparência de processos que o futebol há muito espera e exige.
É justo, no entanto, recordar que a FIFA impedia avanços nesta matéria, permitindo apenas a divulgação de áudios após o final dos jogos e para efeitos formativos.
A verdade é que alguns testes recentes, efetuados em várias provas oficiais, demonstraram que o impacto da medida não foi nefasto, ou seja, não criou incidentes entre jogadores nem problemas nas bancadas, como teve até a aceitação generalizada dos vários agentes desportivos, adeptos e imprensa.
A esta distância e sem sabermos ao certo o que mudará, quando e em que moldes, é possível especular sobre as possíveis vantagens e desvantagens deste avanço.
O grande benefício é, garantidamente, a tal abertura da estrutura em relação ao mundo exterior. Não há, como nunca houve, nada a temer ou esconder. As decisões das equipas de arbitragem são tomadas de forma honesta, com base em imagens interpretadas por quem dá o seu melhor em campo e em sala. Podem estar certas ou erradas, pode-se concordar ou discordar, mas o que nunca se deve dizer é que houve premeditação ou má-fé.
Outro aspeto positivo, consequência direta dessa transparência, é a diminuição do ruído exterior e de algumas polémicas estéreis. Ouvir a decisão a ser anunciada pelo próprio decisor pode ajudar a desmistificar suspeitas e a desmontar potenciais teorias de conspiração, algo que a nossa alma latina tende a promover com relativa facilidade.
Mas, por ser importante, convém sublinhar que aquilo que será ouvido em campo (e em casa) não será a conversa que conduz à decisão. Não será o diálogo que presidiu à tomada de determinada ação.
Será apenas uma indicação curta, que identifica o incidente e tipo de infração cometida, o seu autor e a decisão final:
- “ Vou assinalar pontapé de penálti porque o N4 do clube B rasteirou adversário dentro da sua área”;
- “Vou exibir cartão vermelho ao jogador N67 por ter agredido o adversário a soco, incorrendo em conduta violenta”;
- “Vou anular o golo por fora de jogo ativo do seu marcador, o N31”.
Na prática, os adeptos terão, por voz, a antecipação de uma decisão que verão acontecer momentos depois.
Não é muito? Não, mas é alguma coisa e nesta matéria, a de desbravar caminhos sensíveis e suscetíveis de criar tumultos, é prudente ir devagar. O caminho faz-se caminhando.
Outro senão poderá ser o da pressão negativa exercida pelos intervenientes ou adeptos insatisfeitos com a decisão anunciada, dificultando ainda mais o trabalho do árbitro até ao apito final. Ou até eventuais falhas tecnológicas que impeçam pontualmente que se ouçam as decisões, criando pequenas desigualdades que nada abonariam a favor da bondade da iniciativa.
Certo, certo é que a arbitragem pode fazer o pino, dar três piruetas e cinco cambalhotas todos os dias: nunca agradará a todos, será sempre criticada e jamais deixará de ser suspeita. Mas quando se propõe a dar pequenos passos em direção ao adepto, quando abandona a posição de eterna inércia e silêncio, mostra que está a finalmente a evoluir e a tentar fazer parte da solução, não do problema.
É assim que deve ser e é assim que tem que ser sempre. E há tanto (mas tanto) ainda por fazer."

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