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segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

O risco de Roger Schmidt ou uma questão inexistente (pelo menos para quem dirige o Benfica)


"Roger Schmidt é um treinador questionado. O alemão orienta o SL Benfica desde 2022/23 e já venceu uma Liga Portugal.

Roger Schmidt chegou em alta a Portugal. O técnico assumiu o SL Benfica no arranque da temporada 2022/23 e enchia os adeptos benfiquistas de esperança. Era um técnico estrangeiro, com provas dadas em vários países, conhecido ao nível europeu, quiçá mundial. Depois de uma época frustrante com um desgastado Jorge Jesus, finalizando-se a mesma com Nélson Veríssimo, que provou que não tinha (ainda) estofo para ser técnico de um emblema daquele nível, a vinda do germânico foi o melhor que poderia ter acontecido. Este pensamento foi adensado por uma mítica frase, com clara mensagem populista, durante a sua chegada a Lisboa:
«Quem ama futebol, ama o Benfica», afirmou Roger Schmidt aos jornalistas.
Que aficionando não gosta de ouvir tal expressão? O Benfica inclusivamente até criou cachecóis com o novo slogan, criado por um treinador que vinha para ser feliz e que afirmava que amava futebol.
2022/23 correu quase na perfeição. Vitória na Liga Portugal e quartos de final da Champions League, com exibições de encher o olho pelo meio do percurso. Roger Schmidt apresentou Enzo Fernández ao futebol europeu e perdeu-o em janeiro, mas conseguiu que outros atletas se destacassem como Fredrik Aursnes, Gonçalo Ramos ou Alejandro Grimaldo, além dos meninos da formação António Silva e João Neves. No fundo, o projeto de Rui Costa estava a correr como planeado, com vitórias e os sócios contentes.
2023/24 não apresenta a mesma matriz. Estamos em dezembro e o Benfica segue vivo no campeonato e nas taças, mas caiu na Champions, na fase de grupos, confirmando o apuramento para a Liga Europa apenas na última jornada. As exibições, no seu computo global, são muito fracas e há pouca alegria. Roger Schmidt não consegue retirar o melhor das águias e é cada vez mais pressionado pelos adeptos, aos quais lhe foi vendido um irreal “sonho europeu”, cujas culpas nem deveriam ser relacionadas ao técnico, mas sim a Rui Costa.
O alemão, que antes referia que “quem ama o futebol, ama o Benfica”, agora adotava um discurso muito mais agressivo, contra os próprios adeptos:
«Quero dizer obrigado aos adeptos, apoiaram muito o que os jogadores fizeram até ao último minuto. Mas os negativos que fiquem em casa, porque não é bom para a equipa, quem não estiver feliz com o que os jogadores e equipa fizeram por favor fique em casa! Se não estiverem felizes com a equipa por favor fiquem em casa, porque não podemos fazer melhor, com o esforço que os jogadores fizeram é melhor ficar em casa. Se não são capazes de apoiar depois do que os jogadores fizeram hoje, voltem depois quando formos campeões e formos para o Marquês de Pombal. Para estar como estiveram hoje, com os jogadores a fazer o que fizeram, se não respeitam o treinador, então é melhor ficarem em casa, não é aceitável para mim», afirmou na conferência de imprensa do empate entre o Benfica e o SC Farense, em um dos melhores jogos dos encarnados em 2023/24.
Roger Schmidt deixou de estar na moda e não está a gostar disso. Para alguns, as suas declarações foram consideradas normais, depois de lhe terem atirado objetos e o terem apupado severamente quando retirou João Neves de campo. Para outros, foi um ato inadmissível. O que é certo é que Rui Costa viu-se obrigado a vir a público a responder a uma série de perguntas e a exibir de que lado está:
«Falo quase todos os dias com Roger Schmidt e ele sabe a confiança que tenho nele. Não preciso de estar sempre a apregoar à comunicação social. Mesmo aqueles que dizem que me devia ter manifestado mais cedo, nos últimos 20 dias é a quarta vez que falo. Não preciso de falar sempre (…) Obviamente, não posso deixar de lamentar o que aconteceu, creio que em 120 anos nunca se tenha visto situação como a de ontem, não é este o respeito que o nosso treinador merece, um treinador que chegado o ano passado ganhou tanto em meses como o Benfica nos últimos 4 anos, portanto, considero que foi ação completamente despropositada (…) Tem havido campanha grande desde o princípio da época contra Roger Schmidt, é dificil perceber porquê, inclusive esta história de falar inglês ou não, nunca vi com tanto estrangeiro que passou em Portugal, não me lembro de campanha contra estrangeiro por causa da língua… Tem havido campanha enorme de desestabilização, sabíamos de antemão que iam pegar na pessoa que é a grande obreira do projeto, e a reação de ontem é de adeptos que, depois de termos sido campeões, esperavam outra classificação».
O risco de Roger Schmidt ser despedido no caso de uma derrota ou empate contra o SC Braga é um absoluto zero, já que não é um homem “só”. Mesmo que o Benfica tivesse ficado em último lugar no grupo da Champions, a resposta seria a mesma. Porque a qualificação para a Liga Europa só deu mais margem para com os adeptos. Quem decide é Rui Costa e para ele está quase tudo bem.
O alemão planeou a época, definiu certos reforços desde o momento em que chegou ao Seixal (Kokçu ou Aursnes têm o dedo claro do treinador), levou a equipa a títulos em 2022/23 e em 2023/24 ainda pode ganhar tudo internamente, porque Sporting CP e FC Porto estão a um ponto e estão a tropeçar constantemente. E se o Benfica vence a Liga Europa? Isto tudo aliado ao valor da rescisão de Roger Schmidt. O Benfica investiu potente, como um verdadeiro gigante europeu, num projeto com uma figura de proa. Não faz sentido mandar o capitão embora do barco, quando a viagem somente vai a meio.
Por muito que vários benfiquistas já não gostem de Roger Schmidt, que digam que o futebol praticado é aborrecido e que não é com ele que o Benfica atingirá o estrelato (leia-se meias-finais ou final da Champions, algo que não está ao alcance das equipas portuguesas), o antigo técnico do PSV Eindhoven tem muita margem com a direção e lugar garantido até ao final de 2023/24, no mínimo. Vem aí mais um mercado e estará para perceber qual a influência de Schmidt nas contratações.
Algo é certo, o resultado de Braga não define nada. Nem o futuro do Benfica, nem o de Schmidt, nem o de Rui Costa. Mas que alguns parâmetros de jogo têm que ser melhorados, isso é uma realidade, e a serem executados a curto prazo. Afinal, toda a gente adora ter a Luz do seu lado, mas ninguém gosta de vivenciar o seu Inferno."

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