"As águias conseguiram o resultado de que precisavam, vencendo o RB Salzburg por 3-1 para conseguirem o acesso ao play-off da Liga Europa. Di María fez um golo olímpico, Rafa também marcou mas foi perdulário, até que o criticado avançado brasileiro, aos 92', protagonizou o momento decisivo
Aqui estamos nós outra vez. Em clima de pré-crise, o Benfica precisava de um balão de oxigénio, um triunfo que desse três pontos e injecções de motivação, uma bandeira branca da paz depois do sucedido na Luz, na passada sexta-feira. Numa época em que a equipa parece ir de pré-crise em pré-crise, com triunfos que sabem a sobrevivência pelo meio, Salzburgo foi novo palco de exame que se tinha de aprovar.
Na terra de Mozart, Di María compôs e interpretou a sinfonia da noite, um tango clássico tocado pela perna esquerda de um campeão do mundo que jogou numa missão. Fintou, serviu, marcou um golo olímpico, foi talento e alma.
Mas só a qualidade do argentino não chegava. À entrada dos descontos, o Benfica vencia por 2-1, resultado que deixava os lisboetas de fora das competições europeias. Mas, aos 92', a eterna saga do herói improvável chegou à Áustria para levar os campeões nacionais para o play-off da Liga Europa.
João Neves, o menino que se agiganta nestes cenários de tempestade e luta, abriu na direita para Aursnes, o norueguês dos tempos precisos de ataque ao último terço. O polivante cruzou para a área, um convite de golo para um dos mais criticados futebolistas do Benfica.
Arthur Cabral, o milionário reforço que veio para o lugar de Gonçalo Ramos, tarda em convencer a Luz. Entre a falta de golos e o escasso rendimento, foi notícia por mostrar o dedo do meio a alguns adeptos depois da igualdade contra o Farense. Pediria desculpa nas redes sociais, mas o verdadeiro perdão estava ali, naquela oportunidade, naquele remate.
O ponta-de-lança não falhou, o Benfica respirou de alívio. 3-1 e a caminhada europeia a prosseguir além do natal. Ali, na finalização de Arthur, novo balão de oxigénio suavizou a pré-crise, à espera do que suceda em Braga e colocando a cereja no topo do bolo do recital de Di María.
Roger Schmidt voltou a Salzburgo, onde, entre 2012 e 2014, ajudou a arrancar a grande era de domínio do Red Bull na Áustria. Impulsionando o futebol de pressão e vertigem tão associado às equipas do grupo RB, Schmidt foi campeão liderando uma máquina goleadora com Jonathan Soriano, Alan, Sadio Mané ou Kampl.
Com Tomás Araújo a central, no lugar do castigado António Silva, a primeira grande oportunidade foi logo um prenúncio da tendência que marcaria a noite. Aos 13’, Rafa surgiu isolado, mas disparou por cima. Faria um golo em seis remates, depois de, frente ao Farense, só ter marcado uma vez em 12 tentativas.
Na Áustria, Di María dançou entre os defesas adversários. Dando continuidade à exibição anterior, o argentino criou, uma e outra vez, situações de golo. Numa das primeiras, bailou da direita para o meio e fez um cruzamento-remate que passou a centímetros do poste direito.
A obra prima do fideo em Salzburgo surgiu aos 32'. Na terra da música clássica, uma sinfonia de um solista canhoto. Di María bateu um canto da direita, fazendo a bola encaminhar-se na direção da baliza adversária. Otamendi não desviou a bola, que chegaria ao fundo das redes. Golo olímpico, apenas o quarto da história da Champions.
Em cima do intervalo, o Benfica chegaria ao que precisava de atingir na totalidade do desafio. João Neves, o gladiador, recuperou a bola e, no chão, conseguiu um passe para Di María. O criativo que faz assistências como quem respira solicitou Rafa Silva, que, para variar, rematou com êxito. O play-off da Liga Europa estava, ao intervalo, ali tão perto.
A segunda parte começaria ao som de Rafa, o perdulário, voltando ao tema mais recorrente nos últimos tempos do supersónico agitador. Outra vez servido por Di María, que fez de pé esquerdo o que se deve fazer de pé direito — mas não peçam a um génio para seguir regras —, Rafa, em grande posição, atirou contra Schlager.
Os locais criaram bem menos perigo que o Benfica, mas aproveitaram a falta de pontaria adversária para regressaram a um resultado do seu agrado. Aos 57', um remate de Sucic, de fora da área, foi desviado por Tomás Araújo, fazendo o 2-1. O Benfica tinha mais de 30' para reagir.
A história do assalto ao 3-1 foi o conto da insistência de Di María e do desacerto de Rafa. O argentino voltou a roçar um golo olímpico e ainda acertaria no poste. O português, aos 75', disparou sem pontaria após cruzamento de Morato e, aos 77', voltou a não conseguir superar Schlager.
O tempo escasseava. Schmidt lançou Gonçalo Guedes, mas a falta de confiança em Arthur Cabral levou a que o brasileiro só entrasse aos 91'. Bastou um minuto para que o ex-Fiorentina mantivesse o Benfica na Europa.
João Neves, com uma alma inversamente proporcional ao seu tamanho, voltou a ser o homem dos segundos decisivos. Abriu para Aursnes, que teve a precisão de servir o herói improvável. Arthur foi de besta a bestial em quatro dias, andando na montanha-russa tão própria da bola.
Há um ano, um golo tardio de João Mário permitiu que o Benfica passasse aos oitavos-de-final da Liga dos Campeões em primeiro lugar do grupo, levando à festa da equipa. Agora, um golo tardio coloca as águias no terceiro lugar, permitindo-lhes disputar o play-off da Liga Europa. A felicidade é uma questão de perspetiva."
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