"É indiscutível que Ronaldo, sozinho, fez pender o Campeonato da Arábia Saudita para o lado do "credível" aos olhos do mercado do futebol. Depois dele, grandes estrelas da Liga Inglesa abdicaram dos melhores campeonatos do mundo e da Liga dos Campeões para irem até ao Médio Oriente. Podia então este texto ser sobre futebol e a moral de quem o paga na Arábia Saudita, com dinheiro arrancado a ferros da carteira de tantos milhões de pobres e remediados em todo o mundo, mas os petrodólares ou o gás russo estão espalhados pelo futebol global há muito tempo. E o futebol é simbólico quando comparado com a questão de fundo: de onde vêm e para onde vão todos estes triliões do petróleo e gás?
Famílias, empresas e Estados - todos vivemos esganados por esta extorsão. Mas a questão dúplice do nosso depósito de combustíveis é que ele também acentua o incessante avanço dos extremos climáticos. Por cada abastecimento, a morte de um planeta habitável para os humanos aproxima-se. É uma questão física: se arrancamos tanto carbono do subsolo e o colocamos no ar, o planeta aquece. Ou seja, não só andamos a pagar quase 100 dólares por barril de petróleo, como a cometer um genocídio global. Na bomba de gasolina mais próxima.
Claro, a questão de sempre: E soluções? Esta semana o ex-primeiro-ministro inglês, o trabalhista Gordon Brown, publicou no Guardian um texto essencial com uma hipótese para amenizar este desvario. Simples, eficaz e à qual os cidadãos deste mundo deveriam emprestar a sua força coletiva para tornar exequível. O que propõe? Em 2022 a indústria do petróleo e gás faturou 4 triliões de dólares (4 biliões em português). "Uma das maiores redistribuições de riqueza dos países pobres do mundo para os petro-Estados mais ricos", diz Brown.
O ex-primeiro ministro inglês propõe que na próxima cimeira do clima (COP28), a decorrer em novembro, nos Emirados Árabes Unidos, os países exportadores de petróleo destinem uma pequena parte dos seus lucros recorde para compensar os países pobres do Sul, ajudando-os, entre outras coisas, a abdicar do carvão e a fazer a transição para as energias renováveis.
Tendo em conta que os ganhos extra no petróleo e gás em 2022 atingiram 1 trilião de dólares, 25 biliões de taxa representariam 1% das suas receitas globais (e menos de 3% das exportações). Ou seja, quase nada. Em contraponto, os países da Europa e América do Norte deveriam garantir contribuições e colaterais de garantia de financiamento entre 100 e 400 biliões de dólares. Entretanto, a taxa sobre o petróleo manter-se-ia ao longo dos anos, dando uma funcionalidade essencial a este dinheiro no combate aos extremos climáticos. Não resolveria tudo, mas geraria um princípio básico de responsabilidade entre poluição e lucros.
Como Ronaldo sabe, até podemos nadar em dinheiro, mas a utilidade disso para o futuro dos nossos filhos é nula se não puderem respirar ou sair à rua. Ora, Ronaldo pode ser útil e juntar-se a um combate que também é seu e da sua família. Ele tem liberdade e voz para defender uma causa de todos dentro da ditadura saudita e esta proposta de Gordon Brown é talvez a última oportunidade de o mundo se unir. Esse sim, seria o golo 1000 da sua vida - e mais útil. Conseguirmos trazer o Médio Oriente para a responsabilidade global? Se não evitarmos o degelo do Ártico e da Sibéria - e a consequente libertação do terrível metano -, não há triliões que nos salvem.
"O colapso climático começou", disse Guterres. A bola agora é tua, Cristiano. O futebol também pode ajudar a salvar o planeta."
O Cristiano é um pateta.
ResponderEliminarFoi ele próprio que o disse, quando foi interrogado pelo fisco espanhol, a propósito da fuga aos impostos em Espanha.
Para ele o problema do aquecimento global deve resolver-se com ar condicionado topo de gama, em casa.
Colocar nas costas de Cristiano a responsabilidade da luta contra as alterações climáticas, é como pedir ao chimpanzé mais famoso do Zoo de Lisboa para resolver um teorema matemático.
A opinião de que Cristiano deu credibilidade ao campeonato saudita é muito discutível.
Na minha opinião não deu. Os jogadores a actuar na Europa vão para a Arábia exclusivamente pelo dinheiro.
Até podem usar a desculpa do Cristiano e de outros, para se justificarem. Mas vão para lá para comprarem um jato privado melhor, um iate maior, mais carros de luxo. Não é para serem campeões da Arábia Saudita ou sequer da Ásia.
O problema das alterações climáticas é demasiado sério para ser misturado com assuntos como o futebol.