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terça-feira, 1 de agosto de 2023

Saudades do futuro



"Este é o tempo das saudades do que aí vem, que vai longo o jejum de jogos a sério. Na teoria, pelo menos nela, nenhum dos candidatos ao título estará mais fraco, pelo contrário, mas também teoricamente nunca está nesta altura das épocas. E ainda há hipóteses de saídas importantes em aberto, que o mercado vai estar vivo mais um mês e o dinheiro que jorra da Arábia faz cair velhos hábitos de negócio como peças de dominó.
O campeão Benfica já sente as previsíveis saudades de Grimaldo. Os números de assistências e golos da época passada silenciaram os céticos do “defende mal”, mas o pequeno espanhol era bem mais do que o defesa que organizava como médio e definia como atacante. Era um elemento indispensável no processo de construção, GPS raro pelo que encontrava de saídas seguras, fosse em passe ou condução, algo essencial a qualquer equipa grande e mais ainda a um Benfica que coletivamente lida mal com adversários pressionantes. Viu-se em alguns jogos importantes da época anterior e houve sequelas recentes e elucidativas nos confrontos com Burnley e Feyenoord. Mais que encontrar o local certo para Aursnes, que não me parece de todo ser no centro do terreno (para mais quando há João Neves), ou que descobrir a fórmula de utilizar mais vezes David Neres (provavelmente sacrificando João Mário) sem perder muito equilíbrio, a decisão mais crítica no imediato, e sobretudo no processo ofensivo, será a de aprender a viver sem Grimaldo, porque os primeiros sinais de Jurásek são de um jogador ainda em construção e Ristic não é melhor do que era, apenas ganhou estatuto de comparável à concorrência porque o nível baixou.
No FC Porto, a defesa pode ser melhorada - que os laterais não são fiáveis e os centrais titulares não vão para novos – enquanto o ataque parece solucionado desde que Taremi não saia - esse será, um dia, uma saudade – e acrescentado do prometedor Fran Navarro. O problema que ainda urge resolver, já pelo segundo ano, é mesmo o que ficou em aberto desde a saída de Vitinha. Nem Bruno Costa nem mesmo Eustáquio provaram como alternativa ao magnífico peso-pluma que saiu para Paris e só a imensa qualidade, e versatilidade, de Otávio vai disfarçando a ausência de quem defina ritmos e o critério com bola na zona nuclear portista. O problema é quando Otávio baixa para organizar, como se viu com o Rayo, deixa de estar nos três quartos do campo, onde é mais influente e profícuo, porque permite à equipa ter largura a defender e várias soluções de passe por dentro quando em posse. Grujic, Eustáquio e Baró são opções interessantes para compor o plantel, mas não os herdeiros firmes da dupla Uribe-Vitinha, a última campeã. Se a contratação arrastada de Alan Varela se confirmar, está encontrada a alternativa a Uribe, taticamente fiável e com mais potencial, mas o grande reforço já garantido é mesmo Nico González, que vejo encaixar como luva nas ideias de Sérgio Conceição. É robusto e combativo, disponível no momento defensivo, mas tem uma assinalável qualidade com bola, que transporta e passa com qualidade. É um jogador de perfil diferente, desde logo físico, mas acredito que será capaz de fazer com que haja, finalmente, menos saudades de Vitinha.
O Sporting de Braga conseguiu um excelente reforço no jovem médio Zalazar. Até há poucos anos, poucos mesmo, por 5 milhões o Braga só vendia, agora compra. Também isto exemplifica como o clube cresceu. Rodrigo Zalazar é um internacional uruguaio vindo da Alemanha, muito competente com bola e batalhador sem ela. Vai entusiasmar, acredito, e terá função essencial no desenho híbrido, algures entre 1.4.2.3.1 e 1.4.3.3, que Artur Jorge tem ensaiado, e ao qual não faltam soluções daí para diante. Se imaginarmos Ricardo Horta, Bruma e um dos pontas de lança (Ruiz parte à frente de Banza) como outros titulares óbvios, resta uma vaga apenas, para a qual se vão acotovelar, dependendo da estrutura, Álvaro Djaló, André Horta, Pizzi e Rony Lopes, se se confirmar a sua chegada. De caminho saíram dois nomes com história, Sequeira e Iuri Medeiros. Pelo trajeto no clube vão sempre deixar saudades, mas elas serão maiores ou menores consoante o que renderem Adrián Marín na lateral esquerda e Rony (ou outro dos citados) na direita do ataque. Mesmo muito difícil de superar, por muito que o negócio venha a ser bom e já tenha chegado Vítor Carvalho para a vaga, será uma eventual partida de Al Musrati. Ele é a coragem tática de nunca se esconder sob pressão, a qualidade posicional nos vários momentos, somadas à lucidez do melhor passe, seja curto ou longo. Mas também é, e sobretudo, a sabedoria da pausa numa equipa que joga ligada à corrente, o velho feiticeiro que explica aos guerreiros que o caminho para a vitória não tem de ser sempre em linha reta. Numa equipa emocional, que espelha o perfil do treinador, a racionalidade de Al Musrati será fatalmente uma de duas coisas: ou decisiva ou uma saudade.
No Sporting, já se viu que Gyokeres acrescenta. O primeiro impacto é físico, num daqueles jogadores que impressionam na aceleração e nos duelos, mas também já vai mostrando que pode somar golos. Muito poderoso no ataque à profundidade, fará decerto do Sporting uma equipa mais perigosa nos momentos de transição ofensiva, mas também, ao empurrar para trás (por receio das suas arrancadas) as linhas defensivas contrárias, vai alargar o terreno à disposição da criatividade de Marcus, Trincão ou Pote. Os leões vão ser mais perigosos a atacar, essa parece ser a primeira conclusão otimista a retirar da pré-época. Quanto ao momento defensivo, vai depender de conseguirem a contratação de um médio de equilíbrio, na linha de Ugarte (e de Palhinha, antes dele), porque nem Morita nem Pote têm esse perfil e necessariamente não poderão alinhar sempre os dois naquela zona, seja por razões táticas ou de simples disponibilidade. André, do Fluminense, é, há muito, um craque anunciado, mas se a opção for pelo dinamarquês Hjulmand a equipa fica igualmente muito bem servida, porque é um jogador físico, mas que sabe jogar, um homem de equilíbrios que não se esconde em posse. O dinheiro do excelente negócio Chermiti é bem capaz de permitir que Amorim venha a ter o seu plantel mais completo de sempre em Alvalade. E assim, por lá e para já, as maiores saudades serão ainda de Pedro Porro."

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