"A época da equipa de futebol feminino do Benfica dificilmente poderia estar a correr melhor. A equipa orientada por Filipa Patão iniciou a época a ganhar a Supertaça, encontra-se nas meias-finais da Taça de Portugal e na final da Taça da Liga e lidera o campeonato com 10 pontos de vantagem sobre o segundo classificado que é o SC Braga.
Mais do que isso, no último mês a equipa encarnada obteve três vitórias esclarecedoras sobre o maior rival Sporting CP: 5-0, 4-1 e 2-4. Neste conjunto de três jogos, o salto é de 13 golos marcados e três sofridos; sendo que no geral, o Benfica já leva sete vitórias consecutivas sobre a equipa verde e branca.
Os resultados nos últimos derbys dizem muito do poderio que a equipa possui, capaz de dominar a nível interno. Mas porém, também dizem muito daquilo que tem sido o desinvestimento do Sporting no futebol feminino nos últimos 2/3 anos.
No entanto, fazendo um balanço geral daquilo que tem sido o projecto do futebol feminino do Sporting, creio que por um lado, se pode dizer que esta perda de competitividade que temos visto no futebol feminino do Sporting já era de certa forma expectável.
Comecemos pelo início. No ano de 2016, a Federação Portuguesa de futebol lançou o convite para que os clubes de futebol pudessem criar equipas de futebol feminino, sendo que o Sporting CP foi uma das equipas a aderir ao projecto, junto com clubes como o SC Braga e o CS Marítimo.
Aí, o Sporting viria a apetrechar o plantel contratando várias jogadoras reputadas a nível nacional, tais como Patrícia Morais, Carole Costa, Diana Silva, Ana Borges, Tatiana Pinto e Solange Carvalhas. A essas, viria a juntar outras jovens jogadoras que viriam a evoluir e que hoje são presença recorrente na selecção, tais como Ana Capeta, Joana Marchão e Fátima Pinto.
Com este plantel, o futebol feminino do Sporting viria a dominar o panorama nacional nos primeiros dois anos. Porém, as camadas jovens não foram criadas em paralelo com a equipa principal e isso fez com que o projecto perdesse sustentabilidade, visto que o Sporting viria a perder a capacidade de investir no plantel, perdendo várias jogadoras influentes a custo zero nos anos seguintes (algumas delas para os rivais), sendo que o atraso no projecto da formação fez com que se tornasse impossível manter a equipa no mesmo nível competitivo.
Por outro lado, o Benfica criou uma equipa de futebol feminino em 2018, mas começou por baixo na segunda divisão. Na altura, a grande maioria das jogadoras portuguesas de selecção nacional jogavam nos Sportings ou no estrangeiro. Como tal, o Benfica teria de recorrer a outros mercados para construir uma equipa competitiva.
Conseguiu recrutar algumas internacionais portuguesas como foi o caso da defesa-central Sílvia Rebelo, mas fez sobretudo uma aposta muito forte no mercado brasileiro. Ao todo, houve 11 jogadoras canarinhas a reforçar o plantel encarnado em 2018/2019, a maioria das quais internacionais e que tiveram um papel influente na equipa que conquistou a Taça de Portugal nessa temporada.
No entanto, o Benfica iniciou em simultâneo o projecto da formação, inserindo camadas jovens na equipa e sagrando-se campeão nacional de iniciados, juvenis e juniores. Para além disso, jovens como Francisca Nazareth, Beatriz Cameirão e Lara Pinrassilgo estrearam-se pela equipa principal ainda na primeira época.
Entretanto, a maioria das jogadoras brasileiras que apetrecharam o plantel viriam a deixar o clube em busca de patamares competitivos mais elevados. Mesmo assim, o Benfica conseguiu manter a equipa competitiva através de contratações de jogadoras que viriam a ser importantes para a equipa, tais como Carole Costa, Cloé Lacasse, Nycole Raysla e, mais recentemente, Jéssica Silva, Rute Costa e Andreia Norton.
Para além disso, também tem conseguido renovar a equipa com a integração da Beatriz Cameirão e da Kika Nazareth, para além de contratar jovens talentosas que têm evoluído bastante no Benfica, como Catarina Amado, Lúcia Alves e Ana Seiça.
O projecto do Benfica tem sido competente, sustentável e ambicioso. E agora, o que falta para o Benfica se tornar mais competitivo na Europa? Na minha opinião, falta que a estrutura do Benfica tenha um critério mais rigoroso na contratação de jogadoras estrangeiras.
Se por um lado, o Benfica tem estrangeiras que fazem a diferença como a Cloé, a Nycole e a Ana Vitória; por outro, tem jogadoras como a Kathlin Talbert, a Valéria Cantuário, a Marta Cintra e a Christy Ucheibe, que são boas jogadoras a nível nacional e opções válidas na rotação da equipa, mas são curtas para um contexto internacional ao mais alto nível.
Tendo em conta que existe um limite de jogadoras não formadas localmente, é necessário ter mais jogadoras estrangeiras que façam a diferença que permitam à equipa ser mais competitiva na Champions."
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