"Dizem que há vários Benficas a partir da grandeza inquestionável do Sport Lisboa e Benfica, o ainda mais popular clube da lusofonia. Identifico, pelo menos dois, o Benfica da superação e o Benfica da ilusão. O Benfica da superação enfrenta, e na maior parte das vezes vence, desafios quase insuperáveis. É o Benfica deste fim de semana que ergue troféus internacionais no andebol, perante oponentes de outra dimensão financeira, ou triunfa contra a máfia instalada no futebol português. É o Benfica de Fernando Pimenta, Pichardo ou Telma Monteiro. O Benfica das equipas que disputam títulos sem que os seus atletas tenham contratos assegurados ou valores condignos. É um “Benfica família”, o verdadeiro e pluribus unum.
Depois há outro Benfica, o das ilusões ou “Benfica indústria do futebol”. É um Benfica de alma descolorida (como o emblema dos equipamentos) e sem mística, um clube de derrotas previsíveis e programadas, com uma comunicação de suporte que se assemelha a um “help desk” quando falha o servico. Este Benfica gosta de faturas de serviços que não consome, paga intermediários sem intermediação de valor acrescentado, contrata profissionais de futebol sem critério e vende porque tem de vender, já que não precisa de ganhar sempre. É um Benfica de duas cabeças e mais apêndices mas com cartões de socio(a) a menos na sua numerosa administração. É um Benfica de conflitos de interesses que prefere obrigacionistas a sócios. Esses são detestáveis, especialmente quando pedem uma auditoria que nunca se realizará (aos contratos de segurança, limpeza, manutenção, por exemplo) e uma revisão de estatutos que quer “parar o vento com as mãos”. É um Benfica que de indústria só tem a ferrugem, que emperrou um movimento de vitória para melhor olear o serviço da dívida ao Novo Banco. E fez a pior gestão financeira da crise sanitária que se observou em Portugal. Tudo isto a propósito das 10 prioridades de Domingos Soares de Oliveira.
Nenhuma tem o Benfica por real fundamento. Não identifica os problemas da arbitragem e da disciplina como fatores de desigualdade competitiva. Não requer mais transparência na prevenção do doping. Não enquadra na agenda mediática a obrigatoriedade de declaração clubística como condição de aferição para exercício de funções de soberania. Não tem uma ideia ou proposta sobre a repressão do crime relacionado com a “indústria”, mesmo sendo alvo de hediondos crimes e ilícitos de concorrência desleal. Alheia-se do fair play financeiro, que é tão ou mais importante que os salários tabelados. Não questiona o modelo de governo dos clubes e o enquadramento dos associados no mesmo. Nem o quadro de responsabilidades de gestão danosa desportiva. Questiona a gestão da retenção de talento, que se faz com melhores condições de desenvolvimento de carreira, mas não se opõe ao desperdício de recursos em comissões que esvaziam as contas bancárias dos clubes. Quer discutir o formato de competições sem uma política definida para contrariar a influência do Porto na Liga e na Federação. Preocupa-se com os ativos digitais mas não se pronuncia sobre branqueamento de capitais no futebol e nos “clubes-nação”, que tomam o controlo dos clubes históricos. Não se debruça sobre a gestão da marca dos clubes por estruturas sobre pseudo-profissionais. E sobre a duplicidade de papéis na gestão de direitos de transmissão televisiva, nem uma palavra. Aguça o apetite sobre o futebol feminino cujo investimento inicial desdenhou. E que continua a desdenhar tendo em conta os valores que são impostos para renovações de contratos ou que se paga à treinadora de futebol sénior. Este Benfica de ilusões é perigoso. Viciado em poder e contrário a vinculações estatutárias. É um modelo B-Sad não é um Benfica Eterno que temos obrigação de continuar a defender."
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