Últimas indefectivações

sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Bancadolândia


"Piso 0 do Estádio da Luz, setor 5, fila X, lugares 3 e 4 ocupados. Bola a rolar no relvado, milhares (milhões) de sentimentos e emoções projetados no retângulo jogavam-se os primeiros minutos de uma 'final' de apuramento para o Mundial 2022. Portugal ainda era o todo-poderoso no acerto de contas com a Sérvia o desenlace arreliador, para os lusitanos, seria materializado uns bons quilómetros de ação e uns quantos cruzamentos e remates depois.
A meu lado, com pelos mal semeados cobertos por uma máscara que as normas da DGS impõem, um adolescente aprendiz de central, curioso e inquisidor, arquitetou e sonorizou a interrogação: 'Pai, porquê é que o Rúben Dias está sempre a arregaçar os calções?' Expliquei-lhe, especulando em cima da minha leitura daquele gesto repetido vezes sem conta, que seria parcela de uma estratégia do atleta, para garantir que está sempre ligado à corrente, pronto para qualquer momento ou intervenção no jogo.
O apetite para a prática do futebol despertou-lhe 'tarde', à entrada para os 14 anos (porque jogar à bola, que já o fazia há anos, é uma coisa muito diferente...), mas a absorção de ideias conceitos, fundamentos e técnicas revela-se um processo interessante, para ele, sim, mas também, ou sobretudo, para quem, do mesmo sangue, guarda lugar entre os contempladores. Ao vivo e a cores, ele viu Rúben com outros olhos, captou detalhes e depois, no seu mundo, quis ser Rúben (no que conseguiu registar e executar), mormente na comunicação e na orientação da linha defensiva. Um bom exemplo, e foi copiar e colar à medida do seu contexto e das aptidões. Este é o futebol que (nos) cativa, encanta, vale o bilhete e merece louvor.
'Cultura desportiva', podemos ufunar-nos. Ou não, quando, depois, descemos a outras camadas da realidade e constatamos que a mensagem do(s) emissor(es) nas bancadas envergonha e nada educa, repetidamente, os homens de amanhã em campo, na tribuna e na vida. Por muito que se leia, por mais perguntas que se façam no papel de jornalista, por mais reportagens que se vejam ou produzam sobre fanatismos e derivados, nada suplanta o resultado da percepção de pai ou encarregado de educação preocupado com 'a' formação. Respeito e desportivismo: deveria ser copiar e colar, assim tão fácil como 'imitar' Rúben."

João Sanches, in O Benfica

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