"Em silêncio ansiamos pelo regresso à normalidade. Imaginamos abraçar a família e os amigos, discutir ideias com os colegas de trabalho ou com os professores, fazer compras e refeições com os amigos, sem pressa e sem medo, ir ao teatro, ao cinema, a um concerto, ao museu, deambular à beira-mar só porque apetece, ir à bola…. Argumentar, olhos nos olhos, rir com os outros.
Agora, neste silêncio, damos conta de tantas coisas a que não reconhecíamos a importância que tinham nas nossas vidas!
Para os adeptos e simpatizantes dos vários espetáculos desportivos, para os desportistas – sejam de competição ou de recreação -, para os profissionais, o desporto está sempre presente, sempre foi importante. Dói-nos este silêncio imposto por uma pandemia que nos tem vindo a afligir há praticamente um ano.
Todos os dias sonhamos fazer desporto e todos os dias sonhamos vibrar com o desporto! O desporto é uma linguagem universal que tem um papel crucial na valorização da dignidade humana. Através do desporto e dos seus valores, podemos unir as pessoas para além das fronteiras, fazer pontes para atenuar as diferenças sociais, culturais e económicas. O desporto pode dar um sentido à vida, quando esta parece perdida. O desporto ensina-nos a incluir, a não discriminar, e mostra-nos como pode ser a participação igualitária. O desporto desafia estereótipos que nos ajudam a quebrar barreiras na sociedade e a impulsionar o progresso em questões que são fundamentais para o gozo dos direitos humanos.
Independentemente dos objetivos e motivações, custa muito perceber o impacto negativo que a pandemia provocou no desporto, a todos os níveis, físico, psicológico, social, educativo, económico, turístico, científico, incluindo a saúde e bem-estar. E as consequências são transversais, tanto para as crianças e jovens como para o desporto amador e para os atletas de alta competição.
Agora, o confinamento forçado faz-nos perceber melhor o papel fundamental do desporto na sociedade e na promoção dos direitos humanos. A pandemia silenciou o desporto e colocou em suspenso todo o seu valor formativo, alertando-nos para as fragilidades do sistema desportivo.
A pandemia trouxe o silêncio às bancadas formais dos estádios, dos pavilhões, das pistas, das piscinas. A pandemia trouxe o silêncio às bancadas informais das provas desportivas realizadas ao ar livre, nas praias, nos rios, nas estradas, na floresta.
Também trouxe o silêncio para os treinos. Qualquer atividade realizada em ambiente fechado, ou que implique contacto e proximidade física, passou a ser considerada de alto risco.
Os atletas passaram a treinar sozinhos e em silêncio.
Os treinadores tiveram de encontrar formas de comunicar, acompanhar, supervisionar, monitorizar os seus atletas, em modo virtual ou remoto. Tiveram de adaptar as formas de treino para a alta competição e para o desporto profissional. Os treinadores viram-se obrigados a suspender os treinos dos escalões da formação e do desporto escolar. Pior: o desporto, exceção para a alta competição e os profissionais, está encerrado, silenciado, e o seu valor inclusivo e formativo adiado ou perdido. A maioria dos jovens deixou de treinar. A maioria dos idosos está impedida de fazer atividade física.
Lembramo-nos das palavras visionárias de Nelson Mandela, quando afirmava que “o desporto tem o poder de mudar o mundo”, mas, por enquanto, temos de ser resilientes e confiar na capacidade dos atletas e profissionais do desporto para encontrar estratégias seguras e efetivas de retoma e continuidade da atividade desportiva.
E para que este silêncio forçado no desporto não nos torne indiferentes, é preciso que voltemos a usá-lo numa abordagem tão própria do universo desportivo, baseada nos direitos humanos, que possa alimentar a nossa humanidade, através de processos sequenciais que desafiem quem somos e como podemos crescer e moldar um mundo melhor através do desporto.
O desporto tem uma importância real nas nossas vidas. Sem silêncio."
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