Últimas indefectivações

terça-feira, 26 de janeiro de 2021

A última sinfonia


"Rui Costa 'endurou as botas' com a camisola do clube do seu coração

Desde início, é-nos instruído o que fazer, que postura devemos ter e como vamos sentir-nos sempre que fazemos algo pela primeira vez. Contudo, nada nos é ensinado quando fazemos alguma coisa pela última vez. Se, numa estreia, há momentos que nem se chegam a guardar na memória com a ansiedade a sobrepor-se à perceção, numa despedida, retemos cada ação pela familiaridade de gestos a que dizemos adeus.
A 11 de Maio de 2008, o Estádio da Luz estava quase cheio para ver Rui Costa pela última vez conduzir a bola de cabeça levantada, numa elegância pura, dominar o esférico com uma facilidade que parecia arrogância por quem não domina dessa forma e rasgar as defesas contrárias com passes brilhantes, encontrando um 'buraco' que parecia não existir até então. O 'maestro' ia comandar a sua última sinfonia!
Frente ao Vitória de Setúbal, cada vez que Rui Costa tocava na bola o público aplaudia intensamente. O jogador retribuía com a entrega e fantasia de sempre. Aos 25 minutos, com um excelente cruzamento assistiu Katsoranis para inaugurar o marcador. Mas, continuava a faltar-lhe o golo, tentou inúmeras vezes, porém, sem sucesso. Na verdade, o 'maestro' não precisava do golo para assinalar a sua despedida, já tinha deixado a sua marca na história do futebol. Foi um dos jogadores que, pelo seu virtuosismo, transformaram espectadores em adeptos.
Aos 85 minutos, o placard eletrónico anunciou a saída do número 10, decretando o fim da carreira de um dos responsáveis pelo encanto deste desporto. Os adeptos levantaram-se e aplaudiram-no, enquanto o viam sair num registo completamente diferente do habitual: não era Rui Costa, era emoção. Todo ele era emoção! De braços levantados, retribuiu os aplausos, num momento arrepiante, sentia-se que quanto mais se aproximava da linha lateral mais pobre o futebol ficava.
Para os benfiquistas, apesar da vitória do Clube por 3-0, a sensação era de perda. Passados vários anos, o 'maestro' continua a comover-se com esse momento: 'não o escondo... há pouco quando me lembrei do último dia a lágrima ainda veio aos olhos'.
Recorde a carreira deste fantástico jogador ao serviço do Clube na área 23 - Inesquecíveis do Museu Benfica - Cosme Damião."

António Pinto, in O Benfica

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