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sexta-feira, 30 de outubro de 2020

É Natal, D10S faz anos!


"“Esta manhã li muitas asneiras sobre Maradona. Alguns menosprezando o seu legado futebolístico para realçar a figura de Leo Messi. A realidade é que o que ele conquistou na cidade de Nápoles foi único. Então, aqui fica um texto sobre Diego. É uma questão de justiça". #DIE60
Depois de uma passagem dececionante pelo Barcelona, onde uma hepatite, lesões e entradas agressivas (quase o espancaram até a morte) boicotaram o seu talento, Maradona teve necessidade de relançar a sua carreira. Para fazer isso, ele faz as malas e assina pelo Nápoles.
O próprio Maradona diz no livro ‘Yo soy el Diego’ que, durante as negociações, aconteceram coisas bizarras, entre elas um grupo de adeptos iniciou uma greve de fome e um homem acorrentou-se ao estádio San Paolo, tudo para fazer pressão e acelerar o negócio.
Porque escolheu o Nápoles e não o Inter/Milan? Porque estava falido, por ignorância (não sabia que o clube se salvou por 1 ponto em 83/84) e mais do que tudo, porque acreditaram nele. “Espero a tranquilidade que não tive em Barcelona, ​​mas acima de tudo respeito”, diz Diego.
Não é o que encontra de imediato. O presidente da Juve, Boniperti, afirma que um jogador com seu físico nunca vai conseguir nada. “O futebol é tão incomparável que dá lugar a todos, até a anões como eu” responde Maradona. O debate sobre o físico já existe há anos.
“A cidade mais pobre da Europa compra o jogador mais caro do mundo” publicado por alguns meios de comunicação. Pelusa chega a um local pobre, agredido, afundado e carente de ídolos. “Estou mais interessado em glória do que dinheiro”, diz ele. Maradona será muito mais que um jogador.
Diego chega à Série A, a melhor liga do mundo. O futebol da NBA, uau. Um campeonato que reúne as melhores equipas e os melhores jogadores de futebol. Como se Cristiano, Messi, Mbappé, Haaland, De Bruyne, Neymar, Kroos, Mané e Lewandowski estivessem todos na mesma liga.
Para terem uma ideia, de 1982 a 1985: Zico assina pela Udinese, Sócrates pela Fiorentina, Maradona pelo Napoli e Falcão e Cerezo pela Roma. Impensável hoje em dia!! Os melhores estavam TODOS em Itália.
A Juventus de Michael Platini é apresentada como a grande rival a ser batida. É o clube mais rico e poderoso de Itália. Além disso, tem o melhor jogador e é do norte. Ou seja, a Juve tem tudo para estabelecer uma hegemonia no futebol italiano. Só Maradona o impedirá.

Assim, Diego cai num Nápoles em apuros e que, além disso, perdeu Ruud Krol e Dirceu. No San Paolo no dia da sua apresentação não há espaço para uma agulha. “Dieeeeeego, Dieeeeeeeego”. As expectativas são muito altas. Existem 80.000 almas napolitanas a cantar a plenos pulmões. Eles compõem um hino e colocam tango nele.

A primeira temporada não é nada fácil, mas ajuda-o a perceber 2 coisas:
1º. Napoles é um reduto da Villa Fiorito: “Quero me tornar o ídolo dos meninos pobres de Nápoles, porque eles são como eu era quando morei em Buenos Aires.” 
2º. O racismo desenfreado do norte. Terroni, terroni “gritam nos jogos contra o Nápoles. Para muitos adeptos do norte (Milão, Bergamo, Verona, Turim), os sulistas e sobretudo os napolitanos são gente menor, pouco instruídos, sujos, pobretanas e bandidos.
A lacuna socioeconômica entre o Norte e o Sul é enorme. O racismo sobrevoa os jogos. E o futebol não é estranho aos problemas da Itália. Os do sul são até saudados com cartazes de “Bem-vindo à Itália” e gritos de “vão-se lavar” quando jogam como visitantes.

Maradona pede reforços e fala com o presidente do clube, Ferlaino: “Compre 3 ou 4 jogadores e venda os que as pessoas assobiam. O seu termômetro deve ser este, quando passo a bola a um e eles o assobiam, tchau. E se não, pense em me vender, porque eu, assim, não fico ”.
Na temporada seguinte (1985/86), o Napoli aumentou sua ambição e contratou jogadores de futebol da estatura de Giordano, Renica ou Garella para se juntar a Maradona e Bertoni, e mudou de treinador. Ottavio Bianchi. O grupo dá um salto de qualidade.
O Nápoles venceu a Atalanta (1-0), derrotou o Hellas Verona (5-0) e na 9ª jornada: jogo contra a Juventus de Platini. San Paolo a rebentar, é mais do que apenas um duelo. É hora de se revoltar e recuperar a autoestima. Maradona vence com um golaço numa cobrança de falta.



É uma partida histórica. Uma mudança de paradigma que eleva o ’10’ como o salvador de um Sul esquecido contra os ricos e poderosos do Norte. Nápoles abraça Diego, que terminará em terceiro com o Nápoles e chegará como uma estrela à Copa do Mundo no México 86 ‘.
“Não podia por a cabeça de fora de casa porque me amavam demais e quando os napolitanos te amam … te amam! Eu não podia ir comprar sapatos, eles diziam que me amavam mais do que os seus próprios filhos. “
Longas caravanas de motociclistas acompanham Pelusa sempre que ele sai com o carro a toda velocidade.
Maradona em 1986 na mais memorável campanha individual de sempre



Maradona reina no México e torna-se campeão mundial com a Argentina. Uma exibição extraordinária que só o confirma como o melhor jogador de futebol do planeta. Diego transfere sua aura para Nápoles e será o novo capitão do San Paolo. Platini perde o seu status.

Os rivais crescem. A Juventus é acompanhado pelo brilhante A.C. Milan de Silvio Berlusconi com Donadoni, o Inter com Trapattoni e Passarella ou a Fiorentina de Ramón Díaz. O nível da Série A não para de crescer. E assim continuará ao longo da década.
Temporada 1986/87. Andrea Carnavale e Fernando de Napoli aderem à causa, entre outros. O Nápoles começa com tudo e de novo na 9ª jornada cruza-se com a Juventus. Mais de 20.000 napolitanos viajam para o jogo em Turim. Os homens de Diego fazem a remontada e ganham 1-3 depois de Bryan Laudrup inaugurar o marcador (Platini e Laudrup, que sonho). Épico!
“Tinham Platini e muitos fenômenos, mas também muito medo. Mostraram faixas racistas, mas por medo. Não entendiam como os pobres do Sul estavam a pegar um pedaço do bolo que costumavam comer sozinhos”, confessa Maradona, ele estava certo.

Depois do 3-1 em Turim, o Napoli continuaria a sua brilhante carreira e conquistaria o primeiro scudetto da sua história. Foi o primeiro título da liga para uma equipa do sul. Maradona tinha-se tornado o herói de que uma cidade agora invadida pela alegria precisava.
No entanto, isso não acabou aqui. Havia que esperar pela taça de Itália e a oportunidade de selar a dobradinha, coisa que apenas duas equipas do norte haviam conquistado: Torino e Juventus. O Nápoles de Maradona conseguiria quebrar o tecto de vidro novamente?
Questionado sobre isso, Diego Armando Maradona afirma: “A razão é porque os candidatos eram do norte, nós do sul não devemos perder oportunidades. Nem no futebol, nem na vida”. O Napoli venceu a Atalanta e assina uma temporada de sonho.
O Nápoles não conseguiu vencer a Taça dos Campeões Europeus na temporada seguinte, depois de ser eliminado pelo Real Madrid e perder a liga para o Milan de Sacchi. Em 88-89, o Nápoles conquistaria o primeiro título europeu da sua história, a taça UEFA contra o Stuttgart e em 89-90, outro scudetto. 
Agora vem, com toda a probabilidade a minha parte favorita da história de Diego Armando Maradona em Nápoles: Campeonato do Mundo Itália 90. É um fenômeno incrível. A força inexorável do herói contra todos os elementos. Diego no seu melhor. Mito e jogador de futebol.
Jogo de abertura em Milão. Assobios ao hino albiceleste. A atual campeã mundial Argentina faz sua estreia e cai contra os Camarões (Golo de Oman Biyik). Diego depois do jogo diz: “O único prazer foi descobrir que, graças a mim, os italianos do norte deixaram de ser racistas pela primeira vez.” 
Maradona foi o alvo da aristocrática Itália, do norte, dos ricos e de ser o futebolista mais odiado pelos poderosos. O Pelusa queria vingar-se dos inimigos apesar de chegar ao Mundial com uma equipa muito pior que a seleção de 86. O destino queria isso.
Desta forma, nas meias finais do Campeonato do Mundo de 1990 a Argentina de Maradona enfrentaria a Itália numa partida que, por um acaso do destino, seria disputada no… SAN PAOLO. Que PUTA QUE A VIDA É, hein!?
Ciente do racismo sofrido por tantos anos e da rivalidade histórica, o ’10’ aproveitou a situação assim como se aproveitava dos rivais em campo. As suas declarações pré-jogo já fazem parte da memória coletiva do futebol. Maradona na antevisão diz: “pedem aos napolitanos que sejam italianos por uma noite, enquanto nos outros 364 dias do ano lhes chamam de «terroni». A estratégia funcionou. O San Paolo não assobiou o hino e a Argentina derrotou a Itália nos penaltis.
Bergomi, capitão da Itália, após o jogo: “Roma inteira estava conosco, hoje não notei o mesmo.” Vicini, treinador transalpino: “Não tenho a sensação de ter o apoio absoluto de Nápoles.”
Maradona, aliás, joga o mundial inteiro com o tornozelo ASSIM.

Final do Campeonato do Mundo de Itália em 1990. O hino da Argentina soa no Estádio Olímpico de Roma quando, de repente, a música da Albiceleste é enterrada por uma assobiadela monumental. Nos ecrãs e nas televisões de todo o mundo vê-se Diego a dizer: “Filhos da puta, filhos da puta”, ao público italiano.



Depois disso, a Argentina perdeu a final e Maradona chorou de raiva e impotência. Pelusa testou positivo para cocaína no controle antidoping e nunca mais voltou a Nápoles.
Uma era acabou. Aquela do jogador que elevou o clube e a sua vida ao céu antes de descer ao inferno. 
Maradona era Diego com seus pecados e suas virtudes. É ainda, ao lado de San Genaro, uma figura sagrada em Nápoles. A cidade não o esquece, os napolitanos o amam e sempre se orgulharão de seu legado.”

"Diego Maradona era o mais humano dos deuses, pecador e virtuoso. Isso talvez explique essa veneração universal, um Deus sujo que se parece connosco.” Eduardo Galeano

Texto de @AlbertOrtegaES1 no Twitter, traduzido e publicado com a sua autorização."

1 comentário:

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