"“Os atletas são o coração do Movimento Olímpico”, afirmou o Presidente do Comité Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, aquando da realização Fórum Internacional de Atletas em Abril de 2019. É cada vez mais frequente escutarmos afirmações por parte de altos dirigentes desportivos que colocam o atleta no centro dos modelos desportivos internacionais e nacionais.
E a realidade é que os tempos mudaram e os atletas têm, cada vez mais, um importante papel na definição das políticas desportivas.
Nos Estados Unidos da América, as recentes e firmes tomadas de posição por parte dos jogadores da NBA, da MLB ou da NFL, associando-se às manifestações contra a discriminação racial e que provocaram inclusive o adiamento de alguns jogos, são um exemplo claro da importância e do peso que a voz dos atletas tem vindo a ganhar.
Foi também por se ter ouvido a voz dos atletas que foram investigadas diversas situações de assédio ou abuso sexual, algumas amplamente noticiadas ou registadas em documentários. Foi a voz dos atletas que colocou o COI a equacionar a flexibilização de uma regra, até há bem pouco tempo inamovível, relativa ao direito de se manifestarem no decorrer dos Jogos Olímpicos. E tem sido a voz dos atletas, entre muitos outros exemplos, a trazer a debate assuntos como a saúde mental e as dificuldades por que passam quando terminam as suas carreiras, a nível pessoal e profissional.
Mais do que nunca, os atletas têm o direito de participar, de forma activa, na definição das políticas desportivas. Não faz sentido que os principais agentes do fenómeno desportivo não participem nos processos de tomada de decisão. Para tal, é necessário que as entidades desenvolvam todos os esforços para os capacitar e, acima de tudo, envolver.
Há alguns anos que, a nível internacional, as principais entidades desportivas, como o COI ou as Federações Internacionais, têm representação dos atletas no seio das suas direcções e comissões. A nível nacional, o COP tem, já há largos anos, uma comissão de atletas activa e envolvida no processo de tomada de decisão. Mas muitas entidades desportivas nacionais, nomeadamente federações desportivas, estão ainda longe de atribuir aos atletas essa responsabilidade.
Há muito que o papel do atleta ultrapassa a simples dimensão de treinar e competir. E esta é uma mensagem que deve ser assimilada pelos dirigentes desportivos ou mesmo por treinadores. Mas também deve ser assumida pelos próprios atletas. Pois se os dirigentes têm a responsabilidade de os envolver e de criar mecanismos seguros para que a sua participação seja efectiva, os atletas têm também a responsabilidade de se envolver e participar, activamente, nos assuntos que, directa ou indirectamente, lhes dizem respeito.
Porque participar activamente não é apenas um direito dos atletas. É um dever. Como tal, havendo actualmente condições para esse efeito, os atletas devem fazer ouvir a sua voz, partilhar as suas dificuldades, denunciar situações injustas e apresentar sugestões e soluções.
O sector do desporto é composto por um grande número de agentes das mais variadas áreas – atletas, treinadores e membros de equipas técnicas, dirigentes, médicos, fisioterapeutas e outros membros de equipas médicas, profissionais de áreas diversas, como gestão desportiva, marketing desportivo, comunicação, etc. É um sector social com um profundo impacto na sociedade, desde o seu papel formativo e educativo junto dos jovens até ao desporto profissional (e muito se tem falado - embora continue, aparentemente, a ser pouco valorizado - da real importância do desporto na sociedade).
Mas são os atletas, efectivamente, a peça central deste puzzle e, como tal, devem ter uma importante palavra a dizer no que respeita ao desenvolvimento do sector e da actividade desportiva.
Porque os atletas são, de facto, o coração do sistema desportivo e a sua voz tem o poder de alterar o rumo dos acontecimentos, queiram uns ouvir e outros falar. Assim sejam eles os primeiros a convencerem-se que é esse o caminho a seguir."
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