"Difíceis vão os dias em que se não pode jogar à bola. Os jovens dos bairros da cidade de Lisboa que o digam, com uma Champions interrompida a meio e uma vontade enorme de continuar, à mistura com uma pontinha de vaidade pelo reconhecimento alcançado junto da vizinhança. Não é para menos, porque estes mesmos jovens que hoje marcam pontos individuais e em equipa na Community Champions, eram muitas vezes olhados de lado, apontados e acusados de tudo, mesmo que, em tantos casos, injustamente. A verdade é que a sua imagem perante a comunidade não era, muitas vezes, a melhor e isso impedia que quisessem dar a essa mesma comunidade o melhor de si. Agora... Jogar à bola, isso, venha quem vier... Jogarem sempre, bem e muito. Algumas janelas até lhes conhecem repetidamente o remate, mas a pessoa por trás do estoiro foi sempre uma desconhecida de todos, ciosa de si e cultivadora da distância. O projecto Community Champions veio mudar muitas destas ideias feitas e afastamentos, na verdade é um projecto de aproximação e interacção social. É que os jovens não valem sem o reconhecimento da comunidade. Não basta jogar, marcar e vencer, pois isso pontua apenas uma parte do necessário para garantir o apuramento na fase final do Community Champions, a disputar na Holanda com outras tantas equipas de projectos semelhantes, enquadradas pelas fundações dos grandes clubes europeus. É muita ambição e, por isso, muita pressão. Embora informal, como em qualquer competição europeia, não há lugar a falhas, por isso é obrigatório pontuar o máximo. Não se pode deitar a perder a qualidade do futebol e as vitorias por mera negligência do trabalho comunitário. É que, na verdade, o trabalho de proximidade feito em prol da comunidade vale tantos pontos como a competição desportiva. E eles fazem-no, mudando os bairros da cidade de Lisboa, identificando problemas, implementando soluções, limpando zonas degradadas, ajardinando, animando espaços, dinamizando acções com crianças, visitando idosos, festejando culturas e diversidades. Tudo isto pensado e executado por jovens que antes se miravam de soslaio e hoje se gabam pelo trabalho que fazem no bairro. É o poder do Futebol social e mostrar para que pode servir uma simples bola, mesmo que por agora não possa rolar no campo, pelas razões que se sabem."
Jorge Miranda, in O Benfica
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