"Luís Castro foi campeão na Ucrânia. “Podem achar que foi fácil, mas desde o primeiro dia trabalhámos para merecer isto.” Sim, a primeira coisa que se pensa é que ser campeão na Ucrânia com o Shakthar Donetsk é fácil. Um pouco como ser campeão com o Benfica na década de 70 ou campeão com o Porto na década de 90. Porém, mais fácil do que ser campeão na Ucrânia, ou noutro sítio qualquer, é falar. Falar é que é fácil. Ser campeão é difícil.
Graças ao seu trajecto no futebol, Luís Castro conhece essas dificuldades melhor do que muitos. Teve de esperar até aos 58 anos para conquistar o seu primeiro título no escalão principal. Para ele, não foi fácil. E é essa a consciência das dificuldades que dá profundidade às suas palavras e acrescenta brilho à sua conquista.
Hoje, um treinador que aos 40 anos não esteja no topo é visto quase como um falhado. Os exemplos de jovens prodígios do banco, treinadores que tiveram oportunidades desde muito cedo e tiveram também o mérito de não as desperdiçar, põem sobre os outros treinadores, os que trabalham na sombra e no silêncio, nos escalões de formação, nas divisões secundárias ou em clubes que lutam para não descer, um rótulo de falhanço ou, pelo menos, o rótulo de não estarem destinados a altos voos, de lhes faltar qualquer coisa, seja o carisma ou a estrelinha, para triunfarem.
Não é fácil. Não deve ser fácil partir pedra inutilmente. Sentir que a qualidade do trabalho não tem correspondência com as oportunidades, que o tempo está a passar e a hora não chega. Mas a hora de Luís Castro finalmente chegou e ele não se esqueceu do lado aleatório da fama e do sucesso. Porque no futebol – será preciso dizer que é assim também na vida? – trabalhar bem não chega para se ganhar, para se conquistar os grandes troféus.
Às vezes, as oportunidades até chegam, mas na altura errada. Ter a força mental para aguentar e prosseguir não é fácil. Esperar por outra oportunidade, corrigir os erros, confiar nas suas capacidades e, entre tantas tormentas, manter um discurso sóbrio, equilibrado, sem azedume e sem rancores, não é nada fácil.
Por isso, o triunfo de Luís Castro não foi fácil. Tal como não foi fácil a caminhada de Jorge Jesus até ao primeiro título. Como não é fácil a vida de muitos treinadores que, apesar das demonstrações de competência, nunca têm a oportunidade que pode transformar uma carreira. O culto da juventude e a exigência de sucesso instantâneo penaliza os treinadores experientes, as velhas raposas, mas também castiga aqueles que, em determinado momento, são jovens e conhecem o sucesso imediato.
André Villas-Boas, por exemplo, de quem se esperava que, após a saída do Porto, transformasse em ouro tudo aquilo em que tocasse. Ou Bruno Lage que, após um título instantâneo, vive agora uma vertiginosa descida ao inferno. Ou Nuno Espírito Santo, cujas passagens pelos bancos do Porto e do Valência criaram a ideia de um treinador inventado por Jorge Mendes, até provar a sua inequívoca qualidade no Wolverhampton, onde recuperou a aura de competência que parecia tê-lo abandonado, como se aos quarenta e poucos anos um treinador sem títulos já não servisse para nada.
Altos e baixos, sim, qualquer treinador deve estar preparado para os enfrentar. Mas nada deve ser tão difícil, tão exigente, como uma carreira passada num eterno planalto, sem fracassos estrondosos e sem triunfos inesquecíveis, e mesmo assim sem desmoralizar, encontrando conforto e motivação nas pequenas conquistas, no contributo para o desenvolvimento de um jogador, no cumprimento de objectivos modestos, na postura inflexível de respeito pelos outros e pelo futebol.
Quem acompanha o futebol, sabe que Luís Castro já tinha conquistado todos esses troféus invisíveis que não recheiam o palmarés mas definem um homem e dignificam o profissional. Ganhar, seja onde for, nunca é fácil. Mas difícil mesmo é fazê-lo com a elegância, a educação e o nível de Luís Castro."
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