"Dois fins de semana. Já são dois. E, ainda que calculando com a imprevisibilidade destes tempos, os sinais são bonitos: vão ser mais; quase de certeza todos os que faltam para que 2019/20 chegue a bom porto e que 2020/21 possa voltar a ser do povo. Para já, os fins de semana são adeptos da Alemanha, mas a felicidade está a espalhar-se a outros territórios. Dia 4 de Junho, não sendo um fim de semana, já tem sabor a isso para os apaixonados de Portugal, como eu.
Esperamos quase três meses. Três meses em que o mundo se vergou, mas não partiu. E enquanto o mundo continuava vergado, a bola parada e os estádios vazios, os alemães começaram a erguer-se. Estratégicos, rigorosos e sobretudo unidos nas suas diferenças, delinearam o plano. Quatro vezes campeões do mundo, estes tipos altos e espadaúdos não estão para brincadeiras. Quando anunciaram que o futebol era para regressar, era mesmo. E voltou. Há dois fins de semana.
Antes disso, quando foi lançada a primeira semente, elogiei a atitude. Fiz do elogio um ato público nas minhas redes sociais e prontamente caíram os comentários: «Os alemães estão a dar um passo maior do que a perna»; «tenho dúvidas que seja uma boa ideia», etc… Comentários em bom português, entenda-se. Tinham a sua validade, logicamente, ainda que fosse possível extrair daí o negativismo tão próprio da minha – nossa - gente. Para nós, corre tudo mal; e corre muitas vezes, por culpa nossa.
No fim de semana passado, o grande dia. O dia do resto da vida do futebol. A Alemanha dava o pontapé de saída e o mundo ligava-se à «caixa mágica» com linha para o centro da Europa, muitos desejando que estivessem certos, outros, poucos, fazendo figas para que corresse mal. Não correu, de forma alguma.
Há uma semana estive nas imediações do estádio do Union de Berlim, quando o grande e sempre desejado Bayern de Munique visitou a capital. Haveria aglomerações? Iriam as pessoas arriscar uma «escapadela» para acenar à equipa ou soltar um cântico de incentivo? A ser assim, uma das regras primordiais do plano seria violada, e o futebol correria o risco de voltar aos balneários fechados. Mas não. Houve algumas pessoas, mas rapidamente se foram. À hora do jogo, só a polícia restava nas ruas. E foi assim em todos os estádios, em toda a Alemanha.
Na sexta-feira passada a noite era de dérbi. Hertha – Union. Antes da pandemia tinham sido vendidos 74.600 bilhetes. Lotação esgotada. A rivalidade e, sobretudo, os confrontos da primeira volta faziam temer o pior. Voltei a marcar presença na imediação do estádio. Três horas antes reinava o silêncio; o mesmo silêncio que imperou no momento em que se ouviu o apito inicial do lado de fora. Ninguém apareceu, como pedido. E foi assim, mais uma vez, em todo o país.
Dois fins de semana depois, é justo dizer: os Alemães estavam certos, mais uma vez. Foram rigorosos e estratégicos, consequentes e solidários. E, por enquanto, devolveram o futebol ao mundo. Se para Gary Lineker «o futebol são 11 contra 11 e no fim ganha a Alemanha», actualmente o jogo dos alemães é uma vitória de todos.
PS: Guardei isto para nota de rodapé, ainda que seja tudo menos isso. O bom exemplo alemão parece não ter chegado a Portugal. Quando tudo o que deveria interessar é devolver o jogo às pessoas, há uma guerra para derrubar Pedro Proença, presidentes a ameaçar impugnar o campeonato e outros a fazer «birra» porque não querem ceder os estádios. Será que são os alemães a dar um passo maior que a perna ou será que somos nós a dar um tiro nos pés?"
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