"É o que vai escrito nas caixas de cartão que os agentes da Guarda Nacional Republicano entregam aos cerca de 3000 idosos isolados e empobrecidos de todo o país.
É o que leem todos ao abrir as ditas com um generoso e reconfortante recheio oferecido pela Fundação Benfica. Assim já se valem numa falta na despensa parca e podem preservar-se mais um pouco ao perigoso contacto social. É quase irónico que a protecção de um mal que não entendem passe pelo resguardo da solidão, porque esse entendem-no bem e é o que mais lhes dói na alma. Pois se nem casas se avistam ao longe, nem telefones por ali tocam em tantos casos, só os animais trazem companhia dos vivos e cortam a noites da solidão. Em cima disto, sabem-se vítimas de enganos e abusos, por isso delas se defendem com nãos e cadeados. Neste mundo solitário, a GNR tornou-se numa voz presente e amiga, mas há que confirmar bem se é autêntico quem se assoma...
Ao bater da porta, depois do medo, vem a recompensa. Afinal, é a Guarda, que acarinha e protege, que ajuda. E logo se cobram os dias contados da última visita, se contam as mágoas e as vidas, se chora e saudade dos filhos na estranja, que não há jeitos de cá virem com este vírus: 'Eu já me contentava em Julho', solta a D. Maria, suspirando o seu velho coração de benfiquista, que não tem vizinho nem vivalma num raio de meia légua. 'Se não tem morrido, a minha sobrinha tinha um quarto preparadinho para mim...', sorri a D. Rosa, que construiu a própria casa no cume da viuvez. 'Não era preciso nada, para que foram gastar dinheiro?', agradece tímido o Sr. António trocando olhares de cumplicidade familiar com o velho burro que lhe puxa a carroça da erva e lhe torna mais leve a carroça da vida.
São de betão estas mulheres franzinas e estes homens solitários que habitam aos milhares no Portugal profundo. Temerários e resilientes, desconfiados e fechados em si mesmo, por engenho de protecção, logo se transformam e abrem num momento de alegria que não engana quem assiste. Os agentes da Guarda são mais do que bem-vindos, esperados!
Sabe bem saber que, mesmo na velhice e na solidão, sobretudo na velhice e na solidão, há quem pense e cuide de nós. A GNR fá-lo de alma e coração e o Benfica, esse imenso universo solidário, não podia passar-lhe ao lado afinal se é do Povo que se trata, é esse o nosso lugar!"
Jorge Miranda, in O Benfica
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