"Para aceitar o convite para Ministra da Presidência, Maria Manuel Leitão Marques impôs uma condição a António Costa, não ficar com a Secretaria Estado do Desporto e da Juventude sob a sua tutela. Porquê? Porque não queria lidar com os problemas do futebol. Calhou ao Ministro da Educação a batata quente. Inexperiente e sem poder político ou negocial, Tiago Brandão Rodrigues resignou-se a acolher o Desporto e a Juventude no edifício da Educação, mesmo sem que a sua Secretaria-Geral tivesse quaisquer instalações ou orçamento alocados para tal fim, e pior, sem que num parágrafo, linha, ou palavra que fosse do programa eleitoral do PS houvesse o mais ligeiro indício que avalizasse uma alteração de paradigma tão radical para a orgânica governamental. Como se tal não bastasse, ainda aceitou no pacote um Secretário de Estado que desconhecia de todo, que alardiava nunca ter posto os pés num estádio de futebol ou alguma vez ter desfolhado um desportivo. Os astros não podiam estar mais desalinhados entre aquela figura e os deuses do desporto. Poucos meses passaram até ser substituído por João Paulo Rebelo.
Sem a desajustada soberba do predecessor, o actual Secretário de Estado da Juventude e do Desporto (atente-se à alteração na denominação da secretaria de estado), reconhecido facilitador de processos, um mediador hábil, embora sem qualquer currículo no desporto, era o homem certo para cumprir o pedido expresso do Primeiro Ministro, de evitar a todo o custo quaisquer responsabilidades pelo conflituoso futebol português.
As claques e os presidentes dos principais clubes não lhe têm facilitado a tarefa, ou pensando melhor, talvez nem seja bem assim.
Pelo meio das guerras, nem sempre só de palavras, do nosso futebol, o SEJD apareceu nos momentos de reunião dos desavindos, fazendo o papel que lhe compete, e o que lhe é pedido, ou seja, adiando as verdadeiras soluções.
E agora, eis senão quando, logo no momento em que o planeta futebol se preparava para voltar a girar, o Secretário de Estado do Desporto vem avisar que a Liga pode até nem recomeçar.
E pensamos nós, com que propósito?!
O futebol teima em não se entender entre si, em não fechar os compromissos entre portas da Liga de Clubes e da Federação Portuguesa de Futebol. Pressentimos todos que o retorno às competições é essencial para a sobrevivencia desta indústria, mas também que o potencial de disparate dos momentos que todos vivemos é gigantesco. E se nós sabemos que assim é, imaginem só quem nos governa.
Para a violência nos estádios de futebol, a receita deste governo foi a autorregulação, passando para os clubes, entidades de direito privado, a obrigação do Estado de zelar pela segurança e manter a ordem pública. Para o Covid-19 no futebol a DGS lembrou-se de responsabilizar individual e colectivamente os jogadores.
Vendo atletas, sindicato, clubes, Liga e Federação, aos avanços e recuos, sem falarem a uma só voz, sagaz, João Paulo Rebelo aproveitou para amplificar aquilo que já toda a gente sabe, ganhando assim para ele e para o Governo, uma espécie de carta "Está livre da prisão". Se a competição por alguma razão ficar irremediavelmente comprometida, nessa altura o Governo poderá vir dizer: "-Eu bem que avisei!"
O Estado não poderá ser responsabilizado.
E em que é que estas declarações do Governo, ao dia de hoje, ajudaram o futebol português?"
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