"O universo desportivo e o universo moral cruzam-se. O desporto pretende ser um universo à parte da sociedade. Ouve-se dizer (e escreve-se) que o futebol, em particular, é um mundo à parte; é um Estado dentro do Estado. Sabemos que nem todas as modalidades desportivas suscitam a mesma efervescência emocional.
Os gestos repetitivos que não valorizam a “beleza” corporal, as acções descontínuas, as competições onde os adversários não se confrontam directamente, etc., não oferecem uma certa “dramatização” desportiva. As “grandes” modalidades desportivas, como, por exemplo, o futebol e o râguebi, respeitam fielmente uma trilogia clássica: agrupamento de multidões no mesmo recinto, um grande estádio, um espaço à escala dos fervorosos adeptos contemporâneos. Considerando o mais popular de todos, o futebol, que se tornou uma referência mundial, apresenta todas as aparências da futilidade. Pelos comentários dos adeptos sobre as vitórias da sua equipa preferida, esta modalidade surge como um “jogo com profundidade”, que teatraliza os valores essenciais das sociedades. Como todas as outras modalidades desportivas, o futebol exalta o mérito, a performance e a competição entre iguais. Ele permite ver a incerteza e a mobilização dos estatutos individuais e colectivos, que simbolizam a ascensão e o declínio das vedetas (atletas), as promoções e os rigorosos processos de classificação. A popularidade dos desportos reside na capacidade de incarnar o ideal das sociedades democráticas. O futebol valoriza o trabalho de equipa, a solidariedade, a divisão das tarefas, a planificação colectiva, bem à imagem do mundo industrial, de que ele é historicamente o produto. A importância é marcar. Que o diga o Maradona, com o seu golo de mão, “a mão de Deus”, quando do encontro Argentina-Inglaterra do Mundial em 1986. Nas sociedades actuais somos convocados, individual ou colectivamente, para o sucesso. O fracasso e o infortúnio não são psicologicamente toleráveis. São apenas toleráveis quando a injustiça ou o destino são portadores da responsabilidade. Um jogo de futebol é, assim, um universo discutível, prestando-se a múltiplas interpretações. E é esta característica - “discutível” - que confere ao futebol a sua qualidade de “drama filosófico” e que atiça a paixão dos “especialistas”, que nunca terminam de comentar, e de comentar os comentários.
No âmbito da ReLeCo “Educação Desportiva, Corpo e Ética”, integrada no CeiED/ULHT, vamos organizar uma Mesa-Redonda dedicada à “Comunicação no Futebol Profissional”, no dia 10 de Fevereiro de 2020, pelas 17h30, no Edifício U da ULHT. Contamos com a sua presença! A Entrada é Livre."
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