"Um voo rotineiro a Moscovo transformou-se numa viagem rocambolesca com muito fair play
O treinador Toni reconheceu que, apesar dos muitos anos que levava destas andanças, 'nunca tinha passado por uma coisa destas'. A comitiva benfiquista partiu do aeroporto da Portela da manhã de 23 de Novembro de 1992. Esperava-a uma viagem de 5 horas para Moscovo, o que já não era uma perspectiva agradável, para disputar a 1.ª mão da 3.ª eliminatória da Taça UEFA 1992/93, frente ao Dínamo Moscovo. Estavam no ar havia poucos minutos, quando uma ameaça de bomba obrigou o avião regressar a Lisboa. O avião foi imobilizado em local isolado, foi evacuado, e os passageiros, enquanto esperavam por mais notícias, iam contando piadas, numa descontracção encorajante. Ao cabo de umas horas, após uma rigorosa inspecção, concluiu-se que era... falso alarme. Passava das 14 horas quando voltaram a alcançar o céu, a caminho da capital russa.
Era já de noite quando o avião aterrou no aeroporto de Moscovo, mas 'a palavra certa é atolado' na neve. O comandante, mais tarde, explicaria: 'Segui as instruções da torre de controlo e comuniquei que tinha neve à minha frente e não podia seguir por ali. Como resposta recebi a seguinte comunicação: 'Ordens são para se cumprirem; siga em frente.' Segui. Obedeci. E quando dei um pouco de reactor para retomar o andamento, senti o avião deslizar lateralmente e parar. Era impossível, desde logo, sair dali pelos nossos próprios meios!' À face deste cenário, comunicou pelos altifalantes: 'Acabámos de atolar na neve do aeroporto. A saída vai demorar e muito!' Passaram-se horas, fechados no avião, com alguns claustrofóbicos quase a entrar em pânico, quando, finalmente, chegou a escada. Mas 'pasme-se, não chegava à porta. A solução foi saltar! E saltar uns bons dois metros!'.
Apesar de tudo, a equipa lisboeta surpreendeu pelo fair play com que lidou com todas estas contrariedades e não deixou os acontecimentos afectarem a sua prestação no jogo frente ao Dínamo Moscovo, conseguindo um empate (2-2).
A viagem de regresso, como não podia deixar de ser, teve também a sua quota-parte de mirabolante, pois os bagageiros recusaram arrumar malas que tivessem mais de 15 quilos, ou seja, todas as da comitiva 'encarnado'. Veio o delegado sindical, que concordou com os carregadores. 'Depois de intensas negociações que, dizem as más-línguas, terão incluído a discussão de quantas 'verdinhas' (leia-se: dólares) resolveriam o problema, os homens lá se dignaram a deixar-nos partir. Resultado: aterrámos em Lisboa às seis da manhã. Esgotados'.
Pode saber mais sobre as viagens do Benfica para disputar jogos no estrangeiro na área 26 - Benfica Universal do Museu Benfica - Cosme Damião."
Lídia Jorge, in O Benfica
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