"O avô era do Sporting e deu-lhe de prenda inscrição nas escolinhas do rival; Chalana salvou-o, Jesus enganou-se
1. De família endinheirada, andou por escolas finas. «O primeiro golo que marquei foi no Queen Elizabeth Scholl, colégio onde estive entre os 3 e os 10 anos». Todos os dias insistia no pedido: que o levassem aos treinos do Benfica. Dom no pé começara a notar-se-lhe no quintal dos avós em Sesimbra, onde havia uma balizinha na relva do jardim.
2. No dia em que fez 7 anos, cumpriu-se-lhe o desejo: o avô João (que até era sportinguista) deu-lhe de presente uma inscrição na Escolinha que o Benfica tinha nos Olivais (sim, era paga...) - e três semanas após Helena Costa, deslumbrada, puxou-o para a sua equipa de competição.
3. Se lhe perguntassem quem eram os seus ídolos, a resposta não variava: o Cristiano Ronaldo e o Rui Costa, o Maradona e o Zidane. Com o destino de cara amarrada a desafiá-lo, chegou a andar-lhe pela cabeça a ideia de deixar o futebol - que já não lhe bastava truque que aguçara para compensar o ser minorca: «pensar mais rápido, saber onde a bola ia cair um segundo antes dos outros»...
4. Acabrunhado estava, Chalana salvou-o: «Entre os 14 e os 17 anos joguei pouco. Fui-me abaixo. Mas quando um dos maiores jogadores da história diz que vais chegar ao topo, acredita em ti - isso só pode dar muita força e vontade de trabalhar ainda mais duro» (E deu-lhe mais do que a fé e o futuro na sua crença, o Chalana - deu-lhe umas chuteiras: «... umas Copa Mundial que eu ainda guardo religiosamente»).
5. De quando em quando, o Benfica punha-o, na Luz, a apanha-bolas (foi-o no dia do adeus do Rui Costa). E, ao longo daquele breve período em que Chalana foi treinador do Benfica, era sagrado o seu encanto: «Eu ficava sempre ao lado do banco de suplentes, para ficar perto dele» (E da boca do Chalana saiu cognome que lhe colou ao destino: Messizinho do Seixal).
6. Nunca deixou de ser aluno acima da média - chegou a inscrever-se na universidade, no curso de Estudos Europeus. (Arrebatante foi o modo como jogou o Europeu sub-21. Antes da final, o JN pedira a vários pais que escrevessem mensagens aos filhos. Maria João Mota Viegas, a mãe que é professora de História da Moda, escreveu: «Não há nada como um sonho para criar o futuro». E o futuro foi-se-lhe rasgando cada vez mais no sonho a não deixar de bailar-lhe no pé, no seu pé esquerdo - mas não só...)
7. Arrebatante já fora também o seu Europeu Sub-19 (e não deixou de sair de lá n Equipa ideal do torneio) - e Melhor Jogador da II Liga no Benfica B - a 19 de Outubro de 2013 Jorge Jesus abrira-lhe, assim, a equipa A num jogo da Taça, contra o Cinfães. Também o pôs, depois fugaz em campo, contra o FC Porto, na última jornada do campeonato que o Benfica venceu.
8. Em entrevista ao France Football revelou-o, desconcertante: «Tinha feito três jogos no Benfica, sempre a entrar nos últimos cinco minutos. Sim, treinava com a equipa principal, mas como lateral-esquerdo - e percebi que não tinha futuro ali». Pediu, pois, a Jorge Mendes que lhe descobrisse outro destino - e foi parar ao Mónaco.
9. No Mónaco não tardou que os companheiros começassem a tratá-lo por Chewing Gum - «porque diziam que eu tinha um pastilha elástica na chuteira para colar a bola ao pé». (E, só pelo azar de uma lesão, no último treino da época, Fernando Santos não o levou ao Euro que Portugal ganhou).
10. Para o contratar ao Benfica, o Mónaco pagou 15,75 milhões de euros. Por lá, com Leonardo Jardim, ganhou o campeonato francês de 2016-2017, partilhando destaque com Mbappé e Falcao - e João Moutinho aventou-o: «Messi, Eusébio, Cristiano Ronaldo, Maradona, Pelé, são jogadores que estão e permanecerão na história do futebol - e eu acredito que ele possa aproximar-se desse nível...»
11. Correu rumor de que Messi exigira que para renovar com o Barcelona, o Barcelona teria de ir buscá-lo. Não foi porque Guardiola o desviou para Manchester (em negócio que pode chegar a 60 milhões de euros) - e por lá largou num brado vincado: «no City é ele e mais 10». Os colegas também não tardaram a tratá-lo (como no Mónaco) por Bubblegum, a versão inglesa da pastilha elástica. E, por ter feito o que fez à Polónia, correu, em fogacho, de boca em boca: «parecia o Messi, naquele seu golo» (e não é só..)"
António Simões, in A Bola
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