"Will Gompertz, editor de arte da BBC, é autor de um livro muito interessante chamado What are you looking at?, sobre arte moderna, no qual relata conversa como o escultor italiano Marizio Cattelan, um polémico dadaísta, um satírico. Gompertz, escreve ele, estava a organizar exposição no Tate, em Londres, Inglaterra, na qual Cattelan desejava usar uma sala para instalar um fantoche igual a Johnny Rotten, dos Sex Pistols, que insltasse os visitantes. Gompertz prezou a sugestão (evidentemente), em todo o caso propôs colocar o boneco perto da bilheteira, ainda na rua, como chamariz. «Nem pensar», devolveu Maurizio Cattelan, «se não estiver no museu já não será arte».
Buffon expulso por gritar com o árbitro no Real Madrid - Juventus, no descontrolo de quem via uma reviravolta mítica dissipada no último instante, foi, estou convencido, um momento realmente artístico, dadaísta também, porque não? Note-se, resumidamente, que os dadaístas, naquele esforço intelectual que os levava a negar valores estéticos (entenda-se, aqui, um golo de Cristiano Ronaldo, mesmo que de penalty) ou significados maiores (leia-se uma contenda de futebol decidida de forma tão admiravelmente teatral como a da última quarta-feira), existiam como talentos negadores da própria arte, contra ela protestando; e dessa forma dependiam dela, por oposição. Só nela existiam, para dela saírem. Buffon, devidamente dentro do museu do futebol que é o relvado do Bernabéu, como Cattelan recomendaria, atirando-se ao árbitro, desarvorado, bufando, expulso, foi a arte a desfazer-se por dentro, minada, um artista a contrariar o talento dos outros e, nisso, continuou distinto como sempre.
Fomos apenas nós, visitantes do museu agradavelmente ofendidos por uma inesperada instalação, que o vimos pela primeira vez socorrer-se de novo estilo, iniciar-se talvez num outro movimento artístico. Porque Buffon é Buffon."
Miguel Cardoso Pereira, in A Bola
Patetico...
ResponderEliminar