"André Vilanova pediu à sua equipa para marcar um na própria baliza. Um hino supremo ao 'fair play'
1. Sim terá que ler minha ou meu cara(o) leitor(a) um pouco para entender das razões deste titulo bem merecido. Por ora relembro que a maioria dos jogos da quarta eliminatória da Taça de Portugal se vão disputar ao longo deste domingo. Por exemplo em Leiria o União recebe Aves e nos Açores o Santa Clara confronta-se com o Chaves. E com encontros entre quase vizinhos como o Moreirense - Felgueiras ou bem distantes como o Farense - Leixões. E com os principais árbitros a marcarem presença nos diferentes jogos que dão acesso aos oitavos de final de uma competição que pode levar à Europa e que vai proporcionando - principalmente aos pequenos clubes - um significativo alívio de tesouraria. Mas os europeus, em razão da ajuda do calendário nacional, já todos jogaram. Resta, no final deste domingo, o Vitória de Guimarães que terá de ultrapassar um Feirense que sabe que, sob o ponto de vista financeiro, pode recorrer a outros interessantes mercados em razão da nacionalidade do seu principal investidor. E, desta forma, e também no futebol, começamos aperceber que a globalização tem interessantes consequências. Há clubes, em rigor SAD's, que em razão da titularidade dos seus principais accionistas, podem recorrer a operações de conforto financeiro fora do espaço português ou até europeu. O que é uma significativa diferença em relação a outras entidades e sociedades. Mas hoje é a Taça que permite a disputa entre equipas do Campeonato de Portugal e outros emblemas da principal competição profissional. E estes momentos, que permitem tombas gigantes, mostram a força e a singularidade do futebol. Mostram também uma solidariedade que está para além das disputas semânticas que inundam e perturbam o futebol português. Que como elas estão a incendiar consciências e a perturbar inteligências.
2. Nos últimos tempos muito se fala de Direito, da sua construção, da sua aplicação, da sua violação, da sua prevenção, da sua privação, das suas decisões tardias ou não percebidas. Há novos problemas, bem contemporâneos, que por excelência a Sociologia do Direito tem de analisar com todo o cuidado. A corrupção é um deles. Como o das minorias marginalizadas. Ou dos grupos radicais urbanos. Ou do crime organizado que ultrapassa todas as fronteiras. Ou da delinquência juvenil. Mas um relativamente recente livro de Mário Vargas Llosa - 'A Civilização do Espectáculo' - aborda, com interesse, a questão da globalização e do não respeito pela lei. Seja estadual, internacional ou da autoregulação das instituições. Aquele famoso autor, como nos diz o professor brasileiro Reinaldo Dias, numa das suas últimas reflexões, «aponta que o despego à lei contribui para enfraquecer a democracia e consiste numa atitude cívica de desprezo ou desdém pela ordem legal existente e na indiferença que faz que o cidadão transgrida e burle a lei quantas vezes puder para beneficiar a si próprio, ou para manifestar desprezo, incredulidade ou zombaria em relação à ordem existente». Acredito que a Faculdade de Direito de Lisboa - a minha Faculdade! - poderá ajudar também nesta reflexão agora que acaba de assinar um protocolo de colaboração com a Federação Portuguesa de Futebol. Mas não tenho dúvidas que há outras personalidades e outras escolas que, se escutadas ajudarão a reflectir acercas deste momento concreto do futebol português. Para além do novo movimento que estará para além dos três grandes... mas sem que os «empréstimos sejam postos em causa», estou convicto. Já que em muitos casos, e em vésperas do mercado de Janeiro, tais empréstimos - ou novos! - serão determinantes para o sonho da manutenção na principal Liga de futebol... e, logo, para uma mínima estabilidade financeira. É que três milhões de euros de direitos televisivos é bem diferente de quinhentos mil... É, apenas, uma diferença de seis para um! Só depende da Liga em que se está! Ou na estimulante primeira ou na complexa segunda. E já William Somerset Maugham, no seu extraordinário livro 'A Servidão Humana' nos ensina que «o dinheiro assemelha-se a um sexto sentido, sem o qual não podemos fazer uso completo dos outros cinco»!
3. Na próxima semana muito do futuro próximo do futebol português na Europa poderá ficar decidido. A difícil deslocação do Benfica a Moscovo exige ambição e determinação. Sabendo que joga antes do encontro entre o Manchester United e o Basileia - o jogo é as cinco da tarde portuguesas - tem de tudo fazer para conquistar três pontos e ganhar por duas bolas de diferença. É uma tarefa complexa mas bem possível. É um jogo em que o frio - e ao que consta a neve - de Moscovo determina que estejam presentes, desde o primeiro minuto, as sábias palavras de Eric Hoffer: «A única forma de prever o futuro é ter poder para formar o futuro». E acredito que Rui Vitória e todo o plantel do Benfica tudo farão para que o símbolo russo por excelência - a águia bicéfala - não deixe de olhar, com insistência, e no final do encontro para ocidente. Na próxima quinta feira, o regresso da comitiva do Benfica a Lisboa, é para ocidente. Desejamos com o sonho europeu ainda presente. Bem presente!
4. André Vilanova. Registem este nome. Não foi notícia. Não mereceu reportagem televisiva. Nem post no Facebook. Nem referências de agências de comunicação ou de diligentes directores de comunicação. André Vilanova é treinador da equipa de benjamins do Vitória de Setúbal. No passado dia 11 - salvo erro - a sua equipa marcou um golo ao Comércio e Indústria quando o guarda-redes desta equipa estava a chorar, e no chão, depois de ter apanhado com a bola na cara. O árbitro não interrompeu o jogo como devia. O Vitória marcou golo. E o seu treinador - André Vilanova - pediu à sua equipa para marcar um golo na própria baliza. Um auto golo. Um hino supremo ao fair play. Um marcante exemplo. Bem merecia ele, e a jovem equipa, um registo inequívoco por parte da Associação de Futebol de Setúbal e da própria Federação Portuguesa de Futebol. Aqui não há que ter nem receio nem medo. Aqui não há que pesar as consequências de uma actuação ou de um procedimento. Aqui não há que criar um notícia boa para apagar um momento menos bom. Aqui há tão só que enaltecer e aplaudir. Já que a bondade, esta bondade, «é o único investimento que nunca vai à falência»! Nunca mesmo!
5. Há poucos dias comprei um interessante livro de um dos grandes árbitros deste milénio: Howard Webb. É uma autobiografia que nos ajuda a perceber o que é ser árbitro em determinados momentos e em certas circunstâncias. E não esquecendo aquele 11 de Julho de 2010 em Joanesburgo. A final de um Mundial após vinte anos de dedicação à arbitragem. Entre nós faltam livros como este. Ajudariam e muito o futebol, o nosso futebol. O futebol jogado e, logo, o apitado!
6. Os tempos são bem diferentes. Bem o sabemos. A todos os níveis. A 1 de Junho de 1961 o Benfica perdeu com o Vitória de Setúbal por 4-1 na segunda mão dos oitavos de final da Taça de Portugal. Estreando-se o Senhor Eusébio da Silva Ferreira. Foi eliminado da competição. No dia anterior - sim a 31 de Maio - em Berna conquistara o título europeu frente ao Barcelona. Talvez seja oportuno recordar estas singularidades! Em semana europeia de futebol!"
Fernando Seara, in A Bola
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