"Numa semana em que as escolas (e a cidade) começam novamente a fervilhar de "vida", muitos dos agregados familiares debatem-se com a criação de uma rotina que, maioritariamente, rodará em volta do horário escolar dos seus educandos.
As responsabilidades académicas, acrescidas das actividades extracurriculares de natureza desportiva, artística ou associativa geram horários de "trabalho", muito frequentemente, largamente superiores às 40h de trabalho semanal que nos esperam na vida adulta.
A sobrecarga, directa ou indirecta (em contexto de estudo), no que respeita às tarefas curriculares (já sobejamente discutida por diversos especialistas), tende a fazer com que os agregados familiares se questionem acerca da verdadeira importância das actividades extracurriculares, vivenciando-as, muitas vezes, com uma sensação de "fardo" que será "lançado ao mar" assim que as notas evidenciem um "anunciado afundanço".
De facto, este é um tema que merece algum aprofundamento de análise, por parte dos Encarregados de Educação, na medida em que se tomam, agora, decisões que, desejavelmente, devem ser mantidas a médio/longo prazo (entenda-se: o ano lectivo que agora se inicia), independentemente do rendimento escolar que esteja a ser evidenciado.
Desde já alguns anos, tem circulado um texto muito curioso na internet onde, um pai responde a outros pais, quando questionado sobre o investimento (tempo e monetário) que tem feito, ao longo de uma série de anos de prática da sua filha (ginasta).
A resposta, em discurso directo, poderia ter sido retirada de qualquer manual de psicologia do desporto/performance, caso estivéssemos a folhear um capítulo sobre maturação e desenvolvimento infanto/juvenil.
De facto, a introdução da prática de exercício físico (ou desportiva - esta última implica competição), desde idades precoces, assume-se manifestamente como um forte aliado dos encarregados de educação, no que respeita ao treino de um conjunto de competências de vida que, a médio prazo, revelar-se-ão como indiscutíveis pilares para o sucesso (independentemente do projecto de vida que a pessoa venha a assumir para si própria).
Passemos, em relance, algumas delas:
Integração de um Estilo de Vida Activo
Assumindo as taxas de sedentarismo e obesidade, valores verdadeiramente assustadores na cultura ocidental (Portugal não é excepção), a prevenção através da uma "cultura de estilo de vida activo", acaba por ser um dos principais factores associados a indicadores de saúde física e psicológica mais elevados.
Maior Consciência Corporal
Varias dimensões do funcionamento humano dependem da nossa consciência corporal (escreveríamos vários livros sobre o tema), pelo que, gostaria apenas de evidenciar, por agora, o seguinte: sendo os millennials e os pós-millennials, duas gerações iminentemente direccionadas para actividades de carácter tecnológico e cognitivo, chegando a dedicar mais de 2h/dia às mesmas, a falta de conexão com a resposta fisiológica do corpo acaba por ser muito evidente. Este tipo de "limitação", traduz-se maioritariamente, na incapacidade de interpretação de respostas de carácter fisiológico o que compromete, de igual forma, a sua capacidade de discernimento emocional (uma vez que as emoções possuem uma componente fisiológica importantíssima) e, consequentemente, o seu nível de inteligência emocional. A prática desportiva, por esta razão, constitui-se como um excelente veículo de optimização da percepção da resposta fisiológica.
Regulação Emocional, Auto-Confiança
A exposição a um contexto de "treino, treino, treino, frustração, repetição, frustração, superação", devolve às crianças/jovens a noção de que, independentemente do afecto que possa estar a vivenciar no momento (desafio ou medo, alegria ou frustração), a manutenção do esforço e do propósito traçado eleva, a curto-médio prazo, as competências de auto-regulação e a confiança de que o esforço nos aproximará das metas traçadas.
Esta é, muito possivelmente, uma das mais importantes aprendizagens de vida: Os estados emocionais alteram-se mas o esforço deve manter-se pois, só assim, veremos reforçada a consciência da nossa efectiva capacidade.
Competências Sociais
De facto, este contexto é um excelente meio para aprender a ouvir o outro (e a aguardar a oportunidade para falar), para trabalhar e pensar de forma autónoma e em equipa, para aprender a importância da cooperação e entreajuda, para aprender a liderar tarefas e a ser liderado, para aprender a ser disciplinado em grupo de pares e a respeitar a hierarquia, entre tantas outras competências necessárias para ser bem sucedido em grupo de pares.
Determinação e Auto-disciplina
Este é um contexto onde, quase invariavelmente, o esforço se traduz em resultados pois, os atletas mais dedicados e esforçados, tendem a obter resultados mais consistentes a médio-longo prazo, até porque, os resultados fugazes resultantes de mero talento ou vantagem anatómica, tendem a desaparecer em escalões etários mais avançados onde, apenas a fórmula 'talento e trabalho' produzirá resultados significativos.
Superação de Medo e Exposição
O contexto desportivo, pela sua natureza lúdica onde as crianças naturalmente gostam de se ver envolvidas, acaba por se assumir um contexto de excelência para as crianças vivenciarem todo o ciclo "medo-desafio" ou, por outras palavras, experimentarem o "gozo" associado à superação do que, outrora, foi um obstáculo.
A exposição associada ao contexto competitivo, propicia desde tenra idade, a possibilidade da habituação a actuação de performances em contextos de plateia, cuja mestria será um fator discriminante positivo em contexto académico/profissional.
E, esta lista poderia ser, tal como se encontra cientificamente comprovado, infindável.
Por todas estas razões, uma reflexão aprofundada sobre as vantagens/desvantagens (muitas vezes, mais de natureza "logística") do envolvimento dos jovens em actividades desportivas deve ser de facto levada com a seriedade necessária, até porque, não basta "depositar" os jovens nos clubes (como muitas vezes se observa)... há que escolher participar também neste tipo de actividade, assumido, conjuntamente com os respectivos treinadores/clubes, como uma parceira que assumirá e repartirá as devidas responsabilidades, ao longo de toda uma época desportiva.
Será, por certo, uma "aposta ganha"."
Sem comentários:
Enviar um comentário
A opinião de um glorioso indefectível é sempre muito bem vinda.
Junte a sua voz à nossa. Pelo Benfica! Sempre!