"No FC Porto, Pinto da Costa parece renitente em admitir que há um dia para sair, enquanto no Sporting não se enxerga quem manda mais, se o presidente se o treinador.
O triunfo na Taça de Portugal, uma competição que o Benfica se desabituara de ganhar desde a viragem de século (2004, 2014 e 2017), é mais um elemento de prova em favor da política seguida pelo Benfica, decorrente do gigantesco e ambicioso projecto de Luís Filipe Vieira.
Ainda integrado na equipa directiva de Vilarinho, ajudou a reunir os cacos e a salvar das cinzas o pouco que restava do clube. Já como presidente eleito, estabeleceu como primeira prioridade a recuperação da credibilidade perdida. levou avante a construção do novo estádio em conjuntura desfavorável, uma empreitada de muito arrojo e depressa classificada por amigos e inimigos como uma aventura destinada ao fracasso.
Apesar dos perigos e das armadilhas, dada a situação instável, tão ousado desafio mais pareceu uma miragem para fazer rir às gargalhadas os adversários. É verdade que partiu atrasado em relação aos concorrentes mais fortes, mas, mesmo assim, chegou primeiro, proclamou a sua razão e devolveu a força de acreditar à nação benfiquista, a qual se deu conta que estava em marcha um processo de mudança irreversível e de amplitude incalculável.
Dando passos seguros, embora com necessários recuos e alguns tropeções que não puderem ser evitados, o presidente benfiquista foi reforçando os alicerces para abraçar o futuro sem receio do desconhecido.
A cabeça de Vieira é uma espécie de máquina calculadora em permanente laboração. Além de fazer contas e gerar lucros é uma abundante fonte de onde brotam ideias com o mesmo entusiasmo do primeiro dia. Revela ainda uma espantosa capacidade de evolução para manter o clube na linha da frente em todas as vertentes. Por isso, nasceram o complexo adjacente ao estádio, a zona comercial, o museu e o centro de treino do Seixal, modelar à escala mundial e, só por si, um foco de permanente de inovação.
A revolução tecnológica que aproximou as Casas do Benfica foi outra das medidas tradutoras do espírito pioneiro da governação de Vieira: a dimensão universal da instituição precisava de uma resposta adequada no sentido de diversificar os locais de votação em cenários eleitorais.
Com o emblema da águia unido e em paz, deparou-se-lhe, então, a oportunidade para atacar a terceira fase do projecto, porventura a mais aliciante e volúvel por não depender da vontade uma pessoa ou de um presidente: recolocar o futebol profissional no lugar europeu que lhe pertenceu em passado de reconhecida e apreciada glória desportiva.
O percurso é demorado e vai sendo cumprido. Talvez o clube pudesse estar nesta altura em fase mais adiantada, mas os erros também têm ajudado na consolidação estrutural porque de todos eles se extraem ensinamentos e se enriquece a experiência.
Trapattoni foi rampa de lançamento com sucesso, mas sucedeu-lhe um vazio apenas interrompido cinco anos mais tarde por Jorge Jesus. A que se seguiu outra travessia no deserto, de mais quatro anos, que teria sido suficiente para provocar uma derrocada geral não fossem invulgarmente resistentes as bases de sustentação de um desígnio preparado para resistir a ventos e marés.
Vieira, tal como treinadores e jogadores, igualmente cresceu como presidente e sem que fosse preciso segredar-lhe ao ouvido o que devia fazer, no recato do gabinete tomou decisões inadiáveis e determinantes. Era preciso alterar o rumo, iniciar outro ciclo. Fê-lo com a discrição, a firmeza e a segurança que definem os líderes de verdade.
Não hesitou na hora de mudar, convicto de que o caminho não era por ali. No entanto, não faltou quem tivesse prenunciado a desgraça, como se pudesse permitir-se a uma qualquer personalidade megalómana sobrepor-se ao interesse da instituição Benfica.
A todos os reparos Vieira reagiu com o silêncio e a tranquilidade de quem compreendeu o alcance da campanha lamurienta, recusando, porém, dar-lhe alimento na praça pública. Pelos vistos, com razão:
1. Hoje, o Benfica soma 75 títulos nacionais (36 Campeonatos + 26 Taças de Portugal + 7 Taças da Liga + 6 Supertaças), o FC Porto 63 (27 + 16 + 0 + 20) e o Sporting 42 (18 + 16 + 0 +8).
2. Hoje, o Benfica justifica por a mais b que foi acertada a opção por Rui Vitória, enquanto o Sporting se imobilizou num beco sem saída ao convencer-se de que Jorge Jesus seria o remédio para todos os problemas.
3. Hoje, é irrecusável que, dos três grandes, o único presidente que verdadeiramente tem um grande projecto e luta por ele é Luís Filipe Vieira. No FC Porto, o seu presidente, apesar de acumular crédito notável, através de valiosa carteira de títulos desportivos, parece renitente em admitir que há um dia para sair, enquanto no Sporting não se enxerga quem manda mais, se o presidente, se o treinador..."
Fernando Guerra, in A Bola
Sem comentários:
Enviar um comentário
A opinião de um glorioso indefectível é sempre muito bem vinda.
Junte a sua voz à nossa. Pelo Benfica! Sempre!