"Por esta altura do ano começa-se já a falar da 15ª edição do "Golden Boy", prémio atribuído anualmente pelo diário desportivo italiano "Tuttosport" ao melhor jogador com menos de 21 anos a actuar na Europa.
Em 2016, Renato Sanches foi o feliz contemplado com o galardão e, em 2017, repete esta nomeação, partilhando agora o "palco dos possíveis candidatos" com os portugueses Rúben Neves, Rui Pedro, Diogo Dalot e José Gomes.
Alguns dos ex "golden boys" mais conhecidos são Lionel Messi, Wayne Rooney, Pogba, Fàbregas, Agüero, Van der Vaart e também Balotelli.
Contudo, e de posse destes dados, atendendo a que esta lista de nomeados chega quase aos 100 candidatos e que já vai na 15.ª edição, a reflexão que se impõe deverá ser:
Onde andam estes (se calhar) quase 1500 promissores talentos?
O caso paradigmático de Renato (o qual não irei comentar, por razões de natureza ética, mas que, por agora, faz lembrar os rumos de tantas outras "jovens promessas"), com a própria imprensa local a questionar a sua rara utilização, deveria fazer-nos parar e questionar todo este processo.
Estarão os Clubes e os "adultos significativos" destes jovens (encarregados de educação) a fazer, efectivamente, o seu papel no processo formativo dos mesmos?
Estarão focados em todas as dimensões da formação do atleta e do atleta como pessoa?
Ou, tal qual adeptos, perdem o seu foco na "contabilização" do número de assistências, remates e golos que estes conseguem fazer? No valor do seu passe?
Quantos destes atletas, projectados para um "aparente" sucesso, muitas vezes efémero, chegam a uma idade "adulta" (18 anos) com a devida preparação para lidar com a exposição associada ao sucesso, com as questões associadas à gestão financeira do seu património ou à própria gestão emocional que precisam fazer com os seus "entes queridos".
Quantos deste jovens não protagonizam apenas, uma espécie de "canto do cisme", onde após uma primeira transferência de grande visibilidade, acabam por se "esfumar" no clube que os acolhe, nunca dado continuidade ao talento outrora demonstrado?
Onde termina a responsabilidade dos clubes, dos pais... onde começa a dos próprios atletas que, muito frequentemente, aos 18 anos evidenciam uma imaturidade sócio-afectiva que os impede de ter o discernimento necessário para tomar a "decisão certa"?
A própria Premier League publicou no passado ano de 2016 um desconcertante estudo que aponta para o facto de que cerca de 60% dos seus atletas, 5 anos após o término das suas carreiras, se encontrarem na falência... financeira e afectiva, pois a taxa de desestruturação do agregado familiar e, até de consumo abusivo de substâncias (ex: álcool), é também ela, elevadíssima.
Estes dados são públicos e do conhecimento de uma larga maioria de intervenientes no contexto desportivo (dirigentes, treinadores, pais...) e, face a isto, o que tem sido feito?
A frequência com que chegam ao meu local de trabalho, "jovens promessas" cuja preparação para a vida e para a disciplina que os contextos de excelência exigem é francamente diminuta, é efectivamente elevada.
Frequentemente, e a titulo de mero exemplo, antes mesmo de me poder debruçar sobre os aspectos específicos do treino de competências psicológicas para a performance, torna-se emergente encaminhá-los para um nutricionista que os ensina a gerir o apport energético que têm que fazer para competir no máximo da sua capacidade. Na realidade, um especialista que, às vezes, tem que os ensinar até a fazer as compras necessárias, ajudando-os a reconhecer o que devem ingerir e onde comprar.
É que, sem "energia", qualquer treino de optimização da gestão emocional será sempre deficitário, face ao que poderia trazer ao desempenho do atleta.
Profissionais que trabalham no seu quotidiano em processos one-to-one, em contexto privado, dificilmente conseguirão ter o "impacto em massa" necessário.
Os grandes players que actuam neste segmento e que tem acesso directo aos atletas e, por essa mesma razão, Partilham em conjunto a responsabilidade da sua formação (pais, clubes, federações e outros organismos), Precisam, neste contexto, fazer um statement diferente, quanto mais não seja, e se não for pela preocupação com a pessoa que está por trás do atleta, por uma questão de aumentar as condições de sucesso daqueles que são o seu "activo financeiro":
- Maior diferenciação cognitiva (entenda-se, aposta genuína no plano escolar), maior educação da sua consciência corporal (fisio-nutricional) e maior destreza em processos psico-emocionais, associados à Pessoa e à optimização desportiva do atleta, resultarão sem dúvida, num maior retorno financeiro a médio-longo prazo, na medida em que teremos atletas com mais e melhores ferramentas para lidar com aquele que é, demasiadas vezes, um contexto extraordinariamente hostil: o da alta-Competição.
Se não o fizermos, continuaremos todos, a "instrumentalizar" miúdos em larga escala, negando-lhes, à partida, o conhecimento necessário para "sobreviverem" ao "pseudo-sucesso" para que são formatados.
Urge, sem dúvida, uma atitude diferenciada.
(nota: entenda-se "contexto hostil", nesta linha de pensamento, como qualquer contexto onde nos sintamos obrigados a performances de elevada exigência, sem que se observem as condições ideias para as mesmas, exemplo: ter que assumir o seu talento, num país, cultura e dialeto diferentes... num balneário repleto de rostos desconhecidos)"
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