"O poema de Vinicius de Moraes, Rosa de Hiroshima, foi musicado por George Conrad e tocado pelo grupo Secos e Molhados no início da década de 70 e tornado um dos símbolos da resistência à feroz ditadura que imperava no Brasil à época. O texto transcreve os muitos malefícios decorrentes do lançamento da bomba atómica na cidade japonesa em 1945 e as feridas que ficaram abertas com o tempo.
Transpondo para a realidade do futebol nacional e retirando a carga bélica pode dizer-se que, semana após semana, através de comunicados; de publicações assinadas, ou não em sites oficiais - já agora, convém que quem escreve dê sempre a cara -; dos comentários de adeptos notáveis ou notados com cartilha previamente distribuída nas mais diversas estações televisivas, lançam bombas sobre a arbitragem.
Ainda assim, malgrado alguns erros pouco plausíveis, a maioria dos trabalhos protagonizados pelos árbitros acabam por ser rosas em Hiroshima. Afinal, de um terreno devastado ainda se consegue extrair alguma coisa boa.
Talvez o pior sejamos efeitos colaterais. Às vezes não visíveis quando alguém pega num telemóvel e consegue filmar um louco com uma barra na mão para agredir um árbitro após uma espera; outros ficam invisíveis e apenas denunciados, como aquele em que o pai de jogador de sub-12 deu uma chapada a um árbitro um pouco mais velho do que o seu filho: 15 anos. Sim, leu bem, o árbitro tem 15 anos.
Há teorias com suporte científico a defender que o desenvolvimento da consciência depende da reflexão. Pois. Daí talvez se perceba. Quem debita frases, ou se limita a ler os documentos que lhe foram passados, tem pouco tempo para pensar. O pior são os outros. Se calhar, no músculo do braço de cada agressor estão as palavras dos inconscientes."
Hugo Forte, in A Bola
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