"Os estudantes de Coimbra esgotaram a lotação do Estádio Nacional para assistirem a uma edição história da Taça de Portugal.
Não era a primeira vez que o Benfica e a Académica de Coimbra se defrontavam numa final da Taça de Portugal, mas o encontro de 1968/69 teve um significado especial para ambas as equipas. A crise estudantil de 1969 estava no seu auge e a chegada da Académica à final da prova abria novos horizontes para a causa dos estudantes. Era inevitável o pensamento de quão longe chegaria a luta estudantil com a conquista da Taça de Portugal pela sua equipa de futebol.
Na 1.ª mão da meia-final da prova, a Académica entrou em Alvalade equipada de branco e com braçadeiras negras em sinal de protesto contra a repressão exercida sobre os estudantes de Coimbra. A vitória por 2-1 frente ao Sporting contribuiu para que, na semana seguinte, com um triunfo por 1-0, a Académica garantisse o seu lugar na final. O Benfica tinha goleado a CUF na 1.ª mão da meia-final por 5-1 e o empate a duas bolas na semana seguinte permita que os 'encarnados' alcançassem a final da prova, o que não acontecia desde a época 1964/65.
A 22 de Junho de 1969, as duas equipas entraram no relvado do Jamor para a disputa do ambicionado troféu. O Benfica equipado de 'vermelho e branco', os estudantes com o habitual equipamento preto e de capas negras ao ombro em sinal de luto pelo estado do ensino superior.
As bancadas completamente esgotadas do Estádio Nacional contrastavam com a tribuna presidencial vazia, numa final que não foi transmitida em directo na televisão conforme tinha sido noticiado na véspera do encontro. O jogo decorreu sem grande emoção, mas nas bancadas ecoavam os «F-R-A» dos estudantes que incentivavam a sua equipa para a vitória, entre faixas onde se liam frases como: 'Estão 36 estudantes presos', 'Melhor ensino, menos polícias', 'Estudantes unidos por Coimbra' e 'Universidade livre'.
A dez minutos do final do encontro, o marcador registava o empate a zero e perspectivava-se um prolongamento, mas a defesa 'encarnada' permitiu que Manuel António marcasse o golo que colocava a Académica em vantagem. O Benfica reagiu e pouco depois Simões marcava o golo do empate. Seguiu-se o prolongamento. A animação e o nervosismo cresciam nas bancadas do Jamor, quando aos vinte minutos do prolongamento Eusébio marcou o golo que deu ao Benfica a sua 13.ª Taça de Portugal e a quinta 'dobradinha'.
Seguiu-se a 'festa da amizade'. Nas bancadas todos festejavam e no relvado os 'encarnados' vestiam de negro e os 'estudantes' envergavam as 'camisolas berrantes', numa invulgar troca de equipamentos colectiva que foi símbolo da amizade e respeito que uniu os dois emblemas.
Esta e outras histórias podem ser recordadas na área 5. A 'Taça' no Museu Benfica - Cosme Damião."
Marisa Manana, in O Benfica
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