"O despedimento de Mourinho na sequência dos maus resultados do Chelsea nesta época, desmonta a ideia de treinador irremediavelmente vitorioso, que se foi construindo ao longo da brilhante carreira do técnico que já foi oficialmente considerado o melhor do Mundo. A situação actual não lhe retira a enorme competência demonstrada pelos sucessos nos mais diversos contextos. Comprova, todavia, que os resultados no desporto resultam da interacção de inúmeros factores, alguns detectáveis e outros não, e não de qualidades absolutas dos seus intérpretes que, por qualidades perenemente superiores aos outros, estariam destinados a sempre ganhar. Esta é uma lição para todos os agentes desportivos que, com inteligência, saibam observar e interpretar o fenómeno social em que trabalham.
Não há treinadores ganhadores. Há somente os que têm maior probabilidade de responderem eficazmente às exigências da competição, em contextos e culturas variadas, pelo conhecimento do desporto em que actuam, suportados por adequada preparação científica e cultural. E, sobretudo, pela aprofundada compreensão dos seres humanos que são os seus atletas. Assim poderão obter superiores percentagens de sucessos. Como Mourinho.
Os processos de treino devem fundamentar-se na biomecânica, fisiologia, anatomia e outras áreas da biologia. Mas o desporto de rendimento não é uma ciência exacta e o Homem não é redutível a modelos matemáticos. Está nas ciências humanas uma importante chave para a eficácia dos treinadores. É que, não, obstante tudo possa estar rigorosamente planeado, serão os processos psicológicos e psicossociais a influenciar a reacção nos momentos determinantes. A capacidade empática, a compreensão do atleta e da dinâmica grupal são elementos fundamentais para a eficácia do treinador moderno, cidadão do mundo. Implica centrar-se no outro. Tal é incompatível com a fixação egocêntrica."
Sidónio Serpa, in A Bola
Sem comentários:
Enviar um comentário
A opinião de um glorioso indefectível é sempre muito bem vinda.
Junte a sua voz à nossa. Pelo Benfica! Sempre!