"O autocarro vai arrancar. Aí vem o autocarro. Vira para a direita, vira para a esquerda. Agora uma rotunda, e outra, e outra. Não pára ali, nem acolá. Em marcha liderada por escolta policial.
Divertidíssimo. O povo não quer outra coisa. Um regalo nunca visto. Longos minutos atrás, ao lado, à frente, por cima e em versão drone. É uma fartura. Não há zapping possível: o canal A transmite, o canal B idem, o canal N idem aspas. Um êxtase de alienação em versão rodoviária.
Ah, ia-me esquecendo de referir. É o autocarro da equipa. Das equipas. Da selecção. Da abstracção. Para o jogo. Ou depois do treino. Ou a sair do hotel. Às pinguinhas. O autocarro é colorido, vermelho, verde, azul, de várias cores, com letras maiúsculas e imponentes. Está bem lavado e afinado.
Lá dentro vai a equipa, consegue ver-se o motorista. O autocarro, bem concebido, não permite ver o seu interior. Desconcertante, este pormenor. Mas as televisões vão cuidando de nos informar que lá dentro vai a equipa e de nos dizer do seu estado de espírito, certamente por rede sem fios.
Chegou ao seu destino. Abrem-se portas e bagageiras. A tristeza invade o telespectador. Que fazer agora, depois de tão excitantes e fartos minutos do autocarro. Não sei com quantos cavalos. A trote e a galope. Um ingrato, este veículo!
Assim chegou o doloroso momento da despedida do autocarro. Não há mais reportagem. Fica uma sensação de buraco na alma. Mas não nos entristeçamos. Amanhã temos dose a dobrar. E ainda hoje, nas televisões, se vai falar muito de autocarros estacionados à frente das balizas. Viva o autocarro! Abaixo os autocarros!"
Bagão Félix, in A Bola
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