"Naquele tempo, no tempo em que o kick and rush se espalhava por relvados lamacentos sob chuva e névoa - apareceu o Pelé a afirmar, poético:
- Não há pior castigo que nascer bola para ser pontapeada por um inglês em Wembley...
Esse futebol que se jogava assim dentro de campo já não se joga tanto assim (nem por lá) - mas em Portugal sim: tem-se jogado, sinistramente assim na metáfora da bola pontapeada à bruta como um inglês em Wembley em vez da bola a nascer poema dos pés do Pelé. Claro, não estou a falar do futebol que se joga na relva, estou a falar do futebol que se joga na lama - sem deixar de me lembrar do Maradona, de vez em que surgindo alguém a perguntar-lhe:
- Se fosses bola e tivesses de escrever uma carta ao pai Natal, o que é que lhe pedirias?
espirituoso, o Maradona respondeu-lhe (ainda mais poético que o Pelé):
- que não me sujassem!
É, o caso é mesmo esse, o problema é mesmo esse: o futebol que indecorosamente se andou a jogar em Portugal fora do campo (ou melhor: em campos que eram chavascais...) através de malandrins e trampolineiros, trastes e velhacos, sujou o verdadeiro futebol (no que se fez mais do que no se mostra...); o futebol que despudoradamente se continua a jogar em Portugal fora de campo (ou melhor: em campos que são pocilgas...) através de calhordas e patifes, sonsos e hipócritas, todos eles pontapeando com a língua (e mais...) a bola à bruta como o inglês do Pelé, não deixa de sujá-la todos os dias de forma mais grave do que o desejo do Maradona. Obviamente, tudo isso enoja, me enoja. Mas o que me é mais perturbador é o eu ir vendo que há quem acredite que tudo pode acabar com os malfeitores (uns e outros) cantando e rindo - porque o futebol é mesmo assim: um jogo que se jogou assim e se vai jogando assim por campos onde vale tudo e a diferença entre sucesso e insucesso é só a a falta de vergonha ou a falta de carácter (para utilizar apenas eufemismos)."
António Simões, in A Bola
Ah grande António Simões! Só é pena, depois desta brilhante peça jornalística, ficarmos todos sem saber de QUEM ESTÁS A FALAR. Aplicaste montes de Substantivos, (malandrins, trampolineiros,trastes velhacos,calhordas,patifes,sonsos,hipócritas e mesmo malfeitores...), só não conseguiste descortinar o mais fácil: O NOME DE TODA ESSA "BOA" GENTE...!!! Que pena(bis...), num artigo tão corajoso, honesto e MESMO NADA HIPÓCRITA. Uma peça jornalística de jornalismo bem Nacional, digna de um verdadeiro jornalista Português. Quem tem dúvidas ???
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