terça-feira, 20 de dezembro de 2022

Nas graças da Rainha


"O que podia ser apenas mais um jogo tornou-se numa jornada de confraternização e de tributo aos campeões europeus

A conquista do Benfica da Taça dos Clubes Campeões Europeus de 1960/61 foi também considerada uma vitória de Portugal no futebol europeu. Por isso, outros clubes nacionais quiseram homenagear a equipa benfiquista, aproveitando as deslocações do clube lisboeta às suas casas, por motivo do calendário oficial.
O Benfica foi às Caldas da Rainha para disputar a 1.ª mão da 1.ª eliminatória da prova-rainha de 1961/62, frente ao Caldas, onde foi 'recebido de maneira fidalga', em 26 de Novembro de 1961. A sua chegada foi anunciada por uma banda, que 'percorreu as ruas da cidade, transportando uma bandeira do Benfica' e 'executou o hino do popular clube, enquanto estralejavam foguetes e mais de uma centena de pessoas aplaudia os visitantes'. A Direcção do Benfica depositou um 'lindíssimo ramo de flores na base do belo monumento', a estátua da rainha D. Leonor. Depois, 'formou-se um extenso e luzido cortejo, a caminho do edifício da Câmara'. Os jogadores foram para o campo, enquanto os dirigentes e os 'futebolistas Germano, Santana, Eusébio, Humberto, Pinto e Amândio' participaram numa 'magnífica cerimónia' na Câmara Municipal.
No Campo da Mata, 'toda a caravana benfiquista e o grande clube foram presenteados com lembranças várias'. Após o apito inicial, os anfitriões deixaram as cortesias de lado e deram uma interessante luta à equipa dos encarnados, composta por elementos da equipa principal e das reservas. Apesar de um 'certo equilíbrio territorial', a superioridade do Benfica foi notória, e o jogo terminou 5-3 a favor dos visitantes. Dois dos golos foram marcados por Calado, que fazia a sua estreia na equipa principal, deixando uma boa impressão, pois 'assinou pormenores relevadores de uma intuição inegável'. Os outros golos encarnados foram marcados por Angreja, que bisou, e por Torres. Começava, assim, da melhor forma para o Clube a campanha na Taça de Portugal de 1961/62, troféu que viria a conquistar no final da época.
Saiba mais sobre as homenagens aos (bi)campeões europeus no livro Talento e Superação: O Bicampeonato Europeu do Benfica, da autoria do Património Cultural Benfica e de A Bola."

Lídia Jorge, in O Benfica

Atenção, ao foco, todos


"1. No jantar de Natal desta casa, entre inúmeras outras coisas ditas muito a propósito, houve ainda uma coisa especialmente bem vincada por Rui Costa. 'Só há um Benfica'. Não é que não saibamos. É assim, e só assim, que pode haver o Benfica que desejamos.

2. Mas também sabemos que nem sempre é assim. E não nos devemos esquecer de todas as vezes em que não foi assim. E de como voltou a ser assim todas as vezes. 'Só há um Benfica'. Quando é verdade, ainda soa melhor.

3. Naturalmente, o percurso da equipa sénior de futebol foi um dos temas da conversa de Rui Costa com os trabalhadores do Benfica. 'Que em nenhuma situação se possa perder o foco daquilo que estamos a fazer', disse. E especificou: 'O nosso foco será sempre este: servir o Clube para que se consiga conquistar os títulos que desejamos e que os nossos adeptos merecem. O apelo que faço é que este foco não se perca', referiu. É uma mensagem que percorre o Benfica em todas as suas instâncias e um apelo ao sentido de responsabilidade e à paixão de todos.

4. Um apelo até ao sentido de responsabilidade daqueles que entendem que não têm responsabilidade nenhuma porque se veem no papel de simples adeptos como se esta glória de se ser adepto do Benfica fosse alguma vez uma coisa 'simples'. O Benfica não tem nem nunca teve 'simples adeptos'. Tem uma massa imensa de gente apaixonada e disposta a seguir essa paixão até onde tiver de ser.

5. Mas não foi só de futebol que Rui Costa falou. O Benfica é um clube eclético, e 2022 foi um ano excepcional de afirmação além-fronteiras para muitos dos seus atletas e modalidades. 'Tivemos na canoagem o nosso Pimenta, que foi campeão mundial; no judo fomos campeões nacionais femininos, tivemos a Bárbara Timo bronze no Mundial, e a nossa equipa feminina bronze na Taça dos Campeões Europeus pela primeira vez na história do Clube: na natação, o nosso Dieguinho foi campeão do mundo e recordista mundial; no atletismo, Pedro Pichardo campeão europeu e mundial...', recordou o presidente do Benfica.

6. Até ao final desta semana, o Benfica podia ainda ter mais dois campeões do mundo. Neste caso, de futebol. Nicolas Otamendi e Enzo Fernández jogarão a final do Mundial no próximo domingo. Na equipa técnica da seleção argentina há um outro que também é um bocadinho nosso, Pablo Aimar. E entre todos os jogadores presentes no Catar, ainda há outro que também não nos esquece e que por cá não foi esquecido, Angel Di Maria.

7. No sábado regressa oficialmente o Benfica aos campos de futebol. É em Moreira de Cónegos. Atenção ao foco, todos."

Leonor Pinhão, in O Benfica

Do despropósito...


"Esta semana o jornal A Bola entendeu, pela enésima vez, assinalar o famigerado jogo dos 7-1 em Alvalade entre Sporting e Benfica. E logo com uma extensa entrevista, a qual mereceu honras de primeira página, a Manuel Fernandes, autor de um poker nessa partida.
Não está em causa o mérito da façanha do antigo avançado do Sporting, muito menos a relevância da sua carreira, mas é totalmente descabido que essa goleada imposta ao Benfica seja recuperada por tudo e por nada. “Há 36 anos o Sporting-Benfica teve desfecho histórico” é a frase de entrada da peça. Aguardarei serenamente pela entrevista anual a Manuel Fernandes sobre os 7-1, cuja publicação já estará, certamente, agendada para 14 de dezembro de 2023.
Também não está em causa a qualidade da entrevista. Que fique devidamente registado, aprecio o autor, António Simões, há muitos anos que aprendo com ele, admiro-lhe a escrita e noto, em cada frase da sua lavra, enorme paixão por futebol. Fosse o conteúdo o mesmo, mas outra a motivação, e eu pouco teria a apontar. Embora sinta que ficaram algumas perguntas por fazer, pelo que deixo umas sugestões para a esperada entrevista do próximo ano.
Como se sentiu quando, na penúltima jornada do Campeonato na época dos 7-1, fugiu do relvado do estádio da Luz após o jogo devido à invasão eufórica de milhares de benfiquistas após a conquista do título?
Que sensações teve, nessa mesma temporada, quando, como capitão do Sporting, esteve ao lado de Shéu na tribuna do estádio do Jamor enquanto o benfiquista erguia o troféu da Taça de Portugal e festejava com os adeptos?
Em que medida os festejos após essa goleada ao Benfica contribuíram para que o Sporting não tenha vencido qualquer dos seis jogos seguintes no Campeonato?
Como é possível que esse jogo seja ainda hoje assinalado – e não se preocupe que cá estaremos para o ano para o evocar– e o consulado do treinador Manuel José não tenha sobrevivido mais do que mês e meio ao feito?
Acha que os 7-1 conseguidos em 1986 são tão celebrizados, também, porque o último título sportinguista havia sido em 1982 e só em 2000, 2002 e 2020 o Sporting voltou a ser campeão?
Sendo o Sporting um clube que se auto-intitula, convenhamos que delirantemente, maior potência desportiva nacional, não considera que se menoriza de forma gritante sempre que assinala esta efeméride?
Como perspetiva que haja quem não compreenda que Manuel Fernandes se continue a prestar a este papel patético de contribuir para que o seu clube e a sua própria carreira sejam praticamente reduzidos a um jogo?
E, por fim, tendo em conta acontecimentos recentes, quem fez mais pelo Sporting, Manuel Fernandes ou o Millennium BCP?"

João Tomaz, in O Benfica

Está tudo a pensar no mesmo: a Taça da Liga


"Só me ocorre uma vantagem ao ver Portugal ser eliminado mais cedo do que o esperado do Mundial: assim podemos colocar todas as atenções na Taça da Liga. É uma única vantagem, mas é uma vantagem que vale bem a pena.
Amanhã é dia de decidir a qualificação à próxima fase em Moreira de Cónegos, e, graças a Marrocos, não temos de repartir atenções com a final da Copa no domingo. Aliás, não é totalmente assim. Admito que irei estar agarrado à televisão durante o derradeiro jogo do Campeonato do Mundo, com o coração nas mãos, a torcer para que o Otamendi e o Enzo cheguem ao fim da competição tal como a iniciaram: cheios de saúde e em plena forma física.
Para além desta preocupação, o único tema que ocupa os meus pensamentos é mesmo a deslocação ao terreno do Moreirense. Será certamente um obstáculo de dificuldade máxima. Não nos podemos esquecer de que se trata de uma equipa com um rico historial na prova, que conta com mais troféus no palmares do que o FC Porto.
Ainda por cima, este jogo surge num momento da época extremamente delicado para o Benfica. Não é segredo para ninguém que estamos a atravessar o momento mais difícil da temporada depois da tenebrosa derrota com o Sevilha. O desastroso desaire com os espanhóis compromete por completo uma época que até estava a ser engraçada, uma vez que agora vemos os nossos principais opositores com muito mais apetite a poucos dias do Natal. Agora, qualquer adepto adversário se vai empanturrar de aletria e rabanadas, pelo que vão estar muito mais motivados para os desafios que se avizinham. Enfim, tentemos esquecer este desaire o mais rapidamente possível a ver se pelo menos ainda vai uma postinha de bacalhau na noite do 24."

Pedro Soares, in O Benfica

Bancadolândia


"Sem pedir nem exigir por decreto, podemos, em qualquer circunstância, esperar mais de alguma coisa ou de alguém. Da equipa feminina de futebol do Benfica, já ninguém terá dúvidas, podemos esperar tudo, porque corresponde às expectativas que aceita em seu redor e porque honra promessas, explicitando que anseia pelo salto qualitativo global no enquadramento luso, para ter condições de voar mais alto na alta-roda internacional. Para esta temporada, o objectivo mínimo na Liga dos Campeões era fazer melhor do que na época passada, recolher mais do que quatro pontos na fase de grupos. O sorteio não foi nada meigo, obrigou as Inspiradoras a enfrentar Lyon e Barcelona, tão-somente as duas melhores equipas da atualidade no futebol europeu, olhando para os resultados e também para a tabela do coeficiente da UEFA.
Escrevo esta reflexão antes do reencontro com o Barça. O começo da caminhada, na Catalunha, foi espinhoso, uma lição para quem se encontra num processo de aprendizagem e a escalar no ranking europeu (23.º lugar de momento), mas também não é menos verdade que o duelo com as catalãs foi descaracterizado e influenciado negativamente por um considerável número de baixas relevantes no coletivo. Se já era uma missão altamente complexa estando na máxima força, pior se tornou em face da indisponibilidade de peças de sustentação da mecânica do conjunto. Constatámos e sentimos na pele um desnível que reforça a urgência de desenvolvimento da vertente feminina do futebol em Portugal, uma permanência que a treinadora do Benfica sublinharia com um traço profundo na antevisão do jogo da 4.ª jornada: 'Enquanto o futebol português não evoluir mais, é impossível pedir ao Benfica para se bater com um Barcelona. Precisamos de profissionalizar a nossa liga'.
O princípio foi doloroso, mas na 2.ª ronda, apesar da (tangencial) derrota (2-3), percepcionou-se um figurino técnico-tático diferente e também mais Benfica: 'Com o Bayern já mostrámos que temos muitas hipóteses de lutar com qualquer equipa da Liga dos Campeões', observou Filipa Patão. E a equipa encarnada afirmou e comprovou a sua trajetória promissora nas duas jornadas seguintes, lavrando vitórias no duplo embate, em Portugal e na Suécia, com o Rosengard, equipa colocada apenas três degraus abaixo do top 10 da UEFA. Seis pontos para as águias, que assim superam os quatro do ano passado, época da estreia nestas andanças, mas o mais reluzente foi mesmo a forma como a equipa, fortalecida pela aptidão (física) dos seus melhores trunfos, se impôs e se superiorizou às nórdicas."

João Sanches, in O Benfica

Virar a página


"A participação portuguesa no Mundial do Catar deixou um sabor amargo. É quase unânime a ideia de que havia plantel para ir mais longe. E que se desperdiçou uma oportunidade de o conseguir.
Os sucessivos casos em redor de Cristiano Ronaldo não foram, com certeza, factor agregador. Ora por uma entrevista inoportuna, ora porque queria que os golos lhe fossem atribuídos, ora porque amuou com as substituições, ora pelo que a sua família ia escrevendo nas redes sociais, Ronaldo foi, durante todo o torneio, um foco constante de desestabilização.
Trata-se, é certo, de alguém que já levou o nome do país bem alto e bem longe. Do cidadão português mais conhecido de todos os tempos. De um atleta que tem lugar na eternidade, junto de astros com Pelé, Maradona, Cruyff, Di Stéfano, Messi ou Eusébio. Mas que, numa interpretação abusiva de si mesmo, achou que tal lhe valeria lugar no onze enquanto quisesse, que toda a equipa devia servir os seus propósitos individuais, que Portugal era ele.
O futebol não vive do passado. E se CR7 ainda é uma marca internacional poderosíssima, em campo é um jogador acabado. Deixou de haver paralelismo entre a sua popularidade e o seu rendimento. Sem aceitar isso, tornou-se um elemento nocivo.
Mas os problemas não se resumem a Ronaldo. Em seis anos, foram raros os momentos em que consegui perceber a identidade de jogo da equipa de Fernando Santos. Tudo me parece um aglomerado de talentosos jogadores à espera de um momento de inspiração (ou de sorte), e não um conjunto harmonioso capaz de impor o seu jogo.
A gratidão não ganha jogos. Também no banco, é hora de mudar."

Luís Fialho, in O Benfica

Dois gigantes


"Quando a Santa Casa foi fundada em 1498, Vasco da Gama festejava a descoberta do caminho marítimo para a Índia. Desde então Portugal empreendeu toda a epopeia dos descobrimentos. Camões imortalizou-se em verso, ergueram-se bandeiras em terras de quatro continentes, achou-se e deu-se a independência ao Brasil, passaram três invasões napoleónicas, uma guerra civil fraticida, o ultimato inglês, o regicídio e a queda da monarquia, a proclamação da república, a Primeira Guerra Mundial, a Guerra Civil de Espanha, o Estado Novo, a Segunda Guerra Mundial, o advento dos anos 60 e o 25 de Abril que nos trouxe a democracia em que vivemos em plena União Europeia no século XXI.
Pelo meio ficou o fim de um mundo rural marcado por monarquias absolutas, os avanços filosóficos e científicos do iluminismo e a Revolução Industrial inteira com a invenção, já no século XX, no Estado social. Um século de importância capital na história da humanidade, o século do Benfica, que acompanhou toda a história contemporânea de Portugal, a descolonização e a globalização deste pequeno país sempre aberto ao mar e ao mundo.
Porque trago aqui quinhentos anos de história a propósito de um simples protocolo? Porque, quando se juntam duas instituições com esta dimensão e importância histórica e social, faz-se Portugal. E quando Portugal se faz com Benfica, só podem acontecer coisas boas!"

Jorge Miranda, in O Benfica

Núm3r0s d4 S3m4n4


"1
No jogo amigável com o Sevilha (um clube contra o qual o Benfica se estreou em 1917, foi o primeiro adversário em competições europeias e disputou a final da Liga Europa em 2014), João Neves e Samuel Soares estrearam-se na equipa de honra do Benfica (e Lucas Veríssimo envergou a braçadeira de capitão pela primeira vez);

2
Nas meias-finais do campeonato do Mundo houve 2 jogadores do Benfica, Enzo e Otamendi;

3
Ao 10º jogo na fase de grupos da Liga dos Campeões da vertente feminina do futebol, o Benfica obteve a 3ª vitória neste patamar da prova e 3 golos ao longo dos 90 minutos, algo que nunca conseguira;

12
André Almeida foi utilizado por Roger Schmidt frente ao Sevilha e tornou-se no 34º futebolista a atuar em pelo menos um jogo da equipa de honra do Benfica em 12 temporadas diferentes. O recordista é Bento, utilizado em 20 épocas, seguido por Nené, em 18. André Almeida é o 34º com mais jogos, incluindo particulares (352). No atual plantel, Grimaldo é o mais direto perseguidor (50º - 303);

16
A equipa feminina de andebol garantiu a presença entre os 16 finalistas da EHF European Cup, num regresso às competições europeias 29 anos depois; 


44
O Benfica teve 44 presenças no pódio dos Campeonatos Nacionais de Natação (seniores e juniores: 17 nos seniores masculinos (7 ouro, 6 prata e 4 bronze); 5 nos seniores femininos (todas bronze), 14 nos juniores masculinos (5; 5; 4); 8 nos juniores femininos (4; 3; 1). O Benfica foi o clube mais medalhado nos seniores masculinos, nos juniores masculinos e nos juniores (masculinos e femininos). Diogo Ribeiro (100 metros livres), Miguel Nascimento (50 metros livres) e o Benfica (4x100 livres e 4x50 estilos) bateram recordes nacionais."

João Tomaz, in O Benfica

Editorial


"1. Foco e humildade. O futebol que mais nos apaixona está de regresso já amanhã, em Moreira de Cónegos, onde o Benfica tem de vencer para garantir o lugar que merece nos quartos de final da Taça da Liga. Vai ser um recomeço exigente, num campo difícil, onde o Benfica vai ter de manter os predicados que o trouxeram até aqui nesta temporada: intensidade, qualidade e uma equipa que olha para cada jogo sem sobranceria  e com férrea determinação em vencer. Qualidade e compromisso. Foco e humildade. O caminho está traçado, e já provámos que o sabemos trilhar. E sempre, sempre, com o apoio incondicional dos nossos adeptos.

2. Destaque de capa nesta edição do jornal O Benfica para a reportagem sobre o registo de invencibilidade da equipa feminina de andebol. Um percurso brilhante, com mais uma vitória na EHF Cup e um histórico apuramento para os oitavos de final da competição. Ano e meio sem o sabor amargo da derrota, num total de 45 jogos oficiais. Um palco e uma projeção amplamente merecidos. Como afirmou o presidente do Sport Lisboa e Benfica na recente festa de Natal do Clube, só há um Benfica. Em 15 modalidades, lideramos em 11. Um orgulho pelo que tem sido feito nesta época, mesmo se o caminho é longo e ainda há muitas batalhas por vencer para chegar aonde queremos.

3. Já estreou na BTV A Carrinha do Bento, e são muitas e imperdíveis as memórias desfiadas pela mão de um contador de histórias singular como Carlos Manuel. Nesta edição dedicamos duas páginas ao Grupo do Barreiro, que construiu uma identidade própria no Benfica. Personalidade, cumplicidade e uma imensa qualidade tornaram-nos uma referência exemplar. A não perder. Para ver e rever com orgulho."

Pedro Pinto, in O Benfica

Don’t cry for me, França


"Vou ali despachar um chuletón, com o mesmo sentimento de culpa com que assisti a este Mundial.

No início, era o mundial da vergonha, que não íamos ver. No fim, foi o mundial que afinal vimos, mas extremamente envergonhados. Jogo espectacular atrás de jogo espectacular, foi difícil manter intactos durante quatro semanas os louváveis princípios de cidadania que inicialmente regeram as garantias de boicote. Admito que assisti à maioria das partidas, mas sem dar bandeira. Acredito que muita gente tenha visto este mundial com o recato de quem vai a um clube de strip. Muitos de nós fomos - não a um Coyote Bar - mas a um boicote bar ver os jogos. “Tens visto o Mundial?”; "Epá, vi um ou outro jogo"; "Vi, mas porque um grupo de amigos queriam muito ver, eu nem olhei!"; "Vi, mas, por favor, não contes à minha esposa!". Só aos mais íntimos, e em surdina, confessámos que estávamos malucos com este Mundial. Não estamos sozinhos: até a Assembleia da República esperou que Portugal estivesse fora da competição para aprovar um voto de condenação à competição.
E bem, porque podíamos muito bem ter estado na final. O facto de Portugal ter sido eliminado por Marrocos inviabilizou uma final que todos os adeptos de futebol gostariam de ter visto: um histórico embate entre Messi e Gonçalo Ramos. Com realismo, também há que dizer que não era improvável que caíssemos, nas meias-finais, contra a França. A presença dos bleus na Final era inevitável: não há festa nem festança a que não vá a dona França. Há quem diga que a seleção portuguesa não explorou o potencial que tinha nesta prova, ao contrário de conjuntos competentes como o da Croácia. Eu não tenho tanta certeza. Tudo bem, os croatas estiveram em duas meias-finais do Mundial consecutivamente, mas a seleção portuguesa esteve envolvida em tanto drama digno de HBO que é possível que os turistas que costumam visitar Dubrovnik por causa de Game of Thrones transitem para a Cruz Quebrada por causa da FPF. Vamos ver quem é que se fica a rir no fim.
Mas enfim, ganhou a Argentina e Messi vence o título que solidifica a sua posição como melhor jogador da sua geração, possivelmente de sempre. A final foi uma das melhores da história, mesmo com uma França debilitada por várias lesões e ainda pelo vírus do camelo, que provavelmente criará uma nova pandemia que não terá vagas, mas sim bossas. Já se sabe que estes agentes biológicos provocam diferentes reações em diferentes pessoas: a julgar pelos sintomas apresentados na final de hoje, Killian Mbappé vai querer andar com um frasquinho deste vírus no bolso para o resto da sua carreira.
Por outro lado, é uma vitória que acaba por ser agridoce para alguns dos argentinos que hoje subiram ao relvado do estádio Lusail. Enzo e Otamendi - e também Aimar e Di Maria - voltarão do Qatar com um misto de emoções: um sorriso pela gloriosa conquista do campeonato do Mundo e um pesado semblante face à eliminação do Benfica da Taça da Liga. É levantar a cabeça. Agora vou ali despachar um chuletón, com o mesmo sentimento de culpa com que assisti a este Mundial."

Um verdadeiro hino ao futebol


"Foram 120 minutos de futebol de altíssima qualidade, praticado por duas seleções que estiveram, ambas, à beira de conquistar o título maior.

Aqueles que têm memória de muitas finais do Campeonato do Mundo de Futebol poderão dizer, com toda a segurança, que a de ontem, disputada no Qatar, entre a Argentina e a França, não tem qualquer tipo de comparação.
Foram, de facto, cento e vinte minutos de futebol de altíssima qualidade, praticado por duas seleções que estiveram, ambas, à beira de conquistar o título maior.
Acabou por ser a Argentina a arrebatar o almejado troféu. E com toda a justiça.
E o mérito dos seus atletas ficou ainda mas valorizado pela excelente réplica dos franceses, que só caíram no desempate por penaltis, depois de terem chegado a estar também muito perto do sonho de repetir o sucesso angariado há quatro anos na Rússia.
Num desafio sempre emocionante, com sucessivas alternâncias no marcador, Messi acabaria também por justificar a razão pela qual lhe é atribuído o título de melhor jogador do mundo.
Conseguir três golos numa final é mais uma marca que fica na história deste jogador fabuloso, ontem só superado, nesse aspeto, por Mbapé, que rubricou quatro golos dos gauleses.
Um campeonato que chegou a suscitar tantas dúvidas acabou em apoteose, e por entre uma organização verdadeiramente modelar.
Quanto a Portugal, a sua seleção chegou onde pode, os quartos-de-final, onde acabou por tombar frente à grande surpresa da competição, a formação de Marrocos.
Porém, olhando em retrospetiva para a final de ontem, temos de concluir, facilmente, que o futebol português ainda não atingiu a dimensão que argentinos e franceses tão exuberantemente nos mostraram na inesquecível final de Doha."

Fez da genialidade uma banalidade


"Esta final não mais nos sairá da cabeça, contaremos a filhos e netos sobre o dia em que sucesso definitivo e fracasso inapagável conviveram como nunca num jogo desta importância, minuto a minuto, defesa após remate e às vezes vice-versa, como no lance louco que Dibu Martínez salvou e Lautaro a seguir desperdiçou, quando já se anunciava que a sorte ia andar à roda dos penaltis. De mais penaltis.
Quase três horas com passado e futuro no fio da navalha, potência e sabedoria, Mbappé e Messi. De repente eram eles os dois, só os dois, como se um lance definisse ou resumisse uma carreira. Maior risco de Messi, na prova eloquentíssima de que o tempo é cruel. Era agora ou nunca. Para Mbappé já tinha sido e haveria mais, nunca seria nunca.
Messi seria Messi, independentemente de quem levantasse a taça no fim, de marcar ou não, de brilhar mais ou menos, afinal tinha dado ao mundo quase 20 anos de golos, dribles, passes, livres, no repertório genial mais amplo e diversificado que recordo. Messi seria sempre Messi… ou não. Pensei aquando do primeiro penalti: marca e apenas cumpriu o óbvio, falha e levará para a aposentadoria a marca do falhanço na hora mais dramática.
Não vacilou, nem ele nem Mbappé - este por duas vezes - e no desempate outra vez, os deuses da relva desafiavam a felicidade e a eternidade. Nenhum merecia falhar, nenhum falhou. E houve prémio para os dois, o que também foi justo. Como numa passagem de testemunho, com o mundo a observar de unhas roídas, o argentino poderia ter dito ao furacão com quem treina todos os dias em Paris: toma lá conta disto para o futuro, o Mundial já não me terá a mim, vai precisar de ti. Para Messi este era o tempo. E foi. E viver no tempo dele é uma felicidade.
O argentino deixou de ter inibições de resultados ou barreiras psicológicas e completou a caderneta de títulos com o cromo mais raro. Este será o Mundial de Messi como o de 86 foi de Maradona. É que a Argentina não ganhou este Mundial com Messi, só ganhou porque tinha Messi. É certo que com vários craques a crescerem em redor do ídolo que idolatraram, mas guiados por ele.
Aos 35 anos carregou a equipa com o ar tímido de quem sempre parece deslocado como centro das atenções, quase envergonhado por juntarem o nome dele ao de Maradona na canção que eternizará 2022: “En Argentina nascí, tierra de Diego e Lionel…”.
Messi é, a par, genialidade e regularidade como ninguém antes. São quase vinte anos a fazer tudo o que é certo e a fazê-lo sempre. No Catar voltou a fazer tudo bem, em cada jogo, dentro do que a idade autoriza e a sabedoria aconselha: driblou quando se impunha, travou se era recomendado, pressentiu espaços invisíveis, resolveu a um-dois toques cada equação mais exigente.
E marcou com alma o golo que mudou o destino frente ao México, desmarcou Molina desprezando a visão como sentido essencial, afrontou Gvardiol como um garoto feliz no recreio da escola. Pode sempre exigir-se mais, quase ignorando o número absurdo de vezes em qua faz o que mais ninguém consegue.
É esse o problema de Messi, nele a simples excelência já parece curta. Habituou-nos à perfeição. Fez da genialidade uma banalidade. E bem merecia um final assim. E uma final."

"Messi beaucoup"


"A melhor definição que li sobre a final da Copa do Qatar é a seguinte: um jogo em que houve um vencedor, mas não um vencido. O Argentina-França, a final sonhada com 99% dos amantes do futebol (um desporto, é bom lembrar, praticado num retângulo relvado definido para o efeito e não em qualquer outro palco ou instância, por mais atraente e "essencial" que pareça nos atuais tempos mediáticos e narcísicos), ficará na história como uma das finais mais emocionantes, épicas e "époustouflant", como bem adjetivou o jornal Figaro (o termo é normalmente usado para caracterizar episódios de turbulência a bordo).
Em campo estavam duas das três equipas que foram ao Qatar decididas a levar a taça para a casa. A terceira era a surpreendente Inglaterra, que disputou com a França, no decisivo jogo das meias finais, uma autêntica final antecipada, tendo perdido de maneira digna a hipótese de enfrentar a Argentina no último desafio. Esta é a melhor seleção inglesa desde 1966. Todos os demais favoritos, como o Brasil, a Espanha, a Alemanha ou até Portugal, como alguns sonharam, revelaram-se autênticas desilusões. As surpresas que ocorreram, como o Marrocos, foram até onde poderiam ter ido. Mas a seleção africana também fez história: é a primeira seleção do continente a alcançar as meias finais da Copa do Mundo de Futebol.
O último jogo teve de tudo. Durante praticamente 80 minutos, os argentinos amarram os franceses, que, até esse momento, não conseguiram sair para a frente e fazer o seu jogo, acionando em particular essa autêntica "tartaruga ninja" chamada Mbappé, como o apelidou um tuiteiro bem humorado. A disposição tática da Argentina, em especial com o endiabrado Di Maria colado ao lado esquerdo e impedindo Dembélé de correr até ao limite do campo adversário, Messi omnipresente em todo o campo e Enzo segurando as pontas na linha intermediária, paralisou os afro-gauleses. Quando os argentinos marcaram o segundo golo, talvez na mais bela jogada de futebol coletivo de toda a Copa, temi sinceramente pela sorte da França.
Porém, a saída de Di Maria, cansado, mudou tudo. Um toque desnecessário de um defesa argentino sobre um atacante francês dentro da área deu grande penalidade, que Mbappé, infalível, converteu. Menos de dois minutos depois, Messi cometeu um erro no meio campo (sim, os reis também erram), perdendo uma bola que foi velozmente trocada entre dois ou três franceses, culminando com o golo espetacular de Mbappé, num meio voleio só ao alcance dos autênticos craques. Empate: 2-2.
As emoções do encontro não pararam aí, pois Messi ainda marcaria o terceiro tento argentino, a escassos minutos do fim do prolongamento, o qual só não resolveu o assunto de vez, pois ainda houve tempo para mais um penalti, que Mbappé converteu mais uma vez, empatando novamente o jogo. No cruel desempate pelo sistema de grandes penalidades, os argentinos, surpreendentemente, foram mais frios e competentes. Os franceses pareciam ter a vantagem emocional do encontro, pois conseguiram empatar os jogos duas vezes, mas era só aparência. Sem esquecer o detalhe que, do outro lado, estava o melhor guarda-redes da Copa.
Foi uma final autenticamente épica, que será recordada para sempre por todos os que tiveram a fortuna de assisti-la, pessoalmente ou pelas televisões de todo o mundo. Deu Argentina, como, considerando as vicissitudes do jogo, poderia ter dado a França, mas, no cômputo geral, foi um resultado justo. Depois do tropeço do primeiro jogo, quando perdeu com a Arábia Saudita, os argentinos cresceram de jogo para jogo, assumindo-se como a melhor equipa do torneio. Chamou a atenção, entre outros, a flexibilidade e competência tática da equipa, que soube adaptar-se, em cada desafio, aos seus adversários, logrando neutraliza-los. Uma lição de Lionel Scaloni, o mais jovem selecionador da Copa do Qatar. Além disso, a Argentina tem Messi. Tendo já conquistado tudo, menos uma Copa do Mundo, mostrou a todos que o futebol é um desporto eminentemente coletivo e não mero pretexto para exercícios narcísicos. Desde logo, focou-se no torneio, não perdendo tempo com eventuais distrações. Aos 35 anos, surpreendeu o mundo, mais uma vez, não apenas como alguns dos momentos mais fulgurantes da Copa, mas por acorrer a todos os espaços do campo onde a sua presença era necessária. Messi é um falso lento que joga no campo todo, além de fazer correr a bola ou transportá-la com ele como poucos. Mais do que ninguém, ele merecia essa Copa. O rei é ele.
Felizmente para os amantes do futebol, o príncipe herdeiro também é conhecido: Mbappé."

Ouçam, mortais, o grito sagrado de Messi: a Argentina é campeã mundial


"Sofrimento, drama, reviravoltas, lágrimas, houve de tudo na final do Mundial que apenas foi decidida nos penáltis, após o 3-3 que sobrou da montanha-russa dos 120 minutos de jogo. Porque houve, também, um hat-trick de Kylian Mbappé, príncipe-herdeiro do futebol, e dois golos de Lionel Messi, o dono do trono que finalmente, aos 35 anos e na despedida destes palcos, resgatou a Argentina para a conquista do terceiro Mundial da sua história. E, com que então, a coroa de Leo estava guardada para o fim

O que pensam os jogadores, em campo, quando há tempos mortos? Estão dentro do futebol, pés na relva, cabeça supostamente compenetrada no jogo e o jogo pára. O que decora aí a casa mental deles? Dizem alhear-se de tudo e porém são vistos a mirar as bancadas, Rodrigo de Paul fá-lo antes do aquecimento, a mirada talvez apanhou os argentinos com a figura de Lionel Messi tatuada em pedaços de pele à mostra, Kylian Mbappé e Antoine Griezmann também olham para longe ao escutarem o seu hino nacional, fitam os adeptos com um sorriso malandréu e algo de altivez na face, como se estar ali fosse de somenos. A experiência pode fazer isso às pessoas.
Há quatros já jogaram a final. Um sem loiro descolorado na cabeça, o outro ainda na inocência da adolescência, ambos foram flagrantes culpados de marcarem golos que deram o Mundial anterior à França, a soberba relaxada nas suas caras pode ser um disfarce, impressão injusta até, mas é o que passa quando entoam a Marselhesa à boleia de uma cantora clássica contratada para o efeito pela FIFA. Pouco antes, na fileira disposta metros ao lado no relvado do estádio Lusail, um argentino tinha o queixo bem mais erguido do que os restantes a quem se ligava no abraço coletivo, fitando lá para cima da bancada.
Era Ángel di María, presente com a mais delgada das caras argentinas, reaparecido a titular após não o ser desde a fase de grupos por arrelias físicas que pareciam ser ameaças de alguma quezília mal resolvida do karma que em 2014, por uma lesão, o impediu de jogar a final do Mundial perdida pela sua seleção. E foi ele, em estado fresquíssimo, o maior dos truques que o selecionador Lionel Scaloni guardou para esta final.
Já com o queixo para baixo, corpo curvado como se fosse um mochileiro, Di María jogou à esquerda e não à direita onde estivera nos jogos anteriores. No lado do seu pé espero, paciente, pela reincidência com que a Argentina fazia as suas jogadas pender para lá, onde, tão ao seu estilo, Ángel colava a bola à canhota para ziguezaguear por entre as pernas de Jules Koundé. Nem com a ocasional ajuda de Ousmane Dembélé, extremo com nenhuma reputação defensiva, o azarado lateral direito francês nada pôde contra o argentino que o encarou com insistência, cada receção era seguida de uma finta contra ele para Di María encarar o seu tortuoso tempo perdido.
Num dos pedidos de socorro a que Dembélé acorreu, o argentino simulou um cruzamento para o cravar à relva, enganando-o por um segundo, um instante que aproveitou para se esgueirar área dentro. O desespero do francês a persegui-lo tocou-lhe nas pernas, ele caiu e o penálti depositou a Argentina perante a primeira oportunidade de ferir fantasmas. A 11 metros da possível golpada apareceu Lionel Messi, correndo para a bola com calma depois de fechar os olhos e encher os pulmões em dois momentos, passando, devagarinho, o castigo à baliza (23’) para o 1-0 o fazer deslizar na relva em festejo e os argentinos se amontanharem no seu capitão celestial. O sexto golo de Lionel neste Mundial era, de facto, a cumeada de algo.
Não só com Di María se fez uma superioridade da Argentina que continuaria por muito mais tempo. Colocando-o à esquerda e aproximando-o dos pequenos toques de Mac Allister, um pequeno aglomerado de ações simples e corretas no jogo, no centro-direita do ataque ficou a matreirice de Messi, deixada a deambular onde lhe desse na gana precisamente pelas zonas do campo onde Kylian Mbappé dispensa aparecer para defender. Entre farejar a linha ou ir ao centro pedir passes, nas costas de Adrien Rabiot que não chegava para tudo, os argentinos procuraram as receções de Messi para depois ele ditar a forma de levar as jogadas até aos dribles do tal magricela.
E este desequilibrar de uma França desgarrada já dera um remate de Mac Allister à figura de Lloris, um ricocheteado de De Paul para um canto e outro em balão vindo do pé cego de Di María antes de a Argentina ligar uma aula de como contra-atacar com uma bola recuperada perto da própria área: o primeiro passe vertical procurou Messi, que lançou Alvárez nas suas costas ao segundo toque para o avançado logo passar para a corrida do desenfreado Ángel acabar num pontapé que abriu comportas (36’). Pelo seu queixo ainda mais erguido escorriam agora as lágrimas de um choroso a redimir-se com a sua história.
O intervalo foi uma mera pausa na tendência aparentemente irrevogável de os argentinos transformarem o relvado num circuito e apanharem os franceses em cada uma das suas curvas. Até lá, só uma vez se viu o seu jogador astral a conseguir encarar adversários com a sua ameaça permanente de acelerar, Kylian Mbappé era o apanágio da desinspiração geral dos gauleses. Nem Griezmann, o tarefeiro com classe que virou um médio faz-tudo neste Mundial, era capaz de ligar fosse o que fosse. E Didier Deschamps, do banco, trocou Giroud e Dembélé por Marcus Thuram e Kolo Muani (41’) ainda antes do descanso, logo a seguir a Di María se malandrar e fazer um túnel por entre as pernas de Koundé.
Regressados ao campo, os cortejos das áreas continuaram a pertencer à Argentina. Não era só uma questão de ser a seleção mais certeira do jogo - em cada sul-americano havia a certeza da benfeitoria em todas as vezes que tinham de intervir ativamente no jogo. Todos pareciam ter feito um juramento contra o erro, ninguém o quebrava, do mais simples passe ao mais difícil, acelerando as jogadas ou acalmando-as em posse, fosse o ajuste da linha defensiva à corrida de alguma das motas que a França tinha no ataque, os argentinos acertavam em quase tudo.
Réplica da sequela, o filme da segunda parte voltou a ter estreia rematador dos pés de argentinos. De Paul tentou o seu e Mac Allister, por duas vezes, foi o derradeiro corredor de jogadas feitas com tabelas e poucos toques que por uma nesga não o fizeram chegar primeiro à bola do que o guarda-redes Lloris. Serenos e tranquilos, os argentinos confortavam-se estranhamente na final, guardando para a decisão do Mundial o melhor dos seus jogos que entranhou no adversário uma longuíssima desinspiração - o primeiro remate dos franceses surgiu aos 68’, um frouxo cabeceamento de Kolo Muani num canto. Pouco depois, Mbappé foi, por fim, um pouco Mbappé, correndo da esquerda para dentro com a bola, rematando à entrada da área.
Nos minutos prévios, Ángel Di María tinha saído de campo.
Há quem acredite no poder oculto das coincidências, na obscuridade de energias que fazem mover coisas e que fazem deitar as cartas. Para os crentes, a substituição do delgado extremo pelo massudo Marcos Acuña terá remexido com as forças da Terra e alterou as tendências gravíticas desta final. Porque aí a França despertou da letargia, sacudindo-se das correntes que a banalizaram durante mais de uma hora pela pista que a insuficiência auto-provocada da Argentina lhes deu. Com Di María se foi a única capacidade dos argentinos em arreliar adversários com um só jogador, além de Messi só ele havia. E um coxeio monumental começou aí.
Juntamente com a troca de Griezmann por Kingsley Coman, a França eletrificou-se com um desfibrilador, esperneou com vida, avivando-se cheia dela pela sua coqueluche precoce que tão discreta se mantivera até então. A iniciativa saltou para o lado de lá do campo, murchando a Argentina na sua ainda mais ultra dependência em Messi para criar e melhorando muito os gauleses a partir do momento em que Otamendi travou a corrida de Kolo Muani na área. O penálti obrigou Kylian Mbappé a dar-se à final, a inculcar-se mais ainda na história, a demonstrar o absurdo da possibilidade de ser tamanha fortaleza de jogador com apenas 23 anos.
Para a direita do guarda-redes Emiliano Martínez ele rematou (80’), mal abrandando a abordagem para logo ir buscar a bola e se retomar o jogo que intensificou o drama, o caos emocional e o ai-jesus generalizado com o qual os argentinos já tinham mergulhado. Com o desespero na garganta, iam caindo aos pés dos dribles do endiabrado Coman, imerso numa daquelas missões de quem se levanta ao ser rasteirado, agarrado e pontapeado em falta porque o seu combustível era a urgência. Com ele e Mbappé, a França renasceu não para se sublimar no jogo, longe disso, mas para fazer a sua parte no esculpir de uma das melhores finais da história.
Isto aconteceu na meia hora de bónus à partida porque, no minuto seguinte ao revoltoso grito de Mbappé, um quase mimo na final até então, tabelou com Marcus Thuram para na área, de primeira, dar um remate cortante à bola que empatou tudo e prolongou a trama montada no estádio Lusail. Incrédulos, com Di María em lágrimas no banco, os jogadores argentinos tinham pasmo na cara. Lionel Messi revertia ao seu semblante de outros anos, de olhos vazios e face de quem se alheia da realidade.
Ele ainda berrou contra a negridão do destino com o pé esquerdo, já nos descontos, na jogada mais à Messi da final - um engano à entrada da área, simulando com o corpo para ludibriar adversários e rematar um balázio que extraiu de Hugo Lloris uma defesa espetacular -, depois de Kolo Muani assustar na outra área. A primeira fatia do prolongamento, face ao sucedido antes, refestelar-se um pouco no divã possível, com a bola e a iniciativa com a França que pareceu não quis continuar a acelerar no embalo que trazia da recuperação feita no resultado.
Mas não, os choques elétricos ficaram para o derradeiro quarto de hora de bola deste Mundial, esses 15 minutos que nenhum bem trouxeram aos nervos de quem aprecia futebol, nem que apenas devido a um pequeno coche de empatia. Porque os moribundos argentinos, a cambalearem mas capazes de laivos de vida, as entradas de Paredes e Lautaro Martínez injetaram-lhes doses de energia que eles diligentemente aproveitavam da única forma que lhes parecia possível - atabalhoadamente e em esforço, na feieza que se mata assim que uma bola entra na baliza.
Foi no momento mais contranatureza messiêsca que Lionel, farejando um milagre na área, se manteve ligado à jogada em que um ressalto na pequena área lhe permitiu marcar o terceiro golo com um frouxo toque na bola com o pé direito. A loucura ameaçou fazer ruir o estádio, Di María correu esbaforido e de colete vestido para abraçar o capitão, de novo a chorar. Havia 109 minutos jogados. Face ao que era a final, a estatueta posta no balneário da Argentina do Santo Expedito, a quem se aconselha a rezar por soluções para causas urgentes ou tidas como impossíveis, estava mesmo pelos argentinos.
Ou por supuesto que não, pelo menos não tão cedo, os minutos de sobra chegava para intensificar mais ainda o sofrimento a que um povo parece estar fadado quando a sua seleção alcança as decisões futebolísticas, porque as arrelias histriónicas do fanático que mora em cada argentino parecem ter arraial em quem joga por eles. E assim o foi, de novo, quando o intratável Mbappé, recusando-se a retrair perante a divindade por trás do adversário, rematou a bola que bateu no braço de Montiel para outro penálti. Aos 117 minutos da final de um Mundial, a gelada personalidade do francês não tremeu e o 3-3, mesmo sentido por ‘Dibu’ Martínez na ponta dos dedos, entrou pelo mesmo lado da baliza.
Não seria o hat-trick do prodígio mais alucinante que hoje existe no futebol a vaticinar a partida para a marca que dista 11 metros do alvo: nos descontos, Kolo Muani evidenciou a grandiosidade do guarda-redes argentino, que lhe parou um remate na área quase à lei da espargata; na outra área, um Lautaro despido de marcação teve na cabeça outra hipótese, mas pareceu um defesa a afastar a bola da baliza. Se por magia virasse uma pessoa, esta final seria um guionista com problemas de bipolaridade a escrever um guião hollywoodesco com desfecho nos penáltis.
E aí, urgindo as tropas no centro do círculo, celebrando que nem miúdo doidivano a cada pontapé certeiro depois de ser o primeiro a assumir com uma calma que não é deste mundo, passando vagarosamente o seu penálti à baliza, Lionel Messi viu Dybala e Paredes a marcarem os seus, Martínez a dançar carismaticamente após parar os de Coman e Tchouameni para, finalmente, o humilde Montiel, quiçá o mais incógnito dos argentinos que poderiam rematar, marcar o decisivo penálti que devolveu a Argentina ao pico do mundo.
Messi ajoelhou-se mal a bola entrou, olhos fechados e braços abertos, vários jogadores que tinham partido em direção à baliza frenaram-se, o segundo de rasgo mental fê-los voltarem para trás e envolverem o capitão num abraço. Só que ‘abraço’ é descrição injusta, aquele afagar de corpos foi o conceito de alívio a ser personificado: as cabeças encostadas à de Messi, as testas a tocarem-se, a fila de espera na qual todos os jogadores tiraram senha para, depois, terem sim um abraço privado com a lenda. Queriam ficar com a memória no corpo do momento em que jogaram para um dos melhores de sempre ser ainda mais vezes falado, porventura, como o melhor da história.
O Mundial é da Argentina pela terceira vez, à glória de 1978 e de 1986 segue-se a de 2022 que fez a espera valer a pena. Aos 35 anos, no ocaso da carreira e no último torneio destes que jogou, Lionel Messi tocou na grandiosidade do feito que mais eterniza nomes no futebol. A montanha-russa na qual tudo se desenrolou guardará o feito como um que foi épico - quando vimos outro Mundial em que o melhor jogo tenha sido, de longe, a final? -, terminando numa partida de domínio argentino durante 80 minutos para o resto do tempo ser uma encenação da última frase do seu hino nacional: “¡O juremos con gloria morir!”.
Mas, e porque o futebol joga por leis próprias que jamais entenderemos, o Mundial do Catar terminou mais como as primeiras palavras cantada pelos jogadores a cada partitura da seleção argentina em campo. As que Messi já cantou tantas vezes: “Oíd, mortales, el grito sagrado. E pronto, ele acabou de dar o que tantíssima gente dizia que lhe faltava dar."

O Ronaldo, a selecção e a fã de nove anos de Marrocos: Onde está a empatia?


"Os pais da menina de nove anos com a camisola da selecção marroquina, no calor da vitória, expuseram-na à critica de todos. À critica dos fãs do Ronaldo.

No calor das emoções do fim do jogo entre Portugal e Marrocos, no Campeonato do Mundo do Qatar (2022), uma criança de nove anos com uma camisola da selecção marroquina preferiu duas frases que se tornaram virais: “Portugal, o aeroporto é por ali. O Ronaldo deve estar a chorar no seu carro”.
A sua linguagem não verbal revela pouca empatia pela equipa perdedora e por aquele que é considerado um dos melhores jogadores de sempre. Revela até algum desdém e regozijo no olhar. O que aconteceu nos dias seguintes, nas redes sociais, nomeadamente com adultos a insultarem uma criança de nove anos de forma feroz, ignorando a idade e o contexto, deve fazer-nos pensar sobre a forma como nos estamos a relacionar, sobretudo através dos ecrãs. Incluindo a mãe da criança, que sentiu necessidade de vir pedir desculpa em nome da filha, usando as mesmas redes sociais, e apelando ao fim dos ataques e explicando que esta estava a ficar perturbada com tudo o que lia sobre si. Também isto nos deve fazer pensar, ainda mais, sobre a exposição das crianças ao mundo online, a forma correta de o fazer em cada idade e que tipo de acompanhamento deve existir por parte dos pais.
Onde está a nossa empatia, por quem perde? O que dizemos a quem ganha? No futebol, há sempre equipas que ganham, que perdem, que empatam – E os adultos, o que dizem, o que comentam? Que modelo estamos a ser para as nossas crianças?
Todas as semanas vemos jornalistas a fazerem entrevistas à saída dos estádios a adeptos fervorosos, umas vezes felizes, outras vezes mais zangados ou até tristes. Cada um dá a sua opinião. Cada um foca-se no que mais lhe tocou ou interessa do jogo. Todos sabem que estão a falar para um ecrã. Por isso, sabem da possibilidade imediata de partilha de conteúdos.
Será que já estamos dessensibilizados quanto ao discurso negativo ou até de ódio no mundo online? Será já banal comentar uma vitória, falando da derrota e da desgraça alheia?
Se assim é, estamos a perder uma das competências essenciais para crescermos de forma saudável: a empatia. A capacidade de nos colocarmos no lugar do outro. A capacidade de nos colocarmos nas chuteiras de cada jogador, neste caso, da equipa portuguesa. A capacidade de nos colocarmos nas chuteiras do Ronaldo. E assim, conseguir sentir a tristeza, a frustração, o desalento, pela perda, e pela não progressão em mais uma fase do campeonato.
Quando a nossa equipa ganha o que dizer? Parabéns! Agradecer o esforço. E uma palavra de apreço e respeito à outra equipa derrotada. Não será isto, a que todos chamamos de “boa educação e bons modos”?
No mundo online é exactamente o mesmo, e chama-se: Netiqueta. Sim, a forma como comunicamos online é igualmente importante e tem um factor de destaque, porque o que se diz fica registado, podemos visualizar sempre e partilhar de forma continua.
A tecnologia veio facilitar uma comunicação negativa e a proliferação do bullying? Sim, porquê? Pela facilidade de se chegar ao outro, pela rapidez da passagem da mensagem e pela ausência de contacto ocular e da presença física do outro.
A comunicação não verbal, na presença do outro, dá-nos informação preciosa e imediata do impacto das nossas palavras e da nossa postura. Dá-nos feedback. No mundo online, esses dados perdem-se. O nosso cérebro fica centrado só no que queremos e estamos a dizer, e não tem esse feedback. Perde-se uma parte da comunicação.
O acesso e uso da tecnologia desde a infância é uma realidade que tem benefícios e riscos. É importante nós, adultos, sermos um modelo educacional presencial e online. O shareting é a partilha exagerada de conteúdos dos filhos online. Os estudos com crianças e jovens reportam que o shareting existe e que tem impactos negativos para a sua saúde mental.
Os pais da menina de nove anos com a camisola da selecção marroquina, no calor da vitória, expuseram-na à critica de todos. À critica dos fãs do Ronaldo.
Esta situação é só mais um exemplo de comunicação negativa, de ambos os lados, que serve para reflectirmos como queremos gerir a tecnologia nas nossas vidas. É importante pensarmos em algumas estratégias que nos possibilitam uma gestão saudável do uso do mundo online.
A exposição de crianças e jovens a ecrãs deve ter em conta a sua idade, o seu nível de desenvolvimento e o seu nível de literacia digital. Isto implica a introdução de regras e limites quanto ao número de horas e ao tipo de conteúdos. A metáfora poderá ser: definir bem as balizas do uso do mundo online, para um jogo saudável!
O uso partilhado de ecrãs entre pais e filhos é uma estratégia útil, pois permite não só a comunicação, bem como um maior conhecimento dos interesses e preferências de cada um, que poderá resultar em maior proximidade e num relacionamento com mais emoções positivas.
A netiqueta faz-se pelo modelo e pela partilha. A introdução da tecnologia a uma criança pode ser um caminho em que, ao longo do tempo, se vai passando de maior supervisão parental, para a responsabilização e confiança na sua autonomia, para que haja uma auto-regulação saudável do seu comportamento online.
A visualização conjunta de conteúdos online permite, ainda, o desenvolvimento do juízo critico. Todos, pais e filhos, podem em conjunto olhar para as frases da menina de 9 anos com uma camisola da selecção marroquina e para os comentários proferidos online, fazer uma análise e retirar daí as suas conclusões. O que fariam? O que diriam? Que netiqueta querem todos seguir? Fica o desafio!"

Por águas nunca dantes navegadas: A saúde mental


"A Saúde mental, é um assunto que deve merecer a nossa atenção, dos atores desportivos e também da Sociedade civil, existindo uma obrigação e um dever de o fazer de uma forma consistente, já que ainda permanece bastante oculta e estigmatizado. A Organização Mundial da Saúde (OMS) discute a saúde mental em termos de um estado de bem-estar, a saúde mental envolve o bem-estar físico, social e mental.
A AAOP na sua procura constante de "Libertar o potencial Olímpico" tem este compromisso na sua agenda para 2023, dar visibilidade e consistência ao tema da Saúde mental, e é já nessa sequência que tivemos este ano esta iniciativa pioneira, organizando o 1.º Seminário Nacional da Saúde mental no desporto de alta competição, no passado mês de Novembro, e em parceria com a Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental.
Dar a conhecer entre outros assuntos a realidade da saúde mental no desporto de alta competição, foi um dos muitos objetivos a que nos propusemos, assim como reduzir a perceção negativa e o estigma associados a este problema, como também Identificar os stakeholders que podem contribuir para a melhor compreensão destes temas, e contribuir para a concretização dos objetivos para o desenvolvimento sustentável (ODS) da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU).
Assim, começo por enaltecer aqueles que são os nossos heróis do nosso imaginário colectivo, os atletas olímpicos, eles que devem manter a sua saúde mental para equilibrar as pressões no caminho para o sucesso e desta forma conseguir um bom desempenho desportivo. Cada vez mais e mais atletas e treinadores estão a reconhecer a importância da saúde mental na performance desportiva e o seu equilíbrio com a vida, a saúde mental tem sido historicamente uma questão silenciosa e hoje torna-se como imperativo, um campeonato que é preciso ganhar!
E os atletas olímpicos, desafiam as leis da física. Surpreendem pela força, pela flexibilidade, pelo equilíbrio, pela perfeição dos movimentos, são modelos de resistência, de resiliência, de determinação. Vencem-se a si mesmos. Ultrapassam os limites. Alcançam o impensável. Levantam bancadas. São heróis, super-heróis, deuses!... E lutam. Sacrificam-se. Insistem. Persistem. Resistem. Exigem. Erram e voltam a tentar. Aperfeiçoam-se. E traçam novas metas. Uma e outra vez! São feitos da massa de que é feito um campeão Mas um campeão também chora. Habitua-se a ter por companheira a dor. Têm uma vida para além da ribalta. Com os seus problemas e desafios... Também gela perante o medo de não ser capaz. Carrega nos ombros o peso das nossas expetativas. A exigência de uma nova vitória, um novo recorde.... Sente ressoar o eco do nosso desapontamento. A constatação de que fracassou. A punição implacável da culpa e da vergonha. Simplesmente, porque os campeões, os heróis, os super-heróis, os deuses... são humanos como nós!
Dentro deste circuito reduzido de atletas de classe mundial, os atletas olímpicos, em particular, recentemente defenderam a consciencialização sobre a saúde mental. Duas super-estrelas desportivas mundiais - a tenista Naomi Osaka e a ginasta Simone Biles - ocuparam o centro do palco para promover a consciencialização sobre a saúde mental . "Prefiro ter a oportunidade de salvar uma vida do que ganhar outra medalha de ouro porque defender a saúde mental é muito mais importante. Perdemos demasiados atletas olímpicos para o suicídio. Não quero perder mais nenhum membro da minha família olímpica", disse Michael Phelps o atleta Olímpico mais medalhado de todos os tempos. E teve uma importância tão grande este despertar das consciências, que passou a ser tema mais atual, mas não chega, agora é necessário manter a sua consistência, para tal importa reflectir, convocar todos os atores e agir!
Por isso vale a pena ler esta reflexão da Drª Maria de Belém Roseira - O Desporto e o País, porque nesta, como noutras áreas, todos temos um papel a desempenhar!
'Estão hoje cientificamente demonstrados os efeitos benéficos da prática desportiva. Como em toda a ação humana, contudo, a maximização dos efeitos positivos depende do cumprimento de requisitos que busquem o bem não apenas individual mas também colectivo. Encaixam-se neste desiderato a pedagogia do aprender a perder e a ganhar, da entre ajuda entre pares, da criação de redes de suporte, da não aceitação da violência, da dopagem ou outro qualquer meio ilícito para alcance da vitória, enfim todas as regras de comportamento que a civilização foi construindo para assegurar sociedades com consciência, desenvolvidas e equitativas . Nesse sentido, as organizações que devem encarregar-se, quer da promoção, quer do desenvolvimento da prática do desporto, estão sujeitas a um conjunto de regras e também de benefícios que lhes são atribuídos pelo Estado para que possam cumprir a sua missão em prol da sociedade. Encaixa-se nesse conjunto o reconhecimento que lhes é conferido de "interesse público" o que pressupõe o escrutínio do seu funcionamento pelos órgãos competentes do Estado, mas também pela sociedade. Na verdade, a qualidade da Democracia também se mede pela transparência do funcionamento das instituições e os deveres de cidadania englobam a participação na vida e nas decisões coletivas da qual faz parte a exigência de que todos cumpram as suas responsabilidades. Neste enquadramento, faz todo o sentido que a sociedade civil organizada analise aquilo que se passa no ambiente desportivo para que tudo o que de positivo ele deve promover seja alcançado e para que o ajude a ultrapassar bloqueios ou problemas que possam beneficiar com o seu apoio. Foi este o objetivo do Seminário recentemente organizado pela Associação dos Atletas Olímpicos em articulação com a Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental que reuniu inúmeras entidades e atletas que consideraram que a Saúde Mental no Desporto é um tema importante, atual e que deve ser analisado sem subterfúgios. Na época atual, esta área da saúde vem tendo uma relevância inegável. As tensões de incerteza e insegurança que a vida moderna proporciona, bem como fenómenos externos, de que é exemplo a pandemia que recentemente atingiu a humanidade, a recusa em aceitar os limites da natureza humana com as pressões para os ultrapassar têm aumentado a prevalência desta doença. Para além das dificuldades na obtenção dos recursos múltiplos necessários para a sua prevenção, abordagem e tratamentos doença mental conta com uma dificuldade acrescida que é a do estigma social que gera. Por isso são geralmente mantidas em segredo em fases o que o seu tratamento seria porventura mais fácil e, quando explodem, são com frequência invalidantes. No caso do desporto podem arruinar uma carreira construída com imenso esforço de forma definitiva. Retirar a carga estigmatizante é importante - e foi um dos objetivos pretendidos - mas a identificação das más práticas que podem conduzir a estas situações é indispensável e concluiu -se neste debate que o olhar e a atenção da sociedade são fundamentais para a prevenção e identificação precoce de práticas, no ambiente desportivo, que possam desencadear a doença. Aqui, como noutras áreas, todos temos um papel a desempenhar. Devemos estar atentos e ler os sinais do que acontece ao nosso redor, não para interferir naquilo que não nos pertence, mas para suscitar a discussão do que seja objetivamente errado, apresentar propostas que previnam comportamentos perniciosos e fazê-lo à luz do dia e numa perspetiva positiva numa recusa comodista que apenas alimenta a indiferença imprópria de sociedades com maturidade.'

Maria de Belém Roseira"

Campeões do Mundo


"O nosso capitão, Otamendi, e Enzo são Campeões do Mundo pela seleção argentina. É a primeira vez que jogadores de um clube português vencem um Mundial. Este é o tema em destaque da News Benfica.

1
Conforme nota publicada no Site Oficial, é com orgulho que o Sport Lisboa e Benfica dá os parabéns ao seu capitão de equipa Nico Otamendi e a Enzo Fernández pela conquista do Campeonato do Mundo de futebol.

2
Otamendi foi totalista nos sete jogos da seleção argentina, utilizado em todos os minutos da competição. Só Messi e Martínez, além do nosso capitão, perfizeram o pleno de utilização. Fez uma assistência para golo.
Enzo também participou nos sete encontros. Saiu do banco de suplentes nos dois primeiros jogos da fase de grupos, foi titular nos restantes, atuando na totalidade do tempo nas partidas dos oitavos de final até à final. Marcou um golo e fez uma assistência, tendo sido eleito o Melhor Jogador Jovem do torneio.

3
Há mais dois Campeões do Mundo com ligações ao Benfica, enquanto ex-jogadores: Di María e Aimar. O extremo esteve em grande destaque na final, sendo o autor do segundo golo da Argentina. O antigo 10 faz parte da equipa técnica de Scaloni.

4
Ontem obtivemos várias vitórias. A nossa equipa feminina de futebol apurou-se para os quartos de final da Taça de Portugal ao bater, por 0-2, o Lank Vilaverdense. No basquetebol feminino fomos a Vagos e vencemos por 53-86. As nossas voleibolistas deslocaram-se ao reduto do PV 2014 Colégio Efanor e ganharam por 2-3. E, por fim, na receção ao Leões de Porto Salvo, em futsal, triunfámos por 2-1.

5
Amanhã há jogo europeu de basquetebol na Luz. A nossa equipa defronta o Limoges, em partida a contar para a última jornada da fase de grupos da Basketball Champions League. O triunfo garante o primeiro lugar do grupo e subsequente apuramento direto para a próxima fase. O jogo tem início agendado para as 17h30. Apoie a nossa equipa!"