terça-feira, 20 de dezembro de 2022

Virar a página


"A participação portuguesa no Mundial do Catar deixou um sabor amargo. É quase unânime a ideia de que havia plantel para ir mais longe. E que se desperdiçou uma oportunidade de o conseguir.
Os sucessivos casos em redor de Cristiano Ronaldo não foram, com certeza, factor agregador. Ora por uma entrevista inoportuna, ora porque queria que os golos lhe fossem atribuídos, ora porque amuou com as substituições, ora pelo que a sua família ia escrevendo nas redes sociais, Ronaldo foi, durante todo o torneio, um foco constante de desestabilização.
Trata-se, é certo, de alguém que já levou o nome do país bem alto e bem longe. Do cidadão português mais conhecido de todos os tempos. De um atleta que tem lugar na eternidade, junto de astros com Pelé, Maradona, Cruyff, Di Stéfano, Messi ou Eusébio. Mas que, numa interpretação abusiva de si mesmo, achou que tal lhe valeria lugar no onze enquanto quisesse, que toda a equipa devia servir os seus propósitos individuais, que Portugal era ele.
O futebol não vive do passado. E se CR7 ainda é uma marca internacional poderosíssima, em campo é um jogador acabado. Deixou de haver paralelismo entre a sua popularidade e o seu rendimento. Sem aceitar isso, tornou-se um elemento nocivo.
Mas os problemas não se resumem a Ronaldo. Em seis anos, foram raros os momentos em que consegui perceber a identidade de jogo da equipa de Fernando Santos. Tudo me parece um aglomerado de talentosos jogadores à espera de um momento de inspiração (ou de sorte), e não um conjunto harmonioso capaz de impor o seu jogo.
A gratidão não ganha jogos. Também no banco, é hora de mudar."

Luís Fialho, in O Benfica

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