segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Lixívia 8

Tabela Anti-Lixívia
Benfica..... 17 (-4) = 21
Corruptos.. 18 (+6) = 12
Sporting... 16 (+5) = 11

Quando os avençados que escrevem nos pasquins ficam perplexos e têm a 'coragem' de escrever nas suas colunas de opinião, que não compreendem como é que foi validado um golo irregular aos Corruptos, não preciso de dizer mais nada... sobre a gravidade daquilo que continua a acontecer neste inacreditável e nojento Tugão!!!

Vamos começar no Jamor:
Sim, o Benfica perdeu, sim cometemos erros... e sim, a muitas outras situações que desenvolvi na minha crónica do jogo!
Mas fui premeditadamente 'meigo' com o Ladrão do Soares Dias na crónica, porque facilmente poderia parecer desculpa... Mas aqui, não posso deixar passar em claro.
Além do desperdício monumental dos nossos jogadores, tivemos um apitadeiro que vinha com a encomenda, e só não 'trabalhou' mais, porque o Benfica 'colaborou'!!!
- Ainda com 0-0, não marcou uma falta sobre o Pizzi descarada, em zona perigosissima, ao jeito do Grimaldo... Impossível não ter visto...
- O penalty a favor do Benfica, só marcou porque foi obrigado pelo VAR... uma falta que tinha obrigação de marcar ao vivo...
- Depois, numa agressão, sem bola, com o jogo parado, dá Amarelo ao Keita, quando devia ter dado Vermelho...!
- Logo a seguir penalty contra o Benfica, aqui já não teve dúvidas...!!! Por acaso, existe uma repetição, onde se nota que o Licá 'dobra' as pernas ainda antes do contacto com o Odysseas, mas até dou o benefício da dúvida... porque neste tipo de jogadas, a maior parte dos árbitros marca penalty...
- Para mim a decisão mais grave, foi a falta sobre o Pizzi no segundo golo do Belém... Foi mesmo à frente do corno, ele viu tudo, não quis marcar... e no seguimento do contra-ataque: golo! O VAR neste lance também tinha a obrigação de intervir... O Pizzi não tocou na bola, mas a falta é perfeitamente visível nas imagens em directo, no desenvolvimento da jogada...
Este último lance, é exemplar. Se tivesse sido ao contrário, o Benfica nunca teria um contra-ataque destes, a falta seria logo assinalada...
Conclusão: com 0-0 o Belenenses deveria ter ficado com 10... e o 2.º golo, foi precedido de falta!!! E mesmo 11 para 11, com 1-0 no marcador, teria seguramente proporcionado decisões diferentes aos intervenientes no jogo... inclusive aos treinadores!
ADENDA: Só agora reparei que no 2.º golo do Belenenses, a Linha Virtual de fora-de-jogo, colocada pela PorkosTV é colocada 1 ou 2 frames antes do passe ter sido efectuado!!! Não altera a minha análise, porque esta jogada deveria ter sido parada no início, mas 'se calhar' ainda ficou um fora-de-jogo por marcar!!!

Hoje, apareceu uma conversa do Vieira com o Boaventura no YoutTube, com o objectivo de fragilizar ainda mais o Rui Vitória.
O menos importante nisto é que o interesse do Everton no Rui Vitória foi público, pela conversa não existe qualquer ilegalidade nem manhocise... e nem sequer se pode concluir que o Viera queria despachar o treinador, senão não pedia €10 Milhões!!!
O mais grave nisto tudo, é que isto parece ser uma escuta da PJ !!! E como é que uma escuta da PJ, sem qualquer contexto criminal, aparece em público?!!!

No Dragay, mais um roubo, tudo normal!!!
Aliás, em 8 jornadas, os Corruptos foram beneficiados com decisões graves, nos 8 jogos!!! Oito em Oito... é uma maravilha!!!
Ao menu já extenso de processos de ladroagem, neste jogo tivemos uma inovação: uma boa decisão em campo, alterada com a intervenção do VAR...!!!
Aquilo que está no protocolo é claro: só com imagens inequívocas se pode alterar a decisão de campo, aqui não só as imagens não provam que houve um erro; como provam exactamente que a decisão inicial estava correcta...!!!
Até com a Linha Virtual da PorkosTV mal colocada, o Felipe estava fora-de-jogo...!!!

No 2.º tempo, na mesma baliza, foi anulado um golo ao Feirense, numa situação parecida, mas nesse caso, o VAR ficou 'calado'!!!
Nos últimos minutos, o Alex Telles ainda fez penalty, derrubando um adversário, com um toque no calcanhar do Luís Machado... A falta não é a obstrução, a falta é mesmo o toque nos pés!!!
No início desta jogada, junto da linha lateral, também é possível observar uma pissadela, sem bola... mas sem repetições, nem dá para ver quem foi o agressor!!!
ADENDA: Chamaram-me a atenção para uma possível manipulação nas imagens no lance do golo irregular dos Corruptos!!! Além da Linhas Virtual estar mal posicionada, entre as imagens em directo durante a partida, e as imagens no final do jogo, parece que o Felipe foi 'mexido'!!!


No Alvalixo, tivemos duas situações quase iguais, uma para cada lado: agressões por retaliação, que escaparam ao Vermelho: Nani e Mateus...
Admito, a não expulsão do Mateus é mesmo escandalosa... só entendo a não expulsão, porque o jogo estava bem encaminhado para o Sporting!!!

Curioso, como Vasco Santos e Luís Ferreira se estão a tornar os VAR's quase exclusivos dos Corruptos e dos Lagartos respectivamente!!!

Anexo(I):
Benfica
1.ª-Guimarães(c), V(3-2), Pinheiro(Sousa), Nada a assinalar
2.ª-Boavista(f), V(0-2), Mota(Malheiro), Nada a assinalar
3.ª-Sporting(c), E(1-1), Godinho(Sousa), Prejudicados, (2-1), (-2 pontos)
4.ª-Nacional(f), V(0-4), Veríssimo(Xistra), Prejudicados, Beneficiados, (0-7), Sem influência no resultado
5.ª-Aves(c), V(2-0), Rui Costa(Paixão), Prejudicados, (3-0), Sem influência no resultado
6.ª-Chaves(f), E(2-2), Capela(Esteves), Prejudicados, (1-3), (-2 pontos)
7.ª-Corruptos(c), V(1-0), Veríssimo(Sousa), Prejudicados, (2-0), Sem influência no resultado
8.ª-Belenenses(f), D(2-0), Soares Dias (V. Ferreira), Prejudicados, (1-0), Impossível contabilizar

Corruptos
1.ª-Chaves(c), V(5-0), Almeida(Vasco Santos), Beneficiados, Impossível contabilizar
2.ª-Belenenses(f), V(2-3), Xistra(Capela), Beneficiados, (2-2), (+2 pontos)
3.ª-Guimarães(c), D(2-3), Veríssimo(Paixão), Beneficiados, Sem influência no resultado
4.ª-Moreirense(c), V(3-0), Malheiro(Ferreira), Beneficiados, Impossível contabilizar
5.ª-Setúbal(f), V(0-2), Manuel Oliveira(Vasco Santos), Beneficiados, Impossível contabilizar
6.ª-Tondela(c), V(1-0), Godinho(Malheiro), Beneficiados, (0-0), (+2 pontos)
7.ª-Benfica(f), D(1-0), Veríssimo(Sousa), Beneficiados, (2-0), Sem influência no resultado
8.ª-Feirense(c), V(2-0), Rui Oliveira(Vasco Santos), Beneficiados, (1-1), (+2 pontos)

Sporting
1.ª-Moreirense(f), V(1-3), Martins(Miguel), Nada assinalar
2.ª-Setúbal(c), V(2-1), Manuel Oliveira(Ferreira), Beneficiados, (2-2), (+2 pontos)
3.ª-Benfica(f), E(1-1), Godinho(Sousa), Beneficiados, (2-1), (+1 ponto)
4.ª-Feirense(c), V(1-0), Rui Oliveira(Esteves), Beneficiados, (1-1), (+ 2 pontos)
5.ª-Braga(f), D(1-0), Soares Dias(Veríssimo), Beneficiados, Sem influência no resultado
6.ª-Marítimo(c), V(2-0), Almeida(Sousa), Beneficiados, (1-0), Impossível contabilizar
7.ª-Portimonense(f), D(4-2), Miguel(Ferreira), Nada a assinalar
8.ª-Boavista(c), V(3-0), Xistra(L. Ferreira), Beneficiados, Prejudicados, Sem influência no resultado

Anexo(II):
Benfica:
Sousa: 0 + 3 = 3
Pinheiro: 1 + 0 = 1
Mota: 1 + 0 = 1
Godinho: 1 + 0 = 1
Veríssimo: 1 + 0 = 1
Rui Costa: 1 + 0 = 1
Capela: 1 + 0 = 1
Veríssimo: 1 + 0 = 1
Soares Dias: 1 + 0 = 1
Malheiro: 0 + 1 = 1
Xistra: 0 + 1 = 1
Paixão: 0 + 1 = 1
Esteves: 0 + 1 = 1
V. Ferreira: 0 + 1 = 1

Corruptos:
Vasco Santos: 0 + 3 = 3
Veríssimo: 2 + 0 = 2
Malheiro: 1 + 1 = 2
Xistra: 1 + 0 = 1
Almeida: 1 + 0 = 1
Manuel Oliveira: 1 + 0 = 1
Godinho: 1 + 0 = 1
Rui Oliveira: 1 + 0 = 1
Capela: 0 + 1 = 1
Paixão: 0 + 1 = 1
L. Ferreira: 0 + 1 = 1
Sousa: 0 + 1 = 1

Sporting:
L. Ferreira: 0 + 3 = 3
Miguel: 1 + 1 = 2
Sousa: 0 + 2 = 2
Martins: 1 + 0 = 1
Oliveira: 1 + 0 = 1
Godinho: 1 + 0 = 1
Rui Oliveira: 1 + 0 = 1
Soares Dias: 1 + 0 = 1
Almeida: 1 + 0 = 1
Xistra: 1 + 0 = 1
Esteves: 0 + 1 = 1
Veríssimo: 0 + 1 = 1
Épocas anteriores:

Alguém explica?

"Não vale a pena colocar em causa a vitória do FC Porto - embora seja claro que chegar ao intervalo a vencer por 1-0 é, sempre, melhor do que lá chegar empatado - ou a utilidade do videoárbitro, que (felizmente) até os mais pessimistas já convenceu. Não é por aí. A questão prende-se, antes, com a importância de não assobiar para o lado face ao retrocesso que lances como o primeiro golo dos dragões no jogo de ontem podem constituir para um projecto pensado para ser uma mais-valia - e não uma menos-valia... É, nos moldes actuais, difícil explicar, ou entender, porque foi o golo de Felipe validado depois de o auxiliar o ter anulado (aparentemente bem) em primeira instância. Se as imagens mostrassem que o central do FC Porto estava em jogo, nada a apontar - é para isso que serve o VAR. O problema é que não há imagem (nem uma...) que mostre, de forma evidente, posição regular de Felipe. O que levanta algumas questões: porque foi chamado o árbitro a ver um lance que não carece de interpretação, já que o fora de jogo - ou pelo menos este tipo de fora de jogo - é factual? Tinha dúvidas o VAR? Mas não diz o protocolo que só deve actuar quando tem certezas? E sem certezas não devia prevalecer, como tem acontecido sempre, a decisão tomada em campo? Não é, repete-se, um problema da ferramenta, mas sim da competência de quem a utiliza. E não é coisa de somenos importância, porque é, afinal, isso que define o sucesso ou o insucesso, de uma tecnologia que tem tudo para dar certo. Talvez exista uma explicação. Se há, convém que alguém a dê - ou, em alternativa, uma imagem que prove estar Felipe em jogo. Porque a ideia que fica é que ontem, no Dragão, o VAR, implementado para corrigir decisões erradas, pode ter contribuído para transformar uma decisão certa num erro monumental. E não é isso que se pretende."

Ricardo Quaresma, in A Bola

Os lances mais duvidosos da 8ª jornada e um alerta (...) para os jogadores: cuidado com o 'Big Brother'

"Os campeonatos profissionais regressaram e com eles regressou também a emoção e alegria de quem realmente gosta de futebol. Benfica, Porto e Sporting tiveram sortes diferentes. Os encarnados foram derrotados pelo Belenenses, no Jamor, enquanto que os seus dois rivais venceram as respectivas partidas, no Dragão e em Alvalade.
A existência da tecnologia veio trazer maior justiça às decisões das equipas de arbitragem (sempre limitadas ao olho nú, num contexto de análise dificílimo) mas aumentou também, sobre aquelas, a exigência para o acerto: a expectativa é que determinado tipo de erros deixem de acontecer, porque agora há meios e condições adequadas que os podem impedir.

Belenenses-Benfica
O encontro, disputado no Estádio Nacional, teve alguns momentos de análise interessante. Repescamos para esta crónica os mais determinantes:
- Salvio foi derrubado, na área adversária, por Reinildo. O toque, na parte de trás da perna, foi subtil e passou inicialmente despercebido à equipa de arbitragem. O VAR estava atento e cumpriu, bem, a sua missão;
- Licá foi rasteirado por Odysseas, na área do Benfica. O guarda redes encarnado perdeu o tempo de entrada à bola e acabou por derrubar, com o corpo, as pernas do avançado. Pontapé de penálti indiscutível. Amarelo bem exibido ao guardião encarnado;
- Na fase de construção atacante que culminiria com o golo de Keita, segundo do Belenenses, ficámos com a sensação que Lucca fizera falta sobre Pizzi. A infracção ocorreu ainda na zona intermédia do terreno: Eduardo conduzia a bola e o jogador do Benfica procurava chegar ao lance. Foi depois obstruído pelo corpo do jogador azul, que - de forma ostensiva e com o único objectivo de impedir a sua progressão - colidiu com o médio encarnado. O lance não foi de percepção fácil no relvado e pode ter criado, ao VAR, a ilusão de se tratar de uma "carga legal", mas para que isso acontecesse a bola teria que estar a uma distância jogável (e, naquele momento, estava a ser conduzida pelo colega de equipa de Lucca).

FC Porto-Feirense
A partida do estádio do Dragão teve um número anormal de lances que acabaram com a bola no fundo das redes, mas que foram anulados por razões diversas.
Aconteceu logo nos minutos iniciais (Marega introduziu a bola na baliza de Caio, mas o jogo estava já interrompido por falta do franco-maliano sobre um defensor, que para nós foi pouco perceptível) e, mais tarde, em várias ocasiões:
- Danilo ainda viu o golo erradamente validado pelo árbitro assistente, mas o médio estava claramente fora de jogo (valeu a atenção do VAR);
- Soares viu a jogada ser bem anulada por fora de jogo (a bola também acabaria por entrar na baliza do Feirense);
- Por último, Sturgeon viu o seu golo ser bem anulado por estar adiantado no momento do passe do seu companheiro de equipa.
O jogo teria, no entanto, outros dois lances determinantes: o golo mal validado a Filipe (o central brasileiro estava ligeiramente adiantado face a Tiago Mesquita, último defesa e beneficiou de um erro grave do VAR e árbitro, que decidiram anular uma boa decisão do assistente) e um lance, na área azul e branca, entre Alex Telles e Luis Machado (este menos claro): o lateral do FC Porto tentou desviar a bola mas acabou apenas por tocar na parte de trás da perna do médio fogaceiro, derrubando-o. A jogada devia ter sido penalizada com pontapé de penálti.
Erros graves que beliscaram, sobremaneira, a prestação da equipa de arbitragem. 

Sporting-Boavista
Um jogo com menos situações complicadas, embora tenha tido dois momentos menos felizes, que analisaremos mais à frente.
Destaque apenas para a legalidade do primeiro golo do Sporting: houve a dúvida inicial se Montero - que viria a fazer a assistência para Nani - estaria ou não em posição ilegal. A verdade é que o avançado colombiano do Sporting estava em linha quando foi servido pelo colega de equipa. Lance legal, bem analisado pela equipa de arbitragem.

O Big Brother e Keita, Nani e Mateus
O destaque desta crónica vai para estes três profissionais e como sugestão bem intencionada para que, em determinados momentos de jogo - sobretudo os de maior intensidade e de menor lucidez - tentem ter maior controlo e inteligência emocional.
Obviamente que a mensagem serve para eles e para todos os profissionais de futebol.
Hoje, todos os jogos são escrutinados ao pormenor, até ao mais infímo detalhe. Isso é verdade não apenas para a análise minuciosa das decisões dos árbitros, como também para as atitudes e comportamentos que todos os jogadores têm, a todo o momento, em qualquer parte do terreno de jogo.
Há dezenas de câmaras que filmam tudo, ao vivo e em directo e que depois as repetem e difundem até à exaustão. Há milhões de olhos que testemunham cada lance, cada jogada, cada frame... e formam opinião imediata. Sem filtros. Sem censuras.
No jogo do Restelo, Keita atingiu Rúben Dias com o braço/cotovelo no pescoço. Foi uma atitude igual a tantas outras que já vimos acontecer esta época. Não o fez com a maldade de quem quer bater e magoar, mas fê-lo de forma deliberada, porque perdeu, por segundos, o controlo das suas emoções. 
Em Alvalade, Nani foi inicialmente obstruído por David Simão - que usou e bem o corpo para o marcar - e reagiu de forma impensada, atingindo a cara do jogador boavisteiro com o seu braço direito.
Mais tarde, foi a vez de Mateus ter um "momento mau" e pontapear Acuña, quando este protegia a posse de bola, que saía pela linha lateral.
Se me perguntarem se algum destes jogadores foi malicioso ao ponto de querer agredir e magoar o seu adversário directo, diria honestamente que não. O que é certo é que, em termos legais, as três atitudes dificilmente caberiam no mero comportamento antidesportivo.
Dar com um braço na cara de um adversário ou pontapeá-lo na perna, sem que a boa estivesse jogável e sem que nada o justificasse... é infracção punível com expulsão. Nestes casos, ela não aconteceu mas não seria descabido se assim fosse.
Convém que os atletas tenham agora em mente que nada escapa ao "Big Brother" em que se transformou o futebol profissional dos tempos modernos. Tudo se vê. Tudo se analise e interpreta. E todos vêem. Até os mais pequenos, que têm em muitos daqueles craques as suas grandes referências, os seus maiores ídolos.
Há gestos e atitudes que se devem evitar, mesmo que o calor do momento quase o justifique.
Isso treina-se, trabalha-se. Convém que os clubes invistam um pouco mais nisso, sob pena de ficarem privados de alguns dos seus atletas, com prejuízo óbvio para todos."

O videoárbitro nesta jornada da I Liga

"A mais recente jornada da I Liga portuguesa trouxe uma vez mais para a discussão as questões em torno do videoárbitro (VAR). É um facto que nas competições em que este sistema ainda não está implementado, sempre que há um caso de jogo, o mundo futebolístico já questiona o porquê de não existir. No caso das competições nacionais como a Taça da Liga, a Taça de Portugal ou até mesmo a II Liga, já todos percebemos que os obstáculos prendem-se com os custos financeiros que este sistema acarreta, tal como as condições para montar e operar o mesmo em alguns desses estádios. Já na Champions claramente que este não é o problema. Foi antes uma questão de luta de egos FIFA vs UEFA mas que, num futuro próximo, também será ultrapassada.
Mas nas competições em que existe VAR, embora ninguém já questione a sua funcionalidade, utilidade e importância, discute-se a forma como os árbitros que estão nessas funções, interpretam os lances, como aplicam e usam o protocolo e também, as limitações que este mesmo protocolo impõe na sua utilização. Vamos, a título de exemplo, pegar num caso de jogo para ilustrar o que estava a dizer.
No jogo entre FC Porto e Feirense, o lance ocorrido aos 22 minutos em que Felipe introduziu a bola na baliza adversária e em que o assistente invalidou o golo por posição de fora-de-jogo, houve posteriormente uma intervenção do VAR no sentido de validar o golo. O árbitro foi confirmar no monitor instalado no estádio e através das imagens a legalidade do lance, dando como má a decisão do assistente e considerando como legal a posição do jogador portista.
Ora, a questão principal neste caso não é se Felipe está ou não em posição irregular, sendo que na minha opinião, numa primeira análise sem linha virtual e depois com a linha virtual colocada na transmissão, verifica-se que estava mesmo adiantado. A questão base é que o protocolo diz, claramente, que o VAR só deve intervir em situações em que a decisão inicial da equipa de arbitragem, seja um erro claro e óbvio.
Pelo tempo que demorou a intervir, pelo tempo que o próprio árbitro demorou a ver o lance no monitor é evidente que, no limite, era um caso de dúvida, ou seja, não era um daqueles erros que todos viam “a olho nu”. Então o VAR nunca deveria ter intervindo e o próprio árbitro com todas as dúvidas que a imagem lhe pudesse dar, deveria ter mantido a decisão inicial. Mais, os foras-de-jogo em que o jogador toma parte activa no jogo são factuais, ou está ou não está, como tal, por norma, os VAR dizem apenas se sim ou não, e nunca um árbitro vai consultar o monitor, como foram os casos dos golos em fora-de-jogo ocorridos no jogo aos minutos, 9, 54 e 60.
Se, neste caso específico, o árbitro foi ao monitor é porque a situação não era factual, é porque o VAR o disse e transmitiu ao árbitro como duvidoso. Tudo o que não pode acontecer, ou seja, tudo o que contraria a essência do protocolo.
Contudo, não se pense que esta situação por si só mancha ou belisca o videoárbitro. É um facto que a maior parte das pessoas só está atenta ao que acontece nos estádios nos jogos que envolvem os ditos grandes, mas o VAR está nos nove jogos da jornada, e este fim-de-semana tivemos muitas e boas intervenções, que não só corrigiram erros graves como, dessa forma, deram, ou melhor, trouxeram mais verdade desportiva a cada uma dessas partidas e, consequentemente, ao campeonato, à distribuição de pontos e à classificação. Vejamos de forma resumida alguns desses casos que ilustram bem o que acabei de dizer.
No Tondela-V. Setúbal ao minuto 90+1 pediu-se penálti por mão na bola de José Semedo. O VAR verificou o lance e nada mandou assinalar. Na ocasião a equipa sadina estava a ganhar por 2-1, um eventual penálti e a sua concretização poderiam ter-se traduzido em outro resultado e distribuição de pontos.
No Moreirense-Marítimo, ao minuto 30, foi anulado um golo ao clube madeirense por fora-de-jogo no início do lance. Fez toda a diferença no jogo, pois no final a vitória acabou por pertencer à equipa da casa.
No Rio Ave-Desp. Chaves, ao minuto 73, também foi anulado um golo à equipa vila-condense por fora-de-jogo de Fábio Coentrão. Este lance não teve relevância na distribuição dos pontos, pois o Rio Ave acabou na mesma por vencer o jogo.
No Nacional-Portimonense, ao minuto 21, também houve um golo anulado por fora-de-jogo à equipa do Nacional. Aqui, esta decisão foi importante e decisiva, uma vez que os três pontos foram para os algarvios.
Concluindo, se há coisas a afinar, aprender e melhorar neste processo de videoarbitragem, há já, em cada jornada, inúmeros lances que são corrigidos de forma assertiva por esta tecnologia, que veio para ficar e ajudar a termos um futebol melhor e mais próximo da verdade que acontece dentro das quatro linhas."

O Futebol e Jorge Semprún

"Jorge Semprún (1923-2011), espírito multifacetado e original, mas sempre acessível a qualquer escalão do público, foi escritor de grande comunicabilidade e autenticidade; foi argumentista escolhido por “homens do cinema” como Alain Resnais, Jean Prat, Yves Montand: e, “finis coronat opus”, um corajoso resistente anti-fascista e anti-nazi, militante e dirigente do Partido Comunista de España, na clandestinidade; preso pelas tropas de Hitler e deportado para o campo de extermínio de Buchenwald. Após a libertação, precisamente em 1945, desempenhou os mais altos cargos no P.C. de España. Mas, ao apontar novos caminhos e novos modos de ser comunista, foi expulso do P.C., por dissidências ideológicas, corria o ano de 1960. A partir de então, liberto de trabalhos partidários, entrou de escrever, tanto em castelhano como em francês, principalmente sobre a dura experiência de um campo de concentração nazi e sobre a clandestinidade, na Espanha franquista, com o pseudónimo de Federico Sánchez. Foi ainda ministro da Cultura do governo de Felipe Gonzalez (1988-1991); argumentista premiado, com um Óscar, em 1970; e o primeiro escritor não-francês a ingressar na Academia Goncourt. Não é fácil esboçar o perfil de Jorge Semprún, mas não deixo de referir os inúmeros prémios com que o distinguiram, pela invulgar sobreposição dos traços intelectuais, morais e políticos que o caracterizavam. Já li deste autor Vingt Ans Et Un Jour e A Segunda Morte de Ramon Mercader. Há poucos dias, findei a leitura do livro, seu também, A Linguagem É A Minha Pátria, que reúne uma série de conversas com Franck Appréderis, seu amigo de há muitos anos, e onde Jorge Semprún se revela um empenhado protagonista da história recente do continente europeu. Saliento uma das suas frases: “Tenho mais recordações do que se tivesse mil anos”.
Mas há uma recordação que ele distingue, sobre as mais: “Creio poder dizer que a coisa mais bem conseguida, na minha vida, foi a clandestinidade – ora, a clandestinidade impede as relações de sedução. Completamente. Não nos podemos dar ao luxo de ter uma vida rigorosamente clandestina e de ter múltiplas aventuras sentimentais, é impossível (…). Talvez tenha sido para compensar essa abstinência que surgem, nos meus romances, uma abundância de personagens femininas, de aventuras e de histórias. São todos os sonhos que não concretizei na realidade”. O inestimável contributo de intelectuais, como o Jorge Semprún, que arriscaram a vida, em luta contra o fascismo e o nazismo, para que dessa luta sem quartel surgissem modelos insuperáveis de uma vida mais solidária e mais justa, para todas as pessoas, sem excepção de raça, condição e género – merece o consenso colectivo de um sentido aplauso, de uma intacta gratidão de todos os “homens de boa vontade”. A Homens, como o Jorge Semprún, deve-se-lhes o altíssimo exemplo de nos apontarem, com mão firme, o caminho da transcendência (ou superação) e uma inesperada referência ao eterno, pressentida nas formas efémeras do nosso quotidiano. Quando no livro A Linguagem É A Minha Pátria relata o convite de Felipe Gonzalez a que aceitasse o Ministério da Cultura, revela as duas razões por que anuiu ao interesse do secretário geral do P.S.O.E.: “Porque o Felipe Gonzalez passava a ter ao seu lado um escritor conhecido na Europa e pelo meu passado de dirigente antifranquista (…). Na escadaria do Moncloa, o palácio presidencial, à meia-noite, no momento em que eu saía, para regressar ao hotel, disse-me estas frases de que me recordo quase textualmente: Vais ser ministro (…). Mas um dia hás-de ir em visita a uma longínqua província espanhola inaugurar uma biblioteca, ou presidir a um colóquio, e serás recebido, como ministro, pelo coronel da guarda-civil. Ele pôr-se-á na posição de sentido à tua frente e dirá: Excelência! E compreenderás, nessa altura, por que motivo convidei para o meu governo o Federico Sánchez”.
Mas também neste livro desponta a fatal referência ao futebol pela voz de Franck Appréderiz, que realizou, para a televisão e o cinema, cerca de 60 filmes de ficção: “Gostaria que me explicasses como um intelectual como tu, um político puro, se interessou pelo futebol”. Mais como testemunho do autêntico do que como mera informação, Semprún respondeu: “O meu interesse pelo futebol, que se tornou uma paixão menor mas real, surgiu por razões que nada têm a ver com o desporto. Foi numa segunda-feira de 1954 ou 1955, numa época em que estava clandestino em Madrid. A televisão ainda não transmitia os jogos, como hoje. Todos os jogos decorriam ao domingo e havia a rádio, evidentemente. Mas, quando não se podia ouvir rádio no domingo, os jornais desportivos dos dias subsequentes davam os resultados. Nessa segunda-feira, estava numa taberna de Madrid, perto da Universidade San Bernabéu, seguramente depois de uma reunião com os estudantes. Mas, entre dois encontros, era preciso “fazer tempo”, hacer tiempo, como se diz em espanhol, ou seja, passar o tempo, como acontece frequentemente na clandestinidade. Estava ao balcão e o meu vizinho diz-me com uma familiaridade muito madrilena: Que achou do Di Stéfano, ontem?”. Semprún desconhecia quem era o Di Stéfano e de futebol não mostrava nem saber, nem interesse. Foi um escândalo entre os circunstantes que passaram a observá-lo com um olhar lateral e suspeitoso. “Então, disse para comigo (continua Semprún) se queres continuar a sobreviver na clandestinidade, tens de conhecer os nomes dos jogadores, as equipas, os resultados. Comecei a ler a imprensa desportiva”. E tanto leu que ancorou, por fim, nos estádios de futebol e ficou um adepto fiel do “desporto-rei”.
Mas o Frank Appréderis insistia: “Esse nacionalismo exacerbado que se manifesta, através do desporto, em particular no futebol, espelha um pouco os nacionalismos que despertam em todo o mundo. Não poderá fazer-se um paralelo com o mundo político?”. No estilo de Jorge Semprún, sem nunca tentar uma summa acerca dos assuntos em que tocava, foi esta a resposta: “No que me diz respeito, o que me interessa no desporto são as coisas exteriores ao nacionalismo. Por exemplo, o nome da selecção, La Roja, diverte-me e chega a comover-me: a designação vem da cor vermelha do equipamento. E, em Espanha, o vermelho tem uma conotação política que muito me agrada – os vermelhos eram os republicanos e o franquismo passou a vida a denunciá-los. Hoje, La Roja, é uma glória, e das maiores, de Espanha. Além disso, acho igualmente interessante que haja, na selecção espanhola, catalães, bascos, madrilenos, castelhanos, convivendo fraternalmente e sem problemas. A equipa nacional de Espanha é um dos raros lugares onde persiste um férvido sentimento de unidade nacional”. De facto, cada um dos jogos das várias selecções de futebol transforma-se numa narrativa nacional, mas onde só as grandes vitórias e os grandes jogadores se recordam e onde a dor dos vencidos e a pesporrência dos vencedores se escondem. “É bom saber esquecer” dizia o Renan, em Qu’est ce qu’une nation? escrito em 1882. Por trás do historiador descobre-se sempre, mesmo que avelhentado, o panegirista ou o ideólogo. Há excepções, evidentemente. O que actualmente mais se admira em Fernand Braudel é que a sua história é uma história do Mediterrâneo e não tanto de França. Aliás, o patriotismo é um fato justo no corpo de Semprún: “Mas o futebol também é a pátria. Nos dias de hoje, um país que ainda mal emergiu, no plano político e internacional, pode existir porque tem uma espetacular equipa de futebol. alcançando deste modo uma forma de reconhecimento mundial”.
O tema de que partem Adorno e Horkheimer, na Dialéctica do Iluminismo, radica na tentativa de “explicar por que razão a humanidade, em vez de entrar num estádio verdadeiramente humano, se afunda num novo tipo de barbárie”. A barbárie a que se referiam Adorno e Horkheimer é indissociável das atrocidades do nazismo, do genocídio dos judeus e da Segunda Guerra Mundial. Actualmente as barbáries são outras, mas… bárbaras também! O que dizer do assassínio do jornalista Khashoggi? E a guerra da Síria, que já conta com mais de 360 mil mortos? E a caravana migratória dos milhares de indocumentados da América Central, que fogem da repressão política, da violência, da fome? E o estudo que mostra, sem margem para dúvidas, que a fortuna dos mais ricos do planeta acelerou, em 2017, enquanto é maior o número de pobres e se alarga o fosso entre os ricos e os pobres? E a tragédia (para o Brasil e para o mundo) da eleição de Jair Bolsonaro? Diante da magnitude destas problemas; diante das multidões exóticas, compactas e famélicas que procuram uma côdea de pão; diante da visão confusa de crimes crapulosos, de imparável lascívia, de crianças com uma indefinível expressão de sujidade e de tristeza – diante de tudo isto, o futebol parece um paraíso. Mesmo que o Dr. Frederico Varandas, presidente do Sporting C.P., assuma dificuldades ingentes no governo do Sporting. O futebol (vou repetir-me uma vez mais) reproduz e multiplica o que a sociedade é. Façamos uma sociedade diferente, que o futebol será diferente também. E não deixemos de ler e meditar os escritos de autores como Jorge Semprún. Ocorre-me, neste passo, o Mito da Caverna: é que estes homens ensinam o esforço da libertação do conformismo, do absentismo, de um despudorado egocentrismo (a caverna sombria) visando o trânsito de um mundo de sombras para um mundo de nível superior, de céu aberto. E tudo isto, não sendo futebol, tem muito a ver com o futebol. Por esta razão muito simples: não há jogos, há pessoas que jogam! Por outro lado, um conhecimento sem valores para pouco serve e até pode ser prejudicial."

Olimpismo electrónico? Não obrigado

"A 4 de Setembro de 2018, Thomas Bach presidente do Comité Olímpico Internacional (COI), segundo o jornal “Independent”, colocou um ponto final na especulação relativa à possibilidade de integração dos erradamente designados “e-sports” nos Jogos Olímpicos (JO). Todavia, não podemos deixar de estranhar o facto do COI não ter, imediatamente, cortado a questão na sua origem e pela raiz deixando passar a ideia de que, eventualmente, até estaria interessado nos jogos electrónicos. E dizemos que o COI deixou passar a ideia de um eventual interesse institucional pelos “e-sports” na medida em que, a 5 de Abril de 2018, o Comité Organizador dos JO de Paris (2024) anunciou estar a discutir a possibilidade dos “e-sports” serem uma modalidade de demonstração. (Cf. espn.com.br). Posteriormente, em Julho de 2018, o COI recebeu na sua sede o evento “Esports Forum”. E, passado que foi pouco mais de um mês, de 18 de Agosto a 2 de Setembro de 2018, os designados “e-sports”, enquanto modalidade de demonstração, fizera parte do Programa dos XVIII Jogos Asiáticos que se realizaram nas cidades de Jakarta e Palembang. Note-se que estes jogos, foram organizados sob a superintendência do Comité Olímpico Asiático, pelo que são popularmente conhecidos como os JO Asiáticos. Portanto, os sinais que chegavam ao comum dos cidadãos diziam que, eventualmente, o COI até estava receptivo a integrar no Programa Olímpico os designados “e-sports”. Felizmente, aconteceu um esclarecimento e, perante a possibilidade dos “e-sports” poderem fazer parte do Programa do Jogos de Paris (2024), segundo o “Independent” (2018-09-04), Thomas Bach, afirmou: “O COI não considera adicionar “e-sports” a futuros JO porque eles são demasiado violentos. 
Thomas Bach esteve bem quando colocou um ponto final sobre o assunto. Todavia, esteve mal, quando justificou que as razões que levaram o COI a tomar tal decisão estavam relacionadas com a violência dos jogos electrónicos.
É claro que muitos jogos electrónicos decorrem em ambientes de violência e de guerra. E quantos desportos tradicionais não o fazem também? E quantos JO, antes do desmoronamento da União Soviética não foram realizados num ambiente de guerra-fria? E quantos JO depois do desmoronamento da União Soviética não foram realizados num ambiente de guerra comercial? E quantos JO não se transformaram numa violenta agressão contra os cidadãos das cidades que os receberam?
O problema não está, nem deixa de estar, no eventual belicismo dos jogos electrónicos. Mesmo que os enredos dos jogos electrónicos passem a decorrer em ambientes de paz celestial não nos quer parecer que, alguma vez, possam fazer parte do Programa Olímpico. Porque, uma coisa são os jogos electrónicos ou os “e-games” a funcionarem no éter das redes sociais e outra, completamente diferente, são jogos desportivos que suportados nas destrezas do corpo, têm uma cultura milenar que, hoje, de uma forma estandardizada, se projecta na realidade da vida de todos os dias.
A palavra “e-sports”, que surgiu, inopinadamente, em alternativa à palavra “e-games” ao pretender tirar partido da ideia de desporto, no fundo, só serve para criar confusão. Note-se que o xadrez, com um estatuto bem diferente dos jogos eletrónicos, embora tenha sido reconhecido pelo COI e considerado uma modalidade de demonstração nos JO de Sydney (2000) o que é facto é que, ainda hoje, não faz parte do Programa Olímpico. Nem quero crer que isso, de alguma maneira, seja útil para o seu desenvolvimento uma vez que, bem vistas as coisas, o xadrez é um jogo e não um desporto. 
Quer dizer que, apesar dos e-games serem, indubitavelmente, jogos, todavia, não cumprem os preceitos antropológicos e históricos que determinam a matriz identitária dos desportos modernos pelo que não podem fazer parte do Programa Olímpico. Por isso, o COI, há muito que devia ter esclarecido a sua posição relativamente ao conceito de “e-sports” que estavam a querer impor-lhe.
E porquê?
Porque, só por si, jogo não é desporto.
Se do ponto de vista epistemológico o jogo é uma das componentes do desporto e o desporto uma das formas de jogo, contudo, nem todos os jogos podem ser considerados desportos.
Se, enquanto objecto, o jogo pode ser analisado a partir das suas expressões de ordem prática, enquanto essência deve ser analisado a partir da complexidade da sua natureza multifacetada. Do ponto de vista da sua expressão de ordem prática são conhecidas uma enorme multiplicidade de jogos que acontecem nos mais diversos países e culturas. Expressam-se nas diferentes comunidades segundo tempos, espaços, rituais e regras próprias. Do ponto de vista da sua essência, o jogo, na sua ubiquidade e autotelicidade, na expressão de Gadamer, é o “fio condutor da explicação ontológica”. Quer dizer, o jogo é consubstancial à vida e, por isso, explica-a.
Roger Caillois (1913-1978) caracterizou os jogos a partir de quatro características fundamentais: Sorte (alea); Simulacro (mimicry); Vertigem (ilinx); Competição (agôn). Entre outras, podemos, ainda, acrescentar uma quinta característica que é a surpresa. A partir daqui organizam-se os mais diversos tipos de jogos que podem ir dos jogos infantis aos jogos desportivos que têm a sua expressão máxima nos JO. Isto significa que, se nem todos os jogos são desporto, todos os desportos são jogo pelo que podemos concluir que o jogo antecede o desporto. E, assim, vem imediatamente à colação a velha metáfora de Huizinga: “O jogo é mais velho de que a cultura”. Porque o jogar dá um sentido lúdico de desafio à vida. Enquanto competição, expressa o instinto de sobrevivência que, na vida comum, se traduz no espírito competitivo que tanto pode ser justo, nobre e leal fazendo apelo aos mais louváveis sentimentos humanos como, também, injusto, falso e desonesto, fazendo apelo aos mais obscuros sentimentos da condição humana.
Até finais do século XIX, as pessoas jogavam e o jogo, enquanto actividade física ou intelectual, fazia parte das mais diversas culturas por esse mundo fora. Todavia, não é possível dizer-se que já existia desporto com o significado e as características que hoje lhe são atribuídas. Segundo a “Gazette Literaire”, pela consulta das enciclopédias “Diderot” e “D’Alembert”, a palavra “sport” só começou a aparecer a partir de meados do século XIX, todavia, com um significado diferente daquele que Coubertin lhe viria a atribuir em finais do século.
No inglês antigo era utilizada a palavra “disport” ou “sport” provenientes do francês “desport” que significava diversão. Até podia significar “fazer a guerra” que era o divertimento dos reis. O “sport” era, ainda, consubstanciado no ato de jogar que, directa ou indirectamente, acontecia entre vários jogadores. Obrigava ao exercício de determinadas habilidades físicas de destreza e intelectuais de astúcia que, executadas segundo determinadas regras e procedimentos, permitiam apurar um vencedor.
Entretanto, o processo de compressão espácio-temporal desencadeado pelo industrialismo, em que as distâncias se tornaram mais curtas e o tempo mais acelerado, desencadeou uma mudança radical dos jogos para os desportos. Neste sentido, como refere Pierre Parlebas, o desporto é o produto da institucionalização dos jogos tradicionais que, catalisados pelos seis princípios da sociedade industrial, a saber: Estandardização; Centralização; Concentração; Maximização; Sincronização; Especialização (Cf. Alvin Toffler), mudaram de paradigma e adquiriram a condição desportiva. Alguns jogos, depois de adquirirem o estatuto desportivo, resistiram e continuam a fazer parte do Programa Olímpico. Outros, como, por exemplo, a “tração à corda” que fez parte dos JO de 1900 a 1920, ficaram pelo caminho. Hoje, a “tração à corda”, tal como outros jogos, é, simplesmente, considerada um jogo tradicional. Todavia, não é por isso que, desde que cumpra os critérios estabelecidos pelo COI, não possa voltar a fazer parte do Programa Olímpico.
O industrialismo foi o catalisador que permitiu o surgimento do Movimento Olímpico (MO) e, em consequência, do desporto moderno. Quando, em 1888, Pierre de Coubertin fundou “Comité pour la Propagation des Exercises Physiques” a fim de desencadear a organização de competições desportivas inter-escolares e, posteriormente, em 1890, editou a revista “Athlétique”, não se limitou a dar continuidade às actividades gímnicas e aos jogos populares envolvidos em competições informais praticadas nas festas populares com regras que variavam de local para local. Ele percebeu que estava no local certo à hora exata e soube aproveitar a “vaga de mudança” económica e social desencadeada pelo industrialismo. Ao fazê-lo, promoveu uma rutura com o passado atribuindo um novo significado social e político ao conceito de “desport” da sociedade francesa ou do “sport” da sociedade inglesa. Até então, de acordo com “Grand Dictionnaire Universal du XIX Siècle – Pierre Larousse” publicado entre 1866 e 1890, “desport” e “sport” significavam uma panóplia de actividades físicas e exercícios de carácter recreativo que se consubstanciavam na ginástica, na esgrima na caça, nos passeios de barco e a cavalo. Estas actividades eram, via de regra, praticadas ao ar livre com o objectivo de desenvolverem as forças físicas.
Em 1892, no âmbito das comemorações do quinto aniversário da Union des Sociétés Françaises des Sports Athlétiques (USFSA), no grande auditório da Sorbonne em Paris, Coubertin apresentou uma comunicação intitulada “Os Exercícios Físicos no Mundo Moderno”, em que anunciou a intenção de desencadear o surgimento dos JO da era moderna. E, em 1894, naquele a que ficou conhecido como o primeiro Congresso Olímpico, Coubertin foi o actor principal da fundação do Comité Internacional do Jogos Olímpicos. Ao protagonizar tal acontecimento, para além de estabelecer um corte como as tradicionais escolas de ginástica organizadas na educação física, desencadeou, uma mudança de paradigma dos jogos populares para o desporto através da institucionalização, à escala do planeta, de alguns dos jogos tradicionais até então praticados a nível local, enquanto actividades físicas de lazer e recreação, por uma nobreza que, segundo Veblen, procurava desembaraçar-se dos assuntos sérios da vida.
E, assim, em finais do século XIX, Coubertin, ao idealizar um modelo de prática desportiva estandardizado à escala do Planeta a fim de, através da educação e da cultura, promover a paz e a concórdia entre as nações, provocou uma mudança paradigmática dando origem a um novo conceito à palavra “sport” que já nada tinha a ver com as actividades diletantes de carácter recreativo até então praticadas.
A expressão deste novo paradigma ficou bem expressa num artigo publicado em 1911 na “Revue Olympique”, onde Coubertin propôs a adopção da seguinte máxima para o desporto: “Mens fervida in corpore lacertoso”, quer dizer, “um espírito ardente num corpo treinado” que, ainda hoje, expressa as principais características do desporto moderno: um espírito ardente, competitivo e desafiador num corpo bem treinado pelo exercício inerente ao próprio desporto. E, a fim de atribuir uma dimensão institucional supra nacional ao MO, Coubertin, em 1915, quando a Europa estava em plena guerra, deslocalizou a sede do COI de Paris para Lausana (Suíça). Depois, em 1918, no Almanach Olympique daquele ano, definiu Olimpismo como: Uma religião de energia, de culto da vontade intensa desenvolvida pela prática desportiva viril apoiada na higiene e no civismo, envolvendo a arte e o pensamento…”. E, numa conferência realizada em Paris em 1929, definiu desporto como ”…o culto voluntário e habitual de exercícios musculares intensos incitados pelo desejo de progresso não temendo ir até ao risco”.
Assim, o desporto, como hoje o conhecemos, enquanto produto do industrialismo, sendo uma decorrência natural do jogo, contudo, apresenta uma carga cultural determinada pelas características decorrentes do industrialismo que lhe são próprias. Por isso, do ponto de vista epistemológico, confundir jogo com desporto, no actual quadro dos “e-games” chamando-lhe “e-sports” e admitir que possam fazer parte dos JO parece-me uma ingenuidade. Os desportos são um produto da sociedade industrial e, por consequência, como refere Christine Le Scanff, “o terreno de excelência do corpo” onde o mental se expressa no corpo físico em competição directa ou indirecta com outros. Pelo seu lado, os jogos electrónicos são intermediados pela máquina. Permitem até jogar contra uma máquina. Inclusivamente, possibilitam a existência de jogos de máquinas contra máquinas em que a intervenção humana, directa e em tempo real é cada vez mais reduzida. Neste sentido, eles são, por excelência, um produto da sociedade pós-industrial e devem ser desenvolvidos enquanto tal.
Assim sendo, os impropriamente designados “e-sports” não interessam a nenhuma das partes. Aos jogos electrónicos porque, ao serem integrados no MO, corrompem a sua essência, perdem liberdade, capacidade de desenvolvimento e independência financeira; Ao MO porque os jogos electrónicos, pelas suas características, corrompem o seu credo e deturpam a sua vocação quer dizer, desvirtuam a raiz identitária do Olimpismo."

Quem 'matou' a mudança? Suspeito n.º 6 - A relação com a equipa/organização

"A época já tinha inicial há dois meses e o legendário Treinador do F. C. Galácticos Brad Wooden enfrentava um problema, na sua multimilionária equipa. Não sabia bem o que é que se estava a passar, mas sentia que os jogadores não estavam a contribuir a 100%. Recordou a rica e esclarecedora conversa com o Detective Colombo (da brigada dos homicídios empresariais), sobre as normas e cultura das equipas e organizações e decidiu convidá-lo para conversar no final do treino.
Qual era o problema que o Treinador Wooden enfrentava e que estava a comprometer o contributo, o desenvolvimento, a “mudança” e o rendimento da multimilionária equipa?
“Boa tarde Detective Colombo” – saudou o Treinador Wooden. “Como está Treinador Wooden” – respondeu o Detective Colombo, ao mesmo tempo que os seus olhos se desviavam para as paredes do escritório do Treinador Wooden, onde todos aqueles Troféus, Prémios e Distinções impressionavam qualquer um. Apercebendo-se disso, o Treinador Wooden observou – “são muitos troféus, mas os desafios de melhoria são constantes”. “Como assim Treinador Wooden? Com os seus 30 anos de experiência, com todos os títulos conquistados, que desafios poderá ter?” – indagava o Detective Colombo.
“Detective Colombo, no início da minha carreira as questões técnicas, tácticas e físicas estavam no centro dos problemas ou, melhor, eram os meus principais desafios. Contudo, fui-me apercebendo de um outro conjunto de factores igualmente decisivos, para o bom funcionamento e resultados da equipa, concretamente: emocionais, motivacionais, de mentalidade e de relação. Gostei muito da última conversa que tivemos e estando a enfrentar um problema/desafio que ainda não percebi muito bem qual é, lembrei-me do Detective, na esperança de que me possa ajudar a perceber o que se está a passar” – respondeu o Treinador Wooden.
“O que se passa concretamente? O que é que o está a preocupar?” – perguntou prontamente o Detective Colombo.
“Tenho um conjunto de jogadores que parece que ainda não aderiram há equipa, é como se fizessem parte da equipa, mas pouco ou nada contribuem e tenho outro grupo de jogadores que estão sempre a levantar problemas, a colocar questões, como que se estivessem a sabotar a equipa” – constatou o Treinador Wooden.
“Consegue dar-me uma imagem que me ajude a entender melhor o que se passa?” – perguntou o Detective Colombo.
“Claro. Recorda-se de algum momento em que um barco estava a partir e havia pessoas a acenar em terra e outras no barco, enquanto partia?” – desafiava o Treinador Wooden. “Sim, recordo-me do Titanic a partir, quando deixou o porto de Southampton” – devolveu o Detective Colombo.
“Pois bem Detective, agora imagine que se trata de um barco a remos e que há pessoas que estão em terra a acenar e outras dentro de um barco e que o barco é a minha equipa. Neste momento, tenho elementos da minha equipa que parece que não entraram no barco, que ficaram em terra a acenar e que por isso não estão a ajudar o barco – equipa – a chegar ao seu destino. Também tenho pessoas que entraram no barco, mas em vez de pegarem num remo e ajudarem o barco – equipa – a chegar ao seu destino, são mais do que pesos “mortos”” – referia o Treinador Wooden, no momento em que o Detective Colombo o interrompia – “mais do que pesos “mortos”? o que quer dizer com isso?”. 
“Uma coisa é ficar em terra a acenar e não ajudar a equipa, outra é entrar no barco nada fazer, levantar problemas sistematicamente ou sabotá-lo e outra ainda bem diferente é entrar no barco, pegar num remo, começar a remar e ajudar o barco – equipa – a concretizar os seus objectivos! Neste momento, sinto que há várias pessoas a acenar, outras tantas a pressionar e poucas a remar” – clarificou o Treinador Wooden.
O Detective Colombo de imediato referiu - “Treinador Wooden identificou, na perfeição, os três meta-papéis, que as pessoas utilizam para se relacionarem com as equipas e organizações …”, sendo interrompido pelo Treinador Colombo – “meta-papéis, o que é que isso significa?”.
“Recorda-se de no início da nossa conversa ter referido que tinha descoberto que havia outras questões, para além das técnicas, tácticas e físicas que influenciavam o rendimento e que entre elas estava o tipo de relação ou interacção que as pessoas estabelecem?” – perguntou o Detective Colombo. “Sim, recordo-me perfeitamente e onde é que isto se encaixa?” questionou o Treinador Wooden.
“Imagine um rio e duas margens. O que é que as pessoas fazem quando querem ligar essas duas margens?” – perguntou o Detective Colombo e de imediato o Treinador Wooden exclamou – “pontes!”. “Exacto as pessoas utilizam as pontes, para ligar duas margens e o mesmo se passa entre as pessoas e as equipas/organizações, considerando que uma margem é a pessoa e a outra é a equipa ou organização. Isto é, as pessoas utilizam pontes para se ligarem às equipas ou organizações em que trabalham, mas essas pontes não são físicas, antes papéis” – esclarecia o Detective Colombo. 
“Detective Colombo, deixe-me ver se entendi. Está a dizer-me que os meus jogadores se relacionam ou ligam à equipa e ao Clube através de meta-papéis, que há três meta-papéis, acenar, pressionar e remar e que acenar e pressionar são dois papéis que alguns dos meus jogadores estão a utilizar, para se relacionarem com a equipa e organização, que estes dois meta-papéis “matam” a possibilidade de desenvolvimento, de mudança e consequentemente a qualidade da relação e a possibilidade de resultados memoráveis” – tentava sintetizar o Treinador Wooden.
“Não conseguia dizer melhor” – devolveu o Detective Colombo e de imediato o Treinador Wooden reflectiu – “o mesmo se passa com professores e pessoal auxiliar nas Escolas, com enfermeiros, médicos e pessoal administrativo nos hospitais ou com os colaboradores e gestores de uma empresa?”.
“Sem dúvida, estes meta-papéis (pontes) não são específicos das equipas desportivas, fazem antes parte das soluções que as pessoas encontraram para se relacionarem com a “outra margem”, seja essa margem uma equipa desportiva, uma escola, uma turma, um hospital, uma esquadra, uma empresa ou uma equipa; que diferentes meta-papéis resultam em experiências e resultados qualitativamente diferentes e alguns, isto é, os meta-papéis acenar ou pressionar, que actualmente estão a ser utilizados por algumas pessoas para se ligarem à sua equipa, “matam” a mudança” – resumia o Detective Colombo.
“Ou seja, se quero diferentes / melhores resultados, então tenho a oportunidade de transformar a qualidade da relação com a equipa, isto é, os papéis de acenar ou de pressionar em remar. Detective, deixe-me ser eu a abordar o Presidente Angie e informá-lo de mais um dos suspeitos de estar a “matar” a mudança no Clube” – pediu o Treinador Wooden.
“Claro, Treinador Wooden” – respondeu o Detective Colombo. Depois de se despedirem, o Treinador Wooden ligou com o Presidente Angie e marcou uma reunião, para o informar do que tinha descoberto em relação à sua equipa e que poderia igualmente existir nas outras equipas e departamentos do Clube. Recordou-se de muitas situações em várias equipas que treinou, em que havia pessoas a acenar ou a pressionar, mas também das equipas com que tinha vencido todos aqueles campeonatos e que agora se apercebia de que os jogadores, treinadores adjuntos, médicos, fisioterapeutas, (…) dessas equipas vencedoras remavam. Começou a imaginar na qualidade da experiência e dos resultados se transformasse acenar e pressionar em remar, como poderia ser o final da presente época?"

“No Benfica, disse ao Argel: ‘Aleijo-me eu ou tu e alguém vai parar ao hospital’. Nunca mais disputámos uma bola no treino”

"Diz que não trocava a infância no bairro social onde cresceu por nada deste mundo. Aos 13 anos, foi sozinho para o hospital para ser operado a uma perna, porque mancava. No 5.º ano foi expulso da escola e anos mais tarde fugiu com um amigo para o Algarve e não quis saber do futebol. Foi o casamento e o nascimento dos filhos que acalmam o espírito rebelde de Armando Teixeira, o ‘pitbull’ que ferve em pouca água, como o próprio reconhece. Esta é a primeira parte da vida do jogador, que não queria ser treinador

Nasceu em Estrasburgo. Pode caracterizar-nos a sua família?
O meu pai é da Vila da Lixa e a minha mãe de Mondim de Bastos. Conheceram-se, tiveram o meu irmão mais velho aqui em Portugal, o Manuel, que tem mais oito anos do que eu. Depois, emigraram para França, para Estrasburgo, à procura da sorte. Foram trabalhar, o meu pai na área dos tectos falsos, pladurs. Tiveram lá cerca de 14 anos e tiveram mais quatro filhos, duas raparigas e dois rapazes. Eu fui o último.

Tem alguma memória de França?
Não, viemos para Portugal quando tinha dois anos, não me lembro de nada. Só de ouvir o nome Petit, que era assim que os meus pai me chamavam.

Vieram viver para onde?
Viemos para Arca d’Água, Bairro do Bom Pastor, onde ainda vivem os meus pais e onde eu também vivo, no primeiro apartamento que comprei, ao lado do deles. Tenho ali a minha família perto, os meus pais e a minha irmã. Os meus outros irmãos estão emigrados no Luxemburgo, a família da minha mulher e os meus amigos de infância.

Por que razão os seus pais decidem regressar a Portugal?
Não sei, nunca lhes perguntei. Quando voltaram, abriram um restaurante na Constituição e, a partir daí, tivemos três ou quatro restaurantes abertos, onde eu e os meus irmãos trabalhámos todos. A restauração era o nosso pão.

Ainda existe algum desses restaurantes?
Temos um que neste momento está alugado em frente à casa onde vivemos e crescemos.

Quais são as suas memórias de infância mais fortes?
O crescimento no bairro. Tínhamos um rinque para onde tentava fugir sempre, para ir jogar à bola. Tinha um amigo que também foi comigo para o Boavista, o Mário Silva, que também jogou no FCP e no Nantes. Crescemos juntos e aquelas memórias são indescritíveis: jogávamos tudo, ao berlinde, ao peão, à esfera. Éramos uns 18, 20 miúdos, de manhã à noite sempre a brincar.

Em relação ao futebol, começa por se destacar primeiro na baliza não é?
Sim, eu jogava lá no clube, no Bom Pastor, era guarda redes no futsal.

Com que idade é que foi para lá jogar?
Com seis, sete anos comecei a jogar os torneios dos bairros sociais. Depois havia as festas de Barca d’Água, onde a equipa vencedora ia receber o troféu. Nós tínhamos uma equipa que já jogava junta há algum tempo e eu comecei na baliza.

Porque gostava ou era imposto?
Gostava de ser guarda-redes.

Tinha alguma referência?
Não, não porque fui guarda redes só até aos nove anos, depois, quando começamos a jogar futebol de 11 já era defesa central. Jogámos contra o Boavista, ganhámos 2–1 ,e eles vêm buscar-nos, a mim e ao Mário Silva, ao Bom Pastor. Deram 15 pares de botas, 15 bolas para nos deixarem ir. Foi aí que troquei o Bom Pastor pelo Boavista.
Mas chegou a ter uma outra oferta, que não quis.
Não, isso foi uma altura em que fomos treinar ao FCP, eu e o Mário. Fomos ver se ficávamos, ainda jogávamos no Bom Pastor. Mas entretanto o FCP não nos dizia nada, nós não sabíamos se íamos ficar ou não e entretanto acontece esse jogo com o Boavista, e como o Boavista queria muito que nós fossemos para lá, falaram com os meus pais e os do Mário Silva. Acabámos por optar pelo Boavista. 

Quando começa a jogar no Boavista torcia por que clube?
Eu acompanhava muito o Salgueiros. Nós somos ali de Paranhos e o meu pai meteu lá os filhos todos. Era salgueirista, assim como todos os meus tios. Acompanhávamos o Salgueiros para todo o lado nas camionetas. Tinha, e tenho um carinho especial pelo Salgueiros. Muitas vezes estava a treinar no Boavista, acabava o jogo e íamos ver o Salgueiros; íamos para Cantanhede, para Coimbra, para onde o Salgueiros fosse jogar. O meu pai levava-me sempre a ver o futebol.

Mais nenhum dos seus irmãos se ligou ao futebol?
O meu irmão mais velho ainda jogou no Salgueiros, até aos juniores, mas depois abandonou, não queria jogar à bola.

E os estudos, como era na escola?
A escola passou um bocadinho ao lado. Quando fui operado, tinha 12 anos, fiquei sete ou oito meses em casa e depois já foi difícil recomeçar.

Que operação foi essa?
Fui operado ao joelho porque tinha uma perna mais curta do que outra.

Quem e quando é que descobrem isso?
Quando jogava nos infantis notaram que mancava um pouco. Mas nunca me doía e também diziam que era normal, que podiam ser os ossos a crescer. Mas começaram a ver que mancava muito, fizeram-me uns exames no hospital de Santo António e viram que tinha um osso da perna direita que não estava a evoluir e que ia ficar com uma perna mais curta por causa disso. Então, optaram por operar-me. Só que as recuperações antigamente eram muito mais difíceis. Estive um ano e meio praticamente sem jogar à bola.

Quando soube que tinha que ser operado, como reagiu?
Isso até é engraçado. Tinha feito as consultas e tinham marcado a operação para dia 31 de dezembro. Disse aos meus amigos que ia ser operado mas à noite já estava lá para ir para a festa na colectividade do Bom Pastor, onde eram sempre as festas da passagem de ano e do Carnaval. Não imaginava que ia ficar uma semana no hospital. Então, nesse dia, saí de casa eram umas sete e tal da manhã, tomei o pequeno almoço no café do meu pai, apanhei o autocarro e fui para o hospital, sozinho.

Sozinho?
Já estava habituado a ir para a escola, a Gomes Teixeira, que era ali ao lado, e pensava que aquilo ia ser rápido. Havia uma pessoa que trabalhava no Boavista e no hospital, o senhor Silveira, que tratou de todo esse processo. Cheguei lá eram umas oito horas, chamaram por mim: Armando Gonçalves Teixeira. “Eu próprio”. “Você está em jejum?”. “Estou o quê?”. Não sabia o que era estar em jejum (risos). “Não sei o que é isso”. “Tomou o pequeno almoço?”. “Tomei. Foi meia de leite e um croissant”. Fiquei lá desde as oito até à uma da tarde, à porta, sem me chamarem, porque tinha tomado pequeno almoço e não podiam fazer-me nada. Às duas e tal chamaram-me para ir para dentro. Raparam-me a perna toda, fui operado e fiquei lá uma semana, claro, sem poder ir festejar a passagem de ano.

Foi um choque?
Foi, porque nunca imaginei que fosse tão doloroso e que ia demorar tanto tempo. Era um lanho enorme na perna, as dores eram muitas, e estar ali, um miúdo com 13 anos, sozinho, no hospital, foi difícil.

Do que é que se lembra dessa semana no hospital, o que é que fazia para se entreter?
Via as novelas da SIC (risos). Havia uma televisão pequenina; de resto, não havia telemóveis, nem computador.. Era olhar para a janela, não havia mais nada. Convivia com as pessoas mais velhas, estava numa ala de idosos.

Os seus amigos foram visitá-lo?
Não, foi pouca gente, porque quase ninguém sabia, foi tudo muito rápido. As pessoas sabiam que ia ser operado, mas pensavam que era uma coisa mínima. Do meu bairro foi uma ou outra pessoa. Mas de resto, do futebol, ninguém sabia o que se estava a passar. Foi lá um ou outro director do Boavista. 

Quanto tempo ficou em casa depois a recuperar?
Depois tive de ficar quatro meses sem sair da cama, com uma coisa que não era bem gesso, mas tinha que ficar quieto. E ainda tive de andar seis meses de muletas. Ao todo estive uns 16 meses sem jogar futebol.

Foi difícil voltar ao futebol?
Foi, foi complicado, mas recuperei e fui campeão do Boavista nas distritais da zona do norte. Havia dois escalões, os iniciados de 1.º ano e os de 2.º. Nos iniciados do 1.º escalão não joguei por causa da operação. Nessa altura abandonei a escola porque entrei a meio, estive muito tempo em casa depois de ser operado. Não tinha livros e acabei por ser expulso da escola no 5.º ano.

É expulso da escola porquê?
Empurrei a professora. Como quando regressei faltavam três meses para acabar a escola, não tinha livros, não sabia da matéria e não gostava de andar na escola… Era pessoal da pesada que andava naquela escola, pessoal rebelde e eu também era, e acabou por parar-me ali o ponteiro e acabei por empurrar a professora. Depois tiveram que chamar a minha mãe à escola, ao Conselho de Disciplina. Fui expulso, sai da escola a pensar que ia levar uma coça daquelas grandes do meu pai. Acabei por levar duas lamparinas e depois ele meteu-me a trabalhar, de castigo, no restaurante, a servir às mesas. 

Não deve ter gostado muito.
Gostei. Todos os meus irmãos trabalharam lá e era uma paixão. Aquilo era nosso, era para nós e por isso o meu pai obrigava toda a gente a trabalhar, tínhamos de ajudar. Cada um tinha o que fazer, descascar batatas, estar na máquina, isto ou aquilo.

O que é que preferia fazer?
Servir à mesa, passava mais rápido o tempo. Estive lá até aos 18 anos. Jogava no Boavista e ainda trabalhava no café do meu pai. O treino era às três e meia. Nós saíamos dos restaurante às três menos um quarto - eu e o Mário Silva que ia lá ter - e íamos juntos para o treino. Mas já tinha ordenado, do Boavista e do meu pai (risos).
Ter crescido num bairro social criou em si algum estigma ou acha que foi mais difícil crescer num bairro social?
Não, antes pelo contrário. Acho que não trocava a minha infância por nada nesta vida. Conheço a minha esposa, a Carla, desde os seis anos. Ela era do nosso grupo lá do bairro, andava connosco para todo o lado, ela e mais umas amigas também lá do bairro. O bairro era sossegado, toda a gente deixava os carros abertos, toda a gente se conhecia.

No Boavista foi por aí fora até que, com 18 anos vai para Esposende. Porquê?
Fui campeão em todos os escalões do Boavista, só não fui dos juvenis, ficámos em 2.º lugar. Mas tínhamos uma grande equipa: eu, o Nuno Gomes, o Delfim, o Mário Silva, o Ricardo Silva, o Jorge Silva, o Rui Lima e o Moreira, e fomos campeões de juniores. Alguns ficaram no plantel sénior e outros foram emprestados. O Luís Campos, que agora está no Lille, naquela altura acompanhava muito a equipa de formação do Boavista e falou com o Pais do Amaral para alguns jogadores irem para o Esposende. Eu que já tinha contrato profissional com o Boavista, o falecido Carlos Lopes, que morreu na China, e o Ricardo Silva, fomos para Esposende.

Não ficou chateado por ir para Esposende?
Não, nem sabia onde era. Mas acabou por ser um dos anos mais bonitos que já tive porque quando lá chegámos os três, mais o Ádamo, que hoje é padrinho da minha filha, é meu compadre... criámos uma boa amizade. Éramos seis jogadores todos aqui do norte, do Porto.

Ainda estava solteiro?
Sim, tinha 18 anos ainda era só amigo da minha mulher. Nós, os jogadores do Porto, comprámos uma carrinha a meias, por 700 contos. Ficava mais barato do que ir em dois ou três carros. Naquela altura para sair do Porto e ir para Esposende só havia a estrada nacional, ainda não havia autoestrada e demorava-se duas horas e meia para chegar. Foi dos momentos mais bonitos que passei: todos os dias apanhávamos a carrinha e havia um grande convívio. Havia sempre palhaçadas, foi um ano espectacular. O grupo no Esposende também era porreiro, acabámos por ficar em 3º. lugar, na II divisão B, que era muito difícil. Tinha equipas e jogadores bons.

Quando é que começa a ganhar dinheiro com o futebol?
Nos juniores do Boavista, 80 contos, tinha 17, 18 anos. Mas já ganhava dinheiro e gorjetas do meu pai, lá no restaurante.

Lembra-se se havia alguma coisa tenha ido logo comprar com esse primeiro ordenado do Boavista?
Roupa. Fui ao centro comercial Dallas e comprei umas botas texanas de bico. Eu adorava aquilo, usavam-se na altura. Custavam 30 contos (150 euros) e fiquei sem dinheiro (risos). O meu pai não sabia que eu tinha recebido do clube (risos). Disse-lhe que tinha comprado com o dinheiro das gorjetas que ele me dava, que tinha juntado. Ele também não reparava muito na roupa que eu vestia porque estava quase 24 horas no restaurante, desde as 7 da manhã até à meia noite, uma da manhã. Para trabalhar eu usava uma roupa normal. E pronto, acabei por gastar o primeiro ordenado todo numa manhã (risos).

Saiu do Esposende e assinou pelo Gondomar.
Sim, ia ser outra vez emprestado pelo Boavista mas continuava com o contrato. Neste caso ia para para o Gondomar, mas o problema é que tinha que ir para a tropa. Então fui emprestado, assinei pelo Gondomar, recebi dinheiro de luvas - era assim que funcionava naquela altura - e eles acabaram por ficar chateados comigo porque pensavam que eu ia só fazer a recruta e acabei por ficar seis meses na tropa.

Porquê?
Fui para a Póvoa do Varzim, insultei o meu furriel e, para não ir preso, mandaram-me para Santa Margarida e acabei por ficar lá quatro meses.

Insultou o furriel porquê?
Porque estava sempre a pegar comigo na recruta. Tínhamos que fazer várias coisas, eu já tinha feito o meu trabalho e ele viu-me sentado e começou a mandar vir comigo. Queria que eu fosse lavar as casas de banho com uma escova de dentes e eu disse-lhe que não ia. Ele foi chamar o sargento e depois tive que ir aos comandantes. Era para ter feito só a recruta e sair, mas acabei por ir de castigo para Santa Margarida.

Como é que foram esses quatro meses?
Foi porreiro (risos). Se calhar os sacrifícios e as dificuldades que passei, fizeram-me pensar muito. Naquele momento quis abandonar o futebol. Tinha contrato com o Boavista, mas a tropa fez-me crescer.

Como assim?
Mentalidades diferentes, espírito de sacrifício. Passei muitas horas e muitas noites à porta de armas. Estar ali uma noite inteira, de 3 em 3 dias, era muito complicado. Também ia para a cozinha, mas quando não estava na cozinha era obrigado a fazer porta de armas. Estar duas horas de pé, à noite, sem ninguém passar, faz-nos reflectir, faz-nos pensar. Gostei de estar na tropa. E quando fiz os dois meses que me faltavam, no Gondomar, não estava a ter prazer no futebol. Ia, mas portava-me mal, foram momentos difíceis.

Portava-se mal como?
Ia sair, muitas vezes não ia treinar. Acabei por ir para o Algarve com um amigo. Quando a época acabou tínhamos que voltar ao Boavista para treinar, mas eu fui para o Algarve e disse que não queria jogar mais futebol. O Mário Reis, que era o treinador do Boavista e meu vizinho em Arca d’Água, foi ter com os meus pais, aliás, foi ao restaurante do meu pai para saber onde é que eu andava. Foi quando o meu pai disse que não sabia de mim, que andava no Algarve fugido, que não queria jogar mais à bola.
O que aconteceu depois?
Acabei por vir do Algarve, o Mário Reis “deu-me na cabeça” para ir treinar e emprestaram-me ao União de Lamas mais um ano. É então que começo a assentar. Tinha 19 anos, comecei a namorar com a minha esposa; passados dois ou três meses comecei a viver com ela na casa dos meus pais e passados uns tempos ela fica grávida. Começo outra vez a gostar de jogar futebol. No Lamas faço uma época que corre bem, sou outra vez emprestado ao Esposende. Estive quatro, cinco anos emprestado a vários clubes até chegar novamente ao Boavista.

A sua mulher, a Carla, nessa altura fazia o quê?
Trabalhava no Maiashopping, numa loja de crianças. Ia ter com ela, mas ela muitas vezes tinha que ficar até mais tarde para fazer a contagem das peças e para mim era difícil porque tinha jogo no dia seguinte. Então, optámos por ela deixar de trabalhar.

Quando é que passam a viver só os dois?
Foi nesse ano em que estou no Lamas. Alugámos um apartamento mais abaixo, mas perto de Arca d’Água, através do arrendamento jovem, o Estado comparticipava. Fomos para um T2 e entretanto nasce a minha filha Bárbara, em 1999, no ano que saio do Lamas e regresso ao Esposende.

Assistiu ao parto?
Da minha filha, não. Foi no hospital São João, ela nasceu às 9 da manhã, eu tinha pedido para me avisarem, mas os médicos tinham mudado de turno e eu tinha falado com os da noite anterior. Cheguei ao hospital por volta das 10 e tal da manhã, por isso foi quase na hora.

Qual foi a sensação?
Indescritível. Os melhores momentos da minha vida foram os dos nascimentos dos meus filhos. É o nosso sangue que está ali, é o nosso orgulho, é a nossa paixão.

Depois do Esposende foi para I Liga, no Gil Vicente. Como?
Por intermédio do Álvaro Magalhães e do professor José Gomes que estavam no Gil Vicente e acompanhavam muito o Esposende.

Tinha empresário?
Tinha, era o José Veiga. Ele veio através do falecido Mário Morais, que tinha sido treinador de futebol. O filho dele era da minha infância, andava sempre comigo, e começou a ver os jogos e os jogadores, falava com o Veiga e com o Alexandre Pinto da Costa. Foi nesse ano que fui para o Gil Vicente.

Quando vai para o Gil Vicente ainda tinha contrato com o Boavista?
Sim. Fui jogador do Boavista dos nove aos 25 anos. Depois do Gil Vicente é que vou para o Boavista, do Jaime Pacheco. E sou logo campeão.

Com uma equipa de jogadores a quem chamavam de caceteiros.
Isso não corresponde à verdade. Nós também fizemos uma boa Taça UEFA, fomos eliminados pelo Roma, que acaba por ser campeão em Itália, e no ano a seguir também estivemos na Liga dos Campeões.

Mas eram duros a jogar.
Éramos. O Pacheco tinha uma coisa boa, gostava de fazer pressão e intensidade no campo inteiro. Nós trabalhávamos muito a nível físico e o que via que podia tirar o melhor partido da equipa, tirava. Espremeu tudo e acabámos por fazer uma grande época porque nos primeiros 20 minutos massacrávamos as equipas, estávamos muito bem fisicamente, estávamos confiantes e também tínhamos muita qualidade no plantel, tínhamos bons jogadores.

Fica duas épocas no Boavista com o Jaime Pacheco até ir para o Benfica.
Sim, duas para três. Venho do Mundial, faço a pré-época com o Boavista e sou vendido ao Benfica.

Quando é chamado pela primeira vez à selecção?
Foi para ir à Madeira, se não estou em erro, por causa de uma lesão de um jogador. No Boavista tínhamos treino bidiário e um dia liga-me o Pais do Amaral, o chefe de departamento, a dizer que eu tinha que apanhar um avião para Lisboa, porque tinha sido convocado para a selecção. Eu mandei-o dar uma volta, não acreditava.

Nunca tinha sido chamado antes?
Tinha sido chamado e jogado na equipa B. Fiz dois jogos em Santarém.

Quando acreditou que estava mesmo a ser chamado à selecção?
Como disse, ao princípio não acreditava e acabou por me ligar outra pessoa da Federação, o Godinho, director desportivo, que me diz que me diz que eu tinha sido convocado para a selecção e que tinha de apanhar o avião o mais rápido possível. Era hora do almoço. Fui para Lisboa e depois foi tudo rápido. Lembro-me que estava cheio de vergonha. Conhecia alguns de jogar contra eles, mas nunca imaginei estar ali perto deles.

Como é que foi a recepção?
O normal, fui bem recebido. Não era fácil, só os via pela televisão e agora estava ali à beira de jogadores que eram grandes referências para mim.

Como por exemplo?
Rui Costa, Figo, Paulo Sousa, Baía, Fernando Couto, Jorge Costa, por ai em diante, era a geração de ouro que tinha visto ser campeã do Mundo em Riade. Para mim era um sonho, mas estava envergonhado, metido no meu cantinho.

Então o rebelde Petit ficou a um canto?
Ao início, quando não conheço as pessoas, sou muito tímido, fico no meu canto a analisar aquilo que posso e que não posso fazer ou dizer.

Foi praxado?
Não. Tinha só de esperar que me dissessem onde é que me podia sentar na mesa e na camioneta, tinha de esperar que se sentasse toda a gente.

Quem era o líder?
Acho que eram todos (risos). Pelo respeito e pela figura em si, o Jorge Costa. Mas tínhamos o Figo, o Rui, acho que quase todos eram capitães nas equipas onde jogavam.

Mas não lhe fizeram nenhuma partida?
Não porque não havia essa confiança. Quando se chegava ali cada um tinha o seu grupo.

Nessa altura ainda se sentia muito a diferença norte/sul?
Um pouco. Notava-se à mesa. Numa ponta estava o pessoal do norte, do Porto, e noutra o pessoal do sul. Foi passando de geração em geração, da mesma forma que eu quando me sentei pela primeira vez num lugar, depois sentei-me sempre nesse lugar.

Sentou-se de que lado?
Onde havia lugar, no lado dos mais novos, que eram eu, o Beto, o Ricardo, guarda-redes, o Frechaut, o Domingos que também lá ia de vez em quando. Só depois quando comecei a estar mais regularmente na selecção, é que fiquei com o mesmo lugar e estive desde 2001 até vir embora da selecção, em 2008, sempre no mesmo. Se não fosse convocado, podia-se lá sentar outro, mas sempre que eu era convocado aquele era o meu lugar. Era assim na mesa e no autocarro.

Qual foi a sensação de vestir pela primeira vez a camisola da selecção A? Foi um momento especial?
Acho que é o momento mais bonito da carreira de um jogador. Defender o nosso país, representá-lo, saber que está tudo a olhar para nós, é uma responsabilidade. Seja jogar para um apuramento, no Europeu ou no Mundial.

O seu primeiro jogo na selecção foi contra quem?
Fui convocado para aqueles dois jogos de apuramento para o Mundial da Coreia de 2002, primeiro na Madeira e depois no estádio das Antas, no Porto, com a Holanda. E o meu primeiro jogo a titular foi com a Irlanda do Norte, em Dublin. Foi o meu e de mais quatro jogadores do Boavista. Era um jogo importante porque era decisivo. Joguei eu, o Litos, o Frechaut e o Ricardo.

Faz muita diferença para um jogador ser titular ou entrar a meio de um jogo?
A confiança é diferente. Quando se entra a meio de um jogo, primeiro que se ganhe o ritmo… E depois consoante está o resultado, se estamos a ganhar, se estamos a perder ou se estamos empatados, também é diferente aquilo que nos espera. Quando sabe que vai ser titular, o jogador está mais bem preparado, sabe aquilo que tem de fazer, estudou muito bem a equipa adversária. É diferente quando se joga a titular.
Antes de ir para o Benfica ainda vai ao Mundial de 2002.
Sim, vou ao Mundial, faço a pré-época no Boavista e sou vendido ao Benfica.

O Mundial da Coreia foi de má memória. Passados 16 anos pode dizer-nos o que é que correu mal?
Aquele jogo com os EUA, nós não conhecíamos a equipa.

Entraram confiantes demais?
Não era confiança... Na selecção dos EUA não havia um jogador a jogar na Europa, não conhecíamos ninguém. E quando demos por ela, já estava 3-0. Ainda fizemos o 3-1 e o 3-2 e podíamos ter virado aquilo porque depois conseguimos entrar no nosso ritmo.

Não conseguir ganhar aos EUA, o primeiro jogo do nosso grupo, marcou muito o grupo?
Marcou, não foi fácil. Mas reagimos e conseguimos ganhar 4-0 à Polónia, com três golos do Pauleta. Depois. o jogo com a Coreia que acaba por ir aos quartos de final, era a equipa da casa, o João Pinto foi expulso. Nós até entramos bem no jogo e bastava-nos um empate e ninguém tinha falado o que foi falado. Houve ali algumas coisas, mas não vou estar aqui... O que posso dizer é que nós dávamo-nos todos muito bem.

O grupo defendeu de imediato o João Pinto.
Estamos fora do nosso país, estamos longe e as pessoas às vezes não sabem aquilo que se está a passar. Nós passamos muitos dias juntos e também não é fácil estar sempre a olhar para as mesmas caras. Aquele jogo, com a expulsão do João, penso que “mata” um pouco…

Mata as vossas expectativas?
Sim, mas a Coreia também tinha uma grande intensidade de jogo, e acabou por ficar comprovado ao chegar aos quartos de final, eliminando a Itália e outras grandes selecções. Nós tínhamos uma grande selecção e as expectativas que criaram antes, por ser a geração de ouro… O povo português sonhou alto, que iríamos ser campeões do mundo. Tínhamos grandes jogadores, uma grande equipa mas depois lá não se comprovou. Acho que as pessoas ficaram mais tristes por acordarem às três da manhã para verem Portugal com os EUA e passados 20 minutos estamos a perder 3-0, para os portugueses isso foi um choque.

Mas vieram a público várias situações, mesmo do próprio seleccionador, relacionadas com superstições dele. Isso afectou o grupo?
Sobre isso não vou falar mas repito que o grupo dos 23 jogadores que estavam lá era espectacular. Não vou estar aqui a falar sobre o que se passou, já veio muita coisa na comunicação social, acho que não vale a pena passados tantos anos.

Quando chega faz a pré época com o Boavista e vai para on Benfica, através do Veiga. Havia mais clubes interessados?
Havia.

Quais?
De outros países. Falava-se do Bétis, do Marselha e outras equipas mais que andavam a analisar e a ver. E o Veiga nesse momento estava a trabalhar bem, era dos melhores empresários do mundo, tinha feito a transferência do Figo. Havia alguns clubes mas acabei por ir para o Benfica. O presidente era o Vilarinho e o Vieira era o director-desportivo.

Mas vai para o Benfica porquê? Foi quem lhe ofereceu melhores condições, porque não queria sair de Portugal?
Porque também tinha nascido o meu filho, o Gonçalo. Aliás, quatro dias depois dele nascer, vou a Lisboa, assino pelo Benfica e no dia seguinte vou para a Suíça. Fiquei sem ver o meu filho um mês. 

Custou-lhe muito?
Custou. A minha filha tinha dois anos e meio para três e a minha esposa estava sozinha. Claro que tinha os avós e mais pessoas, mas não é a mesma coisa. E o crescimento em mês e meio é muito. Não é fácil.

Como é que fazia para matar saudades?
Na altura já tínhamos aqueles telemóveis que dava para fazer vídeo-chamadas ou via por computador, mas não é a mesma coisa do que poder sentir o nosso filho nos nossos braços, o cheirinho dele. Passado um mês voltei e comecei a ver casas. Acabei por ir para o Hotel Amazónia durante um mês e tal com a Carla e os meus filhos. Conhecia o Paulo, que era o dono, porque a selecção costumava lá ficar. Entretanto, alugámos uma casa, perto do Jardim Zoológico, onde ficámos um ano. Depois comprei a casa do Estoril, que ainda tenho.

Como é que foi o impacto de chegar ao Benfica com tudo o que isso implicava?
Nós tínhamos noção de que era um clube grande. Estava no Boavista, que durante uns três anos lutou com o Sporting pelo 2.º lugar, depois intrometeu-se o FCP e o Benfica não estava muito nas competições europeias, estava a passar uma fase diferente, com a entrada e saída de muitos jogadores e de treinadores. Nós vamos com aquela expectativa da grandeza do clube que corresponde à verdade, mas que não estava num momento que qualquer jogador gostaria de apanhar. Quando cheguei, saiu o Toni e fica o Jesualdo como treinador.

Muito diferente o Jesualdo dos outros treinadores que tinha encontrado?
Aprendi com cada um, penso que espremi o melhor de todos dentro das ideias que tirei. Mas o professor Jesualdo não cria aquela intimidade com os jogadores como por exemplo o Jaime Pacheco. Não, são completamente diferentes. Ele também estava a passar de adjunto do Toni para treinador principal, nunca é fácil. Não estávamos bem no campeonato: fomos eliminados muito cedo da Taça, houve o despedimento do Jesualdo, vem o Camacho e ganhámos a Taça de Portugal. Depois apanhámos um FCP muito forte com o Mourinho, que ganha a Taça UEFA, ganha o campeonato e perde a Taça de Portugal connosco. E no ano a seguir ganha a Liga dos Campeões. Na altura o FCP tinha uma geração muito forte, um treinador forte.

Alguma vez foi apanhado na noite?
Fui, como muitos outros. Mas são momentos. Nós também somos jovens, queremos curtir. Apesar de sermos figuras e termos que dar o exemplo aos mais novos, há momentos e também faz parte do nosso crescimento. Um miúdo com 24, 25, 26 anos fazer só vida de casa para o treino e de treino para casa, durante toda a semana e ter jogos, é natural que com a pressão, queira ir sair, queira ir beber um copo.

Quando saía em Lisboa, costumava ir a onde?
Normalmente ia ao Dublin, ao lado do Alcântara, a seguir aos jogos.

A sua mulher também ia?
Não, ela estava com os miúdos em casa. Ia com os outros jogadores, depois de jantar. Mas era de vez em quando, de tempos a tempos.

Alguma vez foi castigado por algum clube por saídas à noite?
Uma ou outra vez podemos ser castigados.

Que tipo de castigos?
Financeiros ou ficar sem jogar. Mas isso nunca me aconteceu. Porque apesar de irmos uma vez ou outra, era sempre quando no dia a seguir tínhamos folga. Só que não gostavam que saíssemos por sermos jogadores, isso é normal.

Ter sido campeão no Benfica foi muito diferente de ter sido campeão no Boavista?
Foi porque no Boavista ninguém estava à espera. Quando passamos para primeiro sabíamos que a qualquer momento podíamos perder essa liderança, porque tínhamos o FCP atrás, por isso mentalizámo-nos que éramos muito fortes. E éramos. As equipas muitas vezes fazem-se através do grupo. Mesmo os que não jogavam estavam sempre alegres, contentes e sempre prontos e preparados se fossem chamados. O Pacheco, mesmo que eu estivesse a jogar bem, jogava cinco ou seis jogos e mandava-me para o banco para entrar outro e sentir que também era útil à equipa e tinha de treinar nos limites. Geria isso muito bem. Muita gente não acreditava que o Boavista ia ser campeão, mas nós acreditamos. Isso foi marcante. A nível de massa associativa, claro que é uma realidade diferente da do Benfica. Fui campeão pelo Boavista no Bessa e campeão pelo Benfica também no Bessa. O Benfica não era campeão há 14 anos, a vinda do hotel em Santo Tirso até ao Porto... parecia que estávamos no Europeu, as ruas todas fechadas, os adeptos todos na rua na chegada ao Bessa. Foi festa no norte e festa em Lisboa.
Tornou-se benfiquista?
Tem que se aprender a gostar da grandeza daquilo, aprende-se a gostar do Benfica. Sente-se o clube, sente-se o carinho que eles te dão, as pessoas que trabalham lá acabam por ter uma costela das grandes do Benfica, isso é normal.

Alguma vez foi “pressionado” por algum adepto?
Tive uma situação com adeptos do Sporting, quando o Sporting foi jogar ao Estoril. Eu estava a ir de Lisboa para casa, parei na bomba de gasolina na A5, na zona de Oeiras. Fui meter gasolina, estava na fila para pagar e quando vou para sair chegaram adeptos do Sporting em carros e carrinhas que também param na bomba. Fui apertado e fiquei com medo, teve que vir a polícia para me ajudar. 

Queriam agredi-lo?
Não sei se queriam bater, mas começaram às bocas, a apertar e a cantar porque eu era do rival. Tive de ficar lá dentro do balcão até vir a polícia.

Consegui manter-se calmo, não respondeu?
Consegui, mas é natural que com eles com a boca quase encostada à nossa cara...Sabia que se lhes respondesse ainda era pior. Quando entrei no carro as minhas pernas ainda tremiam.

No Benfica foi treinado pelo actual seleccionador nacional, Fernando Santos. Que tal?
Gostei muito, é uma pessoa que gostava de falar, gostava de conversar, gosta de chamar o jogador ao gabinete dele e de ficar ali a conversar, gosta de saber de tudo um pouco.

Alguma vez o chamou?
Chamou várias vezes, gostava de falar com os capitães. De manhã tinha o feitio dele, parecia que estava mal disposto, era o normal dele, mas depois era uma pessoa fantástica em termos de relação com o jogador. E trabalha muito bem.

Volta a apanhar o Camacho, ainda teve o Rui Águas, Shéu, Chalana como treinadores. Chegou uma altura em que começou a acusar algum cansaço do Benfica?
Sim, queria experimentar outro campeonato. Sentia-me um pouco desgastado. Todos os anos acontecia qualquer coisa. Queria outro objectivo e fui falar com o presidente, que já era o Luís Filipe Vieira. Disse-lhe que queria experimentar outro campeonato, queria algo diferente para a minha vida, para continuar a sorrir e a ser alegre no futebol. Ele deixou-me ir para o Colónia.

Já lá vamos à Alemanha. Foram muitos anos de Benfica. Assistiu a muita entrada e saída de jogador, treinadores. Fazendo um balanço, diga-me o melhor e o pior do Benfica nesses sete anos?
Tirando os títulos, foi ver o crescimento do clube. O Benfica agora está muito forte mas quando lá cheguei não era bem assim. Quando vim da Alemanha fui assistir a um jogo ao Estádio da Luz e analisar por fora, ver como aquilo cresceu num espaço de 15 anos… Penso que é mérito do Vieira. Mas os melhores momentos... o relacionamento com várias pessoas, de várias nacionalidades, jogadores, e saber que posso ir aos países desses jogadores que tenho sempre lá um amigo, uma pessoa a quem posso ligar para irmos jantar e recordar os tempos que passámos no Benfica.

Enquanto esteve no Benfica foi aliciado por outros clubes?
Era capaz mas nunca chegou nada em concreto. Fiquei sem empresário, o Veiga vai para director geral do Benfica, e eu fico sem empresário e não chega nada. Se chegou deve ter sido ao Benfica, mas nunca soube de nada. Mas como eu também fazia parte da selecção, se calhar também não havia interesse do clube em vender-me.

A família adaptou-se bem a Lisboa e ao Estoril?
Adaptou. A minha filha saiu de lá com seis anos, tinha entrado para a 1.ª classe e o meu filho andava na pré-primária. Quando fomos para Lisboa conhecemos uns casais fora do futebol, que moravam à nossa beira no Estoril. Hoje sou padrinho de uma miúda de um desses casais. Sempre que vamos a Lisboa estamos com essas pessoas.

Voltemos à selecção. Em 2004 temos o Euro em Portugal. Foi especial?
Acho que só faltou ser campeão para meter a cereja no topo do bolo. De resto foi tudo fantástico, tudo, tudo.

Gostou do Scolari?
Não há palavras.

O que é que gostou mais nele?
A sinceridade, a maneira como se relacionava, se tinha que dar uma “dura”, dava; se tinha que dar liberdade, dava. Ele tanto era o sargentão como era de brincar e das piadas. Era um ser humano que se envolvia muito com os jogadores. Antes de irmos para o Mundial, chamava-nos à federação para saber o que é que se estava a passar, dizia o que queria para a selecção. O relacionamento com os jogadores era muito bom, era forte. Depois, o todo em si, desde os jogadores, aos enfermeiros, roupeiros, tudo, faltou só a cereja no topo do bolo para ser perfeito, porque a nível de público, de estádios, de envolvência, da comunicação, de tudo o que se passou para dentro e para fora, de toda aquela energia foi fantástico. Faltou só ganharmos à Grécia para sermos campeões.

Isso não aconteceu porquê, faltou sorte?
Não sei. Às vezes alguns de nós que estiveram presentes estamos juntos e não conseguimos ainda hoje arranjar uma explicação. Entrámos a perder com a Grécia e saímos a perder com a Grécia. 

Quando lhe aparece a proposta da Alemanha, vem por onde, de que canais?
Estava no Europeu do Suíça-Áustria e já dizia que queria ir embora.

Esse Europeu foi em 2008. Pelo meio ainda há o de 2006.
Sim o da Alemanha, ficamos em 4.º lugar. Tínhamos um grupo fantástico. Apanhei sempre bons grupos na selecção mas esse de 2006 tivemos um pouco de azar na meia-final contra a França em que perdemos 1-0 de penálti. Acredito que se tivéssemos passado essa meia-final, tínhamos sido campeões do mundo. Tínhamos uma energia muito forte e estávamos muito confiantes. Houve uma envolvência muito boa, não só dos jogadores, mas das famílias também. O Scolari tinha essa coisa boa, organizava jantares e as famílias podiam ir visitar os jogadores, e esse envolvência, esse convívio e o facto de muitos de nós já jogarem juntos a alguns anos, tornou tudo mais fácil. Não estávamos mesmo a contar perder com a França.

Por que optou ir para a Alemanha? Não tinha propostas de outros clubes?
Falava-se de outros clubes, de Itália, de França, mas optei por ir para a Alemanha porque era diferente. Nem toda a gente queria ir para a Alemanha, dizia-se que era um campeonato muito de musculado, de muito físico. Depois havia a questão da língua. Escolhi o Colónia porque estava perto do Luxemburgo, onde tinha os meus irmãos, e era muito mais fácil para mim a adaptação. Também lá tinha o meu compadre e mais gente conhecida, por isso a adaptação podia ser melhor.

Quando optou por ir já tinham decidido se ia a família toda?
Os meus filhos e a minha mulher sempre me acompanharam. Quando cheguei, fiquei a viver num hotel. Uma semana depois, a Carla foi lá passar um fim de semana, foi ver uma casa comigo e passada uma semana já lá estava a viver com os miúdos, o Gonçalo com três anos e a Bárbara com seis.

Como é que foi com a língua: aprendeu alemão?
Tinha um tradutor e como lá ele podia andar em todo o lado, podia entrar nos balneários, podia ir para o banco, podia traduzir as instruções quando o treinador principal se levantava para dar instruções, e como andava sempre com ele, não aprendi. A primeira vez que o clube meteu o professor ele não falava nem inglês, nem português, falava em alemão e eu queria perguntar-lhe alguma coisa e não conseguia. Então optei por ficar sempre o Ricardo, o tradutor. Acabei por começar a falar inglês no balneário porque fui capitão e a maioria dos jogadores não era alemã, mas de vários países..

Como foi a adaptação a um futebol mais físico?
Mais físico e mais individual, de homem para homem, em que cada um tem que se responsabilizar porque o sistema táctico é de 4x4x2 e as equipas encaixam uma na outra. É o lateral contra o extremo, o médio contra médio, é mais físico.

O primeiro impacto com os árbitros não correu muito bem, pois não? Foi expulso logo nos primeiros jogos.
Fui expulso num jogo para a Taça em que levei duplo amarelo. Insultei o árbitro em português, eles foram ver no Google translator e levei seis ou sete jogos de suspensão, e 12 ou 13 mil euros de multa. Quando vim embora ainda não tinha cumprido os jogos todos, porque se se é expulso na Taça, só se cumpre os jogos na Taça. Nunca mais joguei na Taça (risos), até regressar, porque éramos sempre afastados na 1.ª ou 2.ª eliminatória.

Como é que foi a adaptação às pessoas, o que é que achou dos alemães?
No início não é fácil, os alemães são desconfiados mas depois de conhecer, de conviver, e estou a falar dos vizinhos, vai-se ganhando a confiança, entra-se no grupo e até deixam as portas abertas, podemos entrar na casa dos vizinhos e eles na nossa à vontade. Só temos é que tirar os sapatos.

Quais as melhores recordações que tem da Alemanha?
Passear com a família. Estamos a quatro horas de Paris, a 10 de Amesterdão. Sempre que havia folgas de dois dias, aproveitávamos, apanhávamos o TGV e íamos passear para a Eurodisney e para muitos lados.

E da comida, gostava ou faziam a vossa comida?
O meu irmão trabalha no Luxemburgo, numa grande cadeia de supermercados e íamos lá buscar ou então pedia a um amigo meu que é de Alvarenga, de Arouca, para me comprar uma vaca. Partia-a aos bocadinhos, comprava vinho e outras coisas, e vinha tudo numa carrinha de Portugal para lá. Comprei um congelador maior e tinha sempre comida portuguesa. Não gostava da comida deles. E eles só fazem uma refeição grande por dia. Ao meio dia têm aquelas sandes com queijo e tomates e depois à noite iam aos restaurantes. Uma coisa estranha que reparei é que eles à noite não levam os filhos para os restaurantes. Eu levava os meus e ficava tudo a olhar para nós.
“O árbitro expulsou-me do banco e disse-lhe: ‘Agora já podes ir para a beira dos teus amigos no café dizer que expulsaste o Petit’

Depois de regressar de Colónia, Petit dedicou-se ao restaurante da família e ao fim de um mês já tinha engordado 10kg. Mas como o bichinho do futebol continuava lá, aceitou ser jogador-treinador no clube onde fez toda a sua formação, o Boavista, embora não quisesse ser treinador, revela. Depois de garantir a manutenção do Tondela e do Moreirense, resolveu parar, está agora a tirar o IV nivel do curso de treinador e anseia pela oportunidade de agarrar numa equipa com ambições europeias.

Na última época como jogador, na Alemanha, tem uma lesão grave.
Sim. Eles queriam que eu ficasse mais uma época, mas tinha uma proposta para ir para o Qatar. No último jogo, como já estávamos safos da descida, eu ia sair aos 80 minutos, para me despedir dos adeptos, para a ovação. Só que, sozinho, rebentei o joelho que já tinha sido operado duas vezes. Saio logo do jogo, vou para uma clínica fazer exames e o doutor disse-me que tinha de ficar parado seis a oito meses. Apesar de ter acabado o contrato, como no Colónia gostavam muito de mim, prolongaram durante mais um ano, mas não fiz nenhum jogo e no último jogo da época, quando descemos com o Bayern de Munique, chamaram os meus filhos, a minha mulher, deram-me um quadro, flores e os adeptos bateram palmas de pé. Isto antes do jogo, passado uma hora e meia invadiram o campo para bater nos jogadores por terem descido de divisão (risos).

Nessa altura pensou que o futebol tinha acabado, certo?
Sim. Tinha 36 anos, tinha tido uma lesão muito grave, já tinha sido operado quando era miúdo na fase de crescimento, tinha sido operado quando ainda estava no Benfica e depois ali. Quando recuperava estava sempre a fazer roturas. Então, decidi terminar e vir embora para Portugal.

Custou quando percebeu que tinha mesmo de pendurar as chuteiras?
Não, porque pensei que ia voltar para Portugal, para a beira da minha família e não me chateava mais. Vim para Portugal, tinha cá o restaurante e fiquei ali. Nos primeiros tempos só ficava no restaurante, vinham os meus amigos e ficávamos a comer e a beber. Passado uns tempos já tinha 10 quilos a mais. Depois, aos poucos, começa aquele bichinho... Começo a sentir a falta do cheirinho da relva e entretanto o Rui Borges, o Rui Couto e o Amândio pedem-me para ir ajudar o Boavista que estava numa fase muito má. Estava na II divisão, não tinha equipa de futebol e o presidente tinha sido eleito há pouco tempo. Começo então a ir para o Boavista para os ajudar, mas depois aquele bichinho levou-me a jogar. Só joguei dois ou três jogos na II B, não dava mais. Depois passei a treinador-jogador.

Já tinha algum nível do curso de treinadores?
Tinha só o nível um pelas internacionalizações. Mas eu não queria ser treinador. Queria trabalhar na formação, queria ficar no Boavista como chefe de futebol juvenil. Nunca pensei em ser treinador, só que eles pediram-me porque não tinham mais ninguém, torno-me treinador-jogador e começo a gostar, começo a aprender algumas coisas.

Nessa altura como é que fazia para gerir o plantel?
Usava a minha experiência como jogador.

Depois foi tirar o 2.º e o 3.º níveis do curso?
Tive que me inscrever, porque passado um ano vamos para a I Liga, o Boavista ganha a causa em tribunal e sobe. Fico como treinador e como só tinha o nível 1, inscrevo-me para o 2.º e 3.º níveis, em Fátima. Agora estou a fazer o 4.º nível.

Esteve dois anos na II divisão e um ano na I e depois vai embora do Boavista. Porquê?
Acho que lidava mal com os ciclos negativos. Pensava que era sempre eu o culpado, que a mensagem não estava a passar e que era mais fácil eu sair do que os jogadores. E também havia um desgaste enorme: meter o clube na I Liga deu muito trabalho, só quem andou lá é que sabe. Quando não estou bem num lugar, sou o primeiro a chegar à beira seja de quem for para agradecer e sair. E foi o que aconteceu: saí do Boavista com 10 pontos em nove jogos.

Antes de avançar mais sobre a sua carreira de treinador, diga-nos o que foi mais difícil enquanto jogador-treinador. Administrar o treino propriamente ou garantir que o respeitavam como treinador? 
O mais difícil foi a teoria da comunicação. Uma coisa é eu estar no balneário com 23 jogadores ao lado a olhar para o treinador. Outra coisa é eu estar a olhar para 24 e eles estarem a olhar para mim, para ver o que é que eu vou dizer. Porque o jogador é inteligente, apanha tudo. E o discurso às vezes não é o melhor, mas vamos evoluindo nisso, ainda hoje não sou um expert no discurso, mas conta muito. O treino em si também não é fácil. Não é chegar ali, fazer uns bonecos e vai fazer isto. Tem que haver uma preparação, saber como é que vamos trabalhar no treino para a nossa ideia de jogo. 

Mas o mais difícil são as palestras?
Sim, o discurso. Mas aprendi. Tínhamos lá (no Boavista) um psicólogo que gravava as conversas, filmava para que eu ver o que tinha dito e a minha postura, para poder melhorar.

A seguir vai para o Tondela. E em Braga é expulso por ter falado com o 4.º árbitro. O que aconteceu? 
Estamos num bom momento e o árbitro expulsa-me por ter perguntado qual era o critério, quando estava um jogador no chão. Estou de mãos nos bolsos, até estão as câmaras de televisão a gravar, ele chama o 4.º árbitro e manda-me expulsar. Quando recebemos o relatório, estava escrito o que eu disse e que estava a gesticular com os braços. Mas estive sempre com as mãos nos bolsos. Levei quatro ou cinco jogos de castigo e não sei quanto de multa. Quando estava a sair, disse-lhe: “Estás contente? Amanhã já podes ir para a beira dos teus amigos para o café, dizer que expulsaste o Petit” (risos). E eles meteram isso no relatório também.

Foi expulso como jogador e como treinador. O que é que custa mais?
Como treinador, porque acho que os jogadores gostam de ter a sua referência, o seu líder no banco. Gostam de sentir que está ali alguém. Não é tirar o mérito ou a qualidade aos nossos adjuntos, mas acho que os jogadores sentem mais. Como jogador, temos um plantel e qualquer jogador te pode substituir.

É esse lado que tem de melhorar, conseguir manter a cabeça mais fria?
Já melhorei. Este ano fui repreendido, mas não fui expulso.

O que é que o tira do sério?
Tenho o sangue quente e estou a viver o jogo como se estivesse lá dentro, sou mais um jogador. Isso também se vai moldando com a experiência que vamos acumulando como treinador. Mas a envolvência do jogo, o ritmo, a competitividade, o resultado, a necessidade de querer ganhar aquele jogo, porque precisas, porque os objectivos passam por ali, levam-nos, às vezes, a não reflectir. Com a experiência já consigo parar 10 segundos, respirar, ir para o banco sem dizer nada. Estou a aprender.  
Enquanto jogador tinha a imagem de ser um jogador muito duro. A alcunha “Pitbull”, que é tido como um cão agressivo, chateava-o?
Não, nós temos que saber lidar com a crítica e com o aplauso.

Com o aplauso é mais difícil?
É porque quando acabamos o futebol, passamos a estranhos. Podemos ter sido grandes jogadores mas passado meia dúzia de anos já não temos o aplauso, o pedido de autógrafo, a fotografia, já passamos um pouco despercebidos, a nossa fase acabou. Agora a crítica a mim obrigava-me a pensar e a dizer: “Vou mostrar-lhes”. E mostrei, consegui sempre ter a carreira que desejei.

Reconhece que às vezes era duro demais ou não?
Nunca lesionei ninguém. Fazia parte da minha posição de jogo.

Nunca foi “mauzinho”?
Não, nunca fui com a intenção de magoar e nunca magoei ninguém. Pelo contrário, eu é que tive várias lesões porque me magoaram. Como sabiam que eu era agressivo com a bola, os jogadores já vinham com outra atitude dividir a bola comigo.

Pode contar como ganhou a alcunha de “Pitbull”?
Foi o António Oliveira, na selecção. Quando fui chamado a primeira vez, estavam alguns jogadores a falar com ele: “Ó mister, como é que ele é a jogar?”. “Deixa-o começar a correr que quando ele começar a correr parece um pitbull” (risos). E Ficou.
Quando conseguiu alcançar a permanência do Tondela foi a Fátima a pé.
Nós entrámos a meio da época, quando já só faltavam nove, dez jogos para acabar. Vivíamos em Tondela, a equipa técnica toda, éramos uns seis, sete e tínhamos dito que se conseguíssemos o objetivo, íamos todos a Fátima.

Mas não correu bem, não foi?
Depois do último jogo, metemos pés ao caminho mas andamos perdidos em Santa Comba Dão numa noite, sem luzes, sem nada. Estivemos 12 horas para andar seis quilómetros. Muitas bolhas e cansaço do jogo, que tinha sido na véspera. Acabámos por fazer por etapas, eu vim embora porque estava cheio de dores nos músculos, cheio de bolhas, tive que vir descansar.

Acabaram ou não por ir a pé de de Tondela a Fátima?
Fomos mas por etapas. No sítio onde ficámos, iam buscar-nos e levavam-nos para casa, porque tínhamos que treinar. Isto já foi no início da época seguinte, porque entretanto fomos de férias. Depois voltávamos ao sítio onde tínhamos ficado e voltávamos a andar a pé uns 20 quilómetros, depois iam-nos buscar e vínhamos outra vez para treinar. Passadas duas semanas íamos outra vez. E foi assim (risos). É que nós não sabíamos que para organizar uma caminhada até Fátima, temos que ter um carro de apoio, temos que saber o caminho.

Tem superstições?
Não.

Nem tinha nenhum ritual antes de entrar em campo?
Nada, nada. Nem hoje tenho, só tenho o cigarro. Mas de resto não tenho nada disso.

Já são vários os clubes aflitos que salva da descida. O que é mais difícil nesse trabalho? É o lado psicológico dos jogadores?
É tudo. Para começar temos que identificar o plantel, a equipa, os jogadores, conhecê-los, perceber se estão num bom momento ou não, tanto do ponto de vista psicológico como na parte anímica. Também depende do que se quer para a equipa, posso ter uma ideia de jogo para a equipa mas não ter jogadores para isso.

Qual é a sua ideia de jogo? Identifica-se com algum treinador, tem alguma referência?
Gosto de uma equipa com intensidade, com bola mas com intensidade de jogo e rápida a chegar à baliza. Um dos treinadores de que gosto muito, mas não me identifico, é o treinador do Liverpool, o Klopp. O futebol é feito de golos, de espectáculo. Mas temos de saber se temos jogadores para isso, qual é o contexto em que estamos inseridos, se entramos a meio, no princípio ou a cinco jogos do fim. Quando vou para salvar, estou em último lugar, só tenho de olhar para cima, tenho que ir à procura de resultados e tu para teres resultados tens que jogar sempre para ganhar, mas sabendo quem é o adversário.

Inicia a época seguinte no Tondela, mas depois sai a meio. Porquê?
Tanto no Boavista como no Tondela, saem muitos jogadores e temos que reformular o plantel todo outra vez. E ia ser difícil. Nós salvamos o Tondela e eu fico sem jogadores, só tinha dois jogadores que eram dois miúdos com contrato, de resto todos os jogadores acabavam o contrato, o Tondela tinha vindo da II para a I Liga e fizeram só contratos de um ano. Nós conseguimos esse feito de garantir a permanência, só que só ficaram quatro ou cinco jogadores, a maior parte foi para outros clubes ganhar mais dinheiro, outros para o estrangeiro. Estar outra vez a passar por esse processo, a reformular, ter que escolher jogadores...Nunca é fácil os jogadores quererem ir para a zona interior do país, porque é um meio diferente.

Estava longe da família nessa altura?
Estava.

Vivia num hotel?
Não, vivia numa casa com a equipa técnica. Só que vinha muito a casa porque o meu filho tinha saído do Boavista, estava no Rio Ave e a escola não estava boa, por isso tive de vir muitas vezes ao Porto para estar com ele. Então nem estava focado no Tondela, nem no meu trabalho e optei por sair.

E vai para o Moreirense. Como é que surge?
É o presidente que me liga. Gostava da minha postura, da minha maneira de ser, dizia que eu era a pessoa indicada para salvar o clube. E foi o que aconteceu. Foi tudo rápido também. Passado uns tempos, tinha salvo o Moreirense e estive ali dois anos seguidos.

Seguidos? Não tem o Paços de Ferreira pelo meio?
Tenho, sim. No Moreirense acabo e saio, o presidente já tinha falado com o Manuel Machado e eu também não estava interessado.

Magoou-o?
Não, porque o Moreirense também estava numa fase em que foi tudo embora. Neste contexto alguns clubes fazem contrato só de um ano e depois a base dos jogadores tem que ser feita outra vez e eu andava à procura de um projecto diferente, que me desse outras garantias pelo trabalho que tinha feito no Tondela, no Boavista e no Moreirense e é quando vou parar ao Paços de Ferreira.

E aí, como é que correu?
No Paços as coisas não estavam mal, nem estavam bem. Eles tinham tido dois treinadores que eram da casa, que viviam lá. As pessoas de lá gostavam de mim, falo e dou-me bem com a direcção, o director é meu amigo há muitos anos e os resultados, uns apareceram, ganhamos logo o primeiro jogo, estávamos acima da linha de água, mas não estavam a ser aquilo que ele esperava. Quando analisei a equipa, depois de estar lá dentro a trabalhar, achei que havia ali coisas que se podiam explorar no mercado de Janeiro. Tinha falado com a direcção, queria três, quatro jogadores porque havia um défice nas alas e nos médios... e não veio nenhum. Já havia alguma contestação dos adeptos e depois perdemos um jogo em Vila do Conde com o Rio Ave e quando chegamos a Paços de Ferreira, os adeptos estavam dentro dos balneários, vieram para cima de mim, puxaram-me e tive ali alguns problemas. A seguir, num jogo com o Portimonense, eles estavam atrás do banco… Senti que já não havia aquele espírito e fui falar com o presidente, disse que era melhor ir embora e fui. Nunca fui despedido de lado nenhum, eu é que tomava a iniciativa, porque sabia que era a melhor solução. 

Mas chegou a vias de facto com algum adepto?
Não. Depois porque a minha equipa técnica segurou-me, mas tivemos ali alguns problemas. Depois de sair, também houve problemas com o director-desportivo: empurraram-o e ele veio embora.

E volta para o Moreirense.
Pedem-me outra vez para ir para o Moreirense para ajudar a salvar e foi o que aconteceu.

Não fica porquê?
Por razões que não quero estar aqui a falar.

Esta pausa em que está agora é opção sua?
Apareceram alguns projectos, mas nada do que quero agora.

O que ambiciona?
Tenho cento e tal jogos na I Liga, quatro projectos em que consegui salvar as equipas. Quando assim é, é sinal que foi preciso jogar para ganhar, que há trabalho feito de qualidade, de campo e de balneário, de liderança. Por isso estou à espera de um projecto em que lute por outros objectivos, que lute pela Liga Europa.

Não quer ficar conhecido como o treinador das subidas?
Não, porque tenho a minha ideia, estou a aperfeiçoá-la e este tempo também dá para analisar tudo aquilo que fiz nos últimos quatro anos. Estou a acabar o curso de treinador que me permite estar mais à vontade, porque nem sequer podia opinar ou ir a uma flash interview e isso não é bom para o treinador.

Os seus filhos estão com que idade agora?
Ela tem 19 e ele 16.

O que é que fazem?
Ela está a estudar turismo na faculdade, fala cinco línguas e o meu filho joga no Boavista e está na escola.

Ele começou a jogar quando?
Na Alemanha, com cinco anos.

Foi muito difícil para eles vir embora da Alemanha?
Foi, choraram, já tinham o grupo deles, mais a Bárbara que já tinha 12 anos. Ainda agora ela vai à Alemanha, a Colónia, ter com as amigas. E se agora tiverem de ir embora daqui também vai ser difícil porque já têm o grupo de amigos, mas eles sabem qual é a profissão do pai.

Se agora for para fora eles vão consigo?
Eles vão sempre, embora ela já esteja na faculdade, já tem os seus amigos, é mais complicado.

Já podia ter ido treinar para fora?
Sim, tive alguns convites de outros países, mas não era aquilo que queria e também opto por não ir por causa do miúdo que tem 16 anos e está numa fase...

É rebelde como foi o pai?
É. Mas é mais de ficar em casa a jogar Playstation online com os amigos. Não é um miúdo de ir jogar futebol para a rua.

Ao longo dos anos, onde é que ganhou mais dinheiro?
Na Alemanha.

Foi investindo onde, no imobiliário, meteu-se em algum negócio?
Em imobiliário, nos restaurantes do meu pai, para a família e os meus irmãos. Não comprei, fiz obras e remodelei. E tenho o meu dinheiro aqui e na Alemanha.

Os carros são uma paixão?
Já tenho o carro dos meus sonhos, o Aston Martin. Já não troco, Vim da Alemanha com um jipe que troquei por uma carrinha para a mulher andar e para a filha, mas o meu já não troco.

Qual a maior amizade que fez no futebol?
Fiz muitas.... posso estar um ano ou meio ano sem falar, mas quando estou junto com eles, parece que foi ontem.

Hoje ainda pratica desporto?
Padbal, com pessoal aqui do norte, ex-jogadores, no verão no parque da cidade e no inverno no campo do Leça."