quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

A que visconde se manda a conta?

"Incrivelmente sozinho está Godinho Lopes, e muito calado no que diz respeito às consequências do fogo posto na Luz...


NO sábado, o Benfica vai voltar a Santa Maria da Feira depois de 22 anos de ausência, tantos quantos o Feirense andou por fora da divisão principal do nosso futebol. O Benfica está num bom momento desportivo. Apesar de o último jogo, com o Gil Vicente, não ter sido nenhum passeio, antes pelo contrário, o Benfica continua na frente do campeonato com dois pontinhos de avanço sobre o grande rival FC Porto.

A discussão está renhida entre os principais candidatos e nenhum deles se pode dar ao luxo de escorregar antes do reencontro entre ambos, desta feita na Luz, na segunda volta da prova.

Se o Benfica está numa boa fase em termos desportivos, o Feirense está numa óptima fase em termos financeiros. Aparentemente, dinheiro é coisa que não faz falta nenhuma em Vila da Feira. E quando assim é, nos clubes, nas instituições ou nas pessoas em alto desafogo, todos podem dar asas às respectivas razões sentimentais.

O presidente do Feirense, Rodrigo Nunes, foi direito ao assunto e explicou que «por razões sentimentais» o jogo de sábado vai realizar-se no Estádio Marcolino de Castro, em Santa Maria da Feira, com capacidade para 5.494 pessoas, e não no Estádio de Aveiro, com capacidade para 30 mil pessoas, onde o Feirense tem vindo a jogar desde que regressou à Liga maior.

Com a troca de palco, o Feirense abdica de 300 mil euros em receita líquida ainda que tenha anunciado que os bilhetes para sábado iam ser «bem mais caros». É a lei da compensação. Querem os fogaceiros ver o Benfica jogar ali pertinho de casa? Nesse caso, desembolsem.

Com o respeito devido ao adversário, para o Benfica não faz grande diferença jogar em Aveiro ou jogar na Feira. Depreende-se que as regras do jogo sejam as mesmas, que o árbitro esteja lá para as aplicar e que o campo tenha relva, marcações, bandeirolas e balizas. E se há quem, por superstição, acredite ser mais fácil ganhar ao Feirense num estádio grande, que se lembre que foi em Aveiro que o Feirense impôs um empate ao campeão FC Porto na primeira volta.

A questão está longe de ser do âmbito desportivo. É exclusivamente do âmbito financeiro. E um presidente que faz vista grossa a uma receita de 300 mil euros merece a admiração geral. Sobretudo nesta altura do campeonato.


A que Visconde é que se vai mandar a conta? - perguntava em voz alta, por um dia destes, um benfiquista ironizado sobre os pergaminhos nobiliárquicos dos fundadores do Sporting em contra-ponto com o amplamente documentado comportamento de alguns delinquentes, menos nobres, que, a coberto da bandeira do Sporting, incendiaram uma bancada no Estádio da Luz no final do último derby da Capital.

O tempo já não é de Viscondes mas dificilmente se acreditará que a maioria dos sócios e adeptos do Sporting Clube de Portugal se revê nestas proezas pirotécnicas das tropas do chamado Botafogo de Telheiras, tal como, em nome do bom senso e do respeito, nenhuma outra massa adepta de qualquer outro clube se revê e compraz, na generalidade, com os delitos mais ou menos espetaculares produzidos pelos seus próprios delinquentes, dando-se o caso de existirem.

Embora os bombeiros não tenham demorado muito tempo a apagar o fogo, o episódio da Luz está longe de chegar ao fim. Estamos chegados à hora de mandar a conta a quem a deve pagar e, talvez por isso mesmo, desapareceram dos palcos, da ribalta e dos galarins todos aqueles dirigentes, assessores e responsáveis do Sporting que na semana que antecedeu o jogo com o Benfica quase se chegaram a confundir nos ânimos e nos propósitos com as claques do seu contentamento.

Como todos estarão recordados, foi intensamente leonina a solidariedade institucional prestada às claques organizadas do Sporting perante o insulto do Benfica ao destinar-lhes assentos numa zona de segurança do estádio.

E no final do jogo, com as labaredas em fundo, Godinho Lopes, o presidente, nunca se sentiu desacompanhado pelos colegas da Direcção, nem quando, num dos momentos mais absurdos deste novo (ou velho, muito velho?) Sporting, anunciou ao país ter na sua posse «gravações» altamente comprometedoras para o bom nome do presidente do Benfica.

Não só desapareceram as ditas gravações como também desapareceram de vista os demais dirigentes e assessores do Sporting e agora, na hora de pagar a conta como aos cavalheiros é devido, está Godinho Lopes sozinho a contas na praça pública com os credores e a contas com os inimputáveis das claques de quem também o presidente andou a fugir na conturbada noite da sua eleição.

Incrivelmente sozinho está Godinho Lopes, e muito calado no que diz respeito às consequências do fogo posto na Luz. E está também Godinho Lopes incrivelmente sozinho, ainda que menos calado, no que diz respeito às minudências do futebol e à gestão interna e externa dos recados públicos vindos do treinador. Na verdade, tudo tem sobrado para o presidente.

De acordo com os regulamentos que regem a organização do futebol profissional no nosso país, é ao Sporting quem cabe pagar a totalidade da despesa das obras no Estádio da Luz. E é à Liga de Clubes quem cabe fazer cumprir o que está regulado.

A Liga tem um novo presidente, Mário Figueiredo, e, em nome da decência e da fé no progresso, há muito boa gente que se recusa a acreditar que o novo presidente da Liga tenha sido eleito só porque prometeu que este ano não ia haver descidas de divisão, como afirmou recentemente o presidente do Gil Vicente.

Também é verdade que se Mário Figueiredo tivesse apenas prometido aos clubes grandes, médios e pequenos que ia fazer cumprir as leis e os regulamentos das competições profissionais era bem capaz de ter tido uma votação fraquinha, muito fraquinha mesmo.

Obras, facturas e descidas. É isto tudo que, pelos tempos mais próximos, nos será dado a ver.


EM Inglaterra é outra louça. O Chelsea, em termos de futebol, não viverá o seu momento mais áureo mas em termos das responsabilidades que cabem a um grande e poderoso emblema, os blues não deixam cair os seus pergaminhos em mãos alheias.

Num dos seus últimos jogos para o campeonato, o Chelsea foi a Norwich empatar 0-0. Pior do que o nulo foi, no entanto, o comportamento de um grupo alargado de adeptos que se portaram como vândalos no decorrer da viagem de comboio que os levou de regresso a Londres.

No dia seguinte, em comunicado, o Chelsea anunciou que está a «colaborar com a polícia» para «identificar e condenar» os responsáveis pelos desacatos. É outra louça, não é?


O Sporting substitui as imagens agressivas com que decorava o corredor de acesso ao balneário dos visitantes por imagens bucólicas de um campo de girassóis numa estética Baby TV.

A estreia da nova decoração não surtiu efeito. Uma equipa de recurso do Moreirense, sem nove dos habituais titulares, por lá passou e por lá empatou. A rapaziada de Moreira de Cónegos entrou e saiu de Alvalade sempre com o mesmo sorriso. E com imensas razões para tal.

A coisa não vai ficar por aqui. Um dia, mais cedo ou mais tarde, quando o Sporting se deixar de anedotas e se voltar a projectar para as prioridades elementares do seu estatuto, sairão da parede os girassóis que, faça-se-lhes justiça, já marcaram de forma indelével esta era directiva tão original em Alvalade.


GRANDE jogo de futebol ontem à noite em Barcelona. De facto deve ser muito difícil arranjar equipas de arbitragem ao mesmo nível da superior qualidade das equipas de futebol em campo.

Talvez por essa razão, ontem o árbitro foi a pior artista em Nou Camp com prejuízos múltiplos para o Real Madrid que, por exemplo, nos últimos cinco minutos do jogo sofreu uma expulsão mais do que discutível e foi impedido de jogar à bola através de um concerto de apito bastante descarado.

Mas o que fez falta ao Real foi ter transformado em golos as oportunidades que construiu na primeira parte. Aquilo com a nosso Rodrigo tinha sido uma goleada."


Leonor Pinhão, in A Bola

Liga inchada?

"O novo presidente da Liga anunciou, no seu programa, a intenção de promover o aumento da I Liga para 18 clubes.

Em Portugal, a regra é sempre mudar a regra. A estabilidade da regra nunca foi uma norma, nem uma prática enraizada na nossa idiossincrasia. É assim nas leis do país, no sistema fiscal, nos currículos educativos, etc. Como diria Lampedusa, é preciso mudar algo para que tudo continue na mesma...

Sempre estive mais inclinado para a diminuição do número de clubes na I Liga do que para o seu aumento. Mas sei que o poder futebolístico não está para aí virado. Assim sendo, podemos vir a ter uma recidiva de inchamento. E com duas aventadas e impensáveis hipóteses.

A primeira é a da desvirtuação absurda das regras com que se iniciou o campeonato. Vai a coisa a meio e, pronto, já está: muda-se. É esta a Liga que uma organização estrangeira até considerou (algo estranhamente) a quarta mais competitiva do planeta? Espero, apesar de tudo, que não se vá por esse caminho, como subentendi de recentes declarações de Mário Figueiredo.

A segunda - se tal anormalidade for aprovada (tudo é possível...) - é poder haver festa na aldeia! Por outras palavras: ninguém desce... assim se consagrando um período de jogos entre solteiros e casados na segunda volta, estimulando certas manipulações e batotas de todo inconcebíveis e deixando certos estádios ainda mais às moscas!

Ao menos que haja uma qualquer poule, antes chamada, em espanholada expressão, de liguilha, por exemplo, entre os últimos dois classificados da primeira e desonrada Liga e os 3.º e 4.º da Liga ainda chamada de Honra..."


Bagão Félix, in A Bola

O contraste

"Diz-se e escreve-se desde há muito até à exaustão que a hegemonia do FC Porto nos últimos quase 30 anos é fruto da excelência da sua 'estrutura', entendendo-se por isto qualquer coisa como organização, disciplina rigorosa, blindagem do balneário e hierarquia centralizada com mão de ferro na presidência. Mas isso foi chão que deu uvas. Agora já não é assim. A tal estrutura que conferia vitória e títulos mudou de epicentro: do Dragão para a Luz. Cito apenas dois exemplos, como pequena amostra, para ilustrar a falência de uma e o emergir da outra: Danilo e Enzo Pérez. O brasileiro foi comprado e pago a peso de ouro no Verão passado e disse-se então que só não veio logo no início da época porque, magnanimamente, o FC Porto autorizou que ele permanecesse no Santos até Janeiro. Como se explica assim que, para o ter em Janeiro, fosse obrigado a ceder à borla ao mesmo Santos, por um ano, o internacional uruguaio Fucile? Que raio de estrutura de bananas é esta?

Ao invés, o argentino, contrariado pela pouca ou nula utilização que Jorge Jesus lhe deu na 1.ª volta do campeonato, foi de férias e 'jurou' não voltar, batendo o pé durante semanas. Perante a posição irredutível do Benfica, personificada no presidente que chamou a si a condução do processo, o jogador meteu o rabo entre as pernas e regressou ao redil, onde está a treinar-se à parte e sob alçada disciplinar, que culminará com pesada multa.

Querem duas atitudes mais emblematicamente contrastantes? Eu não, para tirar as conclusões que se me afiguram mais óbvias. Aliás, poderia recorrer a muito outros casos, todos eles recentes, para chegar à mesma ilação. Ou seja, no reino do Dragão o rei vai nu."


Manuel Martins de Sá, in A Bola

Luz, sombras e moedas

"A passada semana foi marcante para dois atletas de diferentes modalidades. Falo de Pepe e de Nélson Évora. Por diferentes razões.

Pepe - brasileiro da selecção portuguesa - é, indubitavelmente, um jogador acima da média. Mas percebe-se que é também um jogador estruturalmente agressivo que faz do corpo uma arma de arremesso. Não prestigia a profissão pela qual é pago a preço de ouro.

Quem não se lembra da barbárie nas costas de um jogador do Getafe há dois anos? A desculpa esfarrapada (ele que, sem vergonha, disse sempre ter respeitado os colegas de profissão!) sobre a pisadela impiedosa sobre um genial e educado Messi, negando o que as imagens evidenciam, é o II Acto de uma peça cujo III e último Acto deveria ser o seu profiláctico afastamento temporário. Curiosamente foi Pepe que, minutos antes, caiu fulminado simulando uma agressão por um jogador do Barcelona.

Pepe é dos jogadores mais violentos e fingidos que não merece estar num clube de referência como o Real Madrid. Nem na selecção, onde não é exemplo para ninguém. Para mim, e em função do uso excessivo do pé, passou a ser o Pépé! Uma má moeda.

Nélson Évora, ao contrário, é um atleta completo e de eleição. Campeão olímpico, desportista exemplar, homem generoso. O azar que o atingiu irá impedi-lo de defender em Londres o título olímpico. Imagino a dor que sente (que sentimos), mas anima-me o sorriso esperançoso que sempre transporta nos momentos mais difíceis.

Nélson Évora dignifica o desporto. E encoraja os mais jovens a seguir o seu percurso. Nélson Évora é uma luz no meio das sombras. Uma boa moeda."


Bagão Félix, in A Bola

Malmequer

"Mesmo depois do forcing de 20 milhões de euros que no final de agosto compôs o ramalhete, parecia que Domingos Paciência seria o melhor reforço para a época de arranque dos novos dirigentes do Sporting. Um magnífico tirocínio em crescendo, de patamar em patamar, indicava a aptidão para um desafio de máxima grandeza, após ter atingido os limites do Sporting de Braga.
Também os pressupostos publicamente colocados estavam corretos: reconstrução do plantel, ambições comedidas, prazo alargado, tranquilidade ambiental, comunicação positiva. Talvez correto de mais, tratando-se de um clube com o passado do Sporting e uma ansiedade por glória difícil de aquietar, sem resultados nem títulos.
De facto, o fervor clubista rebentou, a ritmo quase semanal, em crises de paixão pelos maus resultados iniciais, pelo bode expiatório dos árbitros, pelas recuperações miraculosas, pela sobreavaliação de alguns jogadores, pela deceção dos primeiros percalços, pelo desencontro das vozes de comando, pelas incongruências técnicas, pelo esvaziamento do sonho. Tudo em seis meses, de picos para abismos, como numa montanha russa a alta velocidade e sem timoneiro.
Um clube como o Sporting, eclético e nobre, não podia colocar-se à mercê dos resultados da equipa de futebol, quando esta não dispõe de condições imediatas para se opor ao poderio dos adversários históricos. Por isso, a abordagem comunicacional devia desprender-se da vertigem do sucesso mirabolante e assentar em racionalidade, sem arrefecer o entusiasmo dos adeptos nem atrapalhar a recuperação paulatina das vendas de lugares e merchandising.
Era um belo desafio, portanto, que obrigava a uma concertação entre os responsáveis do futebol e os da comunicação para que todos os planos não escorressem pelo cano aos primeiros deslizes, a maior parte das vezes de modo comprometedor e prejudicial – como ainda ontem aconteceu com um dos principais patrocinadores, compelido a anular uma operação por causa do “mau momento”.
As dificuldades que o treinador tem evidenciado na discussão dos maus resultados, deslizando sem rede com argumentos mal estruturados e confundindo os alvos, realçam o descontrolo interno. E até o que parecia impensável está a acontecer: Domingos a afundar-se, vítima de impreparação num domínio em que, afinal, também era virgem, pois no Porto a comunicação nunca é livre, muito menos descontrolada, e nos clubes mais pequenos não existe pressão mediática, nem fadistas. Quando lhe falhou a retaguarda foi como se lhe abrisse debaixo dos pés o alçapão que recentemente engolira outros treinadores bem menos capacitados.
O pitoresco episódio do passadiço de Alvalade ilustra estes seis meses de bem-me-quer, malmequer, em que o Sporting insiste em viver, como se a estratégia comunicacional fosse desenhada por crianças: assim como a euforia acéfala das claques rouba a lucidez nos ciclos triunfais, também a contemplação depressiva de um campo de flores motiva pouco ao recobro de uma fase de derrotas. Devia ser ao contrário: para sair do túnel, garra, inteligência e personalidade."


Ameaças e fantasmas

"A notícia vem da tarde de ontem, li-a no Record e, confesso, olhei através dela como de um mau presságio, um sinal assustador para o que espera o futebol português. Dá conta de que um “grupo organizado de adeptos” do Benfica, os Diabos Vermelhos, vai estar ausente da deslocação dos encarnados a Santa Maria da Feira, na próxima jornada. A razão é simples e transparente: o preço dos bilhetes, considerado insensível face ao momento que o país atravessa.
Podem argumentar que é um caso isolado e que, assim, não serve como representativo daquilo que poderia ser tomado como uma deserção entre os mais fiéis. É uma forma de olhar a questão. Mas há outras. Por exemplo, pensar que, por hábito, o Benfica é o clube que mais gente leva com a sua equipa à esmagadora maioria dos estádios portugueses, tantas vezes superando o número de adeptos dos clubes que recebem as partidas. Quando a época corre de feição, a diferença aumenta – e o Benfica está na liderança, em andamento dinâmico e poderoso, ambicioso e com bases para levar aos campos essa ambição. Tal é sinónimo de um apoio presencial que, em múltiplas ocasiões, rende a muita e boa gente a melhor receita de toda uma temporada desportiva.
Mas há limites. Tome-se o exemplo do Feirense como apenas… um exemplo. Alguém quer convencer-me que, com preços como os praticados, os adeptos de FC Porto e Sporting, os outros dois “encarregados” de lotar os estádios, vão manter as suas romarias, pagando o que lhes é pedido por quem não leu a história da galinha dos ovos de ouro? Se temos números crescentes de espectadores “in loco” ao longo desta época, talvez valha a pena fazer um esforço de adaptação aos tempos correntes. Quem não ganha o que já ganhou deve ser chamado a pagar o que nunca pagou? Vem aí um período quente para a renegociação dos direitos de transmissão televisiva. E aí, aqueles que agora puxam a corda, hão-de lançar o laço para ver o que apanham na “solidariedade”. Se juntarmos tudo isto a um projeto populista e inconsequente que, pelos vistos, nasce na Liga, apetece dizer que o futebol português está mesmo ameaçado. E, como de costume, nem é preciso o inimigo externo – vem de dentro.
Mais do que ameaças, o Sporting vive com fantasmas. Quem viu o jogo de Olhão percebeu como a bola queima, como os assobios doem, como as botas pesam. Domingos tem tarefa de peso e tem cada vez menos tempo. Precisa de virar o rumo antes de jogar a hipótese de um troféu que lhe salve a época. Mas tem de ser já – este Sporting não ganha ao Gil Vicente (Taça da Liga) nem ao Nacional (Taça de Portugal). Não ganha a ninguém. E isso ninguém aguenta: nem os adeptos, nem os adversários, nem o futebol português a que o leão faz muita falta."


Slides de meia-tijela

"O Palhaço abriu a boca e babou-se, como costumava fazer sempre. Mirou as paredes coloridas como se observasse com atenção a fachada de um palácio à moda do bovino que de facto é. Viu barrigas proeminentes multiplicarem-se em seu redor, com os seus proprietários exibindo orgulhosamente umbigos e pêlos repelentes. Um desses animais, tatuado por todo o peito descaído, ensaiava a saudação nazi. Mais por vicio do que por outra coisa qualquer, o Palhaço esticou o braço e respondeu à saudação. Depois olhou em redor, meio envergonhado, continuando a babar-se. Não tinha vergonha da saudação, todos sabiam das suas simpatias por qualquer tipo de fascismo, mas não queria ser apanhado ali, sozinho, em troca de simpatias com um matulão presumivelmente mal-cheiroso, logo ele que era tão namoradeiro, benza-o Deus.

Os rapazolas multiplicavam-se pelas paredes, de um lado e do outro. Semi-nús, simiescos, esgares broncos, um sem fim de mamilos e sovacos, bocas abertas soletrando palavrões, olhos esbugalhados, sanguínolentos, exprimindo o esforço titânico do cérebro na busca de mais insultos. O Palhaço estava agradado com tamanha porcaria mas, no fundo, ia crescendo em si um desprezo intenso por aquilo que ele considerava uma brincadeira de meninos de colo. Tanta ameaça, tanta ira, tanta cara feia e punhos fechados para quê? Toda a gente sabe que fotografias não fazem mal a uma mosca, riu-se o Palhaço para dentro. Cá comigo não há brincadeiras nos túneis! Ou os encho com criolina e mando atacar o guarda Abelha; ou atiço-lhes com o Incrível Shreck e com o outro paspalho que não sabe estar calado. Não anda cá a ameaçar pontapés na tromba e murros no nariz com slides de meia-tijela. E muito satisfeito consigo próprio, o Palhaço foi à sua vida insalubre, não sem antes ter voltado a esticar o braço, respondendo à saudação nazi do biltre que estava à sua frente, imóvel, na parede."


Afonso de Melo, in O Benfica

Objectivamente (Osgas)

"Luís Duque teve a tirada da semana quando afirmou que o «Sporting estava a tentar aproximar-se dos grandes do Futebol português» e que, no fundo, não era obrigado a ser campeão logo no primeiro ano da «revolução». Em resumo, era isto que queria dizer o vice-presidente do Sporting, contrariando as arrojadas afirmações do presidente Godinho que, com a arrogância que se lhe conhece, não parou de lançar provocações, sobretudo ao Benfica, e que culminou com aquilo que se viu no Estádio da Luz após a derrota leonina para a Liga.

Mesmo assim, Godinho ainda veio «dar chá» depois do jogo, com os seus amigos do FC Porto, dando exemplos de bem receber, como se alguém do Benfica precisasse desses recados dos fidalgos falidos, ou os tivesse recebido mal, mesmo sabendo das provocações e desfeitas ouvidas na semana que antecedeu o jogo da Luz entre os dois velhos rivais!

Paga-se sempre pela língua de palmo!

A publicidade enganosa que desde Agosto anda a ser lançada nos Media e que tem entretido os adeptos sportinguistas está aí desmascarada com a verdade dos números: estão piores que na época passada e gastaram à volta de 23 milhões de euros em compras... para nada!

Não me esqueço quando se queixavam do Benfica por gastar muito dinheiro em compras ternado a Liga 'sem verdade desportiva'! Diziam que os clubes não deveriam investir em contratações quando a crise é tão forte! Pois. O problema é que uns investem para ganhar e valorizar os activos e outros investem sem critério 'enterrando-se' cada vez mais!

É bom que peçam contas a quem de direito. E, já agora, que mostrem os resultados da tal auditoria que Godinho prometeu na campanha eleitoral para que TODOS possam ver o que fizeram nos últimos anos por Alvalade. E não são só os sportinguistas que precisam de saber isso. Diz respeito ao Futebol português e a quem defende seriedade no Desporto."


João Diogo, in O Benfica

O Folclore de Alvalade

"Cadeiras arrancadas, incêndios em estádios, ameaças a árbitros no intervalo dos jogos, e a treinadores no fim dos mesmos, imagens odiosas e violentas nos balneários. Ao 'novo' Sporting, cosmeticamente refundado, apenas têm faltado... resultados.

Na verdade, se Godinho Lopes até parece um gentleman, na sua equipa directiva subsistem verdadeiros 'senhores', cujo alinhamento (subserviência?) com a principal claque não tem paralelo na vida quotidiana de mais nenhum clube português. A juntar a isto, vemos agora um treinador da velha escola portista, habituado a truques subterrâneos, como ficou bem patente na sua passagem por Braga.

Se, com as fotos colocadas no túnel, a ideia era impressionar os jogadores contrários, creio que recordar os triunfos (embora necessariamente já longínquos) do Sporting, lembrar Peyroteo, Travassos, Yazalde, e, porque não, Carlos Lopes ou Joaquim Agostinho, faria bastante mais efeito. Esse Sporting, sim, ainda assustava muita gente. Delinquentes da 'Juve Leo', com suásticas tatuadas, caras tapadas e mãos estendidas, não assustam. Repugnam.

Estes episódios - como, noutro plano, a ridícula pintura do relvado - definem o insanável conflito entre aquilo que o Sporting quer parecer (um clube grande, distinto e respeitador), e aquilo que verdadeiramente é (uma entidade amesquinhada, sem norte, submersa em conflitos existenciais, e moralmente vendida aos seus ultras).

Até porque, como lembro acima, os resultados não ajudam. Diria mesmo que 'o Sporting está de volta!' pois, à excepção da Taça de Portugal, que lhe caiu de borla nas mãos (e que, mesmo assim, hesita em agarrar), a época não promete nada de especial em relação ao seu passado recente.

Desde 6 de Novembro de 2011, apenas ganhou um jogo do Campeonato; está afastado do título pelo décimo Natal consecutivo; e termina a primeira volta em quarto lugar, exactamente com os mesmos pontos que tinha em 2010/2011. Como acontece com o relvado, a diferença está na máscara - agora bastante mais folclórica."


Luís Fialho, in O Benfica

Velocidade

Benfica 12 - 2 Paço de Arcos


Goleada a grande velocidade, mas voltámos a conceder muito espaço ao adversário, que obrigou o Ricardo Silva a muito trabalho...!!!

Tu és um dos meus ídolos!

"No domingo, em Viseu, depois do almoço no sempre recomendado Cortiço, o Senhor meu Pai - infelizmente cada vez mais debilitado e sem audição - dizia-me: «Eusébio vai fazer anos. Diz-lhe que se aguente!» Aqui estou a repetir-te, meu Bom Amigo, o pedido do Senhor meu Pai. Com ele na televisão a preto e branco, vibrei com os teus golos. Emocionei-me com as tuas dores. Entusiasmei-me com a tua Fé. Acompanho-te neste comum fervor benfiquista. Menino da Luz, com a farda castanha que nos identifica com toda a honra, vi-te tantas e tantas vezes no velho estádio - no terceiro anel ou no peão aplaudi-te, rejubilei com as tuas jogadas e com os teus golos. Recordo muitos dos que marcaste. E, menino de Viseu, tive o privilégio de te conhecer, de ser teu Amigo, de te acompanhar em viagens, de escutar histórias que nunca esquecerei, de sofrer com os teus problemas de saúde. Tu és um dos meus ídolos. Aprendi com o Senhor meu Pai e admirar-te. Ensinei o meu Filho a reconhecer a tua ímpar capacidade e exemplar dedicação ao futebol. E transmitirei aos meus netos o teu querer, a tua vontade de vencer. Neste dia digo-te: Aguenta-te! Todos queremos sentir a tua amizade por muitos anos. E quero que o teu neto, o Luís Pedro, continue a marcar golos. Com o amor da Sandra, a alegria da Carla e o entusiasmo dos Avós! E, quero continuar a escutar, em particular, o teu relato vaidoso pelos golos que ele, o teu neto, já marca! Parabéns Senhor Eusébio da Silva Ferreira. Um abraço amigo."


Fernando Seara, in A Bola

Os 'royalties' de Eusébio

"A nossa diferença de idades é de pouco mais de seis anos. Por isso, tive o privilégio de, na adolescência, ter sempre visto jogar Eusébio. Faz, assim, parte do meu reduto memorial. Daquele que a erosão do tempo não apaga, antes selecciona.

Já tudo foi dito e escrito sobre Eusébio. Aos 70 anos, continua a ser um ídolo e uma referência. Porque a etiqueta da idade só se aplica às pessoas vulgares. Por vezes, imagino um Eusébio a jogar no século XXI. Não que o verdadeiro Eusébio tivesse sido jogador no tempo errado, mas para sublinhar a intemporalidade da sua magia e a universalidade do seu talento.

O Benfica tinha 37 anos quando Eusébio nasceu em Moçambique e 57 anos quando se estreou no clube. Não é possível calcular quantos benfiquistas (ou simplesmente amantes do futebol) há hoje por causa dele. Mas, certamente, muitos... Eusébio, porque 'rei' com direitos de autor e de patente indeléveis, deveria ter direito a 'royalties' por tal contributo que perdura para além de qualquer idade.

«Conta a tua idade pelo número de amigos e não pelo número de anos» disse um outro ídolo do seu tempo de jogador, o Beatle John Lennon. Eis uma boa síntese da riqueza do genial Eusébio. Os seus verdadeiros, imateriais e compensadores 'royalties'!"


Bagão Félix, in A Bola

A primeira lenda planetária

"A 25 de Janeiro de 1942 nasceu aquele que foi a primeira lenda planetária do futebol mundial.

Porquê?

Por várias razões. Primeiro porque os míticos jogadores que o antecederam como Pelé, Garrincha, Pukas ou Di Stefano não viveram o tempo da televisão. Depois porque foi um jogador assombroso. Eusébio apenas disputou um Mundial onde foi o melhor marcador e o melhor jogador. Imaginem que o menino tinha tido a possibilidade, como fazem todos os astros, de jogar 2 ou 3 mundiais e 2 ou três europeus?

Quando a FIFA recentemente elegeu os 10 melhores jogadores dos 100 anos do futebol mundial. Lá estava Eusébio, o único que só disputou uma grande competição de selecções, daquelas que definem muito estas classificações.

Todos os outros grandes mitos, tiveram em vários palcos e por diversas ocasiões de Pelé a Cruyff, de Beckenbauer a Maradona, de Van Basten a Platini. Todos repetiram grandes provas, com uma excepção Eusébio da Silva Ferreira.

Eusébio é grande porque foi enorme. Ainda hoje o meu pai, também nascido em Janeiro de 42, para me arreliar, diz que é de um Benfica de Eusébio e Coluna enquanto eu apenas nasci em 1969. Ainda não sei se perdoo aos meus pais não ter nascido mais cedo só para ver Eusébio jogar!!!"



Sílvio Cervan, in A Bola

Alguns devaneios pessoais

"Todas as segundas-feiras procuro saber o resultado da Juventus. Sou do Benfica e não me divido em afectos infantis por clubes estrangeiros, embora estime o Real Madrid. Em 1971, levaram-me a visitar o Santiago Bernabéu e foi grande emoção poder tocar nas seis Taças dos Campeões perfiladas na sala de troféus. O meu pai disse-me: «Falta-lhes ali uma.» Faltava aquela que o Benfica lhes tinha conquistado. Fique esclarecido que se estimo o Real Madrid não se deve a Di Stefano ou a Fábio Coentrão. É por causa do Benfica e de Eusébio.

Com a Juventus é ainda mais antigo o sentimento. Vem desde 1968, de um jogo que não vi mas que me contaram. Para a Taça dos Campeões, o Benfica jogou em Turim num terreno hostil empapado por uma chuvada torrencial. Estaria mesmo a chover? Não interessa. No futebol, tal como no cinema, a chuva acrescenta um importante elemento dramático. E, sem tempestade, sem terreno empapado, sem a bola pesada, não se explicaria a sublime rendição do público da casa no momento em que Eusébio disparou um tiro a 40 metros do alvo e fez entrar a bola (de canhão) na baliza italiana. Contaram-me que o estádio o aplaudiu de pé. Sou um bocadinho da Juventus por causa de Eusébio. E é com alegria benfiquista que vejo a Juve na frente do campeonato italiano."



Leonor Pinhão, in A Bola