quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

A que visconde se manda a conta?

"Incrivelmente sozinho está Godinho Lopes, e muito calado no que diz respeito às consequências do fogo posto na Luz...


NO sábado, o Benfica vai voltar a Santa Maria da Feira depois de 22 anos de ausência, tantos quantos o Feirense andou por fora da divisão principal do nosso futebol. O Benfica está num bom momento desportivo. Apesar de o último jogo, com o Gil Vicente, não ter sido nenhum passeio, antes pelo contrário, o Benfica continua na frente do campeonato com dois pontinhos de avanço sobre o grande rival FC Porto.

A discussão está renhida entre os principais candidatos e nenhum deles se pode dar ao luxo de escorregar antes do reencontro entre ambos, desta feita na Luz, na segunda volta da prova.

Se o Benfica está numa boa fase em termos desportivos, o Feirense está numa óptima fase em termos financeiros. Aparentemente, dinheiro é coisa que não faz falta nenhuma em Vila da Feira. E quando assim é, nos clubes, nas instituições ou nas pessoas em alto desafogo, todos podem dar asas às respectivas razões sentimentais.

O presidente do Feirense, Rodrigo Nunes, foi direito ao assunto e explicou que «por razões sentimentais» o jogo de sábado vai realizar-se no Estádio Marcolino de Castro, em Santa Maria da Feira, com capacidade para 5.494 pessoas, e não no Estádio de Aveiro, com capacidade para 30 mil pessoas, onde o Feirense tem vindo a jogar desde que regressou à Liga maior.

Com a troca de palco, o Feirense abdica de 300 mil euros em receita líquida ainda que tenha anunciado que os bilhetes para sábado iam ser «bem mais caros». É a lei da compensação. Querem os fogaceiros ver o Benfica jogar ali pertinho de casa? Nesse caso, desembolsem.

Com o respeito devido ao adversário, para o Benfica não faz grande diferença jogar em Aveiro ou jogar na Feira. Depreende-se que as regras do jogo sejam as mesmas, que o árbitro esteja lá para as aplicar e que o campo tenha relva, marcações, bandeirolas e balizas. E se há quem, por superstição, acredite ser mais fácil ganhar ao Feirense num estádio grande, que se lembre que foi em Aveiro que o Feirense impôs um empate ao campeão FC Porto na primeira volta.

A questão está longe de ser do âmbito desportivo. É exclusivamente do âmbito financeiro. E um presidente que faz vista grossa a uma receita de 300 mil euros merece a admiração geral. Sobretudo nesta altura do campeonato.


A que Visconde é que se vai mandar a conta? - perguntava em voz alta, por um dia destes, um benfiquista ironizado sobre os pergaminhos nobiliárquicos dos fundadores do Sporting em contra-ponto com o amplamente documentado comportamento de alguns delinquentes, menos nobres, que, a coberto da bandeira do Sporting, incendiaram uma bancada no Estádio da Luz no final do último derby da Capital.

O tempo já não é de Viscondes mas dificilmente se acreditará que a maioria dos sócios e adeptos do Sporting Clube de Portugal se revê nestas proezas pirotécnicas das tropas do chamado Botafogo de Telheiras, tal como, em nome do bom senso e do respeito, nenhuma outra massa adepta de qualquer outro clube se revê e compraz, na generalidade, com os delitos mais ou menos espetaculares produzidos pelos seus próprios delinquentes, dando-se o caso de existirem.

Embora os bombeiros não tenham demorado muito tempo a apagar o fogo, o episódio da Luz está longe de chegar ao fim. Estamos chegados à hora de mandar a conta a quem a deve pagar e, talvez por isso mesmo, desapareceram dos palcos, da ribalta e dos galarins todos aqueles dirigentes, assessores e responsáveis do Sporting que na semana que antecedeu o jogo com o Benfica quase se chegaram a confundir nos ânimos e nos propósitos com as claques do seu contentamento.

Como todos estarão recordados, foi intensamente leonina a solidariedade institucional prestada às claques organizadas do Sporting perante o insulto do Benfica ao destinar-lhes assentos numa zona de segurança do estádio.

E no final do jogo, com as labaredas em fundo, Godinho Lopes, o presidente, nunca se sentiu desacompanhado pelos colegas da Direcção, nem quando, num dos momentos mais absurdos deste novo (ou velho, muito velho?) Sporting, anunciou ao país ter na sua posse «gravações» altamente comprometedoras para o bom nome do presidente do Benfica.

Não só desapareceram as ditas gravações como também desapareceram de vista os demais dirigentes e assessores do Sporting e agora, na hora de pagar a conta como aos cavalheiros é devido, está Godinho Lopes sozinho a contas na praça pública com os credores e a contas com os inimputáveis das claques de quem também o presidente andou a fugir na conturbada noite da sua eleição.

Incrivelmente sozinho está Godinho Lopes, e muito calado no que diz respeito às consequências do fogo posto na Luz. E está também Godinho Lopes incrivelmente sozinho, ainda que menos calado, no que diz respeito às minudências do futebol e à gestão interna e externa dos recados públicos vindos do treinador. Na verdade, tudo tem sobrado para o presidente.

De acordo com os regulamentos que regem a organização do futebol profissional no nosso país, é ao Sporting quem cabe pagar a totalidade da despesa das obras no Estádio da Luz. E é à Liga de Clubes quem cabe fazer cumprir o que está regulado.

A Liga tem um novo presidente, Mário Figueiredo, e, em nome da decência e da fé no progresso, há muito boa gente que se recusa a acreditar que o novo presidente da Liga tenha sido eleito só porque prometeu que este ano não ia haver descidas de divisão, como afirmou recentemente o presidente do Gil Vicente.

Também é verdade que se Mário Figueiredo tivesse apenas prometido aos clubes grandes, médios e pequenos que ia fazer cumprir as leis e os regulamentos das competições profissionais era bem capaz de ter tido uma votação fraquinha, muito fraquinha mesmo.

Obras, facturas e descidas. É isto tudo que, pelos tempos mais próximos, nos será dado a ver.


EM Inglaterra é outra louça. O Chelsea, em termos de futebol, não viverá o seu momento mais áureo mas em termos das responsabilidades que cabem a um grande e poderoso emblema, os blues não deixam cair os seus pergaminhos em mãos alheias.

Num dos seus últimos jogos para o campeonato, o Chelsea foi a Norwich empatar 0-0. Pior do que o nulo foi, no entanto, o comportamento de um grupo alargado de adeptos que se portaram como vândalos no decorrer da viagem de comboio que os levou de regresso a Londres.

No dia seguinte, em comunicado, o Chelsea anunciou que está a «colaborar com a polícia» para «identificar e condenar» os responsáveis pelos desacatos. É outra louça, não é?


O Sporting substitui as imagens agressivas com que decorava o corredor de acesso ao balneário dos visitantes por imagens bucólicas de um campo de girassóis numa estética Baby TV.

A estreia da nova decoração não surtiu efeito. Uma equipa de recurso do Moreirense, sem nove dos habituais titulares, por lá passou e por lá empatou. A rapaziada de Moreira de Cónegos entrou e saiu de Alvalade sempre com o mesmo sorriso. E com imensas razões para tal.

A coisa não vai ficar por aqui. Um dia, mais cedo ou mais tarde, quando o Sporting se deixar de anedotas e se voltar a projectar para as prioridades elementares do seu estatuto, sairão da parede os girassóis que, faça-se-lhes justiça, já marcaram de forma indelével esta era directiva tão original em Alvalade.


GRANDE jogo de futebol ontem à noite em Barcelona. De facto deve ser muito difícil arranjar equipas de arbitragem ao mesmo nível da superior qualidade das equipas de futebol em campo.

Talvez por essa razão, ontem o árbitro foi a pior artista em Nou Camp com prejuízos múltiplos para o Real Madrid que, por exemplo, nos últimos cinco minutos do jogo sofreu uma expulsão mais do que discutível e foi impedido de jogar à bola através de um concerto de apito bastante descarado.

Mas o que fez falta ao Real foi ter transformado em golos as oportunidades que construiu na primeira parte. Aquilo com a nosso Rodrigo tinha sido uma goleada."


Leonor Pinhão, in A Bola

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