quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

O contraste

"Diz-se e escreve-se desde há muito até à exaustão que a hegemonia do FC Porto nos últimos quase 30 anos é fruto da excelência da sua 'estrutura', entendendo-se por isto qualquer coisa como organização, disciplina rigorosa, blindagem do balneário e hierarquia centralizada com mão de ferro na presidência. Mas isso foi chão que deu uvas. Agora já não é assim. A tal estrutura que conferia vitória e títulos mudou de epicentro: do Dragão para a Luz. Cito apenas dois exemplos, como pequena amostra, para ilustrar a falência de uma e o emergir da outra: Danilo e Enzo Pérez. O brasileiro foi comprado e pago a peso de ouro no Verão passado e disse-se então que só não veio logo no início da época porque, magnanimamente, o FC Porto autorizou que ele permanecesse no Santos até Janeiro. Como se explica assim que, para o ter em Janeiro, fosse obrigado a ceder à borla ao mesmo Santos, por um ano, o internacional uruguaio Fucile? Que raio de estrutura de bananas é esta?

Ao invés, o argentino, contrariado pela pouca ou nula utilização que Jorge Jesus lhe deu na 1.ª volta do campeonato, foi de férias e 'jurou' não voltar, batendo o pé durante semanas. Perante a posição irredutível do Benfica, personificada no presidente que chamou a si a condução do processo, o jogador meteu o rabo entre as pernas e regressou ao redil, onde está a treinar-se à parte e sob alçada disciplinar, que culminará com pesada multa.

Querem duas atitudes mais emblematicamente contrastantes? Eu não, para tirar as conclusões que se me afiguram mais óbvias. Aliás, poderia recorrer a muito outros casos, todos eles recentes, para chegar à mesma ilação. Ou seja, no reino do Dragão o rei vai nu."


Manuel Martins de Sá, in A Bola

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