sábado, 18 de maio de 2024

Vermelhão: Férias finalmente!

Rio Ave 1 - 1 Benfica


Fim de época, com mais um jogo, onde desperdiçamos muitas oportunidades para construir uma vantagem larga, e depois, sem fazer nada para o merecer, o adversário num lance fortuito, acaba por empatar!

O Rio Ave na 2.ª volta, só tem uma derrota, hoje também fez algumas alterações, mas em condições normais, o Benfica teria ganho por goleada!


Com as alterações, a equipa ficou mais sólida defensivamente, faltou alguma imprevisibilidade nos dribles no último terço, mas jogámos quase sempre ao primeiro ou segundo toque, com boas movimentações sem bola, com muitas bolas nas costas da linha defensiva adversária, com o Neves a aparecer muitas vezes na área... algo só possível, com a equipa mais coletiva, no momento da recuperação!

O Casper dá-nos profundidade, fez a assistência para o golo, mas voltou a desperdiçar muitos golos... O Kokçu com um golo, e muita qualidade na leitura de jogo! Morato, muito bem nos duelos, a impor o físico... Carreras claramente em fase de aprendizagem, bem! Primeira titularidade do Rollheiser, demonstrando qualidade no passe e na leitura de jogo, e agressividade defensiva, mas para Extremo do Benfica, falta-lhe alguma velocidade, agora pode fazer a posição do João Mário, como 'falso' Ala!

Inacreditável como o VAR ficou calado na cotovelada ao Tengstedt... Penalty claro que ficou por marcar! O Patrick William devia ter sido expulso, com um 2.º Amarelo. E ainda levámos com mais uma rábula nos descontos: a intervenção do VAR e as celebrações do golo do Rio Ave, ocuparam praticamente 6 minutos, os mesmos 6 minutos que o árbitro deu sem Var nem golo, sem que tivesse sido adicionada 1 único minuto, ridículo!!!

Na próxima semana, esperamos a análise da Direção, e a decisão inequívoca em relação ao treinador! Repito, pessoalmente, acho demasiado arriscado manter o Schmidt. Iremos começar a época, sem qualquer margem de erro. Hoje, mais uma vez, no final da partida, os filhos da puta das tochas voltaram a atacar, desta vez junto do autocarro da equipa! Os ataques ao Schmidt começaram na pré-época nas televisões, os benfiquistas mantiveram-se com o treinador até à derrota com o Salzburgo na Luz, mas lentamente a partir daqui, a relação foi-se tornando cada vez mais insustentável, sem que nenhuma defesa tivesse sido feita do treinador... O problema é que se vier outro treinador, nada impede que aconteça o mesmo! O Benfica vende, e falar mal do Benfica ainda vende mais! Esta é a actual dinâmica do ciclos de notícias.... e dos supostos programas desportivos diários, nas televisões portuguesas! Se a comunicação do Benfica não perceber isto, nunca teremos um treinador mais do que duas épocas nas próximas décadas...

Agora a mudar, tem que ser para melhor, e o Mercado de treinadores é algo que não domínio (não sei quem está disponível e é acessível para o Benfica)! A ficar o Roger, muita coisa tem que mudar: a começar pela gestão das 'estrelas', a titularidade 'a 100%' do Di Maria foi absurda! A presença do Tino (ou de alguém parecido...) é fundamental no equilíbrio da equipa... Temos que jogar com um goleador a ponta-de-lança, a rotação dos avançados deste ano, foi péssima... E a jogar duas vezes por semana, durante a maior parte da época, o 11 tem que rodar!

Do lado da Direção, é obrigatório não falhar nas contratações: Dois Laterais obrigatórios (partindo do principio que o Carreras fica, senão são 3!!!); Confio no Marcos Leonardo, mas se o Mercado o permitir, 'trocava' o Cabral por outro avançado! Se o Di Maria ficar, e com o regresso do Schelldyrup, ficamos com os médios ofensivos 'fechados' (com uma boa proposta vendia o Tiago Gouveia - a notícia é de hoje -, pois com Aursnes, Kokçu, Neres, Angel, Shell, Prestianni, Rollheiser, são jogadores a mais...). A outra variável, são as Vendas, e entre o António e o Neves, é 'quase' obrigatório vender um, para equilibrar as Contas (algo fundamental para manter o Clube competitivo, ao contrário do que alguns pensam...). Suspeito que a Direção esteja inclinada a vender o António, porque teoricamente será mais fácil de substituir, e pessoalmente concordo. Tenho confiança na dupla Tomás Aráujo/Morato para o futuro próximo...

O 'salto' do Aursnes para e meio-campo, é fundamental para uma receita de sucesso, com o Roger. Mas para a posição da época do título, como falso Ala, não como Médio Centro. Poderá ser um substituto à dupla do Centro, mas onde o Aursnes faz a diferença é na Ala, principal no equilíbrio defensivo, na pressão alta... O João Mário tem um salário alto, mas eu até o mantinha no plantel, se fosse somente uma 2.ª opção, sendo titular, só nos jogos mais fáceis na Luz... Se o João sair, mesmo com o Neves a ficar, e com a contratação do Leandro Barreiro, será necessário outro jogador... Emprestava o Samu, e ficava com com o André Gomes, como 2.º guarda-redes! Na questão dos Centrais, dava a titularidade aos mais novos: Aráujo/Morato, ficava com o Otamendi para a rotação, até porque o Tomás, tem alguma tendência para pequenas lesões. A questão do 4.º Central no plantel é complicada, muito sinceramente acho que o Gustavo e o Bajrami, da equipa B, são curtos... agora na 1.ª Liga, existem alguns Centrais de qualidade: o Gabriel Pereira do Gil Vicente, por exemplo, seria uma aposta de custo baixo, que garantia alguma qualidade, uma contratação estilo Jardel!

As alterações, são poucas, não é necessário uma revolução. O treinador tendo cometendo erros, também já ganhou um Campeonato, portanto não será assim tão incompetente! Mas o plantel não pode ter 'buracos' como teve este ano! O treinador tem um estilo de jogo, e o plantel tem que refletir isso... Se mudarmos de treinador, as necessidades serão outras!

Nuno Félix, Pedro Santos, e João Rego devem fazer a pré-época, o Spencer tem que fazer mais uma época na B, o próprio Rego provavelmente acabará na B também. Só o André Gomes deverá subir definitivamente.

Nas questões extra jogo, já perdi as esperanças, não me parece que a Direção seja capaz de alterar o peso do Benfica nas instituições do Tugão! As arbitragens vão continuar iguais, o CD vai continuar a ser o mesmo, as eleições na FPF e na Liga nada vão alterar! E por tudo isso, o Benfica para ganhar, tem que ser perfeito, temos que jogar para golear em todos os jogos... E com um calendário super-carregado, com mais jogos na fase de grupos da Champions, com um Campeonato do Mundo de Clubes no final da época, temos mesmo que ter duas equipas no plantel, com um treinador consciente desse problema...


Em relação às recentes notícias, sobre mais um Processo reciclado, pelo MP, tenho algumas coisas a dizer:
Tenho pena, que após várias de anos, de notícias e notícias de Processos contra o Benfica, sem qualquer consequência por falta de fundamentos, os Benfiquistas continuam a alimentar jornais e televisões, com esta conversa! Sendo que após o 'despedimento' do Marques nos Corruptos, agora, nem foi preciso o PorcoCanal: os próprios Benfiquistas alegremente, como idiotas úteis, resolveram empolar o pseudo-Caso!!! Eu sei que muitos destes Benfiquistas já estão em pré-campanha eleitoral, e que este tipo de notícias sobre o Rui Costa, são convenientes para os seus objetivos pessoais, mas continuam a não perceber que este tipo de campanhas são 'cegas' e se hoje são contra o Rui Costa, amanhã podem ser contra qualquer um de nós...
O MP é talvez neste momento a instituição mais descredibilizada da Justiça portuguesa. Os recentes Casos envolvendo Políticos foram/são vergonhosos. Estou à vontade para falar, porque nunca votei nos 'acusados', e até desgosto da maioria... Mas, este modelo de Fugas de Informação, sobre informações de Inquéritos, com base em suspeitas e deduções, sem qualquer prova substancial, que deveriam estar em Segredo de Justiça, é Criminoso! Os responsáveis por estas Fugas de Informação, por parte do MP, deviam ser Presos! Sim, presos! Isto é demasiado grave, estamos a difamar e caluniar pessoas e instituições, usando as estratégias da Justiça Popular, autênticos Linchamentos na praça pública, sem que os acusados se possam defender... Simplesmente vergonhoso...
Sobre este Caso, em particular, durante anos, tentaram 'vender' a ideia, que o Benfica tinha um esquema para 'controlar' os nossos adversários, emprestando-lhe jogadores, ou comprando jogadores 'maus', e em compensação estes adversários nos facilitariam nos confrontos diretos!!! Só mesmo alguém muito ignorante ou anti-Benfiquistas pode pensar que o V. Setúbal andou a facilitar jogos contra o Benfica!!!
Sem novas diligências, aproveitando o actual momento de divisão interna no Benfica, no final duma época, onde a equipa de Futebol não cumpriu os seus objetivos, o MP e sua rede de desinformação resolveu mudar a narrativa, agora o objetivo dos nossos Administradores, era o desviar dinheiro do Benfica, para os seus bolsos!!! Repito, sem qualquer prova... Existe uma diferença gigante, entre fazer um mau negócio, e entre ser ladrão!!! Todos os Clubes compram 'palha', todos os Clubes se arrependem de negócios, o Benfica não será diferente. Como sócio do Benfica, sempre achei que o Carrossel de jogadores no Benfica era desnecessário... agora, nunca tive indícios que os nossos dirigentes, andaram a 'meter' dinheiro no bolso! Posso ter 'suspeitas' pessoais sobre um ou outro individuo, mas o MP não pode criar narrativas ficcionais, com base em nada, e depois permitir Fugas de Informação, desses 'contos ficcionais', como se fossem verdades absolutas!!!

E os Benfiquistas já deviam estar vacinados, contra este tipo de histórias... O problema mais grave, é que muitos, estão mesmo vacinados, e até sabem que tudo isto é treta, mas mesmo assim, acham que podem beneficiar da situação, e assim não se importam que o 'seu' Clube, seja mais uma vez, envolvido num Caso judicial...
Ponham a mão na consciência!!!

Goleada...

Benfica 5 - 2 Corruptos


Grande jogo, talvez o melhor jogo da época, com grandes golos, alguma eficácia, mas sempre por cima do jogo, só foi pena os golos sofridos após o 5-0, pois merecíamos uma vitória ainda mais larga!!! Com as substituições, acabámos por baixar um poucos as linhas, e acabámos por convidar o adversário a subir!

Incrível como o VAR ficou calado na agressão sobre o Tomé... e pelo menos um penalty por marcar!!!

Época relativamente tranquila... e hoje, mesmo sem alguns jogadores, mostrámos qualidade! O Henrique, o Pedro Santos, o Bajrami, o Rafa, e o Tomé, creio que terminaram a sua 'vida' na B. Entre empréstimos e vendas a equipa no próximo ano será diferente! Pessoalmente, acho que o Veríssimo é o treinador ideal para este escalão, e espero que continue...

O Gustavo, o Gilson e o Cauê, foram bons reforços, mas enquanto o Central acho que tem mercado e o Benfica deve accionar a opção de compra... em relação ao Cauê, tenho dúvidas!!! O Gilson, depois da Taça Africana, nunca recuperou da pubalgia...

Fechar a época com um triunfo


"Nesta edição da BNews, o destaque vai para a antevisão ao último jogo da temporada. É com o Rio Ave, em Vila do Conde, hoje às 20h45.

1. Somar três pontos
Roger Schmidt quer terminar a época com uma vitória: "Vamos tentar acabar a época no nosso melhor nível. Queremos fazer um bom jogo e conquistar os três pontos. Foi uma temporada longa e exigente, ir para férias com boas sensações será importante. É uma boa oportunidade para mostrar atitude e caráter. É isso que queremos fazer."

2. Comunicado oficial do Presidente do Sport Lisboa e Benfica
Leia no Site Oficial.

3. Final da Taça de Portugal
Os ingressos para o desafio de futebol feminino entre Benfica e Racing Power, no qual as tetracampeãs nacionais e vencedoras da Supertaça e da Taça da Liga procuram perfazer o pleno na presente temporada, podem ser adquiridos no Site Oficial até às 18h00. O jogo é no Estádio Nacional, domingo, às 17h15.

4. Parceria renovada
Benfica e Betano estendem a ligação por mais três anos.

5. A uma vitória do tricampeonato
A equipa feminina de andebol venceu, por 23-42, na deslocação ao CJ Almeida Garrett, ficando apenas a um passo vitorioso de se sagrar tricampeã nacional.

6. Agenda
Além do desafio em Vila do Conde, há também o clássico das B entre Benfica e FC Porto, às 18h00, no Benfica Campus.
Destaque ainda para três jogos na Luz amanhã: dérbi de andebol com o Sporting às 15h00; início dos play-offs do Campeonato Nacional de hóquei em patins frente ao Valongo (17h00); e, às 19h00, a equipa feminina de futsal disputa, com o Nun'Álvares, o primeiro jogo da final do Campeonato. Há ainda a possibilidade de a equipa feminina de andebol se sagrar tricampeã nacional na visita ao ABC (18h30).

7. Despedida após três épocas de sucesso
O voleibolista Lucas França está de saída do Benfica.

8. Homenagem
Alex Pinto, treinador da equipa feminina de futsal do Benfica, recebeu a medalha de mérito desportivo do município das Caldas da Rainha.

9. História
Veja a rubrica habitual das manhãs de quinta-feira na BTV."

Alguém ligue ao Papagaio Favorito do MP. É preciso mas mais notícias bombásticas sobre o Benfica!!!

Assunto do dia


"Rui Costa e a mais recente investigação ao Benfica

1. Sabe quem me segue que não sou um total defensor da gestão do presidente do Benfica, à qual tenho apontado críticas várias, e o facto de as manifestar publicamente é a razão de ser apelidado por parte da estrutura mais próxima do presidente como alguém que "diz mal" do clube. Confundem-se, eles, com o clube, não admitem a crítica, por mais evidente e justa que possa ser, problema deles, o tempo dirá quem tem razão. Sinto-me, assim, até mais à vontade para escrever o que se segue.
2. Fui - e tenho muita honra nisso - dos benfiquistas que jamais foi 'comido de cebolada' pelas notícias dos emails truncados e adulterados. Esforcei-me, à época na Sporttv, por explicar aquele vergonhoso ataque que nos foi feito e o tempo deu razão ao clube, como, aliás, tem vindo a acontecer em vários outros processos que envolvem a justiça e o maior de Portugal.
3. Rui Costa estava longe de ser o braço direito de Vieira à data dos negócios que estão a ser investigados. Toda a gente que conhecia um pouco a forma como funcionava o Benfica sabe que Rui Costa não contava para nada, que era destratado por Vieira, inclusive à frente de terceiros, que não riscava nada nos negócios nem na gestão do clube e da SAD.
4. Se bem julgo saber, os contratos das compras e vendas que estão sob investigação não têm a assinatura, que muitas vezes é feita de cruz, de Rui Costa, ou ele interveio nas negociações que levaram a esses contratos e a esses negócios sob suspeita.
5. Como benfiquista, desejo que estes negócios, supostamente fraudulentos, sejam investigados até às últimas consequências, doa a quem doer. O Benfica foi lesado em milhões de euros.
6. Mesmo que não seja acusado, Rui Costa deve demitir-se se participou em alguma trapalhada, se beneficiou de dinheiros do clube em proveito próprio à margem da lei, se, não beneficiando, assistiu passivamente a que outros o tivessem feito. Estranharia, contudo, que isso tivesse acontecido: sabe-se que o atual presidente até dos prémios que tinha a receber da SAD pelos títulos de campeão abdicou - julgo que 100 mil por cada um.
7. Se, como acredito, Rui Costa está inocente, nem que seja acusado deverá alguma vez demitir-se. Temos assistido a muitas 'galegadas' perpetradas pelo Ministério Público, que conduziram a demissões precipitadas e deram, depois, em nada. Não é o Ministério Público, que mandou recentemente abaixo um governo e, que se saiba, ainda nada provou que o tivesse feito fundamentadamente, que vai mandar abaixo um presidente do Benfica, qualquer que ele seja, se este estiver efetivamente inocente.
8. Rui Costa cometeu, porém, em todo este processo, um erro: não se ter demitido ao tempo em que era desconsiderado por Vieira. Está, agora, a pagar, e a pagar caro, esse erro de palmatória. E cometeu outro ainda: não ter acelerado a prometida auditoria."

A Era de Rafa Silva: oito anos a voar no Benfica


"Oito temporadas depois, Rafa Silva diz adeus ao Benfica, a custo-zero, após terminar contrato com os “encarnados”. Na altura em que escrevemos estas linhas ainda não é sabido o destino do atacante, mas sabemos qual foi o seu passado de águia ao peito. Velocidade, explosão, repentismo, muitos golos e assistências são o principal do legado que Rafa deixa no emblema da Luz. Porém nem tudo foi fácil.
As primeiras duas épocas de Rafa no Benfica foram de indefinição e crítica. O jogador demorou a explodir de águia ao peito e nem sempre as decisões e a qualidade na finalização acompanhavam a notória capacidade de condução, de surgir nas costas das defesas em velocidade e até a boa qualidade no drible. Porém, a nada altura, Rafa encontrou o seu caminho e a História tem os números para relembrar o peso que teve no sucesso recente dos benfiquistas: três campeonatos conquistados, três Supertaças, duas Taças de Portugal, 326 jogos pelos lisboetas em todas as competições, 204 vitórias, 64 empates, 58 derrotas, 94 golos marcados e 67 assistências. E apenas um vermelho, por duplo amarelo, e nenhum directo.

Liga portuguesa: Ponto de viragem em 2018/19
Os primeiros tempos de Rafa na Luz foram difíceis. Muitos golos falhados, decisões erradas, pouca capacidade de desequilibrar colocaram dúvidas sobre os €16M que o Benfica pagou ao Braga pelos préstimos do internacional luso. Faltavam golos e assistências, que começaram a surgir em 2018/19 em grande quantidade, altura em que fez 17 tentos na Liga. Este foi o ponto de viragem na vida de Rafa na Luz.
A partir daqui, mesmo com algumas temporadas mais produtivas que outras, o atacante assumiu um peso grande no futebol ofensivo dos “encarnados”, com exibições de grande nível e, inclusive, duas notas 10.0 nos GoalPoint Ratings, sendo mesmo, a par de Viktor Gyökeres, o único jogador a registar duas notas máximas no nosso campeonato: na segunda jornada de 2019/20, ante o Belenenses, e na 15ª de 2021/22, na recepção ao Marítimo – todos os ratings perfeitos nas provas nacionais podem ser consultados aqui (link).
Destaque para 21/22, época em que Rafa fez oito golos e 15 assistências, precisamente a que mais passes para golo registou, mas a última, 2023/24, que termina muito em breve, foi mesmo a temporada em que Rafa mais somou acções para golo, nada menos que 26, correspondente a 14 golos e 12 assistências.

Números para todos os gostos
Na Liga dos Campeões e Liga Europa os números também não envergonham, antes pelo contrário. Na Champions, contando com a qualificação, foram 48 jogos, 13 golos marcados e quatro assistências, sendo que na Europa League registou 21 encontros, cinco tentos e dois passes para golo. Podemos afirmar que as duas épocas nas infografias abaixo foram as melhores de Rafa nas provas europeias pelo Benfica, a Liga Europa 20/21, na qual fez dois golos e uma assistência, mas essencialmente a Champions desta época, com cinco tentos apontados e um passe para golo, com um extraordinário envolvimento de 44% em finalizações (remates e passes para remate) de bola corrida.
Tendo em contra a Liga portuguesa, a Liga dos Campeões e a Liga Europa, estas são as principais estatísticas que Rafa deixa como legado na sua passagem pelo Benfica, ao longo das oito temporadas:
- Muita chegada à área: o acumulado destas três competições mostram um jogador que se integra sempre bem na área adversária, mesmo tendo em conta que jogou várias temporadas colado às linhas. Em média foram 6,2 destas acções por 90 minutos;
- Peso grande nos golos do Benfica: nestas três provas e em oito temporadas, Rafa teve acção directa em 29,1% dos tentos que a “águia” marcou consigo em campo;
- Sempre de olhos na baliza: em média, Rafa registou 2,3 remates por 90 minutos, sendo 2,0 de bola corrida;
- Perigoso a servir os colegas: o atacante fez 1,7 passes para finalização nestas três competições, mas o destaque vai mesmo para as 0,4 ocasiões flagrantes criadas por 90 minutos;
- Sempre muito solicitado: um dos indicadores principais de um avançado são os passes progressivos recebidos e Rafa acumulou extraordinários 9,6 ao longo destas oito épocas;
- Perito a levar a bola: as conduções progressivas (que aproximam a equipa pelo menos 25% da baliza adversária) foram também uma imagem de marca, com 3,2 por 90 minutos. Super progressivas foram 1,0;
- Um driblador de qualidade: em média, Rafa fez 5,3 tentativas de drible por partida, completando 2,6, equivalente a uma eficácia de 47,8%.

Mas… nem tudo foi brilhante:
- Perdulário em frente ao golo: o ponto de maior crítica a Rafa sempre foi os muitos golos que falha. De facto, nestas três provas, o atacante converteu somente 37,9% das ocasiões flagrantes de que dispôs;

Após o final da Liga, com a realização da 34ª jornada, Rafa dirá adeus a uma casa em que teve de tudo, sucessos e fracassos. Olhando para trás, para os números e pela forma como os adeptos se despediram dele no Estádio da Luz, é caso para dizer que, Rafael Alexandre Fernandes Ferreira Silva, 30 anos, deixou um legado no reino da águia."

Todos deveríamos ser um pouco Isco Alarcón


"Médio espanhol ganhou o direito, aos 32 anos, a estar entre os possíveis eleitos de Luis de la Fuente, para o Euro, recusando-se a ‘fingir de morto’ no ocaso de uma brilhante carreira

Sentir inveja não é bonito, mas com duas ave-marias e três padre-nossos deveríamos poder assumi-lo à boca-cheia. Sem constrangimentos de qualquer ordem. Seria mais fácil se todos soubéssemos, antecipadamente, o preço a pagar por cada um de todos os nossos pecados. Poderíamos reduzi-los a algo tão simples como pagar portagem, de um ponto de vista religioso, na curta autoestrada da vida, ou até a admitir naturalmente que não virá nenhum mal ao mundo se abdicarmos de um ponto na carta de condução só para vivermos mais intensamente aquela transgressão especial que nos faz disparar os níveis de adrenalina. E para quem não gosta de ter credos à mistura, acredite ou não, seja em algo ou em tudo, cobiçar o que tem o próximo não deveria definir nunca se estamos na presença ou não de um mau carácter.
Se Diego Maradona ainda fosse ainda vivo, não tivessem negligenciado a divindidade e deixado por beijar o chão que ele pisava, talvez um destes dias me metesse num avião até Buenos Aires, arriscasse depois pelo meio de La Boca até à efervescente Bombonera, só para lhe dar aquele abraço e dizer do mais fundo das estranhas: como te invejo, puto amo, pelo que fizeste do meu mundo! Sou o que sou por tua causa. Não importa o quão estúpido tal parece. Talvez ainda o faça com Rui Costa, se ainda conseguir encontrar o criativo no futebolista e o futebolista no dirigente. E com Messi, claro. Por tudo e mais alguma coisa. Ou Cristiano. E a culpa será daquela fome megalómana, tão pouco portuguesa, que poderia satisfazer de uma só vez três ou quatro Bolas de Ouro, e a ele o deixa sempre a olhar de soslaio para o prato do vizinho. Seríamos tão gigantes se todos tivéssemos um pouco disso. Definitivamente mais fortes.
Deveríamos, acho, fazer o mesmo com Isco. Mesmo que hoje não seja o melhor dos dias. Habrá que rezar! Porque nos restantes, confesso-vos, sinto uma inveja profunda de señor Alarcón, criado e formado entre Valência e Málaga, tornado deus até lhe ser roubada a imortalidade em Madrid, exposto depois ao mundano no lado errado de Sevilha e, por fim, reencarnado na melhor versão de si mesmo. Aquela leveza, quase principesca, não se encontra em qualquer um. Somos todos tremendamente desengonçados e limitados, em comparação, para a conseguirmos imitar. O saber pisar não se ensina, tem-se. O toque, esse, nasce connosco. Não é treino, não é uso. Vão por mim, também não passa nos genes. Há algo em alguns de nós que permite que se forme uma simbiose com uma bola de futebol. Isco era capaz de fazer trabalhos forçados, isto se a linhagem o permitisse, ao mesmo tempo que lhe ordenava que se fizesse de morta debaixo do pé direito. E ela obedecia.
Não há nada que nele não seja incrível naqueles anos dourados em tons de branco. Abria cabines telefónicas uma atrás da outra até achar a que tivesse sinal, e fingia-se por vezes de Zidane, escondendo-se atrás de roletas, onde acertava no preto quando era preto e vermelho quando o croupier o lamentava para a casa e para quem perdera mais uma pequena fortuna ou a hipoteca da casa. As poupanças de uma vida. Orientava-se sempre, mesmo contra o vento, Bernabéu fora, acelerando por entre a multidão, disposto a entregar a encomenda ao destinatário. Contornava adversários, a gravidade e todas as amarras táticas que lhe colocassem à frente. Era um génio do drible curto, um distribuidor sem erros. Um grande entre os maiores.
Um príncipe nunca deixará de ser príncipe, mas poderá não vir a tornar-se rei, ser politicamente incómodo ao ponto de ensombrar quem reina e tenha de seguir para o exílio. Dão-lhe, se não o tiver já na herança, um castelo isolado para ocupar com a família e os homens de confiança, e passará a encher, a partir daí, o resto dos dias e a pança com carne de javali e vinho das terras da vizinhança, até por fim morrer e ser enterrado e esquecido. Não será de todo um mau fim.
Aceitar o ingrato destino seria sempre o caminho mais fácil para quem afastam da glória, mesmo que injustamente. Ancelotti, Don Carletto, que praticamente extraiu quase tudo de quase todos, nunca conseguiu aproveitar todo o talento que dali jorrava. Por vezes, era a tática. Outras, outra coisa qualquer. Defendia-o, porém não o compreendia. O bom do Sampaoli, mais tarde, em Sevilha, diria que nunca correspondeu às expetativas. No entanto, mesmo assim, ele continuou. Fez-se à luta.
Todos deveríamos ser um pouco Isco Alarcón. Encarar e aceitar as adversidades da mesma forma, acreditar que, mais tarde ou mais cedo, o talento se irá sobrepor a tudo. Esperar até ao limite da nossa paciência que um dia reconheçam que a razão sempre esteve do nosso lado. Agora, por toda a Espanha, lamenta-se a lesão e espera-se que a contratatura nos gémeos se vá embora às custas de muitas rezas e mezinhas. Porque não só é injusto para ele como, para muitos, reapareceu como melhor médio espanhol - para o CIES o terceiro do continente com maior impacto no jogo -, e não pode deixar de estar, sim ou sim, no Euro-2024. Aos 32 anos.
Contudo, não posso falar só de Isco. Ali ao lado, onde o médio ofensivo malaguenho deu errado, Jesús Navas só poderia dar certo. Do princípio ao fim. Extremo e depois ala, lutou durante toda a carreira com crises de ansiedade e saudades de casa crónicas, que o levaram a rejeitar convites, como o do Chelsea, bem antes de assumir finalmente que era tempo de aceitar o destino e rumar a Inglaterra para o Manchester City. Em boa hora, porque conquistou o título inglês, apenas o quarto da história do emblema.
Se o compatriota tinha demónios externos com que lidar, Navas foi obrigado a ultrapassar-se a si próprio e aos seus medos. Tornou-se uma lenda, ganhou vários troféus europeus, foi campeão continental e mundial, e deixa agora os andaluzes, aos 38 anos, sem nada mais para dar. Nem mais uma gota de compromisso."

Pouco se resolve à biqueirada


"De Lionel Messi a Francisco Conceição, passando por Cantona ou Bruno Fernandes

Sou um confessadíssimo fã de Lionel Messi (e não, não sou anti-Ronaldo, o que além de irracional para alguém que gosta de futebol faria de mim ligeiramente parvo).
«Então porque não começaste a frase por ‘sou um confessadíssimo fã de Ronaldo?’», poderá alguém perguntar. Respondo: porque quero falar de um jogador que me faz lembrar o segundo 10 argentino da minha vida, salvaguardadas as devidas distâncias entre seres terrenos e existências que parecem, por vezes, querer mostrar-nos que o domínio do fantástico não é só um exercício literário inventado pela Humanidade para fugir ao quotidiano. Este é Messi. O jogador de quem quero falar é Francisco Conceição. 
Preparei um reforço da caixa de e-mail para aguentar as reações ao que escrevo a seguir: sim, Chico Conceição invoca Messi quando conduz a bola com o pé esquerdo daquela forma peculiar, própria dos baixinhos que a colam ao corpo como se fosse parte deles e sabem soltá-la na hora certa, seja num passe em souplesse, num remate violento em direção às redes adversárias ou num lançamento longo que agora se diz ser feito a procurar a profundidade.
Embora glorifique bastante as características de Messi, também aprecio jogadores raçudos, intensos e até ligeiramente prevaricadores, desde que dentro do razoável.
De Bruno Fernandes a Roy Keane; de Cantona a Oliver Kahn; de João Pereira a Nuno Santos; de Otávio a Gascoigne (exceto a parte da dependência alcoólica, para bem do internacional português). São meros exemplos de centenas de futebolistas que pisam o risco por empenho e dedicação. Repito: confesso alguma admiração por eles, desde que não pontapeiem adeptos na bancada como fez Cantona. Estava a falar de outros episódios.
Francisco Conceição é claramente desta equipa. Tem os nervos à flor da pele, sente a camisola que veste e nem sempre lhe chega o talento (embora, como já vimos, este lhe sobre). Há pessoas que se alimentam da adversidade, que atualizam potências nos momentos mais tensos.
Dito isto, é tempo de apelar ao bom e velho bom senso: pontapear portas de balneários depois de uma expulsão não só é contraproducente e feio, como nada resolve em relação ao cartão vermelho que se viu momentos antes.
Mais do que isso: ao fazer o que se viu nas imagens CCTV mostradas pelo Conselho de Disciplina, Francisco Conceição (como Bruno Fernandes em 2019, no Estádio do Bessa, onde ainda por cima tinha crescido como futebolista) está a dar um mau exemplo a quem o admira, seja jovem, de meia idade ou idoso.
Está a confundir a raiva e revolta de um determinado momento com reações destemperadas e injustificáveis.
É tempo de os protagonistas do futebol (e tantos outros) perceberem que têm um papel social. Ser famoso também implica assumir responsabilidades. Deveria bastar pensar em quem olha para nós e se lembra do Messi."

Liberté, Fraternité, Mbappé


"É conhecida, porque inusitada e especial foi, a história de quando Emmanuel Macron, ao ler o preto no branco nos jornais e escutar os zunszuns e perguntando às pessoas certas que são acessíveis a um presidente de França, se predispôs a telefonar a Kylian Mbappé, em 2022. Os rumores arreliavam-no. Sendo ele quem é e sabendo o efeito que a pessoa que ele é exerce nas pessoas que sabem quem ele é, Macron quis não tão subtilmente exercer a sua influência estadista ao ouvido de um jogador, um mero futebolista pensarão vocês, para lhe dizer: “Quero que fiques. Não quero que te vás embora agora. És tão importante para o país.”
A operação de charme falaria ao coração de muita gente, qualquer anónimo cidadão francês sentiria as suas fundações a abanarem. Afinal, era o presidente, a máxima figura do Estado, a dar-se ao trabalho de ligar para pedir que ficasse, mas, extravasando o telefonema, a história é ainda mais peculiar pela reação de Mbappé, então com 23 anos, inamovível perante a investida: enternecido, agradeceu a gentileza a Macron, dizendo-lhe que a decisão entre ficar no Paris Saint-Germain ou sair para o Real Madrid era dele e apenas dele, imune a pedidos por mais que viessem dos cargos mais altos do país. A postura, pelos vistos, não caiu mal, mais tarde seria convidado para repastos com o presidente no Eliseu.
Kylian Mbappé, e lê-se ‘Émebáppé’, é feito de histórias e há outra, de quando ele era gaiato e mais suscetível a encantos, que ajuda a entender o futebolista que não se desfez perante o cortejo presidencial. Tinha 14 anos e ainda jogava à bola em Bondy, bairro nos extensos subúrbios de Paris, quando o Real Madrid o convidou a viajar até Valdebebas, centro de treinos merengue, com tudo pago, para durante uma semana conhecer os cantos à casa que lhe queria cuidadosamente mostrar. O clube que mais priva com o êxito quando comparado a adversários europeus, cheio das suas catorze Liga dos Campeões ganhas, pediu a Zinedine Zidane, na altura diretor-desportivo, para um dia ir buscar no seu carro luxuoso, de surpresa, o petiz francês, que até lhe perguntou se precisava de tirar os sapatos para entrar.
Quando regressou a casa, a mãe, Faysa, disse-lhe que teria de limpar as casas de banho da escola onde dava aulas, em Bondy, nos três dias seguintes.
Foram estas as fornalhas que cozinharam Mbappé sem o deixarem queimar em ilusões. Filho de uma antiga andebolista virada professora, árabe e de ascendência argelina, e de Wilfried, um camaronês e cristão que ainda é treinador de futebol no clube do bairro, o desde cedo fenomenal Kylian nunca desprendeu as raízes do chão. Enquanto colou pósteres de Cristiano Ronaldo no quarto, vestido à Real Madrid, ouviu os pais falarem-lhe do sucesso que é efémero e da finitude da fama do futebol, urgindo-o a estudar e fazendo com que aprendesse a falar o inglês que hoje domina e o espanhol que lhe vai dar jeito não tarda. Estará para breve a sua mudança para o Real Madrid, segredo menos escondido do futebol, adiada há dois anos por obra da intervenção de Emmanuel Macron e graça - ou será ao contrário? - dos 630 milhões de euros que o Paris Saint-Germain concordou pagar-lhe, ao longo de três anos e até 2025, no mais chorudo contrato alguma vez feito no desporto.
No domingo, o tão valorizado jogador, melhor marcador da história do clube, fez a sua derradeira aparição no Parque dos Príncipes. E pareceu ser uma mesa de cabeceira face ao peso que teve nas cerimónias do adeus à temporada.
Nada houve de homenagens bonitas ou sentidos gestos de despedida da parte do PSG, que organizou uma festança de entrega do troféu de campeão para os jogadores e preferiu exaltar a despedida do speaker oficial, voz dos jogos caseiros dos parisienses desde 1994. Não fosse o 256.º golo que deixou em campo, além da tarja gigante a cair de um dos topos do estádio, pendurado pela claque, e dir-se-ia que Kylian Mbappé nunca por ali passara, discreto e irrelevante, quando é tudo menos isso. “Cresci como homem, com toda a glória e erros que cometi. Nem sempre mereci o vosso amor ao longo destes sete anos, mas nunca vos tentei enganar”, dissera o jogador, um par de dias antes, no vídeo com o qual deu o au revoir aos adeptos.
De queixo levantado, olhos vidrados na câmara e discurso fluído, com todos os gestos não verbais que sugerem confiança, Kylian Mbappé falou pausadamente durante quase quatro minutos e sem um segundo dedicado a Nasser Al-Khelaïfi, presidente catari do PSG que é hoje o clube que é devido aos triliões injetados pelo Catar. Neste jogo de impressões dadas para fora, perceções públicas e nuances a que também se joga no futebol, terá sido o representante do emirado a desferir o primeiro dos golpes baixos quando, em 2022, segurou uma camisola com “2025” estampado nas costas, no Parque dos Príncipes e ao lado de Mbappé, na pompa com que anunciou a renovação com o jogador. O gesto traiçoeiro deu-lhe a volta: o último dos três anos de contrato estava preso a uma cláusula que dependia da vontade do jogador.
Pensador pela sua própria cabeça, o tectónico Mbappé, planetário futebolista que não tem empresário e se aconselha nos pais, a quem entrega os deveres de o representarem nas conversas que negoceiam milhões e nos apertos de mão que os fecham, não quis ficar em Paris. Com um Mundial conquistado, outro perdido na final, três golos deixados nas duas edições na maior das partidas do futebol e 12 já marcados no torneio, tem um destino para cumprir em Madrid. Mas, aos 25 anos, o terramoto que o francês outra vez provoca no futebol já não pode ser encarado como inesperado.
Kylian Mbappé ostenta mais golos do que Lionel Messi e Cristiano Ronaldo tinham com a mesma idade, comparação numérica relevante porque há muito que o francês é falado para suceder aos estelares estarolas que endeusaram os golos no futebol e os valorizaram, como nunca, enquanto medidores de sucesso. Além de ter arrancado o mais caro contrato alguma vez dado a um desportista, é plausível esperar que Mbappé acabe por superar Miroslav Klose no topo dos goleadores em Mundiais (o alemão tem 16, o francês vai nos 12, empatado com Pelé). Os 180 milhões de euros que custou, em 2018, para o PSG o contratar ao AS Monaco são a segunda transferência mais milionária do futebol, atrás dos €222 milhões de Neymar, e só não obriga o Real Madrid a encarecer o preço na sua etiqueta porque optou por sair de Paris no final do contrato.
A diferença, agora, no trajeto do futebolista-tubarão que comparece a entrevistas com rémoras de seguranças a rodeá-lo para revistarem o edifício antes dele entrar, do ambicioso jogador que domina como poucos a oratória e pode não o parecer, mas é consciente das repercussões dos lugares onde surja, é que Mbappé precisará mais do Real do que o clube carece de uma estrela como ele.
O francês que rejeita contratos publicitários com a Coca-cola, o KFC ou a Betclic, mas, como toda a gente neste mundo, é apanhado na curva ao ter a ligação umbilical do Catar na sua fortuna, irá para uma instituição onde há hierarquia e “todos correm” entre os atacantes, disse Vinicius Jr. feito o enterro do Bayern na Liga dos Campeões. Foi a mensagem subliminar de um futebolista quase tão sublime quanto Mbappé, o recado está entregue e o professor tio que estima o bem-estar merengue, Carlo Ancelotti, bonacheirão que é um falso leviano a permitir veleidades, não será um treinador para dar trela a uma versão pachorrenta de Mbappé, que tantas vezes se escusava a defender no PSG quando a equipa não tinha a bola. O simpático Ancelotti cultiva o à-vontade em Madrid, na liberdade dada aos jogadores incentivou-lhes a responsabilidade, mas longe está de aligeirar a equipa para o à-vontadinha que o totémico Mbappé tinha em Paris, tem na seleção de França e terá, supostamente, no futebol mundial.
O francês reconheceu as suas “qualidades e defeitos” no seu adeus ao PSG, não no que o clube abdicou de dar ao jogador querido por Emmanuel Macron por representar a França real, assente na diversidade dos banlieues, do talento cultivado na periferia da farta Paris que fornece a espinha vertebral à seleção nacional da nação que tem na mestiçagem de culturas, na mescla de origens, a sua força. “Conto com o Real Madrid para libertar o Kylian para os Jogos Olímpicos”, disse já o presidente da mesma França que se rebelou, empurrada pela extrema-direita de Marine le Pen, contra Aya Nakamura, a cantora nascida no Mali e com vida no país desde criança, quando se noticiou que supostamente Macron a convidara a cantar na cerimónia de abertura do evento.
Esta é a encruzilhada de Kylian Mbappé, prestes a sair do país da liberdade e da fraternidade como um dos franceses mais populares no planeta, íman de atenções e dínamo de reações à mínima ação que hoje tenha. Ele quer tudo, provavelmente vai ter tudo, mas a história rumo à grandeza já será um pouco sinuosa, mesmo que ao de leve, já não tão em linha reta como previa."

‘Nunca ninguém ocupou o sítio vivo que deixaste, morto…’


"Apesar de ter sempre jogado como médio-centro, Miguel Hernández foi o poeta dos guarda-redes.

Era tão campestre como Alberto Caeiro, Miguel Hernández, nascido em Orihuela, província de Alicante, e quase tão analfabeto como António Aleixo. Pastor de cabras desde menino, os espaços livres encantavam-no, tal como o encantavam os campos de futebol. Fui considerado uma das figuras da Generación del 27, um conjunto de escritores e poetas espanhóis que se deu a conhecer precisamente por volta do ano de 1927. E em 1927, Miguel tinha apenas 17 anos e um impulso crescia dentro dele como um destino. O destino de se exprimir em palavras que rimam. Sabia ler pouco, mas lia muito, mesmo atrapalhado: Garcilaso de la Vega, Luis de Góngora, Calderón de la Barca. Com 24 anos saiu pela primeira vez da sua courela e viajou para Madrid na ânsia de poder contactar os intelectuais que admirava. Nunca lhe faltou iniciativa. A pastorícia não lhe adormeceu os nervos nem lhe pacificou a alma. Com Pablo Neruda fundou uma revista chamada Caballo Verde Para la Poesía. Com Pablo Neruda aprendeu as ideias do marxismo e lutou, de arma na mão, na Guerra Civil de Espanha contra o exército franquista. Cavou trincheiras, foi capturado, morreu tuberculoso e esfomeado nos cárceres do Caudilho onde, escreveu, «las ratas cagaban en mi cabeza».
Na sua juventude, Miguel, que nunca deixou de ser jovem, nem depois de morto, com apenas 31 anos, jogou futebol no Orihuela. Era médio-centro mas o jogador que o encantava era Lolo Sampedro, o guarda-redes que morreu ao defender uma bola que o levou a rebentar com a cabeça contra um dos postes da sua baliza. Sampedro marcou também a sua poesia:
«¡Ay fiera! En tu jaulón medio de lino
se eliminó tu vida!».
Há, convenhamos, algo de poético em todos os guarda-redes e nenhum outro posto no futebol mereceu tanta poesia. Rafael Alberti, mais um da Generación del 27, escreveu em 1928 a famosa ode dedicada ao keeper húngaro do Barcelona Franz Platko:
«Ni el mar, que frente a ti saltaba sin poder defenderte.
Ni la lluvia. Ni el viento, que era el que más rugía.
Ni el mar, ni el viento, Platko,
rubio Platko de sangre,
guardameta en el polvo,
pararrayos.
No nadie, nadie, nadie…».
Provavelmente o poema mais famoso escrito em castelhano sobre um futebolista. Mas talvez pela intimidade que Orihuela criou entre Miguel Hernández e Lolo Sampedro, o poema que o primeiro escreveu sobre o trágico desfecho do segundo seja mais doloroso, mais como o sino da aldeia de Fernando Pessoa, essa aldeia que era o largo de São Carlos, o sino que era o da Igreja dos Mártires, dolente na tarde calma, tão como triste da vida.
«A los penaltys que tan bien parabas
acechando tu acierto
nadie más que la red le pone trabas/porque nadie ha cubierto
el sitio, vivo, que has dejado, muerto».
O sítio vivo que Sampedro deixou, já morto, era a baliza. A baliza que defendia com toda a sua alma, a baliza que cruelmente o matou.
A trajetória de Miguel Hernández como poeta publicado começou numa revista fundada pelo seu amigo de infância, outro natural de Orihuela, e que avançou a seu lado na aventura de Madrid sem um ‘duro’ nos bolsos, Ramón Sijé: El Gallo Crisis. Aos poucos, uma forte influência gongórica tomou conta da escrita de Miguel e isso marcou profundamente o seu primeiro livro Perito en Lunas que só veria a luz do dia em 1934. As obras seguintes deram lugar à divergência, sem dúvida pela aculturação que foi acumulando com o convívio com outros escritores da sua geração e que procuravam fugir à influência dos clássicos. Os ventos de guerra tornaram-no mais duro que os rochedos que trepava quando, em menino, seguia cabras pelos montes e vales da região de Alicante. Viento del Pueblo, uma recolha de poemas, conta com a pungente Canción del Esposo Soldado, dedicada à sua mulher, Josefina Manresa:
«Espejo de mi carne, sustento de mis alas
te doy vida en la muerte que me dan y no tomo.
Mujer, mujer te quiero cercado por las balas
ansiado por el plomo».
Miguel Hernández foi um homem que sofreu. A sua escrita é sofrida e a dor acompanhou-o duramente no final da sua vida que acabou por ser ainda mais trágica do que o final da vida de um guarda-redes que morreu com a cabeça esmagada contra um poste da baliza que jurara manter segura. Não foi apenas por serem ambos de uma pequena terra perdida no sul da grande Espanha que Miguel e Lolo ficaram unidos para sempre. Foi também pelo futebol e pela poesia. Quem diz que não há poesia no futebol não sabe nada de futebol nem sabe nada de poesia. Há tanta poesia no futebol e os poetas procuram-no para declarar os seus sentimentos._Há tanta poesia no futebol como poesia na morte.
«Fue un plongeón mortal. Con ¡cuánto! tino
y efecto, tu cabeza/dio al poste. Como un
sexo femenino
abrió la ligereza
del golpe una granada de tristeza»."