sábado, 15 de julho de 2023

Chuva!

Empenho e foco


"Prossegue a preparação em Inglaterra com vista a dotar o plantel das ferramentas que lhe permitam atingir os objetivos da temporada. Bah foi o porta-voz do grupo de trabalho em mais um dia exigente. Este é o destaque da BNews.

1. Evoluir a cada dia
"Temos trabalhado muito, mas estamos muito felizes e o ambiente no grupo é muito bom. [O objetivo] é fazer melhor do que no ano passado". Bah, em entrevista a anteceder mais uma sessão de treino no âmbito do estágio de preparação para a nova época.

2. Grupo de trabalho reforçado
Otamendi, Jurásek e Di María já trabalham com o plantel em Inglaterra.

3. Decisivo
A seleção Sub-19 de Portugal está na final do Europeu após bater a congénere norueguesa, por 5-0, numa partida em que Hugo Félix voltou a ser determinante (um golo e uma assistência). Nuno Félix também foi titular e Diogo Prioste, desta feita, não foi utilizado. A final está agendada para domingo, às 20h00.

4. Protagonista
Arialis Martínez, a primeira portuguesa a competir numa final de 60 metros em pista coberta, na qual terminou em 5.º lugar, é a protagonista da semana. Uma entrevista para ler no jornal O Benfica ou ver na BTV.

5. Alto nível
Telma Monteiro, Bárbara Timo, Rochele Nunes e Rodrigo Lopes estão convocados para o Masters IJF de judo.

6. Casa Benfica Lagos em destaque
O programa "Pelas Casas do Benfica", da BTV, acompanhou as celebrações do 13.º aniversário desta embaixada do benfiquismo."

Estão com medo!!!


"Benfica tem poucas opções - "Plantel curto"
Benfica tem muitas opções - "Demasiadas estrelas e mau balneário"
Benfica tem muito jovens da formação - "Falta experiência"
Benfica tem poucos jovens da formação - "Benfica anda a gastar muito quando tem jovens para formar"
Benfica compra o melhor jogador da Holanda por 25M - "Concorrência desleal"
Sporting compra por 24M + comissões um tipo da segunda liga - "Bom investimento"
Não há paciência para estes pseudo-comentadores da treta."

Sinais positivos


"No primeiro jogo-treino da pré-época, vitória, por 0-2, ante o Southampton. E a proposta de revisão dos estatutos está prestes a ser disponibilizada aos sócios para ser objeto de consulta e sugestões por parte dos associados. Estes são os temas em destaque na BNews.

1. Bom treino Roger
Schmidt utilizou 21 jogadores no primeiro jogo-treino da pré-época. Com golos de Neres e Mihailo, os encarnados ganharam, por 0-2, frente ao Southampton.

2. Equipa a crescer
"Os jogadores estão todos concentrados e focados no que queremos", Florentino, após o jogo-treino.

3. Braga é o adversário
Está definido o emparelhamento da Supertaça de futebol no feminino, que será disputada entre 3 e 13 de setembro.

4. Organização de parabéns
O Athletics Youth Meeting SL Benfica foi um sucesso e houve um recorde nacional de Juniores estabelecido.

5. Proposta de revisão de estatutos apresentada
Assente nos trabalhos da comissão composta por associados benfiquistas de diferentes sensibilidades, a Direção do Sport Lisboa e Benfica concluiu a proposta de revisão estatutária, sobre a qual Jaime Antunes, vice-presidente do Clube, foi entrevistado, ontem, pela BTV. Limitação de mandatos, remuneração dos membros da Direção, redução dos anos de filiação para candidatos à presidência e reforço do Clube na governação das participadas são, entre outras, algumas das alterações enunciadas e submetidas à análise e discussão dos sócios."

O elogio a João Mário, Schmidt… e Freitas Lobo


"Fazem falta conversas como as que o Luís Freitas Lobo tem promovido no seu Futebol Arte, que em Portugal fala-se em demasia “do” futebol, mas muito pouco “de” futebol. Na maioria dos casos fala-se pouco porque pouco se entende. E não cada vez mais são alguns (felizmente só alguns) antigos praticantes, que tanto contestam que gente de outras profissões comente o jogo, a aparecer na primeira linha da gritaria inútil, com argumentos tão falaciosos como facciosos.
Sem falácias nem fações, já se pode falar de uma série de conversas sumarentas, com artistas de verdade, como Deco, Tiago Mendes, Gaitán, Fran Navarro ou João Mário. Em cada conversa uma aula, sendo que a de João Mário valeu também notícia, que o internacional português abriu o jogo nas palavras como tantas vezes abre o livro no campo. Destaco duas ideias que concretizam o momento pedagógico: a do entendimento do jogo como algo inteiro e a do conforto tático que é essencial a um futebolista.
Entender o jogo é mais que saber o que fazer com a bola a cada momento, numa série de decisões individuais, melhores ou piores. É perceber-se no contexto de uma equipa e do que se lhe pode acrescentar. Carlos Carvalhal dizia há dias, numa interessante tertúlia em que participei, que os jogadores se dividem cada vez mais em duas categorias: os que são especialistas (porventura fantásticos) de uma função apenas e os que compreendem o jogo como um todo. João Mário é claramente dos segundos. E quando Pepe Guardiola prefere o pensamento ambulante de Bernardo Silva a um genial especialista como Mahrez é mesmo disto que se trata, de optar por um homem que invulgarmente enquadra as suas ações – ofensivas e defensivas – naquilo que a equipa mais precisa.
Os melhores jogadores são que percebem a equipa e se percebem nela, nas suas virtudes e limitações, exponenciando as primeiras e iludindo as últimas. É isso que João Mário concretiza quando explica que, ao contrário da ideia feita de não se daria bem numa equipa a pressionar alto, adivinhava exatamente o oposto. Verdadeiramente, uma equipa que recupera a bola mais acima força menos os seus jogadores a correrias ataque-defesa-ataque, umas após as outras, pelo que protege precisamente os artistas “menos físicos”.
E é particularmente curiosa a revelação da proposta ao treinador Roger Schmidt para, literalmente, trocar as posições e funções do próprio João Mário e de Rafa. O técnico olhava para João Mário – tecnicista, pensador, não propriamente explosivo – como um 10 perfeito. João Mário conseguiu que o treinador entendesse que ele organizaria sempre melhor a partir da ala, onde encontra espaço para pausar e pensar, do que na zona rarefeita do corredor central, onde rapidamente é preciso rodar e seguir. Para isso havia Rafa, que até preferia andar por ali, em linha reta para o golo.
Sempre me questionava o que teria levado Schmidt a ver em Rafa, que não é propriamente um grande definidor, seja de último passe ou finalização, o segundo avançado de que a equipa precisava. A melhor explicação era a profundidade que garantia no corredor central e a capacidade de manter em respeito (leia-se menos subida) a linha defensiva contrária. Pode ser isso também, mas na origem da opção, sabemos agora, esteve uma sugestão dos próprios jogadores. É um penso, logo proponho. O resto foi a humildade do treinador em aceitar pelo menos a experiência da mudança em vez de insistir teimosamente no que lhe parecia óbvio, que era o que tantos fariam. Daí o elogio, tanto ao jogador que pensa, no campo e fora dele, como ao treinador que dialoga. E ao Luís Freitas Lobo, claro, que nos fez perceber isso. E tanto mais, desde há uns 20 anos."

Reforços | Orkun Kökçü, diamante turco nas mãos de Schmidt


"Orkun Kökçü, 22 anos, natural de Haarlem, nos Países Baixos, e internacional pela selecção da Turquia (22 internacionalizações e dois golos marcados). Eis o médio que chegou ao Estádio da Luz com galões de super estrela e com a responsabilidade de ter protagonizado a transferência mais cara da história do futebol português. Contratado ao Feyenoord, custou aos cofres do Benfica €25M, numa operação que poderá render mais €5M aos campeões neerlandeses “mediante cumprimento de objectivos desportivos”, pode ler-se no comunicado enviado pelas “águias”, aquando da oficialização da contratação, à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). Luís Catarino ajuda-nos a perceber melhor como joga o turco.

Um “box-to-box” refinado
Após uma temporada em que foi peça preponderante no trajecto vitorioso do Feyenoord na Eredivisie – o conjunto de Roterdão não levantava o “caneco” desde 2016/17 – e na boa campanha na Liga Europa (caiu aos pés da Roma nos quartos-de-final), com uma folha de serviços de impor o respeito – 46 jogos, 12 golos e cinco assistências em todas as competições -, Kökçü ingressa na Luz com as expectativas nos píncaros.
Visto por muitos como o “substituto” de Enzo Fernández, o turco tem características distintas das do argentino, mas poderá acrescentar diversas ferramentas na zona central dos “encarnados”, num sector que já conta com Florentino, João Neves, Chiquinho, Fredrik Aursnes e ainda o jovem Martim Neto.
Moldado pelo experiente Dick Advocaat, numa primeira instância, e pelo jovem Arne Slot, posteriormente, o MVP da última edição da Liga neerlandesa deixou de ser apenas um “número 10” para se transformar num médio completo, pois preenche todas as posições na zona intermédia, um “box-to-box” moderno que interpreta os momentos do jogo com mestria, recua para iniciar a primeira fase de construção, algo que Enzo fazia como poucos e que Chiquinho e João Neves reproduziram na temporada passada.
Actua sempre de cabeça levantada, tem uma óptima eficácia no capítulo do passe (longo ou curto) – a técnica apurada ajuda-o a “quebrar” as zonas de pressão dos opositores, variando o centro do jogo com imensa facilidade – e acciona a meia-distância e os lances de bola parada recorrendo ao auxílio do pé direito – o remate é mesmo um dos detalhes que o distingue, pela positiva, na comparação com o Enzo Fernández dos tempos de Benfica e, em especial, em relação a Chiquinho. Apesar de ter evoluído, no capítulo defensivo, ainda denota algumas desatenções e, em algumas fases, não é tão incisivo no momento da transição defensiva – recuperação pós perda da posse -, algo que deverá melhorar.
No habitual 1x4x2x3x1 desenhado por Roger Schmidt – o mesmo desenhado utilizado pelo Feyenoord -, e as suas inúmeras variações, o turco poderá ocupar as três posições no corredor central, dependendo da estratégia que for utilizada pelo técnico germânico e a composição que for escolhida. É um multifunções que vai dar um “boost” à posição, “casando” com os vários perfis existentes no plantel. De Florentino a Aursnes, passando por João Neves, Chiquinho ou até o jovem Martim Neto, não faltarão peças para ir gerindo a casa de máquinas dos “encarnados”.
Em resumo, Orkun Kökçü, que foi contratado para ser um “upgrade” no meio-campo dos campeões nacionais, é um médio completo, tecnicamente evoluído, tacticamente inteligente e ainda com uma considerável margem para evoluir.

“O Kökçü foi muito bem seleccionado para preencher o vazio deixado por Enzo Fernández”
(Luís Catarino)
Numa espécie de ataque “versus” contra-ataque, lançamos um desafio a Luís Catarino, pedindo ao comentador que esmiuçasse quem é o senhor 25 milhões. Desafio que foi prontamente aceite.

Como joga Kökçü?
“Sabe jogar para a frente. O Kökçü era um médio-ofensivo que foi trabalhado pelo Dick Advocaat e pelo Arne Slot para uma posição ligeiramente mais recuada, como segundo médio-centro e com um perfil mais completo. Por esse motivo, foi trabalhando mais a parte física e táctica para dominar mais vezes e com mais eficácia os tempos do meio-campo: ditar os ritmos com a bola, mas também na pressão e na cobertura porque passou a evidenciar mais disponibilidade para fazer deslocações mais agressivas na fase sem bola, para apertar o oponente, para ser mais presente nos vários momentos.”
“Na época passada (2021/22), no Feyenoord, era o médio-centro esquerdo, com o Aursnes à direita dele e, por exemplo, o Guus Til a ’10’ em 4-2-3-1. Depois, em 2022/23, manteve a mesma posição, com o Wieffer em vez do Aursnes e o Szymanski em vez do Til. Mas a ideia do Arne Slot era que o Aursnes/Wieffer e um lateral-interior dessem protecção para o Kökçü ter mais oportunidade para saltar para a zona ofensiva e assumir 1v1 ofensivo, ficando também mais perto das assistências e dos golos, contra equipas que se fechem muito atrás. Aliás, essa é uma nota importante: ele é adequado para raciocinar ataques numa equipa dominante, que queira soluções criativas e alternadas para confrontar formações recuadas e defensivamente densas.”
“Lembro-me, por exemplo, de um jogo muito bom que fez nesta época contra a Roma, em Roterdão. Mostrou bem aquilo que vale. É um centrocampista muito hábil a driblar e a pisar a bola (destro, mas usa bem o pé esquerdo) e com uma visão de jogo que lhe permite descobrir e lançar os colegas à distância com passes excelentes, como o Enzo Fernández também era capaz de fazer.”
“A qualidade de passe, no geral, é um dos parâmetros que se realça, tanto em jogo corrido como a bater livres e cantos. Remata muito bem e tem propensão para fazer golos. Atente-se no seguinte: o Kökçü, em cada uma das últimas duas épocas do campeonato holandês, foi o médio-centro que mais passes decisivos efectuou, sugerindo a tendência para criar situações de golo”, começou por realçar o analista da Sport TV, algo que bate certo com os dados que apresentamos acima de passes para finalização, superiores a Enzo e Chiquinho.

De que forma pode ser potenciado pelo Schmidt?
“Acredito que o sistema táctico do Schmidt no Benfica lhe possibilite uma integração ainda mais rápida e facilitada, pois tem semelhanças ao anterior, do Feyenoord. Embora houvesse uma oportunidade para recuperar a dupla que o Kökçü fez com o Aursnes em Roterdão, penso que o Schmidt também já percebeu que o norueguês pode ser mais vezes útil como falso-ala e entrar mais vezes em zonas de finalização, que foi um ‘upgrade’ em relação àquilo que o “8” do Benfica fazia no Feyenoord.”
“Por isso, à partida, vejo o Kökçü como médio-centro esquerdo, com o João Neves à direita dele. Não acredito tanto numa utilização do turco como médio-ofensivo na posição que tem sido do Rafa. O Schmidt, para essa posição atrás do ponta-de-lança, já provou que prefere aceleradores em corrida, como o Rafa, Neres ou Guedes (quem sabe, o Di María), que ataquem a baliza mais rápido. Penso que a lógica no Benfica será a de apresentar o Kökçü para organizar e manobrar numa escala de segundo médio-centro, no corredor centro-esquerdo, com mais área para levantar a cabeça e usar o pé direito, não tanto a ‘dez’, embora pudesse jogar bem aí”.

O que poderá acrescentar à formação da Luz?
“O Kökçü [pronuncia-se ‘Kâktshu’] foi muito bem seleccionado num cenário pós-Enzo Fernández e, para preencher o vazio do argentino, foi do melhor que a direcção do Benfica fez em matéria de mercado. Não há muitos jogadores disponíveis no cenário internacional que se pudessem assemelhar tanto ao Enzo. Já teria valor para actuar num grande da Premier League e tem a vantagem de ser um jogador cada vez mais valorizado, também na selecção da Turquia – jogou pelos Países Baixos até aos juniores, mas escolheu os AA da Turquia, também por razões familiares, e é adepto do Besiktas”.
“O facto de ele estar em ascensão abre a possibilidade de o Benfica garantir rendimento desportivo imediato e de obter lucro financeiro com uma transferência futura se for oportuno. E não tem problemas de habituação à pressão, pois jogar no Feyenoord é ‘barra pesada’ e os adeptos cobram bem. Não só ele cresceu nessa atmosfera, como se tornou capitão e campeão lá. Roterdão é exigente. Destacaria o facto de ele ter feito 175 jogos na equipa principal do Feyenoord (estreou-se com 17 anos) e é um dado que sugere uma utilização regular e pouca propensão para lesões”, finalizou.

Blindado com uma cláusula de rescisão de €150M, o multifunções turco rubricou um vínculo com a duração de cinco épocas que irá vigorar até 30 de Junho de 2028."

O que é ter talento? Um conflito entre Roberto Martínez e Rui Jorge


"Sempre que abrem as janelas de transferências, reacende-se o vício de explicar o talento através dos números. O talento é interpretado como uma unidade de medida quantitativa, tal como acontece durante a época. Mais golos, melhor ponta-de-lança. Mais assistências, melhor médio. Mais caro, ora, melhor jogador. Não se discute a qualidade do passe, mas o número de passes completos. Para apontar o dedo aos desequilibradores existe o número de perdas de bola. Sobrevalorizam-se guarda-redes mediante o número de golos sofridos. Curiosamente, na hora de desenhar uma convocatória, é raro encontrarmos listas iguais, pois a percepção de talento muda de pessoa para pessoa, independentemente dos números. O talento é uma percepção, não uma unidade de medida quantitativa, por isso é que Roberto Martínez e Rui Jorge priorizam perfis diferentes quando são chamados a escolher jogadores, não se limitando à simples tarefa de optar pelos melhores classificados de rankings que buscam transformar a percepção de talento numa unidade quantificável. Será benéfico ter, dentro do mesmo projecto desportivo, dois treinadores com percepções de talento tão distintas?
Se partirmos da premissa de que quem tem de representar a Selecção são os melhores, entramos imediatamente no pantanal da ambiguidade. A frase é repetida até à exaustão e sobrevive ao tempo, mesmo tendo nascido órfã de uma ideia. Para que ganhe sentido, torna-se obrigatório explicar de que forma estruturamos o termo qualitativo “melhores”. Pelo que é que nos regemos para considerar um jogador melhor do que o outro? Olhamos para o clube que representam? Para o número de títulos já conquistados? Olhamos para a liga onde jogam? Para as titularidades ao longo da temporada? Olhamos para o sistema em que costumam actuar? Para o estatuto? Olhamos para as características individuais? Não podendo, à partida, descartar algum dos pontos anteriores, qual deles se acentua quando estamos perante a árdua tarefa de eleger “os melhores”? Não vingará, na maior parte das vezes, a percepção de talento aplicado ao futebol que queremos jogar?
A meu ver, a proposta de jogo é a linha mestra de um projecto desportivo, uma espécie de bússola. Definir como é que queres jogar selecciona os treinadores que cabem nessa ideia e os jogadores com o melhor perfil para interpretá-la. Definir como é que queres jogar é dar identidade a um projecto desportivo, é o que te permite olhar para um jogador ou para um treinador em qualquer lado do mundo e dizer que possui um perfil que encaixava mesmo bem no projecto A ou B. A expressão “é um jogador à Barça” resulta de um trabalho exímio na criação de uma identidade, apreciando-se mais ou menos a linha mestra blaugrana.
Sabe-se que há muitos projectos desportivos cuja bússola é o treinador, que adoptam a linha mestra de outrem ao invés de, antes, definirem a linha mestra. Acontece que, no caso das nossas selecções, nem sequer encontro uma bússola e, ainda que compreendendo a quota parte da dependência das selecções face ao rendimento dos jogadores nos respectivos clubes, não se pode defender que esse é um dos principais critérios e, ao mesmo tempo, justificar a chamada de Renato Sanches apontando para as suas características individuais. Qual é, afinal, a nossa linha mestra? Que tipo de jogadores estão mais próximos das selecções e porquê? Quem é que olha para os escolhidos de Rui Jorge e encontra uma percepção de talento semelhante à de Roberto Martínez?
Eu vejo, sobretudo, dois treinadores agarrados aos seus sistemas com unhas e dentes, como se de rivais se tratassem, pois em pouco ou nada se aproximam. Vejo jogadores a ganharem estatuto por culpa das características individuais, como João Palhinha ganhou com Roberto Martínez, e outros que não o perdem pelas mesmas razões, como Tiago Dantas com Rui Jorge. Quase tão parecidos como a água e o azeite. Vejo oportunidades ganhas à conta do rendimento nos clubes, como as concedidas por Roberto Martínez a Diogo Leite e a Toti Gomes, outras que chegam sem que essa premissa se cumpra, como a chamada de Diego Moreira para substituir Fábio Vieira. Vejo Vitinha, um dos indiscutíveis para Rui Jorge, a ser opção atrás de Danilo no meio-campo de Roberto Martínez. Vejo João Neves, nunca antes convocado para os sub-21, a assumir a titularidade em todos os jogos do Europeu. Qual é, afinal, a nossa linha mestra?
Algum dia João Neves tinha visto a cor da convocatória dos sub-21 sem o brilharete no Benfica naquela recta final de época? Rui Jorge já demonstrou que tem convicções, porque confiou em Vitinha e Fábio Vieira quando ambos ainda estavam muito longe de ser aposta séria em contexto de clube. Mas, então, isso significa que as nossas selecções privilegiam um perfil de jogador? Se sim, por que é que João Neves nunca havia sido chamado? Se não, por que é que Vitinha e Fábio Vieira foram aposta numa altura em que, no clube, as coisas não lhes estavam a correr assim tão bem? Os jogadores estão dependentes do que fazem nos clubes para chegarem às selecções ou a força maior reside nas características individuais que as selecções definiram desenvolver?
Rúben Neves realizou uma temporada melhor do que a de Vitinha? Roberto Martínez já demonstrou que não privilegia as características do médio do PSG. Mas, então, isso significa que as nossas selecções privilegiam um perfil de jogador? Se sim, por que é que, dentro do mesmo projecto desportivo, se privilegiam perfis tão díspares? Se não, o que é que se privilegia? Para chegarem às selecções, os jogadores estão mais dependentes do que fazem nos clubes ou a força maior reside nas características individuais?
Um projecto por explicar é um projeto sem identidade, irreconhecível, em torno do qual não se juntam pessoas. Que a bússola desse projecto sejam os títulos é o motivo que nos leva a andar perdidos a maior parte do tempo, mesmo com a mais completa geração de sempre às costas. Qual é, afinal, a nossa linha mestra?"

Homens assustados, até quando?


"A FIFA anunciou que vai distribuir 20 mil bilhetes gratuitos para os encontros do Campeonato do Mundo feminino de futebol realizados nas quatro cidades da Nova Zelândia. O argumento apresentado - prontamente ignorado por muitos - prende-se com a pouca cultura futebolística daquele país, um fator que tem levado a uma procura mais modesta de ingressos para a prova que também se vai jogar na Austrália - onde o problema não se coloca.
A notícia fez as delícias de muitos homens assustados que viram na headline (não no conteúdo ignorado) a prova irrefutável para a teoria de que o futebol jogado por mulheres não desperta interesse. Foi assombrosa a avalanche de comentários - um pouco por todo o mundo - nas redes sociais a rebaixar e a caricaturar o evento e quem o vai disputar, desenterrando argumentos arcaicos e assentes em juízos de valor muito pouco recomendáveis.
Que não se sintam atraídos pelo espetáculo futebolístico protagonizado por mulheres é um direito que lhes assiste. A raiz do problema não está nessa escolha mas na manifestação da mesma, quase sempre depreciativa e invariavelmente colada ao género do alvo.
O padrão argumentativo nos ataques feitos ao futebol jogado por mulheres leva-me à seguinte conclusão: é medo, só pode. Medo de ver ruir o fundamento de masculinidade historicamente colado ao futebol, mais do que a qualquer outro desporto. Não vejo este tipo de ataque desenfreado ao ténis jogado por mulheres; ou ao basquetebol jogador por mulheres; ou ao andebol jogado por mulheres.
O futebol amplifica esse medo de alguns homens que, admito, sem intenção objetiva de ferir e minimizar, caem recorrentemente no pensamento cavernoso de que "isto não é para elas." É no futebol, mais do que em qualquer outro desporto, que o homem assustado mais cerra os dentes e se defende em tom grosseiro de um medo que não consegue largar.
Porque quando sobram lugares vazios nos estádios de futebol durante encontros jogados por homens o problema está sempre no preço dos bilhetes, na falta de condições dos recintos ou em tantos outros fatores desapegados da qualidade objetiva do jogo jogado. Quando muda o género, só pode ser porque "elas não jogam nada." É medo, só pode."

O ciclismo é um belo desporto


"O ciclismo é um desporto que não pode ombrear com o futebol, mas tem muitos adeptos e fãs que seguem as corridas. Enquanto o futebol não começa a sério, sendo os rumores de transferências em catadupa, aproveito e sigo outros desportos que aprecio: ciclismo, ténis, Fórmula 1 e MotoGP.
Sou do tempo que a seguir a um campeonato nacional, os adeptos viravam-se para o ciclismo, havia equipas de ciclismo do FC Porto, Benfica, Sporting e a rivalidade prolongava-se pelo defeso.
A Volta à França é uma espécie de Champions do ciclismo. Vencer uma Volta à França é fazer parte da história do ciclismo mundial.
Este domingo foi fantástico, viu-se belas imagens e Pogacar a descolar de Vingegaard.
Tenho seguido a Volta à França e vi a subida de "Puy de Dôme". Achei estranho nos últimos quilómetros não ter público, mas fui investigar.
Por um lado, esta subida não constava da Volta à França há 35 anos porque a sua estrada é propriedade privada. O acesso ao "Puy de Dôme" pode ser feito por uma linha de comboio que vai do sopé até ao cume. Essa linha de comboio fez com que a estrada ficasse muito estreita e ter público seria perigoso para os ciclistas.
Para os ciclistas poderem subir ao "Puy de Dôme" foi necessário pedir autorização ao seu proprietário. Deste modo, procurou-se proteger o local, que não é publico e ainda por cima é Património Mundial da Unesco, assim evitou-se a deterioração ambiental.
A subida mesmo sem público foi espectacular, Pogacar atacou de novo e mostrou, já com o fito de tomar a camisola amarela. Este duelo está ao rubro e não me lembro de uma Volta à França tão emocionante logo desde o início. Ainda vamos a meio. Para já, o duelo Pogacar – Vingegaard está 2-1, contudo Vingegaard continua de amarelo, mas somente por 17 segundos.
Esta pode ser uma das melhores Voltas à França, o seu interesse tem aumentando as audiências, segundo dados da televisão francesa, 3,7 milhões de pessoas vêem a Volta à França em cada etapa.
Eu sou um deles e vou continuar a seguir atentamente."

Turismo e desporto: uma emergência e uma conquista


"Como objeto de reflexão teórico-científica, o turismo é um campo de análise recente em Portugal. As razões são várias, mas prende-se, sobretudo, com a institucionalização tardia da sociologia nas universidades portuguesas. As dificuldades que se colocam aos investigadores neste domínio são acrescidas e os recursos financeiros afetos à pesquisa são escassos.
No contexto internacional, na segunda metade do século XX assistiu-se ao florescimento de bibliografia relacionada com o assunto. Creio que a sociologia encontra no fenómeno turístico um campo com extremo potencial, podendo testar as suas teorias. Como refere Santos (2007), “o turismo não se dissocia da emergência e desenvolvimento de uma conquista e manutenção de territórios sociosimbólicos e políticos, de poder e prestígio implícitos por parte do mundo moderno ocidental, e a sua história não cabe na periodização historiográfica clássica do positivismo, feita de épocas, séculos e décadas, numa neutralidade divorciada da espacialidade da vida social” (p. 24).
O turismo desportivo consiste em deslocar-se a um ou mais locais, fora do local de residência habitual, para se divertir. A dimensão “desportiva” advém do facto de o objetivo destas viagens ser parcial ou totalmente desportivo: por exemplo, visitar um local relacionado com o desporto (museu, estádio, etc.) ou participar numa atividade desportiva mais ou menos intensa. É frequentemente associado à deslocação de pessoas ao estrangeiro para assistirem aos jogos dos seus clubes favoritos. Mas o turismo desportivo é muito mais do que isso.
Grosso modo, podemos dividir o turismo desportivo em “turismo duro” e “turismo suave”. O turismo desportivo duro é aquele em que a viagem tem apenas fins desportivos. O turismo “suave” é aquele em que o turista aproveita as suas férias para participar numa atividade desportiva, mas não faz dela o único objetivo da sua viagem. Outrora marginal, a popularidade do turismo desportivo aumentou nos últimos anos, incentivada, sobretudo, pela redução das passagens de avião iniciada pelas companhias aéreas de “baixo custo”. Atualmente, é possível percorrer vários milhares de quilómetros para assistir a um único evento!"

Di María e… Pascal!


"Não sou um especialista em Pascal (1623-1662). Bem longe disso. Mas, mesmo sem grande domínio do seu “cosmos” cientifico e filosófico, aquele seu pensamento: “o coração tem razões que a razão não entende”, muitos o conhecem e o invocam. Até eu. Os séculos XVII e XVIII são de larga e profunda influência cartesiana. É verdade que o dualismo antropológico cartesiano parece-nos, hoje, um erro, principalmente a todos nós os que já fomos, de uma forma ou doutra, mais ou menos “agentes do desporto” – parece-nos, repito, um erro gigantesco. Mas, no meu modesto entender, o “cogito, ergo sum” significa, antes de tudo, que a Verdade não é monopólio de uma elite religiosa ou política. Por isso, me agrada tanto a afirmação existencialista: “a existência precede a essência”. O ser humano faz-se, fazendo. Em vez da noção abstrata de ser, a sua noção concreta. Mas uma noção concreta da mulher e do homem tem de salientar que a afetividade, o amor, a arte, a poesia, o sonho, o ódio, a angústia são humanos também (a propósito, vem-me à lembrança o Del Sentimiento Trágico de la Vida, de Miguel de Unamuno). Ora, Di Maria, atual jogador do Sport Lisboa e Benfica, reingressou no seu primeiro clube europeu, depois de passar pelo Real Madrid, pelo Manchester United, pelo Paris Saint-Germain e pela Juventus e depois de ganhar o último Mundial pela seleção argentina. E, quando, no dia 6 de Julho de 2023, foi apresentado, perante a multidão ruidosa de 2500 adeptos, aos sócios benfiquistas, afirmou uma frase que ressoou triunfal: “Escolhi o Benfica, pelo coração”.
E todos os presentes (quase todos de camisola vermelha e águia ao peito) como numa apoteose única, repetiram a palavra mágica: “coração”! E tive a plena sensação, na tempestade de ovações subsequentes, que se espraiou até â avenida General Norton de Matos e a todo o Estádio da Luz – que o benfiquismo é uma nova religião sem Deus…
“Os meus sentimentos são únicos, inigualáveis. Voltar a minha casa é algo único, sinceramente. Estou completamente agradecido a todos, principalmente ao presidente que me deu a possibilidade de voltar outra vez a casa. É algo inexplicável. Tenho de agradecer a todos vocês, por me terem vindo aqui receber-me. Em Portugal não é normal fazer-se isto”- E Di Maria ficou de braços abertos (o microfone, na mão esquerda) também ele em êxtase. E continuou, emocionado: “Tive muitas propostas de muitos lugares, mas tinha a ambição, a vontade, o entusiasmo, a força de voltar a casa. E sinceramente escolhi com o coração. Esta é a realidade: escolhi com o coração e… nada mais!”. Passo agora a palavra ao jornalista Fernando Urbano do jornal A Bola: “Muitos adeptos receberam-no já com a nova camisola. I número 11 exibia-se nos manequins do corredor de acesso â loja oficia (equipamento ptoncipal e alternativo, mas também o de Kokçu e o de Otamrndi cuja renovação parece ter um valor de contratação). O entusiasmo era óbvio e mais eufórico ficou o povo, quando Di Maria mudou de tom e partiu para o futuro. Bastou soletrar um número para os decibéis subirem ao Terceiro Anel: “Sinto agora o que senti no dia em que cheguei, em 2017, a Lisboa. Quero trabalhar, continuar a tentar conseguir títulos. Este ano o Benfica ganhou o 38 e oxalá possamos, no ano que vem, ir pelo mesmo caminho e tentar conquistar o 39”. Após as palavras de Di Maria, um grito ressoou triunfal: “Viva o Benfica!”. E a apoteose correu de boca em boca, como se a mesma comoção reunisse, no mesmo frémito, toda aquela gente. Muitas vezes, diante de espetáculos como este, que assisti pela televisão, penso, de mim para mim: será o Benfica uma nova religião? …
Na revista Brotéria (Maio/Junho de 2013), Francisco Sarsfield Cabral, escreveu um artigo que me parece ainda atual, “Religião sem Deus?”. O articulista refere nele que, para algumas pessoas, é possível um “ateísmo religioso”. E acrescenta: “Kant escreveu um livro sobre a religião nos limites da simples razão, onde o religioso é fundamentalmente ético, sendo Deus como legislador supremo. Mas podemos encarar o imperativo ético (categórico, para Kant) sem referência a Deus, como um valor independente, auto-fundante? Decerto que a ética é autónoma. Não é verdade que, não existindo Deus, tudo seria permitido. Um agnóstico ou um ateu podem e devem reger-se por princípios morais. A ética não depende de um Deus pessoal, embora Este lhe confira uma força adicional, porque mais vigorosamente fundamentada.” (p. 495).Também eu convivo (e fraternalmente) com amigos que se confessam ateus e agnósticos. E digo mais: que tenho eu, que acredito em Deus, a ensinar a pessoas que dão a vida pelos mais autênticos valores humanos e rejeitam, honestamente, o mesmo Deus a quem eu rezo? Por isso, muitas vezes me lembro do pensamento de Max Horkheimer:”a teologia, para mim, é a esperança de que a injustiça, que caracteriza o mundo, não seja a última palavra” (Elipse da Razão, Zahar, Rio de Janeiro, 1976, p. 18). Poderia lembrar, a propósito, o Antero de Quental dos “Vencidos da Vida”, a quem Eça de Queirós, num arroubo de mística laica, chamava o “santo Antero”, um agnóstico de excelsas qualidades humanas, que provocavam a incontida admiração dos seus pares…
Di Maria, um “santo laico” também? O norte-americano Ronald Dworkin, poucos dias antes de morrer (volto ao artigo do F, Sarsfield Cabral) remeteu, para o New York Review of Books, de que era habitual colaborador, um artigo extraído de um seu livro Religion without God, onde critica, frontalmente o ateísmo militante de Richard Dawkins e de outros cientistas ateus. “Naturalmente que a posição religiosa de Dworkin está longe da perspectiva cristã, cujo centro é um Deus vivo, não o “motor imóvel” e impassível de Aristóteles. Um Deus que ama de tal forma os homens (e as mulheres, acrescento eu) que deu a vida por nós na pessoa do seu Filho”. Mas a ética é autónoma. Não abundo na opinião de Dostoievski que admitia: “Sem Deus, tudo é permitido”. Como já o salientei atrás, um ateu ou um agnóstico podem ter os seus princípios morais, que mereçam de mim o mais rendido respeito. Retorno ao artigo da Brotéria (Maio/Junho de 2013): “Claro que nem todas as religiões são iguais, como Bento XVI alertou na encíclica Caritas in Veritate”. Mas não é verdade que, em todas elas, se manifesta um universal sentimento religioso? E que, no âmbito de um rigoroso racionalismo crítico, este sentimento religioso nos pode falar de valores que vale a pena servir e amar? O ser humano é o único ser, neste mundo, cuja vida pode estar ao serviço de algo mais valioso do que a própria vida. É o que eu, afinal, quero dizer, lembrando o discurso emocional de Di Maria à multidão de benfiquistas que o recebeu."