sábado, 15 de julho de 2023

Homens assustados, até quando?


"A FIFA anunciou que vai distribuir 20 mil bilhetes gratuitos para os encontros do Campeonato do Mundo feminino de futebol realizados nas quatro cidades da Nova Zelândia. O argumento apresentado - prontamente ignorado por muitos - prende-se com a pouca cultura futebolística daquele país, um fator que tem levado a uma procura mais modesta de ingressos para a prova que também se vai jogar na Austrália - onde o problema não se coloca.
A notícia fez as delícias de muitos homens assustados que viram na headline (não no conteúdo ignorado) a prova irrefutável para a teoria de que o futebol jogado por mulheres não desperta interesse. Foi assombrosa a avalanche de comentários - um pouco por todo o mundo - nas redes sociais a rebaixar e a caricaturar o evento e quem o vai disputar, desenterrando argumentos arcaicos e assentes em juízos de valor muito pouco recomendáveis.
Que não se sintam atraídos pelo espetáculo futebolístico protagonizado por mulheres é um direito que lhes assiste. A raiz do problema não está nessa escolha mas na manifestação da mesma, quase sempre depreciativa e invariavelmente colada ao género do alvo.
O padrão argumentativo nos ataques feitos ao futebol jogado por mulheres leva-me à seguinte conclusão: é medo, só pode. Medo de ver ruir o fundamento de masculinidade historicamente colado ao futebol, mais do que a qualquer outro desporto. Não vejo este tipo de ataque desenfreado ao ténis jogado por mulheres; ou ao basquetebol jogador por mulheres; ou ao andebol jogado por mulheres.
O futebol amplifica esse medo de alguns homens que, admito, sem intenção objetiva de ferir e minimizar, caem recorrentemente no pensamento cavernoso de que "isto não é para elas." É no futebol, mais do que em qualquer outro desporto, que o homem assustado mais cerra os dentes e se defende em tom grosseiro de um medo que não consegue largar.
Porque quando sobram lugares vazios nos estádios de futebol durante encontros jogados por homens o problema está sempre no preço dos bilhetes, na falta de condições dos recintos ou em tantos outros fatores desapegados da qualidade objetiva do jogo jogado. Quando muda o género, só pode ser porque "elas não jogam nada." É medo, só pode."

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