terça-feira, 25 de abril de 2023

Editorial


"1. Foi impressionante acompanhar a onda de benfiquistas em Milão. Milhares de incansáveis adeptos espalharam a mística pela cidade, da Piazza del Duomo ao Arco della Pace e, depois, nas bancadas em São Siro, em mais uma noite de apoio incondicional.
Foi um imenso mar vermelho de orgulho e de crença depois de um trajeto notável que nos trouxe até aqui. Segundo ano consecutivo nos quartos de final da Liga dos Campeões, 1.º lugar num grupo que tinha PSG e Juventus como cabeças de cartaz. Uma dimensão europeia que merecemos e queremos cada vez mais cimentar. Mesmo se não fomos nada felizes com as arbitragens: um penálti por marcar na Luz e outro em Milão. Lances que teriam dado outro rumo à eliminatória.

2. Faltam seis jogos para terminar uma época que começou cedo para o Benfica, com duas pré-eliminatórias para a Champions, e teve durante 95 por cento do caminho uma expressão de imensa qualidade e competência. São esses os dois pilares com que iremos exprimir a nossa ambição no que resta do campeonato, com a união e o apoio dos nossos adeptos para garantir o 38. A começar já no domingo com o Estoril, numa Luz que vai estar outra vez repleta. Dependemos só de nós. Esse é um capital especial de que mais ninguém dispõe. Para além do carácter e da personalidade que já afirmámos em toda a época. Vamos, Benfica!

3. Nessa edição do jornal O Benfica, destaque para a ambição em três modalidades que podem garantir títulos e prestígio a breve trecho: no futebol feminino, estamos muito próximos de fechar o tri; no hóquei feminino, o Pavilhão Fidelidade vai receber a final four da Liga dos Campeões, e no polo aquático feminino, acredita-se muito que o tetra vai chegar. À Benfica."

Pedro Pinto, in O Benfica

25 de Abril


"Que data melhor para que seja exposto a ditadura do Futebol Português nos últimos 40 anos?
Desde o início da época que este Campeonato 2022/2023 tem sido jogado em várias plataformas que não o campo. O Benfica, até há 3 jornadas atrás, respirava e vendia futebol, o que minimizava os constantes e habituais roubos a favor do Putedo. Roubos de anos e que já estão estabelecidos como “normais”. Já não se pode admitir arbitragens sérias e imparciais (como por exemplo a de João Pinheiro no FC Putedo – Benfica), porque se não beneficiaram o FC Putedo, então é porque automaticamente prejudicaram o FC Putedo.
E tem sido isto há anos, e anos e anos e anos, encoberto pelos paineleiros cartilhados da Aliança do Altis e desculpado pelos anti-benfiquistas primários lagartos que enchem os painéis do debate desportivo em Portugal.
Neste momento, o que se verifica é um agravamento escandaloso dos roubos, uma vez que sabem que por esta via conseguem chegar à vitória no Campeonato. E jogos fora, porque em casa é impossível perderem pontos sem sair de lá alguém morto, o guião é sempre o mesmo:
Jogo fora complicado vs. Casa Pia? Expulsão na 1ª parte.
Jogo fora complicado vs. Marítimo? Expulsão na 1ª parte.
Jogo fora complicado vs. Boavista? Expulsão na 2ª parte.
Jogo fora complicado vs. Chaves? Expulsão na 2ª parte.
Jogo fora complicado vs. Paços Ferreira? Expulsão na 1ª parte.
Em todos eles ou havia empate ou 1 golo de diferença. Serviu para matar o jogo. O único em que o guião não resultou em pontos foi frente ao Casa Pia, onde nem com mais um durante mais de metade do jogo nem um golo conseguiram marcar.
A estratégia é sempre a mesma. Simulações infinitas, muito grito, muita piscina, muito rebolar no chão que o penálti e/ou a expulsão irão cair. É o combo da alegria. Basicamente, e em resumo, é sempre isto, não tem nada que enganar:
- Todos os lances dentro da área mergulham descaradamente.
- O banco levanta-se todo e protesta como selvagens.
- Sérgio Conceição corre a zona lateral toda a vociferar impropérios a tudo e todos.
- Pepe e Otávio fazem pressão ao árbitro e pedem VAR.
- Árbitro e VAR borram-se pelos calções abaixo e marcam o que eles querem.

OS DADOS DA VERGONHA!
Expulsões a favor na Liga Bwin (últimas 2 épocas):
FC Porto - 23
Benfica - 6
O FC Putedo tem mais 283% de expulsões comparando com o Benfica!
Penaltis a favor na Liga Bwin (últimas 3 épocas):
FC Porto - 47 Benfica - 26
O FC Putedo tem mais 80% de penaltis comparando com o Benfica!
Dados factuais a que os adeptos do Putedo respondem com um "Chora Bebé". Porque será? Comentar factos não está no ADN deles e quanto mais roubadinho melhor lhes sabe. Imaginem estes dados ao contrário.
Imaginem estes dados nas mãos dos criminosos que andaram a roubar emails e a divulgá-los na televisão, televisão que por acaso (deve ser mesmo só por acaso) é financiada por dinheiros públicos. Imaginem.
Para quando o 25 de Abril no futebol Português?"

Expulsões...

Penalty's...

Horrível...

Benfica 0 - 0 Trofense


Péssimo jogo de futebol, praticamente sem remates à baliza,  com intensidade baixa e 32 faltas!!!
Tivemos 68% de posse de bola, e o único remate enquadrado foi nos descontos!!!
Esta equipa não tem uma única ideia ofensiva...!!!

Vamos sofrer até à última jornada...!!!

Diferenças!!!


"O SC Braga está a 2 pontos do FC Porto, mas para a quarta equipa com mais penaltis do mundo e o seu velho presidente, o melhor é continuar a falar nas arbitragens do Benfica. E a carneirada dos andrade vai atrás...
Entretanto eliminam possíveis concorrentes as eleições nos azuis para assim calar os insatisfeitos.
Já Fábio Veríssimo, andou a fazer das suas de novo. Nos últimos 3 jogos, de SL Benfica e FC Porto, que arbitrou, eis os números:
Adversários FC Porto:
✅ 61 faltas, 17 cartões amarelos (2 V);
Adversários SL Benfica:
✅ 38 faltas, 8 amarelos;
Jogadores do FC Porto:
✅ 41 faltas, 6 cartões amarelos (1 V);
Jogadores do SL Benfica:
✅ 33 faltas, 11 cartões amarelos (2 V);
Não há nada para ver aqui Liga Portugal"

Intervalos com brinde!!!

João Neves, muito futebol em muito benfiquismo


"1. Apesar dos seus 18 anos, apresentou-se com o impressionante à vontade de um titular de longa data. Mostrou personalidade e mostrou atitude.
2. Correu os 90 minutos, jogou com a intensidade e o ritmo necessários ao sistema de jogo de Schmidt, defendeu e atacou, teve até capacidade para se impor no jogo aéreo (não só na perdida dentro da área, também no meio-campo).
3. Demonstrou que já é uma opção a ter em conta, mas com enorme margem de progressão. Com o tempo, vai mostrar mais atrevimento e correr mais riscos, logo vai ainda melhorar muito, tornando-se mais influente.
4. Está no clube desde 2012 (chegou com 8 anos!) e foi ele que explicou que a paixão pelo Benfica "foi crescendo ao longo dos anos". E concluiu: "Devo tudo ao Benfica, o Benfica não me deve nada."
5. Uma palavra de reconhecimento para Roger Schmidt, que, depois de António Silva, está a apostar noutro (muito) jovem jogador da formação."

Três pontos!


"Vitória mais do que justa ante o Estoril, com o resultado a pecar por escasso face ao volume ofensivo da nossa equipa. O objetivo era ganhar e foi cumprido. Este é o tema em destaque na News Benfica.

1
Roger Schmidt enaltece a exibição e a atitude da equipa: "Jogámos bem e merecemos ganhar. Podia ter sido mais fácil se tivéssemos marcado mais cedo e mais golos. Tivemos muitas oportunidades, e claro que, não marcando o segundo golo, é preciso manter concentração, disciplina e foco. Não demos ao adversário oportunidade de marcar, e foi por isso que ganhámos 1-0. Estou muito contente com a atitude dos jogadores, fizeram um bom jogo e mostraram bom futebol."
A estreia a titular do ainda júnior João Neves é explicada pelo nosso treinador: "Se fosse um risco, não o teria escolhido. É um jogador talentoso, já tem alguns minutos na equipa principal, sempre jogou bem, e, se vissem no treino, é uma excelente mistura de alegria, confiança e qualidade."
A equipa só pensa na conquista do título: "Queremos ser campeões nacionais nesta época e havia seis jogos para ganhar. Hoje, foi crucial para nós. Não é só ganhar, é ganhar bem, e foi o que a equipa fez. Para sermos campeões temos de vencer os jogos."
Veja a conferência de Imprensa de Roger Schmidt, aqui.

2
Neres, autor da assistência para o golo de Otamendi, realça a atitude da equipa: "Sabia que ia ser difícil. Tinha de dar o meu máximo desde o princípio, e este prémio é coletivo. A equipa entrou com o mesmo espírito que eu. Tínhamos de impor-nos do início ao final, foi o que fizemos, e conseguimos os três pontos."

3
Estamos a um ponto do título no futebol no feminino. A nossa equipa recebeu o Ouriense e venceu por 6-0. Basta um empate na antepenúltima jornada (deslocação ao Valadares Gaia) para garantir o tricampeonato.
Veja o resumo da goleada benfiquista, aqui.

4
No clássico de andebol, na Luz, com o FC Porto, a balança pendeu para os portistas numa partida disputada até aos segundos finais. 28-29 foi o resultado.
Hoje há jogo da equipa B de futebol. A receção ao Trofense no Benfica Campus tem início agendado para as 18h00. Luís Castro antevê o embate e lembra o propósito deste escalão: "Temos de entrar como se fosse uma final, colocar o foco no Trofense e fazer o nosso trabalho. Passámos por várias coisas durante a época, como as lesões. Outras, como a subida de jogadores para a equipa A e os empréstimos, que fazem parte do projeto e do futuro. Os nossos títulos já estão praticamente ganhos, que são os jogadores que estão na equipa A." 
E amanhã há desafios dos Sub-23 e Sub-17, além do jogo com o FC Porto em hóquei em patins, na Luz, às 18h00. Consulte a agenda no Site Oficial.

5
A Casa Benfica Arouca celebrou o 16.º aniversário e reabriu com nova imagem, um evento que contou com a presença do vice-presidente Domingos Almeida Lima e da glória Pedro Mantorras. Leia a reportagem no Site Oficial."

Suplente de luxo | Petar Musa


"Petar Musa já leva nove golos, sete deles saído do banco suplentes. Números interessantes para um jogador que sai muitas vezes do banco.

O avançado croata chegou no verão passado proveniente do Boavista por cinco milhões de euros, depois dos axadrezados terem recebido o avançado por empréstimo do Slavia de Praga, e o clube checo ter vendido Musa por quatro milhões ao clube do Bessa.
O croata de 25 anos vai pedindo mais tempo de jogo, depois de ter um impacto positivo cada vez que sai do banco. O avançado leva nove golos na presente época no clube encarnado em apenas 1033 minutos, sendo o suplente com mais impacto na Primeira Liga, a par de Issah Abass do Desportivo de Chaves, com cinco golos ambos.
Na Liga dos Campeões, o avançado internacional croata levou dois golos nesta época, um deles muito importante na disputa pelo primeiro lugar do grupo, na goleada imposta pelo Benfica ao Maccabi Haifa em Israel, lembrando que os encarnados passaram em primeiro lugar fruto dos golos marcados fora de casa na fase de grupos da competição. Também em San Siro, nos quartos de final, o avançado fez o gosto ao pé e deixou a sua marca num dos grandes palcos do futebol europeu, no empate a três dos encarnados que ditou o afastamento do clube português da competição. O avançado, natural de Zagreb é o terceiro jogador desta competição com mais golos a saltar do banco.
Na Primeira Liga, Petar Musa tem quatro golos saídos do banco, mas nenhum dos golos do croata, como suplente, valeu diretamente pontos. Musa costuma substituir lugar de Gonçalo Ramos em alturas em que as partidas já estão resolvidas a favor dos encarnados. Musa marcou na vitória frente ao Rio ave por 4-2, contra o Chaves numa vitória por 5-2, frente ao Estoril na goleada na Amoreira por 5-1, em Arouca no passado mês de janeiro, numa vitória forasteira por 3-0 e na difícil vitória caseira diante do Boavista por 3-1.
Titular por apenas duas vezes no campeonato nacional, o avançado tem um impacto positivo, e não fosse a excelente época de Gonçalo Ramos no ataque encarnado, e poderia ter muitos mais minutos, algo que a nação benfiquista tem pedido nos últimos tempos, fruto também do baixo rendimento nas partidas mais recentes por parte de Gonçalo Ramos.
Petar Musa vem da melhor época da sua carreira, no Bessa, com 12 golos em 31 jogos na equipa axadrezada, 11 dos 12 golos foram marcados no campeonato. O jogador ingressou no Slavia Praga em 2019, mas passou por diversos empréstimos e nunca conseguir pegar de estaca na equipa checa. A melhor época no clube de Praga aconteceu em 2019/2020 onde efetuou 14 jogos e marcou sete golos.
O jogador foi convocado para a seleção da Croácia no último mês de março, e questionado acerca do pouco tempo de jogo no Benfica, o avançado referiu que aproveita cada segundo dentro de campo ao máximo.
Um suplente de luxo na equipa comandada por Roger Schmidt, e pode ser peça fulcral nestas últimas jornadas do campeonato, rumo ao tão desejado 38º título de campeão nacional."

A influência da posição oito


"Nos últimos tempos, o Sport Lisboa e Benfica tem enfrentado um autêntico dilema na posição de número oito. Este dilema tem-se vindo a acentuar nos últimos jogos do Benfica, jogos nos quais a equipa encarnada tem-se vindo a ressentir mais da ausência de um jogador como Enzo Fernández.
O médio que viria a ser o melhor jogador jovem do Mundial realizado no Catar foi vendido à beira do fecho do mercado de transferências, sem que o clube encarnado tivesse tempo de arranjar um substituto a altura, sendo Chiquinho foi o jogador escolhido para render o internacional argentino.
E a verdade é que, apesar do médio português já ter feito algumas boas exibições a jogar no meio-campo, nos jogos de grau de dificuldade, tem sido claramente visível que o nível de Chiquinho enquanto jogador é manifestamente insuficiente para aquilo que se exige no Benfica.
Quem quer que veja os jogos do Benfica com olhos de ver, percebe que Chiquinho não acrescenta à equipa aquilo que Enzo Fernández acrescentava. Sobretudo, a nível do passe de ruptura capaz de romper a defesa adversária e de isolar colegas de equipa na cara da baliza. Sendo que deu para perceber que esta equipa foi planeada de modo a ser construída à volta de um jogador como Enzo Fernández.
Para se ser uma ideia da influência de cada um na criação da equipa, basta verificar um aspecto muito simples: Chiquinho tem neste momento uma média de 0,8 passes-chave por jogo (passes que resultam em ocasiões de perigo) e não fez qualquer assistência, enquanto que Enzo Fernández, nos jogos que fez na Primeira Liga, registou cinco assistências e teve uma média de 1,8 passes-chave por jogo.
Como se pode ver no vídeo, o médio argentino é um jogador com grande capacidade para variar o centro de jogo e fazer passes de ruptura capazes de rasgar as linhas adversárias, que resultavam assim em ocasiões de perigo para a equipa encarnada. Enquanto que Chiquinho, apesar de ser um jogador assertivo nas suas acções, é um jogador mais previsível na criação, arriscando pouco no passe.
No entanto, ao verificar o historial recente dos últimos anos nos três grandes, podemos verificar que a posição de número oito, é aquela onde um jogador diferenciado sobressai com maior facilidade e ganha mais visibilidade no mercado. Ao ponto de que, qualquer jogador que se destaque na posição, acaba por dar o salto ao fim de pouco tempo.
No caso do Benfica, há o exemplo de Enzo Pérez, um extremo que foi adaptado a um box-to-box por Jorge Jesus, juntando a criatividade e virtuosismo que já tinha como extremo à disponibilidade física e leitura e intensidade de jogo que veio a mostrar no miolo, acabando por ser vendido ao Valencia ao fim de dois anos e meio como titular.
Depois houve o caso de Renato Sanches, que sobressaiu na equipa principal na época 15/16, fruto acima de tudo, do facto de ter uma capacidade física muito acima da média para a sua idade, ao ponto de que ao fim de meia época como titular, acabou vendido ao Bayern Munique. Algo semelhante ao que aconteceu com Enzo Fernández.
Para além disso, também há exemplos bem recentes nos clubes rivais. Matheus Nunes foi vendido ao Wolverhampton por 45 milhões de euros depois de na época anterior se ter afirmado como titular indiscutível após a saída de João Mário; enquanto que no FC Porto Vitinha foi o melhor jogador do último campeonato e acabou por ser vendido ao PSG por 40 milhões de euros.
Em suma, a posição de número oito é uma posição com bastante impacto no rendimento da sua equipa e uma posição que necessita de uma renovação constante, em virtude do mercado que os grandes médios têm no nosso campeonato."

SL Benfica 1-0 Estoril-Praia SAD: O general convidou as tropas a aliviarem a tensão com murro no peito


"A Crónica: Vouchers Para O Cardiologista Como Resposta Aos Nervos Dos Adeptos Do Benfica

A Luz estava mais quente do que o habitual. O sol das 18h ainda estava firme no céu, o que ajudou o corrupio para entrar no estádio do Benfica a agitar-se mais cedo que nos jogos anteriores.
O guarda-redes, Dani Figueira, estava a demorar o seu tempo a repor a bola em jogo nos pontapés de baliza, comprando assobiadelas dos adeptos encarnados até ao final do encontro, mal sabiam eles que, mais tarde, o guarda-redes lhes ia oferecer vouchers para o cardiologista. Qualquer decisão contrária aos interesses do Benfica que o árbitro tomasse valia protesto de pé. O clima era tenso.
Para arrefecer os ânimos, um baixinho com a camisola dentro dos calções que é fã de Aimar e um norueguês esguio, mas com forças para fazer o corredor de uma ponta à outra. João Neves e Aursnes foram a caução que Roger Schmidt quis pagar para se precaver contra todos os riscos. Lançou ainda David Neres e abdicou de Florentino para, sentindo-se ameaçado na liderança do campeonato, mostrar que há um caminho em frente.
O Benfica entrava em campo frente ao Estoril, ainda num ajuste de contas com a manutenção, apenas com um ponto de margem de sobrevivência em relação ao FC Porto. Mas qual é a águia que não quer fugir de um dragão?
A situação do Estoril não impediu a equipa de Ricardo Soares de tentar jogar apoiado a partir de trás mesmo que isso, como foi acontecendo, valesse alguns sustos. Sem a bola, os homens da linha defendiam a cinco, com o recuo de Tiago Araújo à esquerda. O Benfica respondeu com o posicionamento mais baixo de Aursnes, de modo a chamar pressão ao norueguês, libertando o corredor canhoto, onde caíram Rafa, João Mário e Gonçalo Ramos para combinações.
Foi precisamente a partir daí que o Benfica arranjou espaço para uma queda de João Mário na área. Inicialmente, o árbitro não se apercebeu da irregularidade, mas, depois de minutos de análise do VAR, que tantas vezes foi referido por Schmidt na antevisão, a decisão acabou por recair na marcação de grande penalidade. O próprio João Mário encarregou-se da marcação, mas a demora entre o momento em que caiu e o que rematou arrefeceu-lhe o pé direito. Dani Figueira defendeu com o pé de apoio e negou o golo.
Na frente de ataque do Estoril, Cassiano foi incansável, sempre atento a um centímetro a mais que os centrais encarnados pudessem oferecer a domínio de bola, colocando-a à disposição do roubo do jogador brasileiro. De um cabeceamento do atacante surgiu até uma ocasião para o Estoril marcar momentos antes da equipa ficar em desvantagem.
David Neres fez uma exibição ao nível de deixar Roger Schmidt arrependido de lhe ter dado poucos minutos nos últimos encontros. O que não existe, o brasileiro cria. A partir da esquerda foi à direita que veio fintar dois defesas do Estoril e cruzar para Otamendi, no segundo anel, cabecear para o golo e aliviar a tensão encarnada com um murro no peito.
Se a vantagem permitiu ver o Benfica na máxima força na segunda parte? Nem por isso. Os encarnados sentaram-se em cima do conforto e relaxaram demasiado. O Estoril não criou perigo, é certo, mas as águias corriam o risco de, ao mínimo deslize, verem os pontos escaparem-se de novo, à semelhança do que aconteceu contra o FC Porto e o Desp. Chaves. Roger Schmidt trouxe Musa do banco para dar novo dinamismo e precaveu-se atrás com Florentino. O avançado croata chegou a festejar o 2-0, num lance em que foi assistido por Rafa e livrou-se da marcação dos defesas com uma brilhante receção. Ainda assim, o VAR notou no fora de jogo de João Mário no decorrer da jogada. O português quase remediava o erro num lance de transição em que Rafa remata contra o peito de um dos melhores marcadores do campeonato e este, de maneira fortuita, acerta no poste.
Numa partida que interessava particularmente ao Benfica vencer para sacudir o mau momento, o resultado estacionou no 1-0. Não importando o caminho feito para lá chegar, o objetivo do Benfica foi conseguido.

A Figura
David Neresvaleu que um jovem adepto invadisse o relvado para pedir lhe pedir a camisola. Quem tem Neres tem tudo. No ataque, andou essencialmente na esquerda, onde fez uma boa sociedade com Grimaldo, e no meio, quando, por vezes, trocava com Rafa. Não se precipitou em duelos de um para um, mas, nos momentos em que o fez, foi eficaz. Rafa ofereceu-lhe o golo por volta dos 70 minutos, mas não foi capaz de concretizar.

O Fora de Jogo
João Mário perdoou na grande penalidade e foi dos elementos menos dinâmicos do ataque dos encarnados. Quando a segunda parte não estava a correr de feição, acaba a acertar no poste quase sem querer.

BnR na Conferência de Imprensa
SL Benfica
Bola na Rede: Escolheu o João Neves para o onze inicial no jogo de hoje. Foi um risco numa altura tão crítica da temporada?
Roger Schmidt: Se fosse um risco, não o tínhamos escolhido. Desenvolvemos o jogador. O João é um jogador muito talentoso. Já tem muitos minutos na primeira equipa esta temporada. Esteve sempre bem. Mesmo se o virem nos treinos, é uma mistura muito boa de alegria, confiança e qualidade. Agora era a hora de lhe dar a oportunidade de jogar desde início. Tivemos um jogo muito duro na quarta-feira. O Florentino e o Chiquinho têm trabalhado muito. Estava convencido desta decisão. Acho que toda a gente viu que é um jogador que pode jogar neste nível e também neste momento decisivo da temporada.

Estoril-Praia SAD
Bola na Rede: O Benfica jogou sem um médio defensivo declarado e com o Aursnes na direita. Teve que fazer ajustes táticos de última hora?
Ricardo Soares: Ficámos surpreendidos. Não estava à espera que jogasse este onze. De qualquer das maneiras, a minha equipa tem identidade. Temos um método de jogo e uma metodologia de treino que nos leva a determinadas ideias. Não abdicamos delas independentemente de jogarmos contra o Benfica, o FC Porto ou o Sporting. Trabalhamos todos os dias a pensar em nós e só em nós. A partir daqui, por vezes, não conseguimos pôr em campo as nossas ideias pela qualidade do adversário. Por exemplo, hoje, a minha equipa não teve tanta bola como o que pretendíamos. Não foi por estratégia ou coisa que se pareça. Foi porque o Benfica tem qualidade e nos obrigou a andar atrás da bola. Nesse sentido, veio ao de cima a nossa resiliência, a nossa organização, a nossa capacidade de superação e o nosso grupo fantástico. A partir daqui, foi-nos mais difícil lutar pela vitória, porque o Benfica também nos retirou a bola em vários momentos do jogo."

Uma cabeçada para estancar, mas a ferida do Benfica não está fechada


"Um golo único de Otamendi no final da 1.ª parte serviu para o Benfica voltar às vitórias, quatro jogos depois. Mas frente ao Estoril, os encarnados, que remataram 17 vezes, continuaram a pecar na eficácia e os últimos minutos foram de nervosismo na Luz

Às vezes os jogos mais importantes da época acontecem quando já ninguém espera e há um par de semanas seguramente que o Benfica não esperaria que o encontro com o Estoril, em casa, viesse vestido desta característica fatalista. Desperdiçados os 10 pontos de vantagem, que à entrada do jogo deste domingo era apenas um para o FC Porto, e fora da Champions, estancar a ferida era necessário para a hemorragia não se tornar violenta e catastrófica. E o Benfica cumpriu. Não brilhantemente, mas cumpriu.
A vitória por 1-0 frente ao Estoril não é o fim da crise. Não há dúvidas da justiça do triunfo do líder do campeonato, até porque o Estoril chegou à Luz para não sofrer, a defender com duas linhas bem definidas, em bloco baixo, suspirando depois pelas eventualidades que lhe poderia trazer o jogo - e não trouxe muitas. Porém, mantêm-se algumas inseguranças no jogo dos encarnados, antes terrorífico na sua beleza e eficácia, hoje lutando quase contra si próprio na hora de colocar a bola na baliza. Foram 17 os remates do Benfica durante todo o encontro e apenas entrou um: aos 44’, grande jogada de Neres pela direita, com o brasileiro a cruzar para o poste afastado onde apareceu Otamendi, que com uma grande cabeçada fez o 1-0.
Foi um alívio o golo do argentino para o Benfica, que vinha de uma 1.ª parte de esbanjamento. Depois de uns primeiros 10 minutos em que as linhas da defesa do Estoril pouco ou nada permitiram à equipa da casa, que ia tentando por dentro e pelas alas, principalmente a esquerda, sem grande sucesso, aos 12’ João Neves, 1.73m de ousadia (aposta de Schmidt a titular, o médio foi o mais mexido do Benfica nos primeiros minutos), subiu mais alto e de cabeça quase fazia o primeiro. O remate saiu por cima. Minutos depois seria Rafa a falhar, já em cima de Dani Figueira. E houve até espaço para João Mário falhar um penálti, aos 35’.
Até ao golo, estava complicado. E não descomplicou depois dele.
Com uma vantagem magra, e apesar dos poucos ameaços de Estoril, o Benfica deixou-se adormecer no início da 2.ª parte. Schmidt percebeu a queda do ritmo e qualidade de jogo e lançou Musa cedo, ainda antes dos 65’ - mais um jogo pobre de Gonçalo Ramos, que não marca há cinco encontros. O croata, não sendo um génio, pede mais minutos por esta altura: com ele houve mais jogo na área e o grande golo que só não contou porque Aursnes estava adiantado, aos 72’, foi a concretização do que tem faltado aos encarnados: sangue frio na finalização. Momentos antes, já o croata se havia colocado em boa posição para marcar, mas Neres optou pela jogada individual. Musa abanou a cabeça e com razão.
E sem conseguir chegar ao segundo golo, o Benfica tremeu. Sem necessidade. Os derradeiros minutos foram de nervosismo na Luz perante algumas arrancadas do Estoril em direção à baliza de Vlachodimos e no ataque sucederam-se as más opções. Nesse particular, o ocaso de Benfica confunde-se com o desaparecimento do discernimento de Rafa e quebra de forma de João Mário. O apito final chegou, portanto, com um enorme e coletivo suspiro de alívio encarnado, numa vitória escassa, que se complicou, numa fase em que o Benfica não pode ser complicado. A cabeçada de Otamendi parece, assim, apenas um penso rápido que temporariamente travará a sangria, mas a ferida precisa de mais golos para fechar completamente."

Joãozinho...

A Mesma Coisa em Todo o Lado ao Mesmo Tempo


"Pouco ou nada separa o atual Benfica daquele que vinha a ganhar tudo. Mas foi precisamente isso que levou à cristalização do modelo de jogo.
O fenómeno futebol, por ser tão complexo, é impactado por diversos fatores. Nos últimos dias, temos assistido a uma linearidade de raciocínio, que aponta apenas para a saída de Enzo Fernández como o fator único e decisivo desta quebra de rendimento. Alguns “entendidos” na matéria, por sua vez, afirmam que os jogadores não estão bem do ponto de vista físico, baseando a sua suspeita na baixa rotação que Roger Schmidt confere ao plantel – “já não têm intensidade”, dizem eles. Eu discordo, concordando: é tudo isso, mas muito mais. Ao mesmo tempo.
A origem da crise recente do Benfica, foi visível após a paragem para as seleções, aquando do jogo menos conseguido frente ao Rio Ave, que ainda assim levou as águias à vitória por 0-1. Nesse encontro, o Benfica atingiu 26 (!) assinaláveis de recuperações no meio-campo ofensivo, segundo a GoalPoint, o que contrasta com a eventual perda de “intensidade” a que muitos se referem, e que faz ainda menos sentido se pensarmos na semana de férias que Schmidt concedeu a vários jogadores do plantel. Pessoalmente, prefiro olhar para o xadrez do jogo e justificar tal estatística com a forma eficaz como o Benfica pressionou um adversário que teimou em sair a jogar quase sempre curto, especialmente na primeira parte, e não arranjou soluções para se soltar da “teia” que as águias construíram.
Fazendo jus ao título deste artigo, diria que a mesma forma de pressionar não funciona em todo lado, ao mesmo tempo. Nos jogos frente ao Inter de Milão, o Benfica nunca esteve suficientemente articulado para pressionar uma linha de três centrais. Por ironia do destino, o primeiro golo da eliminatória nasceu precisamente duma… pressão falhada: João Mário fecha demasiado dentro e é obrigado a um deslocamento muito grande para chegar até Bastoni que, sem pressão, teve tempo e espaço para progredir e assistir Barella – aliás, pouco antes deste golo, o central italiano é protagonista dum lance idêntico. Pergunto-me se isto é falta de intensidade, porque o movimento repentino de jogadores a correrem que nem uns touros e a roubar bolas não nos absorve o suficiente, ou se, pelo contrário, eles até correm, mas correm mal e para o sítio errado.

O Clássico frente ao FC Porto também nos presenteou um Benfica lento de processos. Aqui, diria que a velocidade que muitos esperariam na circulação dos “encarnados” não aconteceu, não por “falta de intensidade”, mas… de espaços. Que o Benfica amarra os extremos por dentro e dá os flancos apenas aos laterais, já toda a gente sabe. Aliás, ao longo dos últimos anos, isto não aconteceu só com Roger Schmidt, mas também com Bruno Lage e até com Jorge Jesus. Essa falta de imprevisibilidade, por sua vez, tornou previsível a estratégia de Sérgio Conceição para os embates frente ao Benfica, que passa, sobretudo, pelo fecho do corredor central, com os médios dos dragões a “morderem” muitas vezes os adversários de costas – em dezembro de 2020, já havia chamado a atenção para este aspeto, no artigo Benfica, um Ferrari de duas velocidades. A conferência de rescaldo de Sérgio Conceição continua, todavia, bastante atual: compare-se o Benfica de hoje com a análise que o treinador dos dragões fez em 2020 e descubra-se as diferenças…

"A constância não consiste sempre em fazer as mesmas coisas, mas aquelas que tendem para o mesmo fim."
Luís XIV

Não podemos negligenciar o peso psicológico que a derrota frente ao FC Porto, as últimas perdas pontuais no campeonato e a desilusão pela eliminação da Liga dos Campeões, acarretam. Ou mesmo a baixa rotação promovida por parte de Roger Schmidt. Mas o problema do Benfica é essencialmente de cariz tático. Fazer sempre a mesma coisa, em todo lado e ao mesmo tempo, leva à cristalização do modelo de jogo, quando, na verdade, este deve estar em constante evolução. Parece um paradoxo como o modelo deve ser construído, mas nunca terminado. Ser identitário, mas também variável. Minimamente previsível, mas substancialmente imprevisível.

"Modelo de jogo, para mim […], é fruto dum conjunto de coordenadas, mas porque é uma emergência […] proporciona uma realidade. Para mim, modelo é isso, porque está em aberto. […] É por isso que eu falo em qualidade de jogo, da minha ideia, e que essa evolui conseguindo eu maximizar a redundância concomitantemente com a variabilidade, a redundância é do foro mais do macro, das grandes referências coletivas, depois temos o “meso” e o “micro”! […] O que é balizador da modelação são os macro princípios! […] E como tanto equipa, como jogadores, devemos pensá-los na possibilidade de infindavelmente estarem a evoluir, então ele é aberto."
Frade (2012), em entrevista a Tobar

Esse é o desafio de treinar, segundo Maciel (2012): “reconhecer a necessidade de organização, permitir que esta se transcenda sem se descaracterizar, cristalizar e hipotecar o crescimento do todo (o jogar) e das partes (jogadores, setores…)”. O atual adjunto do Lille aprofunda ainda o tema, ao afirmar que “os Grandes Princípios referem-se aos contornos gerais da nossa identidade. Os SubPrincípios são as partes intermédias que suportam e corporizam essa identidade. Os SubSubPrincípios são os aspectos mais micro, aspetos de pormenor à priori desconhecidos […] Por serem desconhecidos à priori, eu não os posso, nem devo estabelecer previamente, são particularidades que vão surgindo […] Tem de haver muita sensibilidade e recetividade da parte do treinador, no sentido de aproveitar estas emergências de pormenor”. O técnico, que curiosamente até passou pelos sub-23 do Benfica, acrescenta ainda um exemplo, de forma a deixar mais clara a sua posição: “imagine-se, por exemplo, que, em termos ideais, os defesas laterais, nos momentos de organização ofensiva, se devem constituir como apoios à posse, fazendo-o em posições não muito adiantadas, de modo a contemplar também o fecho da zona interior aquando da perda da bola. No entanto, se eu chego a um clube e tenho um jogador como o Maicon, o Marcelo ou o Daniel Alves que, sabendo funcionar desse modo, me trazem também outras coisas, eu tenho de estar sensível para aproveitar e exponenciar aquilo que eles fazem melhor, ou pelo menos aquilo que os diferencia dos restantes e que se constitui como uma singularidade otimizada pelo todo, se o perspetivar com abertura”.

"A riqueza do Modelo passa por isso, pela possibilidade de contemplar a novidade sem perda de identidade e simultaneamente sem cristalização."
Maciel (2011), entrevistado por Esteves

Podemos extrapolar o exemplo dado pelo autor para o Benfica atual, tendo como ponto de análise o posicionamento interior dos extremos e exterior dos laterais, cuja variabilidade na relação é mínima, e o quanto isso “prende” a equipa e a impede de encontrar espaços através dos quais possa acelerar e mudar a velocidade do jogo. Podemos, ainda, questionar-nos acerca do desconforto de alguns destes jogadores: Grimaldo raras vezes conduz por dentro, ele que é capaz de tirar vários adversários da frente em espaço curto, quando protagoniza incursões interiores; e, se quando Bah joga, apresenta-se confortável com a verticalidade e velocidade que Schmidt lhe pede, já Gilberto tem a tentação subconsciente de travar o jogo mais vezes e procurar tabelas curtas por dentro, ao passo que, quando está encostado à linha, sente-se como um peixe fora de água quando tem de encarar adversários no 1 vs. 1.

- Quando a bola está no corredor central, os extremos estão sempre por dentro, enquanto os laterais são os únicos que ocupam os flancos.
- Em situações em que o espaço está por fora, os extremos só caem lá, eventualmente – e pontualmente -, se a bola rodar para o seu corredor.
- O setor defensivo do Benfica, por ter os laterais abertos, obriga a primeira linha de pressão do adversário a esticar-se em largura. Assim, é possível ligar jogo entre setor defensivo e intermédio.
- O mesmo não se verifica mais à frente: as defesas adversárias permanecem fechadas, pois os jogadores do Benfica também já estão por dentro. Por esse motivo, não abrem espaços à largura (por exemplo, entre centrais e laterais).
- O facto do Benfica ter muitos jogadores no corredor central, obriga-os a receber várias vezes de costas, ao passo que, se estivessem mais abertos, receberiam de perfil, o que lhes permitiria ver o campo todo e antecipar eventuais pressões adversárias.
- As constantes receções de costas também retiram profundidade ao Benfica. Com mais jogadores junto à linha e orientados de perfil, criar-se-iam situações mais propícias para movimentos de rutura em diagonal, de fora para dentro.
- De realçar que, taticamente, é também isto que leva/levou o Benfica a pressionar muito forte após perda: como a equipa tem muitos elementos no corredor central, caso se dê aí a perda, os jogadores estão bastante próximos e facilmente recuperam a bola.

De certa forma, Schmidt criou um modelo de jogo “a régua e esquadro”, com alguns aspetos de pormenor já previamente definidos, em que os jogadores não são livres o suficiente para lerem as incidências e expressarem o seu próprio jogo. O espaço a ser ocupado não tem por base um critério circunstancial (por exemplo: se está livre, alguém deve explorá-lo), mas sim uma regra que não leva em consideração o caos do momento, o posicionamento do adversário, do colega, da bola… no fundo, o tempo e o espaço nos quais as ações se desenrolam. Carvalhal (2003, cit. por Tavares, 2003) discorda deste modus operandi, ao optar por uma “desordem ordenada, porque há trocas de posição, há uma certa flexibilidade dos jogadores se movimentarem, dentro de uma determinada ordem. Aquilo que parece caótico ao olho às vezes não é, é organizado”. Lopes (2005) remata, em jeito de conclusão, dizendo que “o jogo reveste-se então de duas faces da mesma moeda, o lado construído (dos princípios) e o lado natural (da imprevisibilidade)”. Como agravante, podemos ainda apontar o facto do jogador mais desequilibrador e imprevisível do Benfica não ser, de momento, um dos imprescindíveis do seu técnico: David Neres. Sim, porque a imprevisibilidade reside, em último caso, na individualidade, e o canarinho é, indubitavelmente, o elemento mais imprevisível das “águias”.
Em 2017, Maciel expôs a sua opinião sobre a rigidez das supracitadas regras, dizendo que “o detalhe e o que emerge como novidade deve ser uma emergência contextualizada […] Se assim não for, como penso suceder, sempre que o processo depende da análise dos adversários, os jogadores e respetivas equipas ficam amarrados a planos – seja lá o que isso for, em vez de estarem ligados a uma ideia e ligados pelas ideias dessa Ideia. Em vez de um processo de treino potenciador da aquisição, configura-se como um treino de inquisição (“atacamos por aqui e por ali”; “há espaço aqui e ali”; “fazemos a jogada x quando eles estão posicionados assim”…). Um processo que dá origem inequivocamente a um jogar mais pobre na sua intencionalidade, e sempre muito mais dependente do opositor do que da própria equipa“.
O futebol atual reflete os atuais valores da sociedade, onde chegámos a ser ousados o suficiente para tentar controlar o que é incontrolável. A visão demasiado “quadrada” e esquematizada do engenheiro Roger Schmidt pode levá-lo a uma exploração exagerada do corredor central quando, na verdade, o jogo interior é tão pobre quanto for o exterior. Na variabilidade é que está o ganho, desde que nunca se perca a identidade.

"O jogo de qualidade tem demasiado jogo para ser ciência, mas é demasiado científico para ser só jogo." 
Frade (2004)"

A desgraça de Comeuñas


"Borocotó fez questão de criar uma personagem infeliz - ofereceu-lhe uma deficiência cardíaca que o afastou do futebol

Comeuñas – não precisa de tradução. Um garoto e o seu sonho de ser um dia ídolo das multidões. Com uma bola nos pés. Miúdo pobre, filho de uma família de classe operária de Buenos Aires, criança como qualquer outra carregada de sonhos, às vezes sonhos mais pesados do que o sono que consegue dormir. Um jornalista famoso, um dos maiores do seu tempo, nascido em Montevidéu, no Uruguai, Ricardo Lorenzo Rodríguez, mas que acabou por se radicar em Buenos Aires trabalhando para El Gráfico. Tal como Comeuñas tinha uma alcunha – Borocotó. Foi da sua imaginação que naseu a canção dos meninos pobres de las calles da capital argentina:
«Siento ruido de pelota, y no sé, y no sé, y no sé lo que será
Es el club de Sacachispas que se viene, que se viene, que se viene de ganar».
Sacachispas é, portanto, o início da magia de uma aventura de rua. Comeuñas reúne os seus companheiros de brincadeiras. Pelo meio entra a grande heroína do desenrolar da trama: a bola - uma bola de trapos. Sacachispas é o nome do clube que criam. Uma bola de catechu é o que mais desejam para poderem deixar de lado a pelota de trapos.
Comeuñas é um desgraçado! Borocotó não teve piedade da sua personagem. Foi cruel até ao osso. Como o divino Eça com Arturzinho Corvelo de A Capital. Nunca uma personagem foi tão maltratada pelo seu autor! Artur chega a Lisboa, vindo de Oliveira de Azeméis, de casa das tias, apanhando o comboio na estação de Ovar, com umas libras de herança e com a convicção de que se fará um poeta de renome e livros publicados com críticas laudatórias. Eça transforma-o num idiota chapado, um cretino abusado por todos aqueles que vai conhecendo, uma vítima da ganância do seu grupo de pseudo-amigos que estão de olho no dinheiro que tem e completamente nas tintas para sua a obra literária de truz. É preciso saber desprezar a sua própria criação para inventar uma personagem como Artur, explorado por Melchior e Teodósio e que não chegará nunca a publicar a poesia reunida em Esmaltes e Jóias e a prosa aglomerada em Amores de Poeta. Claro que não deixa de ser intrigante o motivo pelo qual um autor dedica o seu tempo a refinar as características de uma fraude. Ricardo Lorenzo Rodríguez não foi tão longe. Talvez tenha tido um rebate de consciência. Mas não premiou a sua personagem com o êxito e atirou-a para a vertigem do fracasso.
Comeuñas e a sua pandilha cumprem o sonho de ter uma pelota de cuero (e também há um filme com esse nome que fica já aqui anotado para produzir uma crónica), deixa de ser um potrero, expressão que os argentinos usam para definir os miúdos que dão pontapés à toa pelas esquinas dos bairros pobres, e consegue jogar por uma equipa do meio da tabela da primeira divisão. É aí que Borocotó dá cabo dele sem o mínimo de comiseração. Enfia-o numa inexplicável série de desmaios, muitos deles em campo, durante os jogos, e faz com que o médico que o assiste lhe diagnostique uma deficiência cardíaca que poderá matá-lo se insistir em jogar futebol. Tal como acontece com o imbecil do Arturinho Corvelo, não conseguimos deixar de nos perguntar porque diacho Ricardo Rodríguez resolveu criar uma personagem sobrecarregada de infelicidade? Mistérios da literatura, neste caso de El Diário de El Comeunãs, uma série de artigos trazidos a público no El Gráfico e que depois serviu de base para a película dirigida e filmada por Leopoldo Torres Ríos em 1948.
Pelota de Trapo foi um êxito. Surpreendentemente para o espetador a equipa de Comeuñas fica à beira de ganhar o primeiro campeonato da sua história. É tempo de fechar o segredo: o médico aceita a súplica do jogador e promete não revelar a sua enfermidade até final da prova para que este possa gozar o título de campeão. Ficamos na dúvida se a festa não será substituída pelo negrume de um funeral. Na vida verdadeira, aquela que está para lá das telas, Comeuñas chamava-se Armando Bó. Não gostava de futebol por aí além. Até certo ponto era como o Eduardo Neves Barroso, o Dadinho da nossa infância nos Olivais Sul: de cada vez que algo lhe corria mal durante um jogo, defendia-se – «Eu sou bom é no basquete!». Armando Bó era bom era no basquete: começou ainda criança no Sporting Club de Villa Ortúzar, foi um astro no San Lorenzo de Almagro e tornou-se profissional no Brasil, no Fluminense, antes de terminar a carreira no Tabajaras. A par de Toscanito, alcunha de Andrés Poggio, que só tinha treze anos quando assumiu o papel de seu colega de sonhos no Pelota de Trapo, atuou com alguns dos maiores nomes do futebol argentino do seu tempo: Gullermo Stábile, Higino Garcia, Vicente e La Mata, Tucho Mendez. De certa forma o futebol deu-lhe uma vida nova e abriu-lhe um futuro agradável. Pois, pois... Tentem lá realizar um filme chamado ‘Pelota de Trapo’ com jogadores de basquetebol... Reconheçam que não dá jeito nenhum. Armando Bó nunca teve problema em reconhecê-lo. Nem depois de ter jogado com a pelota de cuero."