terça-feira, 25 de abril de 2023

Uma cabeçada para estancar, mas a ferida do Benfica não está fechada


"Um golo único de Otamendi no final da 1.ª parte serviu para o Benfica voltar às vitórias, quatro jogos depois. Mas frente ao Estoril, os encarnados, que remataram 17 vezes, continuaram a pecar na eficácia e os últimos minutos foram de nervosismo na Luz

Às vezes os jogos mais importantes da época acontecem quando já ninguém espera e há um par de semanas seguramente que o Benfica não esperaria que o encontro com o Estoril, em casa, viesse vestido desta característica fatalista. Desperdiçados os 10 pontos de vantagem, que à entrada do jogo deste domingo era apenas um para o FC Porto, e fora da Champions, estancar a ferida era necessário para a hemorragia não se tornar violenta e catastrófica. E o Benfica cumpriu. Não brilhantemente, mas cumpriu.
A vitória por 1-0 frente ao Estoril não é o fim da crise. Não há dúvidas da justiça do triunfo do líder do campeonato, até porque o Estoril chegou à Luz para não sofrer, a defender com duas linhas bem definidas, em bloco baixo, suspirando depois pelas eventualidades que lhe poderia trazer o jogo - e não trouxe muitas. Porém, mantêm-se algumas inseguranças no jogo dos encarnados, antes terrorífico na sua beleza e eficácia, hoje lutando quase contra si próprio na hora de colocar a bola na baliza. Foram 17 os remates do Benfica durante todo o encontro e apenas entrou um: aos 44’, grande jogada de Neres pela direita, com o brasileiro a cruzar para o poste afastado onde apareceu Otamendi, que com uma grande cabeçada fez o 1-0.
Foi um alívio o golo do argentino para o Benfica, que vinha de uma 1.ª parte de esbanjamento. Depois de uns primeiros 10 minutos em que as linhas da defesa do Estoril pouco ou nada permitiram à equipa da casa, que ia tentando por dentro e pelas alas, principalmente a esquerda, sem grande sucesso, aos 12’ João Neves, 1.73m de ousadia (aposta de Schmidt a titular, o médio foi o mais mexido do Benfica nos primeiros minutos), subiu mais alto e de cabeça quase fazia o primeiro. O remate saiu por cima. Minutos depois seria Rafa a falhar, já em cima de Dani Figueira. E houve até espaço para João Mário falhar um penálti, aos 35’.
Até ao golo, estava complicado. E não descomplicou depois dele.
Com uma vantagem magra, e apesar dos poucos ameaços de Estoril, o Benfica deixou-se adormecer no início da 2.ª parte. Schmidt percebeu a queda do ritmo e qualidade de jogo e lançou Musa cedo, ainda antes dos 65’ - mais um jogo pobre de Gonçalo Ramos, que não marca há cinco encontros. O croata, não sendo um génio, pede mais minutos por esta altura: com ele houve mais jogo na área e o grande golo que só não contou porque Aursnes estava adiantado, aos 72’, foi a concretização do que tem faltado aos encarnados: sangue frio na finalização. Momentos antes, já o croata se havia colocado em boa posição para marcar, mas Neres optou pela jogada individual. Musa abanou a cabeça e com razão.
E sem conseguir chegar ao segundo golo, o Benfica tremeu. Sem necessidade. Os derradeiros minutos foram de nervosismo na Luz perante algumas arrancadas do Estoril em direção à baliza de Vlachodimos e no ataque sucederam-se as más opções. Nesse particular, o ocaso de Benfica confunde-se com o desaparecimento do discernimento de Rafa e quebra de forma de João Mário. O apito final chegou, portanto, com um enorme e coletivo suspiro de alívio encarnado, numa vitória escassa, que se complicou, numa fase em que o Benfica não pode ser complicado. A cabeçada de Otamendi parece, assim, apenas um penso rápido que temporariamente travará a sangria, mas a ferida precisa de mais golos para fechar completamente."

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