sexta-feira, 5 de março de 2021

Empate no Algarve...

Portimonense 0 - 0 Benfica


Jogo equilibrado, com oportunidades para os dois lados(levámos com duas bolas nos ferros ainda na primeira parte...!!!), contra um adversário superior fisicamente...
Jogo marcado pelo regresso do Jair, após uma longa ausência.

Os momentos de Pressão – O Exemplo do Benfica vs Estoril


"Quando se define em que momento, e onde pressionar há variáveis a considerar. Desde logo as que se relacionam com os atributos do adversário e dos nossos próprios jogadores – Teremos capacidade para em função da nossa valia sem bola (traços individuais! A taxa de sucesso é substancialmente diferente se vou pressionar com o Palhinha ou com o Taarabt), ser bem sucedido no pressing (que dependerá também da valia adversária. Não é o mesmo ir pressionar o Palhinha do que ir pressionar o Taarabt).
A segunda mão da meia final na Luz trouxe um confronto de forças díspares, agonizado pelas opções de uma e outra equipa. O Estoril não abdicando nem um pouco do seu apaixonante jogo que tanto sucesso lhe tem dado, ofereceu ao Benfica de Jorge Jesus a possibilidade de ter um jogo no qual é muito mais capaz – Poder atacar contra menos depois de roubar a posse.
Trazemos dois diferentes momentos de pressão encarnada.
A pós perda – Determinante em toda e qualquer equipa. Este é o momento primordial para recuperar a posse. O adversário ainda procura organizar-se retomando posicionamentos ofensivos – há menos opções para jogar, e uma eventual recuperação da posse vai apanhar em contrapé quem começa a subir e a abrir; A pressão sobre a Construção – Quando do outro lado se tomam más decisões – mais fácil se torna recuperar a bola, e perante tamanha proximidade com a baliza adversária, acelerar até à meta."

O maior benfiquista


"Começo por saudar todos os consócios que receberão, este ano, os anéis de platina e emblemas de dedicação.
Nunca celebrei efusivamente o meu aniversário, nem ansiei, com duas excepções, pela chegada a determinada idade. As tais excepções remetem para a vontade de ter carta de condução e, sete anos mais tarde, por chegar a minha vez de receber o emblema de prata. Em 2027 farei 50 anos – confesso estranheza pelo que acabei de escrever – mas é o final de fevereiro do ano seguinte que conta, o da entrega do meu emblema de ouro.
Na semana passada, num exercício anual que muito me satisfaz, perscrutei a lista publicada no O Benfica e reconheci alguns nomes, mas destaco o que, porventura, pertence ao maior benfiquista vivo, o José Fardilha.
Não há quem se lhe compare na militância e não lhe faço qualquer favor ao afirmá-lo. Será, muito provavelmente, o único para quem um jogo da equipa A de futebol e um desafio de uma equipa da formação de basquetebol, ou qualquer outra modalidade, tem o mesmo valor absoluto. É um jogo do Benfica, ponto.
Certa vez vimo-lo aborrecido, apesar do fim-de-semana desportivo estar a correr de feição. Soubemos, então, que não seria bem o caso. Perdêramos por 4-0 com o Sporting nos benjamins C de futebol.
É assim o “Zé”, sempre pronto a questionar dirigentes, treinadores ou atletas, os quais nunca lhe negam uma resposta por lhe reconhecerem a inigualável dedicação que presta ao clube. Vê jogos e treinos, só não vê os que se sobrepõem, para enorme desgosto dele. Não haverá um único atleta que tenha passado pela formação das muitas modalidades do Benfica nos últimos 50 anos que não saiba de quem estou a falar. Grande abraço benfiquista, amigo Zé!"

João Tomaz, in O Benfica

Parabéns, nosso Benfica!


"Não gosto de falar de aniversários - muito menos de comemorá-los - antes de tempo. Por isso, dedico a crónica desta semana ao 117.º aniversário do Sport Lisboa e Benfica, que aconteceu no domingo passado. A data ficou marcada pela entrevista de Luís Filipe Vieira à BTV, uma conversa onde os pontos sobre os is ficaram devidamente colocados.
Retenho uma ideia desse momento televisivo: o Benfica sem união vão vai a lado nenhum. Foi sempre assim ao longo da história do Clube. Da fundação às sucessivas mudanças de campo de futebol, das conquistas europeias da década de 1960 à nova realidade do século XXI, sem união não teríamos nada.
Numa instituição desta dimensão e com este número de sócios, adeptos e simpatizantes, as unanimidades são raras. E perigosas, como já constatámos ao longo da história da humanidade. Muitas cabeças a pensar originam ainda mais sentenças, mas as decisões não podem ser tomadas ao sabor de momentos da equipa de futebol e, muito menos, de pressões mediáticas ou através de redes sociais. É claro que as vozes discordantes devem ser ouvidas, é assim que funciona a democracia. Há que escutar, receber a crítica, aferir da sua justiça e mudar o que se provar que esteja a ser mal feito. O que não pode nunca acontecer, seja com este ou qualquer outro presidente (dos anteriores aos futuros), é ceder à coação, ao insulto ou à violência verbal e física. Nem no Benfica, nem no desporto em geral. E muito menos no nosso dia a dia enquanto cidadãos. Essas são práticas que conhecemos bem de outras paragens, sejam vizinhas ou localidades mais a norte.
Passaram quatro meses. Dois terços dos votantes optaram pela continuidade, um terço votou a favor da mudança. O futebol masculino não está na posição em que todos gostaríamos? Não, não está. E é triste, porque merecíamos mais, enquanto adeptos, mas e a restante realidade do Clube, é para deitar tudo fora? Das modalidades ao museu, da televisão ao Seixal, da Fundação à formação de milhares de crianças e jovens, está tudo errado, é? Entendo os argumentos e as críticas civilizadas, mas não consigo entender a guerrilha que está a ser feita ou os insultos lançados contra gente que veste a nossa camisola, no campo e nos gabinetes, nas pavilhões ou nas dezenas de serviço do Clube. Chamem-me ingénuo, mas não concebo o Clube sem estarmos todos, mesmo com as nossas divergências, a puxar para o mesmo lado: pelo Benfica."

Ricardo Santos, in O Benfica

Parabéns, querido Benfica


"Até gostaria de lá chegar, mas não creio que esteja ao meu alcance. Mesmo levando um estilo de vida saudável, composto por refeições, equilibradas e hábitos ajuizados. Como uma sopinha quase todos os dias. Hidratos em quantidades aceitáveis. Pratico exercício físico regularmente, não fumo e não sou fã de bebidas alcoólicas. Ainda assim, tenho algumas dúvidas quanto às minhas probabilidades de atingir 117 anos de vida. O Benfica já os completou e continuará forte e vigoroso mesmo quando eu já não estiver por cá. Se tudo correr bem, ainda falta muito até lá. Oxalá falte mesmo, porque aos 26 anos ainda não sinto ter realizado nada de muito significativo aqui no planeta Terra. Assim por alto, só me estou a recordar de 175 actos relevantes da minha autoria. São, claro, as 175 crónicas que já tive o privilégio de escrever aqui para o jornal. Se, entretanto, não for contratado um chefe de redação mais atento, capaz de perceber que não estou cá a acrescentar nada de muito interessante, então é provável que na próxima sexta-feira eu some a minha 176.ª obra de realce.
Nenhum texto é capaz de descrever estes 117 anos de história com a mesma justiça de uma palavra só: Mística. É a definição mais próxima de explicar quem é o Benfica. Ao longo das últimas semanas, a vivacidade da mística tem sido tema de debate entre adeptos. É óbvio que, neste momento, a mística está enfraquecida. Como poderia estar firme sem os estádios inundados de benfiquistas? Impedidos por alguém? Não. Por uma pandemia! Porque aquelas camisolas vermelhas de águia ao peito são bonitas no relvado, mas para brilharem a sério também têm de estar espalhadas pelas bancadas."

Pedro Soares, in O Benfica

União


"O 2.º lugar no campeonato (que é possível e vale milhões) e a conquista da Taça de Portugal são os objectivos que restam ao Benfica nesta temporada.
Esperávamos mais. Mas é ainda o suficiente para não baixar a guarda, e manter o foco jogo a jogo.
Muito tem sido dito sobre a época do nosso clube. Ouvem-se críticas de benfiquistas naturalmente desapontados com os resultados. Ouvem-se também insultos e julgamentos sumários de terra queimada, que apenas servem para desestabilizar.
Todos estamos tristes e desiludidos. Mas é preciso notar que a crise que vivemos é exclusivamente desportiva. É claro que esse é o plano mais importante, aquele que nos move. Porém, é também o mais fácil de reverter. O Benfica está sólido sob ponto de vista institucional e patrimonial, está saudável sob o ponto de vista financeiro, é credível nacional e internacionalmente, e teve eleições há quatro meses, cujo resultado foi clarificador. Pode ter havido erros na construção do plantel, algo que se retificará com duas ou três contratações no fim da época. Temos excelentes jogadores, que com um ou outro retoque poderão vir a formar uma grande equipa. Insultos nas paredes ou nas redes sociais, buzinões e ataques aos nossos profissionais é que não ajudam a ultrapassar esta crise. Pelo contrário, contribuem para nos afundarmos nela, divertindo a comunicação social e todos os que não gostam do Benfica.
É preciso estabilidade e união. Não se é benfiquista apenas a festejar vitórias. É-se benfiquista também a digerir derrotas - e não é atacando os nossos, aqueles que nos representam, que ajudamos o Clube."

Luís Fialho, in O Benfica

117 anos


"Passou mais um ano, e estamos todos mais velhos, mais responsáveis, mais inseguros e mais exigentes. os últimos 12 meses foram traumáticos por causa da maldita pandemia e impediram-nos de conquistar os títulos para os quais os nossos profissionais tanto trabalharam. Foi um ano que ficou marcado por mais um acto eleitoral, o mais participado de sempre, mas também o mais complexo de todos por causa da covid-19. O resultado foi bem esclarecedor, e quando seria de esperar um clube unido, com todos a remarem para o mesmo lado, eis que somos confrontados com comportamentos lamentáveis, que só nos prejudicam e ajudam os nossos adversários. Luís Filipe Vieira fez bem em alertar para esta questão, apelando à união da família benfiquistas, pois tudo o que conquistámos na última década, a mais brilhante de sempre em termos de resultados desportivos e financeiros, só foi possível com muito trabalho, organização, dedicação e união. Chega a ser chocante lermos e ouvirmos os dislates proferidos por alguns benfiquistas zangados com a crise de resultados da nossa equipa de futebol. O investimento e esforço feitos para reconquistarmos os títulos nacionais e termos uma boa prestação nas competições da UEFA faz todo o sentido, e estou certo de que os resultados surgirão nos próximos meses. Semeámos para colhermos mais adiante, e é natural que os resultados não surjam em termos imediatos face à quantidade de novos jogadores contratados. O presidente explicou tudo na entrevista à BTV, prometendo apenas aquilo que está ao seu alcance - trabalho, dedicação, compromisso e ambição. Tenho a certeza de que a esmagadora maioria dos benfiquistas não se revê nestas atitudes que têm posto em causa a honorabilidade dos nossos dirigentes, sobretudo do presidente mais titulado da história do Clube e cuja obra notável fala por si."

Pedro Guerra, in O Benfica

Somos milhões


"É o que somos, nós, os benfiquistas, mas temos de nos juntar pelas causas que acreditamos justas e pelo sonho de continuar a erguer a imensa obra desportiva que nos trouxe até aos dias de hoje a partir de uma simples ideia e de um punhado de homens com visão.
Há um objecto no Museu Benfica que sempre me impressionou: uma réplica evocativa da primeira bola de cauchu do Clube. Em primeiro lugar, pelo facto de ser uma simples evocação e não o objecto original, mas por isso mesmo ainda mais simbólica. É que da primeira nem os ossos sobraram, de tão esfarrapada que ficou, gasta pelos pés famintos de golo das primeiras 'papoilas saltitantes'. Em segundo lugar, e acima de tudo, porque essa bola em segunda mão foi o sonho dos nossos fundadores, que tiveram de rapar as parcas algibeiras numa altura de crises económicas e convulsões políticas que fazem corar as mais negras dificuldades que enfrentamos nos dias de hoje. Nasceu daí um dos maiores clubes de sempre, com uma história e uma dimensão inigualáveis, no entanto, nenhum desses homens o sonhou para isso ou imaginou ser possível a maior aventura do desporto português nascer desse simples juntar de mãos e rateio de algibeiras. Mas foi assim, sem tirar nem pôr, que aconteceu.
Hoje o Benfica vai muito para lá do futebol, a tantas e tantas e tantas modalidades, a áreas vanguardistas como a sport science ou novos modelos de gestão, a práticas ambientais e modelos de sustentabilidade avançados, à televisão, à intervenção exemplar no património ou mesmo à responsabilidade social, sendo uma vez mais pioneiro com a mais importante e interventiva fundação do desporto nacional, ombreando na sua obra social com os maiores da Europa e do Mundo.
Esta é uma história extraordinária e exemplar de como todos unidos em torno de um sonho comum podemos atingir tudo, mas também de como todos, unidos a contribuir para uma obra social, podemos ajudar a humanidade, os países que falam português e os mais vulneráveis e desfavorecidos deste Portugal, que sonha justiça mas a quem pesam ainda as desigualdades, a pobreza e os problemas estruturais herdados do passado.
Por isso, hoje que o mundo nos desafia novamente, olhemos para estas lições da história benfiquista e, de mãos dadas e sonhos unidos, enfrentemos solidariamente mais esta grande crise. Nem que seja pelo acto simples de consignar 0.5% do IRS de cada um, porque, com os milhões que somos, o que não poderemos fazer?"

Jorge Miranda, in O Benfica

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"3
Pizzi passou a ser o terceiro com mais jogos pelo Benfica, incluindo particulares, no actual estádio da Luz (158). Os restantes integrantes do pódio são Maxi Pereira (169) e Luisão (273). Passou ainda a ser o 24º com mais “jogos oficiais” pelo Benfica, com 316, superando o registo de Diamantino (incluindo particulares, é o 35º);

8
Chegou ao fim, no campo do Estoril, líder da Liga SABSEG, a invencibilidade da nossa equipa B desde que Veríssimo assumiu o cargo de treinador. Foram 8 jogos consecutivos invencível, somando 14 pontos. Nas 13 partidas anteriores conseguira apenas 13;

8,2
Lucro da Benfica, SAD no 1º semestre de 2020/21. Isto num período em que se verificou um decréscimo acentuado de receitas, devido à pandemia e ao não apuramento para a fase de grupos da Liga dos Campeões, e foi feito o maior investimento de sempre na equipa de futebol;

44
Com o golo apontado ao Arsenal, Rafa ficou à porta de entrar no top 50 dos melhores marcadores de sempre do Benfica em “jogos oficiais”. Igualou Paneira em golos marcados, mas fê-lo em menos 120 jogos que a glória benfiquista;

56
E Seferovic marca agora presença no top 40. Os 56 golos marcados igualam o pecúlio de Luís Xavier, grande jogador na década de 30 do século passado. No Campeonato Nacional leva 41 golos, ocupando a 36ª posição entre benfiquistas;

250
Vitórias do Benfica em competições oficiais com Jorge Jesus ao comando da equipa, logrando uma percentagem de triunfos próxima dos 69%. Considerando apenas os treinadores com mais de 50 jogos, Jesus é superado, neste indicador, por Hagan, Riera, Biri, Guttmann, Mortimore e Baroti. Apenas os dois últimos serviram o clube desde a década de 80;

*Não inclui o Benfica – Estoril."

João Tomaz, in O Benfica

Ganhar a Taça


"Ontem vencemos o Estoril, por 2-0, carimbando assim o passaporte para a final da Taça de Portugal pela segunda temporada consecutiva, algo que não acontecia há sete anos.
O nosso adversário nestas meias-finais demonstrou, pela qualidade do futebol apresentado, porque lidera a Liga SABSEG e eliminara três clubes primodivisionários ao longo da prova (Boavista, Rio Ave e Marítimo).
O favoritismo recaía por inteiro no Benfica nesta eliminatória, o qual foi confirmado plenamente com dois triunfos (1-3 no Estoril e 2-0 na Luz).
Na segunda mão, Gonçalo Ramos e Waldschmidt foram os marcadores de serviço, perfazendo um resultado que pecou por escasso face às incidências da partida, algo que foi salientado por Lucas Veríssimo após o jogo: "Criámos bastantes oportunidades, falta aprimorarmos nesse último terço… Fizemos dois golos, podíamos ter marcado mais."
Jorge Jesus, além de manifestar contentamento pelo apuramento para a final, considerou que o triunfo obtido ontem assentou numa boa exibição, em que a equipa voltou a criar várias oportunidades de golo e a ser muito rematadora, apesar de o onze inicial ter contado apenas com um dos que foram titulares (Lucas Veríssimo) na partida anterior ante o Rio Ave.
A utilização de vários jogadores com menos jogos nas pernas não impediu, na opinião de Jorge Jesus, que a equipa tenha dado "uma boa resposta", com esses jogadores a mostrarem que merecem a confiança do treinador. Ter mais opções à disposição foi mesmo um dos objetivos do jogo, conforme revelou Jesus após a partida.
A final, que está agendada para 23 de maio e que se deseja com público, que tanta falta tem feito à equipa do Benfica, será disputada com o SC Braga. O ineditismo do confronto entre Benfica e Braga no jogo derradeiro da prova-rainha do futebol português será um dos aliciantes da partida. Trata-se da 38.ª presença benfiquista na final da prova (26 triunfos), enquanto o Braga disputará o jogo decisivo pela sétima vez (duas vitórias).
Mas antes haverá ainda 13 jornadas da Liga NOS para tentarmos ganhar em cada uma delas, com o regresso à prova marcado para 2.ª feira, dia 8, no reduto do Belenenses, SAD. O nosso próximo adversário ocupa a 10.ª posição e vem de uma série de cinco jogos consecutivos sem conhecer a derrota. Não se anteveem facilidades, mas o objetivo mantém-se: Vencer!
De Todos Um, o Benfica!"

Felizmente há (J)Amor


"Tal como expectável, entrou pressionante sobre a construção apoiada do Estoril a equipa de Jorge Jesus. No seu primeiro momento defensivo, encaixou no adversário com marcações individuais em todo o meio campo ofensivo e com isso recuperou inúmeras bolas no meio campo ofensivo que possibilitaram saídas em contra ataque, e com a competência de Lucas e Otamendi, controlou as rotas alternativas na profundidade da equipa canarinha. Os dois golos que carimbaram a presença no Jamor surgiram ambos pós recuperações na construção adversária e tal não pode ser dissociado das opções de uma (pressionar) e outra equipa (saída curta constante).
A primeira etapa ficou marcada pela superioridade inicial do Benfica, mas também por um forçar constante do espaço exterior, quando o baixar do médio Gamboa para a linha defensiva estava a abrir espaço interior.
As constantes más execuções e demora na decisão – para lá dos erros nesta – de Gabriel foram atrasando o jogo posicional dos encarnados. No segundo período, a passagem de Chiquinho para médio centro e posterior entrada de Taarabt trouxe maior velocidade de circulação e critério no corredor central e com tal opção cresceu o Benfica quando teve de assumir o jogo, passando a criar não apenas em Transição.

Pressão Encarnada – O Dividir (cada um com dois) foi a fórmula definida para contrariar inferioridade numérica (4×5)

Destaques:
Chiquinho, Pedrinho e Gonçalo Ramos, acrescentam boas decisões, capacidade para jogar em espaços curtos, fluidez ofensiva e sobretudo por Ramos, uma eficácia tremendamente superior ao habitual quando joga Seferovic e Darwin. Tivesse tido mais tempo ao longo da época e Ramos hoje seria provavelmente o melhor avançado de todo o plantel. A sua capacidade de finalização e possibilidades de ser eficiente e eficaz na grande área e em espaços curtos é muito superior à da concorrência, e tem sido um disparate – em função do parco rendimento dos avançados encarnados – não ser aproveitado."

SL Benfica 2-0 GD Estoril Praia: Jamor à vista!


"A Crónica: Num Jogo Pobre, O Que Contou Foi A Passagem À Final
Com o pensamento no Jamor, as duas equipas entravam para esta travessia (se não se recorda regresse aqui ao passado) em zonas diferentes do Rio Tejo. O SL Benfica iam já com três metros e o GD Estoril Praia apenas com um, em função daquilo que já tinha acontecido perto das praias da Linha de Cascais. 
A verdade é que talvez este pormenor tenha sido influência negativa para este jogo – e outras condicionantes ligadas à Segunda Liga. Por que digo isto? De um lado, parecia que pouco interessava se o jogo terminava com uma vitória, apenas se queria chegar ao Jamor. Do outro lado, a ambição de chegar à Final era muita, mas havia algo mais importante no próximo fim de semana – difícil de escolher, não?
Porém, os encarnados iam dominando a posse de bola sem nunca criar muito perigo. Foi preciso o Estoril fazer um erro monumental de Hugo Gomes para que Chiquinho fizesse a recuperação e deixar com Gonçalo Ramos. Aos 43 minutos, Gonçalo Ramos teve tempo e calma para fuzilar a baliza de Thiago Silva, inaugurando o marcador. Mesmo a terminar a primeira parte, Bruno Pinheiro não ficou muito contente, depois de a nível defensivo ter corrido tão bem. Assim, a travessia já estava ainda mais desnivelada ao intervalo: 1-0 (4-1 no agregado).
A segunda parte voltou a ter um ritmo igual a um bar em alto mar, devagar devagarinho se chegava ao destino final. Apesar de a bola ter rondado a baliza estorilista, a bola pouco queria conversas com as redes de pesca (ou da baliza) também por culpa de Thiago Silva. Já do outro lado o marinheiro Vlachodimos era um autêntico espetador com uma vista privilegiada para um «mar verde».
Houve também ainda para Taraabt navegar por esse tal mar verde sem grande obstáculos e passou para o alemão (uma dupla algo estranha em alto mar) Waldschmidt para fazer o 2-0 final, confirmando a vitória do SL Benfica e a passagem à grande decisão da Taça de Portugal.
Um jogo pobre com as duas as equipas a pensarem no futuro e não neste jogo, mas houve uma vitória magra dos encarnados por 2-0 (agregado 5-1). A travessia encarnada que começou em Paredes e só vai acabar mesmo no Jamor num batalha frente aos bracarenses, resta saber se ficam com o troféu ou não. 

A Figura
ChiquinhoNunca teve uma posição muito fixa no terreno, mas foi sem dúvida um daqueles – a par de Pizzi – que mais correu e mais contribuiu para que o jogo fluísse. Está diretamente envolvido no único golo da partida com a recuperação em zona recuperada e, consequente, assistência.

O Fora de Jogo
O jogo Já se falou muito sobre aquilo que iria ser este jogo e realmente “desiludiu”. Os encarnados controlaram a seu belo prazer aquilo que foi um jogo fácil e os estorilistas, apesar de terem estado nem a nível defensivo, a nível ofensivo pouco mostraram. Por isso, foi um jogo pobre que valeu à formação comandada por Jorge Jesus a ida à Final da Taça de Portugal.

Análise Tática – SL Benfica
Do jogo relativo à primeira mão da Taça na Amoreira, do onze encarnado apenas restaram quatro elementos: Otamendi, Pizzi, Gabriel e Pedrinho. Jorge Jesus já tinha dito que iria fazer muitas mudanças para este jogo e a dar oportunidade a alguns jogadores que não têm tido minutos. Gonçalo Ramos, que já tinha brilhado na competição na Luz, voltou a receber um voto de confiança por parte de Jesus como peça titular.
Num típico 4-4-2 do SL Benfica Pizzi e Gabriel formaram a dupla de meio campo, enquanto que Chiquinho e Cervi assumiram as alas e a dupla mais ofensiva a ficar a cargo de Pedrinho e Gonçalo Ramos. A filosofia tática e também os processos de jogo a não mudarem muito com a utilização muito dos laterais e dos extremos, sendo que o jogo interior também estava a ser muito solicitado.
Das substituições que acabaram por acontecer, poucas foram aquelas que surtiram efeito imediato no jogo, exceto Taraabt que pareceu entrar com a vontade toda para mostrar a Jorge Jesus que está numa forma em crescendo.

11 Inicial e Pontuações
Odysseas Vlachodimos (5)
Gilberto (5)
Lucas Veríssimo (5)
Otamendi (6)
Nuno Tavares (5)
Gabriel (6)
Pizzi (6)
Chiquinho (7)
Cervi (5)
Pedrinho (5)
Gonçalo Ramos (6)
Subs Utilizados
Seferovic (5)
Everton (5)
Waldschmidt (6)
Adel Taraabt (6)
Diogo Gonçalves (-)

Análise Tática – GD Estoril Praia
Os estorilistas comandados por Bruno Pinheiro também mexeram alguns jogadores, tendo em conta o jogo importante que têm no próximo fim de semana para a Segunda Liga frente ao CD Feirense. Do jogo frente aos encarnados em casa, apenas quatro jogadores voltaram a cumprir presença no onze inicial: Thiago Silva, o guarda-redes, Murilo, Hugo Gomes e Carles Soria. Muitas peças que têm sido importantes ao longo da temporada ficaram de fora naquilo ao que o treinador chamou de «nivelar a carga competitiva dos jogadores».
O 4-3-3 muito camaliónico com Gamboa como médio mais defensivo e uma frente de ataque com Murilo e André Franco nas alas a dar apoio ao homem mais avançado, Harramiz. O sistema tático estorilista acabava sempre por mudar sempre, mais em tarefas defensivas, num 5-4-1 com Gamboa a assumir a posição de terceiro central. No momento defensivo, os “três” centrais conseguiam controlar o espaço enquanto os restantes jogadores estavam sempre a pressionar um homem, numa espécie de defesa “homem a homem”.
As substituições feitas por Bruno Pinheiro foram com intenção de dar minutos e um “treino” aos jogadores que normalmente são titulares, pensando já no jogo frente aos fogaceiros para a Segunda Liga. Contudo, pouco contribuíram para o jogo.

11 Inicial e Pontuações
Thiago Silva (6)
Pedro Empis (5)
Hugo Gomes (3)
Marcos Valente (6)
Carles Soria (5)
João Gamboa (6)
Bruno Lourenço (5)
Lazare Amani (4)
André Franco (5)
Murilo (4)
Harramiz (5)
Subs Utilizados
Miguel Crespo (5)
Aziz (5)
Rosier (5)
André Vidigal (5)
João Mendes (-)

BnR na Conferência de Imprensa
SL Benfica
BnR: Principalmente, quando o GD Estoril Praia saia a jogar ou num pontapé de baliza passou na primeira pressão que se fazia Chiquinho, Pedrinho e Pizzi. O que pediu a estes jogadores neste momento de jogo e se não ficou satisfeito devido à rotação que ia acontecendo aí?
Jorge Jesus: É uma pergunta interessante naquilo que são aspetos táticos durante o jogo. A certa altura do jogo, mudei o sistema de jogo e pus o Pizzi e o Chiquino no meio campo num 4-3-3 e nas costas ficámos com o Gabriel. Senti que a nossa pressão alta não estava a entrar como queríamos e os nossos centrais estavam muito longe um do outro. Tinha de mudar e mudei o nosso sistema, porque também já estava falado com os jogadores e trabalhado durante os treinos. Também foi assim que fizemos o nosso primeiro golo.
Ao intervalo, falei com eles e ficámos com aquele que é o sistema habitual da equipa: o Chiquinho foi mais posicionado e o Pizzi chegou mais perto do Gonçalo Ramos. Senti que a equipa precisava de estar mais junta e reparei que o corredor central estava muito afastado, acabando por dar muito espaço aos jogadores do Estoril. Mas é assim o futebol está cada vez mais para evoluir para esta ideia [a de mudar regularmente os sistemas durante jogos]. Eu já o fazia noutros clubes e agora estou a tentar fazer novamente no Benfica.

GD Estoril Praia
BnR: Durante a primeira parte o João Gamboa acabou por funcionar como um terceiro central e que acabava por ficar com uma defesa com cinco jogadores e os restantes jogadores encaixavam nos jogadores do SL Benfica. Hoje, sentiu ter a segurança e a eficácia defensiva que não tinha tido na 1.ª mão e que disse querer ter neste jogo?
Bruno Pinheiro: Não fizemos uma defesa homem a homem na frente porque se estávamos com uma linha de cinco atrás não tínhamos jogadores suficientes para fazer isso. Mas conseguimos, sim, criar mecanismos para tentar sermos mais fortes e queríamos então dar essa ilusão de termos uma defesa homem a homem. Acredito que tivemos uma primeira parte mais consistente do que aquela que tivemos durante todo o jogo na Amoreira [o jogo da 1.ª mão] e o SL Benfica teve mais dificuldades no jogo de hoje. Conseguimos estar mais próximos do adversários, contudo, continuamos a perder muito duelo. Temos de retirar aquilo que foi positivo e foi o negativo para aprendizagens futuras."

Isto já é outra coisa? Já parece, pelo menos, qualquer coisa diferente


"O Benfica está na final da Taça de Portugal após bater o Estoril por 2-0, numa exibição a espaços vistosa dos encarnados, com grande volume ofensivo, inúmeros lances de perigo, mas já com uma endémica dificuldade em concretizar

Não duvido que o período ali algures entre o final de dezembro e meados de fevereiro tenha sido difícil para o Benfica. Vinte e muitos casos são de facto muitos casos de covid-19, recuperar rapidamente não é um dado adquirido, até para jogadores de alta competição, e estar sem equipa técnica durante dias e dias também nunca ajudou ninguém na história do futebol.
Mas também convém não esquecer aquele 3-0 no Bessa. Convém não esquecer as pálidas exibições na Liga Europa e dentro de portas, tudo bastante pré-surto. Convém não varrer para um canto qualquer que houve investimento forte que não está a ter o retorno que se esperava e que não é por se bater muito em mesas e falar muito alto e mandar para o ar umas ameaças veladas sem direito a contraditório que a realidade muda.
A desculpa da covid-19 dá jeito, mas os problemas do Benfica não têm três meses.
Posto isto, chegamos a março, a sombra da covid-19 no balneário do Benfica parece já longe e os encarnados parecem, de facto, nas últimas semanas, uma equipa mais capaz. Não direi outro Benfica, porque esta equipa tem matéria prima para outras andanças, mas pelo menos um Benfica com mais peito, mais à imagem daquilo que Jesus nos habituou.
Frente ao Estoril, numa eliminatória quase resolvida, um jogo praticamente sem pressão, já com o Jamor à vista, Jesus tinha uma extraordinária oportunidade para fazer construir um qualquer capital de confiança que a sua equipa bem precisa. E isso foi, a espaços, conseguido: o Benfica entrou bem, intenso, pressionante, baixou um pouco o ritmo algures após os primeiros 20 minutos, para na 2.ª parte voltar a carregar, com constantes aproximações à área da equipa da 2.ª Liga, com lances de perigo uns atrás dos outros, com Chiquinho e Pedrinho a mostrarem-se ao treinador, a darem qualidade ao jogo entrelinhas.
Problema: olhamos para o marcador e o Benfica venceu por 2-0. E venceu por 2-0 com um golo de Gonçalo Ramos já perto do intervalo, que nasceu de um erro clamoroso da defesa do Estoril e outro a segundos dos 90’, em contra-ataque, num 5 para 2 após mais um erro do adversário, que Waldschmidt aproveitou.
O volume ofensivo do Benfica, frente a um Estoril que entrou em campo sem alguns dos melhores jogadores, talvez com a cabeça mais na subida do que numa improvável recuperação, foi volume de goleada, mas o Benfica tem um problema de eficácia e finalização.
Talvez esse problema possa vir a ser diluído à medida que o volume de jogos esmorece. Mas agora será tarde para os maiores objetivos dos encarnados. Resta a final a Taça, pelo segundo ano consecutivo, agora frente ao SC Braga e talvez a ideia que daqui para a frente este Benfica poderá ser outro Benfica. Ainda não é outra coisa, e por outra coisa leia-se uma equipa “a arrasar” e a “jogar o triplo”, longe disso, muito longe disso, mas já parece pelo menos algo diferente, menos arrastado, mais intenso, com mais pulmão."

Indústria ou Comércio?


"Sendo o desporto a única actividade mobilizando sem interrupção a atenção dos humanos como nos diz Robert Redeker (1), seria conveniente sabermos – ou tentarmos saber – quais os efeitos que produz na sociedade. Daí o título deste este artigo: é o desporto uma indústria ou um comércio?
Quando, falando sobre o futebol e a pandemia, Aleksander Ceferin, Presidente da UEFA, nos dizia que “para ser honesto, o futebol é provavelmente uma das indústrias mais seguras” («O Jogo», 16.11.2020, p. 40), de imediato nos vem à memória a fábula de Antoine de Bierce (2) intitulada «A ovelha e o leão»: “– Tu és uma besta de guerra – disse a Ovelha ao Leão – e, no entanto, os homens andam sempre a ver se te conseguem apanhar. A mim, uma crente na não-resistência, não me dão caça. – Não precisam – redarguiu o filho do deserto; – podem criar-te.”
Vindo aquela afirmação de quem vem, de imediato se começa a construir dentro de nós, se não analisarmos friamente os conceitos e de um modo crítico, que o desporto actual é uma indústria. Um desporto actual pós-moderno que possui todas as características do desporto moderno, sendo estas acrescidas de exigências sistemáticas de espectáculo, de interacção com os ‘mass media’, com a política e com a economia, da presença do negócio, da técnica, da ciência e do profissionalismo, o qual é regulado por mecanismos jurídicos. 
Vítimas do cartesianismo, dividimos, compartimentamos e tudo classificamos (ou rotulamos!). Quando somos invadidos por termos como sustentabilidade, estabilidade e crescimento, pandemia, confinamento, reinvenção, resiliência, mitigação, novo normal, estado de emergência, ‘lay off’, apoios, linha da frente, restrições, cerco sanitário, desemprego, infectados, internados, casos positivos, casos suspeitos, casos confirmados, casos recuperados, óbitos… o desporto não escapa à banalização da sua classificação. E menos escapa a tentativa de nos fazerem acomodar a certas classificações…
Fernando Seara também alinha por este diapasão («A Bola», 14.02.2021, p. 31) quando afirmava que “por cá, e no nosso futebol, a incerteza é muita, a angústia financeira imensa e a não proteção da indústria bem perturbante.” Tal como Sónia Carneiro quando também nos dizia que dependem da Liga Portuguesa de Futebol Profissional “clubes, jogadores, treinadores, funcionários e toda uma indústria que tem servido de ópio e de dinamizador para uma população portuguesa” («O Jogo», 05.04.2020, p.15) num artigo em que apresenta o futebol como “uma indústria tão importante para a economia do país” e em que apresenta o facto de a mesma estar “a trabalhar no regresso, tão importante que é para esta indústria.” Aliás, foi precisamente Sónia Carneiro («O Jogo», 09.08.2020, p. 19) que nos revelou que o Ministro da Economia e Transição Digital, Pedro Siza Vieira, reconheceu o futebol como indústria na conferência «O Futebol Profissional e a Economia pós-Covid19».
Muito basicamente começaremos por definir «indústria» como qualquer actividade que vise a manipulação e a transformação de uma matéria-prima com vista à obtenção de um produto que seja considerado um bem de consumo e «comércio» como toda e qualquer actividade de troca, logo de compra e venda, de mercadorias ou de produtos.
Será, de facto, o desporto uma indústria? Para o ser necessita de matéria-prima, da sua transformação e da obtenção de um produto.
Quando Jorge Bento (3) nos apresenta a proporção de factores pedagógico-didácticos e lógico-objectivos na configuração da matéria de ensino em Educação Física, apresenta um valor de cerca de 85% para os primeiros e cerca de 15% para os segundos na educação motora no ensino pré-escolar, sendo que os primeiros vão progressivamente diminuindo até se chegar ao ensino secundário e ao ensino superior e os segundos vão proporcionalmente aumentando. Poderemos fazer um ‘transfer’ destes valores para a fase de formação no desporto até se chegar à alta competição, ao rendimento e/ou ao espectáculo. Logo, poderemos considerar que temos aqui numa fase inicial uma matéria-prima que é trabalhada, o formando, transformada mais tarde no produto final – o desportista. Fase que vai desde o início até ao momento em que sensivelmente os factores pedagógico-didácticos e lógico-objectivos se equilibram na ordem dos 50% (após passada a fase de formação, sensivelmente no final da fase de pré-especialização). É o tempo em que as habilidades motoras fundamentais são transformadas em habilidades desportivas. É o tempo em que as potencialidades são transformadas em capacidades, em competências. Portanto, poderemos assim considerar até aqui o desporto, na realidade, como uma indústria. E esta é uma primeira etapa em que os efeitos do desporto se reflectem mais sobre o próprio indivíduo.
E a partir daqui?
A partir daqui entraremos numa etapa em que os efeitos do desporto se reflectem mais sobre a sociedade, influenciando-a no seu aspecto estrutural e económico. Voltando a Redeker (1), “longe de ser um ópio que adormece, o desporto é uma matriz de tipos humanos tanto quanto de tipos de sociedade. Portanto, ele não é um reflexo - segundo a crença de uma sociologia monótona e preguiçosa, o futebol refletirá a sociedade, para o bem e para o mal -, mas o contrário: o desporto estrutura a sociedade, modela-a, força-a a si mesma a parecer-se consigo.” É a face visível do desporto.
E começaremos por recorrer exactamente ao título do artigo de Sónia Carneiro – “Desporto é espetáculo” («O Jogo», 14.07.2021, p. 21). Se o desporto não existe sem movimento, sem jogo, sem agonística, sem projecto e sem instituições (modelo pentadimensional de Gustavo Pires), ele também não existe sem espectáculo.
Começa-se com a ‘sponsorização’ do desportista, entra em funções a publicidade, o ‘marketing’, o ‘merchandising’, os direitos de imagem, as contratações e os salários, as compras e vendas de jogadores, as cláusulas de rescisão, os direitos televisivos, as SAD’s, os investimentos imobiliários… o que vem de imediato demonstrar o fosso existente entre as duas etapas acima referidas.
Interpretar o desporto actual revela-nos que a importância dos resultados é mais económica e política que desportiva e que o lucro constitui a base do seu desenvolvimento, desenvolvimento esse que acaba por gerar novo lucro – é o retorno do investimento –, encontrando-se o corpo do desportista mercantilizado e submetido a uma exploração mecânica e química sendo a saúde humana secundária, com destaque para uma subordinação deste mesmo corpo ao rendimento com uma consequente desvalorização ética, moral e axiológica. E de novo nos vem à lembrança Antoine de Bierce (2): “Um político que assistia a uma sessão da Câmara de Comércio pediu a palavra, mas viu a sua pretensão negada com base na alegação de nada ter a ver com o comércio. – Senhor Presidente – disse um Membro Idoso, levantando-se: – considero a objecção infundada. Este cavalheiro tem uma estreita e íntima relação com o comércio: ele próprio é uma mercadoria.”
O jogador não é mercadoria só ao ser vendido e comprado pelos clubes. Temos de ver mais longe… No final dos jogos, para aplaudir os adeptos, Neymar recebia 375 mil euros… Thiago Silva recebia pelo mesmo 33 mil euros… em 2019. O Bournemouth cobrava 204 euros aos pais de cada criança que entrava em campo de mão dada com um dos jogadores da sua equipa de futebol… o Everton cobrava 790 euros… também em 2019. Exemplos que falam por si!
O desporto actual, na sua máxima expressão, tem de ser encarado como uma actividade económica que não gera nem bens, nem obras, nem cria riqueza – apenas a movimenta em determinados sentidos. Actualmente o desporto não é só consumido pelo espectador em directo: passámos da época do relato radiofónico e do jornal em papel para a época da imagem e, na sociedade actual, o desporto é consumido não só através da TV mas também da ‘internet’. A resposta à pergunta “o que produz um jogador de futebol?” é pertinente. Produz espectáculo (e o consumidor desloca-se ao estádio, paga o seu bilhete, leva a sua camisola que já adquiriu antecipadamente, compra o seu cachecol… ou fica sentado no sofá inundado por diversos estímulos… pagando a electricidade e a ‘internet’ depois de ter adquirido os necessários ‘gadgets’) e produz a necessidade do espectador consumir os produtos cujas imagens absorve subliminarmente e expressas na sua camisola, nos calções, os logos das marcas desportivas, nos painéis do estádio, durante o próprio evento na TV e simultaneamente com o mesmo ou ainda nos anúncios no intervalo da transmissão televisiva.
O espectáculo é um argumento de peso e que tem de ser tido em conta para se classificar o desporto como comércio com todas as consequências inerentes. Já em 1925, Pierre de Coubertin (4) no seu discurso de demissão do Comité Olímpico Internacional pedia para o desporto se pôr em guarda contra o profissionalismo, pois “o organizador de espectáculos tende a corromper o atleta para melhor satisfazer o espectador.” Mas em 1999 Juan Antonio Samaranch (5) solta o seu grito do Ipiranga: “We said ‘yes’ to commercialization (…)”!
Por último, e para darmos resposta à pergunta inicial, uma resposta fundamentada que nos leve a uma verdadeira classificação desta actividade, detenhamo-nos no que nos diz Paul Yonnet (6) e façamos a necessária reflexão: “é o uso do utensílio que faz a classificação da actividade, não o utensílio por si próprio.”"